terça-feira, junho 28, 2005

SANGUE, SUOR E BALAS

Com uma obra ecléctica, capaz de ir dos contos infantis ao romance de moldes clássicos, o chileno Luís Sepúlveda tem assinalado um respeitável percurso enquanto escritor, evidenciado em títulos elogiados como "O Velho que Lia Romances de Amor", "Nome de Toureiro" e "História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar".

"Diário de um Killer Sentimental", editado em 1996, é um dos seus livros de culto e segue o quotidiano de um assassino profissional quarentão com um currículo invejável, mas cuja determinação e perspicácia começam a ceder à medida que se envolve emocionalmente com uma jovem francesa.

A situação torna-se mais conturbada quando a sua amada lhe comunica que pretende deixá-lo, notícia que ameaça o seu profissionalismo e lhe dificulta a eliminação da sua nova encomenda, um dúbio filantropo envolvido em actividades misteriosas cujo paradeiro é de difícil determinação (obrigando o protagonista a deslocar-se por Madrid, Istambul, Frankfurt, Paris e Cidade do México).

Apostando na estrutura do romance negro e do policial, Sepúlveda proporciona aqui uma história crua e escorreita, geralmente contaminada por consideráveis doses de ironia e sarcasmo.
O leitor entra facilmente na acção, uma vez que a economia narrativa permite que a leitura seja acessível e absorvente, e o autor constrói um protagonista que, apesar dos ambíguos padrões morais, possui carisma suficiente para que a sua jornada seja minimamente intrigante (o facto da obra ser narrada na primeira pessoa ajuda).

"Diário de um Killer Sentimental" é um livro divertido q.b., mas infelizmente não é muito mais do que isso, ficando aquém daquilo que se esperaria do autor.
As peripécias da personagem central oferecem algumas reviravoltas interessantes e dois ou três momentos bem observados (as corrosivas conversas com os taxistas, a crítica à hipocrisia da sociedade actual), mas falta espessura a esta história e às suas personagens.
O pouco surpreendente desenlace torna o livro ainda menos memorável, enveredando por um twist demasiado previsível, e no fim da leitura do livro sente-se que há aqui uma boa premissa mal aproveitada.

"Diário de um Killer Sentimental" não deixa de ser uma obra agradável e que se lê com algum interesse, mas peca por ser demasiado curta e esquemática, encalhando numa pouco estimulante mediania. Em suma, lê-se bem e esquece-se com a mesma facilidade...

E O VEREDICTO É: 2/5 - RAZOÁVEL

9 comentários:

Anónimo disse...

Li este livro há uns 5 anos atrás e bem dizes tu que se esquece facilmente...já me tinha esquecido dele :o lol!

Cumps. cinéfilos

gonn1000 disse...

LOL pois, afinal não sou o único a achar isso...Cumps literários

Anónimo disse...

Gostei bem mais que tu:) Vejo esta história, muito bem escrita, como muito realista sem necessidade de twists algo inverosímeis e que aposta em muitas ocasiões não no provocar a emoção mas dar-nos o pensamento para provocá-la, também daí advém o facto de ser curta dado que o sepúlveda não gosta nada de dar palha. Tamos de acordo que é altamente devorável:)

Já se falou nele pró nobel, talvez seja só uma questão de tempo, desde k chegue pró lobo antunes.

Fica bem()

gonn1000 disse...

Sim, é uma história realista, bem escrita, sem "palha", mas também demasiado efémera...Não me marcou muito. Fica bem ()

Susana Fonseca disse...

Eu gostei, mas prefiro "rosas de Atacama", ou o já clássico "o velho que lia romances de amor"

gonn1000 disse...

Esses não cheguei a ler...

Anónimo disse...

Esta obra tem a capacidade de marcar qualquer indivíduo que se interesse pelo mistério e beleza do crime.É um livro magnífico. Gostei imenso.

Anónimo disse...

Enquanto lia o que escrevias só pensava numa coisa: mas como é que ele escreve sobre um livro que não li há mais de 5 anos e do qual não me lembro nada... Presumo que seja muito bom, sendo do autor que é. Mas de facto ainda sou completamente ignorante no que respeita ao "mistério e beleza do crime", tenho medo de conhecer isso, mas presumo que conhecer e não fazer uso deve ser fantástico!!

gonn1000 disse...

anónimo: Enfim, de magnífico não encontrei aqui muito, mas isso sou eu.

Pedro: Também já não me lembro assim tão bem, mas não me admira porque de facto não me marcou muito. Também não sei se é boa ideia conhecer esse mistério.