domingo, setembro 11, 2005

MENINAS E MOÇAS

Uma das cineastas mais polémicas e menos consensuais das últimas décadas, Catherine Breillat tem uma filmografia de obras tão elogiadas quanto desprezadas, ou não fosse o sexo uma das temáticas que marca todos os seus filmes.

Desde "Uma Jovem Rapariga", de 1975, até títulos mais recentes como "Romance" ou "Sex is Comedy" que a realizadora tem apresentado películas geralmente centradas em mulheres e que reflectem a perspectiva destas, expondo retratos ásperos, secos e muitas vezes agressivos das relações humanas.

"Para a Minha Irmã!" (À Ma Souer!), de 2001, não é excepção, e segue as experiências de duas irmãs que vivem os primeiros tempos da adolescência. Anaïs, a mais nova, sofre de complexos de inferioridade devido aos seus problemas de peso, expondo uma postura introvertida e recatada; Elena, a mais velha, é confiante e carismática, com uma beleza e espontaneidade que facilmente cativam os rapazes.

Mantendo uma relação de cumplicidade, que origina alguns conflitos mas também um suporte mútuo, as duas protagonistas tomam contacto com o despontar da sexualidade durante umas férias de Verão na praia. Contudo, se Elena facilmente gera uma relação com um estudante universitário, Anaïs vê-se cercada pela solidão e frustração, sentimento reforçado quando os pais a incentivam a passear com a irmã e o namorado, testemunhando até alguns dos episódios mais íntimos destes.

Breillat trabalha de forma entusiasmante e credível as dificuldades e contrariedades sentidas no início da adolescência, em particular a forma como os jovens aceitam - ou rejeitam - as alterações do corpo e o turbilhão emocional que os envolve durante as primeiras relações amorosas e sexuais.

Como já é habitual na sua obra, o sexo adquire aqui um papel determinante, gerando sequências longas e bastante gráficas, mas a forma como o filma é bem menos exibicionista e desprovida da pretensão que tornou "Romance", o seu título anterior, numa banal obra soft porn com aspirações intelectuais.

"Para a Minha Irmã!" é igualmente bem sucedido na direcção de actores, uma vez que todo o elenco é consistente e as duas jovens actrizes, Anaïs Reboux e Roxane Mesquida oferecem desempenhos impressionantes, em especial a primeira, encarnando personagens verosímeis e tridimensionais. A realização e fotografia conseguem originar uma apropriada atmosfera realista, contemplativa e algo amargurada, reflectindo a relutância e as dúvidas das duas irmãs e despoletando cenas de um intimismo claustrofóbico.

No entanto, e apesar de muitos bons elementos, "Para a Minha Irmã!" é um filme que não convence na totalidade devido ao abrupto e apressado final, pois aí Breillat trata as personagens como marionetas tendo em vista apenas uma função: chocar. Se por um lado é um desenlace surpreendente e imprevisível, também é pouco satisfatório e desnecessariamente bruto, ficando muito aquém da intrigante aura de tensão presente no filme até então.

É pena, pois se assim não fosse "Para a Minha Irmã!" poderia ter sido um filme sensível, embora crú, sobre os dilemas da adolescência e da sexualidade. Assim, é mais uma película desequilibrada e mediana, que apesar de desapontante ainda merece ser vista...

E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL

2 comentários:

brain-mixer disse...

Epá, tu conheces de cinema alternativo... Tens para aí filmes que me passam completamente ao lado! Ainda bem que tenho o Gonçalo a anunciar-me estas novidades, thanks!

gonn1000 disse...

LOL... Faz-se o que se pode...
Obrigado!