Este último é um pequeno drama ancorado no regresso do protagonista à casa dos pais, no interior dos EUA, após ter vivido algum tempo em Nova Iorque, cidade onde trabalhou... a passear cães. A ambição de Jim era, no entanto, bem distinta, uma vez que sempre desejou tornar-se escritor, mas os repetidos falhanços para que tal se concretize levaram-no a mergulhar num estado onde a depressão se mistura com a apatia, destruíndo praticamente quaisquer traços de esperança.
Praticamente sem forma de escapar a um crescente estatuto de loser, Jim encontra na discreta Anika alguém com quem partilha momentos que lhe oferecem algum optimismo, numa cumplicidade que nasce num one night stand e que se vai intensificando.
"Lonesome Jim", tanto pelos temas como pela componente formal, não esconde ser um típico exemplo do cinema independente norte-americano, investindo em áreas como o isolamento, a entrada na idade adulta ou a disfunção familiar e sendo um filme de orçamento modesto e realização sem grandes sinais de ruptura ou originalidade.
A novidade não mora aqui, já que o que Buscemi oferece foi feito por outros e muitas vezes melhor - "Garden State", de Zach Braff, ou "A Estação", de Thomas McCarthy, são apenas dois parentes próximos -, embora também seja verdade que essa simplicidade joga a seu favor e não o impede de cumprir os seus objectivos.
Buscemi gera aqui um drama árido, desencantado e lacónico, ainda que felizmente recuse cair no abismo emocional, temperando um quotidiano pouco auspicioso com salutares erupções de humor seco, mas eficaz. Sem estes momentos, a atmosfera do filme podia tornar-se irrespirável, e se nas sequências iniciais "Lonesome Jim" nem é particularmente cativante, aos poucos vai envolvendo e revelando a sua considerável subtileza na análise dos comportamentos, conquistando através de alguns diálogos inspirados e de uma carga dramática que ganha maior consistência na segunda metade.
Casey Affleck compõe um protagonista convincente, numa eficaz conjugação de indiferença, desânimo e vulnerabilidade expressa num olhar com tanto de magoado como de inocente. Liv Tyler tem também um bom desempenho, conseguindo irradiar a aura luminosa que a sua personagem requer, e Mary Kay Place é uma credível mãe extremosa.
"Lonesome Jim" não faz de Buscemi um realizador visionário ou imprescindível mas é um palpável e genuíno retrato do crescimento e das questões que afectam muitos jovens adultos, e a ressonância emocional que despoleta (embora a custo) compensa largamente a diminuta carga inventiva. Uma boa proposta indie que merece, pelo menos, um visionamento.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
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