quarta-feira, agosto 10, 2005

SEXO, CANÇÕES E VÍDEO (DIGITAL)

"9 Canções" (9 Songs) chega a salas nacionais depois de alguma controvérsia internacional, uma vez que a película foca uma relação entre dois jovens carregada de música e sexo. O motivo de uma polémica considerável é, naturalmente, o segundo elemento, uma vez que muitos consideram que o mais recente filme de Michael Winterbotton mostra cenas de sexo como nunca tinham sido vistas antes num filme britânico, apostando numa forte carga explícita.

Acusado de pornográfico, banal e ofensivo segundo certos sectores da crítica e do público e defendido como uma obra corajosa e refrescante por tantos outros, "9 Canções" é daqueles títulos que dificilmente se tornam unânimes, como quase sempre ocorre com filmes que abordam o sexo de uma forma tão crua e directa.

O problema, contudo, é que nos últimos anos esse género de filmes tem surgido com uma frequência assinalável, o que pode colocar em causa a carga de novidade ou valor acrescentado do novo projecto de Winterbotton.

“Filmes-choque” devido ao teor sexual já se tornam bastante recorrentes, com resultados entre o muito bom (caso de "Os Sonhadores", de Bernardo Bertolucci"), o interessante ("Intimidade", de Patrice Chéreau, ou "Ken Park", de Larry Clark), o banal ("The Brown Bunny", de Vincent Gallo, ou "Romance", de Catherine Breillat) e o intragável ("Pola X", de Leos Carax, ou "Twentynine Palms", de Bruno Dumont).

"9 Canções" exibe, de resto, alguns pontos de contacto com "Intimidade", de Patrice Chéreau, uma vez que foca a relação de um homem e de uma mulher ambientada em Londres e que tem como principal (e único?) factor de união o sexo. Tal como Chéreau, também Winterbottom se aproxima aqui dos modelos do realismo britânico, apresentando uma forte dimensão intimista (para a qual contribui o recurso ao vídeo digital), mas também difere do filme do cineasta francês ao interligar o sexo com a música de uma forma que não se verificava em "Intimidade".

O filme de Winterbottom segue o relacionamento de dois jovens que se conhecem num concerto dos Black Rebel Motorcycle Club e mantêm depois uma ligação orientada pelo hedonismo, uma vez que a cumplicidade que partilharão é mais sexual do que emocional. As más línguas definem "9 Canções" como um mero intercalar de cenas de sexo (consideravelmente explícito) e excertos de concertos de oito bandas a que o par protagonista assiste.

De facto, o filme não proporciona muito mais do que isso, o que não seria necessariamente mau se a abordagem de Winterbottom tivesse alguma profundidade e tensão dramática. Contudo, momentos desses só surgem a espaços, uma vez que o argumento esquelético e a frágil construção de personagens não permitem que a película seja especialmente envolvente.

A forma como as canções acompanham, tematicamente, as fases da relação dos protagonistas é curiosa, e a vertente do-it-yourself do filme - com actores praticamente desconhecidos e um evidente low-budget - é apropriada para a criação de uma aura intimista, mas sem substrato dramático que acompanhe esses elementos "9 Canções" não consegue sobrepor-se à mediania e torna-se num filme falhado (apesar de tudo é, a espaços, um falhanço interessante).

É pena, porque canções excelentes como "The Last High", dos Dandy Warhols, "Jacqueline" e "Michael", dos Franz Ferdinand, ou "Love Burns", dos Black Rebel Motorcycle Club - entre outros recomendáveis temas dos The Von Bondies, Elbow, Primal Scream, Super Furry Animals e Michael Nyman - mereciam constar num filme à altura. Infelizmente não foi o caso, porque do clássico trio "sexo, drogas e rock n' roll", "9 Canções" só faz jus à última categoria. Enfim, já não se perde tudo...

E O VEREDICTO É: 2/5 - RAZOÁVEL

13 comentários:

Spaceboy disse...

Um filme sobre o qual tenho altas expectativas. Adorei o «24 Hour Party People» do mesmo realizador (apesar de, pelo que me parece, serem filmes completamente diferentes), mas estou com muita curiosidade para ver o filme.

gonn1000 disse...

Acho que vais gostar dos excertos musicais, do resto já não sei... Também não gostei muito de "24 Hour Party People", mas ainda assim considero-o um pouco melhor do que este...

Gustavo H.R. disse...

A proposta dessa obra não me soa agradável nem atraente.

Daniel Pereira disse...

Ao contrário deste filme, no "Intimidade" há muito amor. Mão é só sexo. (E prefiro a forma de filmar sexo do filme de Chéreau.)

Anónimo disse...

Não vi, nem tenho grandes intenções disso.

Cumps. cinéfilos

gonn1000 disse...

Gustavo: A proposta é interessante, a execução é que poderia ter sido bem melhor...

Daniel: Também não gostei muito do "Intimidade", mas pelo menos aí os protagonistas tentavam encontrar o amor, o que não ocorre em "9 Canções"...

Solo: Enfim, tinha potencial mas os resultados não foram os melhores...

Anónimo disse...

É mesmo verdade que 9 Canções tem 69 minutos, rs.?

gonn1000 disse...

Não contei o tempo quando o vi, mas segundo ouvi dizer é verdade. E sim, é apropriado :P

Daniel Pereira disse...

O filme tem 71 minutos, o boato de ter 69 foi só mais uma forma de o publicitar.

Não gostar do "Intimidade"... :P

gonn1000 disse...

Ok, esclarecido :)

"Não gostar do "Intimidade"... :P"

Gostei da primeira metade, mas a meio o filme perde o gás...

eia disse...

também vi este filme e tambem tenho exactamente a msma opiniao que tu, e curioso, lembrom de sair d filme e dizer "eu teria feito melhor"!! pq tinha base boa mau aproveitamento =/
ja agora vou indicar um filme que me diz mto, identifico.me bue mm, xama-se "Morvern Callar" ou a "Viagem de Morvern Callar", nao esta grandiosamente realizado, pormenores tecnicos falham mas esta tao mas tao lá...enfim..Samantha Morton...no seu melhor =)
ve !

Natália Beatriz disse...

Foi o filme que mostrou sexo da forma mais bonita que já vi no cinema!
Acho que é um filme que desconstrói o modelo de sexo veiculado pelos cinemas americanos, e jamais cai na vulgaridade.
passa um ar de naturalidade tão grande, de amor e erotismo, nunca separados...
quem sabe não sirva pra ensinar pras pessoas que sexo vai muito além do que se ve em filmes pornos.

gonn1000 disse...

Eia: Esse é um dos que já ando para ver desde que estreou mas nunca veio cá parar. Já ouvi dizer muito bem e muito mal dele.

Natália Beatriz: Eu achei que cai muitas vezes na vulgaridade, e amor é algo que não encontro muito por lá, deixou-me emocionalmente apático. Em alguns momentos não é muito melhor do que um filme porno...