Promovida a um dos ícones pop da última década e meia, conhecida pela suas desafiantes mutações de disco para disco e a maior responsável pela inserção da Islândia no mapa musical - não obstante as contribuições dos Sugarcubes, que integrou, e posteriormente de uns Gus Gus ou Sigur Rós -, Björk tem tido um percurso que, apesar de desencadear frequentemente crispadas divisões de opiniões, atestou sempre a marca da sua singularidade no contexto artístico recente.
Com "Volta", esse estatuto não parece sofrer ameaças, uma vez que a unanimidade sai mais uma vez esbatida em torno de um disco que para uns atesta o regresso à (boa) forma e para outros limita-se a recorrer a auto-citações.
Com "Volta", esse estatuto não parece sofrer ameaças, uma vez que a unanimidade sai mais uma vez esbatida em torno de um disco que para uns atesta o regresso à (boa) forma e para outros limita-se a recorrer a auto-citações.
De facto, o primeiro single "Earth Intruders" antecipava um retorno às raízes de "Post", o pico de criatividade da cantora, aproximando-se dos ambientes quase industriais e efusivos de "Army of Me" mas condimentando-os com percussões tribais que fizeram dele uma refrescante porta de entrada para o álbum. No entanto, foi um tema enganador, pois "Volta" raramente segue uma via tão imediata e aposta antes em composições mais herméticas e laboratoriais, não muito distantes dos ensaios pouco entusiasmantes do antecessor "Medúlla".
Björk oferece aqui um curioso caldeirão de influências, convocando convidados especiais de todo o globo como os norte-americanos Antony Hegarty e Timbaland - haverá quem não o requisite hoje em dia? -, a chinesa Min Xiao-Ben ou o malinense Toumani, só que infelizmente um bom prato não se faz só a partir da junção de bons ingredientes e com um disco não é diferente. Não se pode acusar a islandesa de falta de ambição, até mesmo pela criação de uma sonoridade específica para as canções do disco que caracterizou como techno voodoo, catalogação interessante mas que, na prática, não parece ter muito mais fundamento do que a também recente nu rave.
Björk oferece aqui um curioso caldeirão de influências, convocando convidados especiais de todo o globo como os norte-americanos Antony Hegarty e Timbaland - haverá quem não o requisite hoje em dia? -, a chinesa Min Xiao-Ben ou o malinense Toumani, só que infelizmente um bom prato não se faz só a partir da junção de bons ingredientes e com um disco não é diferente. Não se pode acusar a islandesa de falta de ambição, até mesmo pela criação de uma sonoridade específica para as canções do disco que caracterizou como techno voodoo, catalogação interessante mas que, na prática, não parece ter muito mais fundamento do que a também recente nu rave.
O cruzamento de geografias é promissor, o problema é que neste misto de electrónica, jazz, sons orientais, contaminações africanas e pontuais acessos noise a pop fica quase esquecida, e foi através da desconstrução desta que a carreira da cantora viveu os momentos mais inspirados - nos irregulares, mas ousados primeiros três discos a solo -, de onde surgiram algumas canções de génio como "Hyperballad", "Isobel" ou "Joga".
Em "Volta" ainda se registam alguns episódios recomendáveis, embora não tantos quanto se esperaria: "The Dull Flame Of Desire", mesmo que demasiado longa, é uma sóbria canção de amor que nasce do diálogo entre Björk e Antony; enquanto que "Innocence" suporta-se na elasticidade dos beats fornecidos por Timbaland, que se interligam razoavelmente com a voz da islandesa e fazem lembrar "Alarm Call". Outro tema de "Homogenic", "Pluto", vem à memória ao longo do disco, já que "Declare Independence" partilha da mesma atmosfera caótica e distorcida, filha bastarda de uns Nine Inch Nails e Atari Teenage Riot, que surpreende face à calmaria presente nos temas anteriores mas torna-se cansativa ao fim de três ou quatro audições.
Infelizmente, momentos como "Vertebrae By Vertebrae", "Pneumonia" ou "Hope", além de serem demasiado semelhantes entre si, também não são especialmente convidativos, soando mais a esboços minimalistas do que a canções conseguidas e arrastando-se sem irradiar grandes doses de criatividade, vivendo muito dos trejeitos vocais de Björk que, se noutros tempos ainda poderiam considerar-se refrescantes ou exóticos, hoje estão já estafados e previsíveis. "My Juvenile", outro dueto com Antony, resulta igualmente tépido e sem chama, fechando em baixa um disco que não fornece muitos motivos para que se volte a ele.
Nem um desastre completo nem um regresso imponente, este é um álbum desequilibrado, mais seguro do que o anterior "Medúlla" mas que, tal como esse, compromete o lugar da sua autora enquanto figura de proa da música actual.
Em "Volta" ainda se registam alguns episódios recomendáveis, embora não tantos quanto se esperaria: "The Dull Flame Of Desire", mesmo que demasiado longa, é uma sóbria canção de amor que nasce do diálogo entre Björk e Antony; enquanto que "Innocence" suporta-se na elasticidade dos beats fornecidos por Timbaland, que se interligam razoavelmente com a voz da islandesa e fazem lembrar "Alarm Call". Outro tema de "Homogenic", "Pluto", vem à memória ao longo do disco, já que "Declare Independence" partilha da mesma atmosfera caótica e distorcida, filha bastarda de uns Nine Inch Nails e Atari Teenage Riot, que surpreende face à calmaria presente nos temas anteriores mas torna-se cansativa ao fim de três ou quatro audições.
Infelizmente, momentos como "Vertebrae By Vertebrae", "Pneumonia" ou "Hope", além de serem demasiado semelhantes entre si, também não são especialmente convidativos, soando mais a esboços minimalistas do que a canções conseguidas e arrastando-se sem irradiar grandes doses de criatividade, vivendo muito dos trejeitos vocais de Björk que, se noutros tempos ainda poderiam considerar-se refrescantes ou exóticos, hoje estão já estafados e previsíveis. "My Juvenile", outro dueto com Antony, resulta igualmente tépido e sem chama, fechando em baixa um disco que não fornece muitos motivos para que se volte a ele.
Nem um desastre completo nem um regresso imponente, este é um álbum desequilibrado, mais seguro do que o anterior "Medúlla" mas que, tal como esse, compromete o lugar da sua autora enquanto figura de proa da música actual.
E O VEREDICTO É: 2/5 - RAZOÁVEL
Björk - "Earth Intruders"
11 comentários:
De toda a discografia da Björk, "Volta" é o álbum menos "cool" dela. Apesar de que acho as faixas "Innocence" e "Declare Independence" sensacionais. Mas, mesmo assim, as duas músicas não carregam o disco sozinhas;
Pois não, como EP ainda podia ser interessante, mas assim os momentos que merecem audições repetidas são escassos. Talvez para a próxima...
cool esta menina? estamos a falar da mesma pessoa?
0/5
Já foi mais, mas mesmo assim é mais cool do que os My Chemical Romance ;P
Se os Nine Inch Nails tivessem alguma música ao nível da "Declare Independence", dava-me por contente. Mas não têm.
epah nao levemos a conversa por caminhos duvidosos. mas esta bjork é a coisa mais sobrevalorizada do mundo. na pre-historia, aposto que os sons que se ouviam dentro das cavernas eram bastante semelhantes aos que podemos hoje em dia ouvir em albuns da bjork.
Spaceboy: Ao nível dessa não têm muitas - bem, talvez as do "Year Zero", igualmente medianas - mas uns quantos níveis acima é o que não falta: "Closer", "Sin", "Right Where It Belongs", "La Mer", "Hurt",... Enfim, a lista é interminável.
miguel: Também acho que é sobrevalorizada, mas daí a dar 0/5 ao disco... E essa sonoridade tribal parece-me intencional :P
bjork é rapariga de amores e odios. curiosamente por cá passa um pouco indiferente;P mas a verdade é q o album até agradou. innocence, earth intruders, declare independence(mt boa) ou ainda wonderlust são boas malhas. mas sim..a rapariga já fez bem melhor!!
cumprimentos
Por aqui a indiferença sobrepôs-se aos (poucos) bons momentos. Há coisas melhores para ouvir, a este disco não voltarei muito. Fica bem :)
Tenho saudades do estilo do "Debut". Neste último disco, confesso que ainda não consegui uma conexão, excepto quando canta com o Antony (que eu adoro!!!)
Do "Debut" e especialmente do "Post". Não gosto muito do Antony, mas o dueto de "The Dull Flame Of Desire" até resulta bem. Já o "My Juvenile" dispenso.
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