terça-feira, fevereiro 28, 2006

SEGREDOS E MENTIRAS

Habitualmente marcados por questões como a obsessão, a mentira, o desejo ou a culpa, a maioria dos filmes de Atom Egoyan carrega também uma estranha e inquietante aura que ajudou a distingui-lo enquanto cineasta singular e com um olhar próprio bem vincado em títulos como o soturno e brumoso “Exotica” ou o simultaneamente brilhante e angustiante “O Futuro Radioso”.

“Onde Está a Verdade?” (Where the Truth Lies), a sua película mais recente, evidencia também essas características ao seguir a investigação de uma ambiciosa jornalista dos anos 70 que tenta averiguar o que levou a que uma jovem aparecesse morta no quarto de hotel de dois famosos entertainers televisivos, incidente ocorrido duas décadas antes. No entanto, a busca da protagonista é atravessada por peripécias não menos problemáticas do que aquelas que conduziram à misteriosa morte que investiga, originando um intrincado jogo de enganos e ilusões condimentado por sexo, chantagem e manipulação.

Recolhendo influências do film noir, Egoyan propõe aqui um exercício onde, mais uma vez, destroça as máscaras das personagens e não hesita em expor o melhor e, sobretudo, o pior da sua humanidade, elemento sempre presente ao longo da teia de acontecimentos que envolve e atormenta o trio interpretado por Alison Lohman, Kevin Bacon e Colin Firth.
Porém, em “Onde Está a Verdade?” essa característica do seu cinema não se revela tão estimulante como noutros casos, uma vez que a abordagem é demasiado superficial, mais confusa do que complexa, e embora o argumento tente apresentar alguma vitalidade ao recorrer a diversas reviravoltas, estas tornam-se cansativas e algo forçadas, assim como a sobrecarga de flashbacks.

A própria atmosfera não é tão onírica nem enigmática quanto se esperaria em Egoyan, pois embora o realizador consiga proporcionar ambientes frios e clínicos (a banda-sonora ajuda), apropriados à história que pretende contar, estes nem sempre contêm a vibrante carga de sedução e visceralidade emocional necessária.

O resultado é, assim, mais estereotipado do que desafiante, interessante de seguir mas pouco memorável, e a ambiguidade que “Onde Está a Verdade?” ainda consegue criar deve-se sobretudo aos sólidos desempenhos de Firth e (principalmente) Bacon, cujas personagens carregam o filme às costas, do que à densidade do argumento ou à mestria da realização.

Um filme funcional e eficaz, mas incapaz de explorar de forma tridimensional a face mais negra, sórdida e arrepiante da esfera humana, algo que o cineasta já provou ser capaz de fazer. É caso para perguntar onde está Egoyan...

E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL

8 comentários:

Anónimo disse...

Olha outro que também fica para DVD :P...ou então não: as críticas que tenho lido a este filme não têm sido muito positivas.

Boa análise :)!

Abraço

gonn1000 disse...

Sim, não me parece prioritário, penso que não perdes muito se só o vires em DVD. Fica bem :)

Francisco Mendes disse...

Enorme bocejo para a premissa e para o trailer. Fica para DVD, já que nem tu (nem uma data de gente) lhe encontra muitas faculdades.

gonn1000 disse...

Francisco Mendes: Até gostei do trailer, do filme é que nem por isso, mas há bem piores por aí...

Nuno: Hum, parece-me que já foi mais respeitável...

Anónimo disse...

é como já comentaram, vi o trailer e não me pareceu nada interessante, fica para uma sessão de sábado quando chegar em DVD
ae!

gonn1000 disse...

Bem, parece que o filme está condenado a passar ao lado, pelo menos nas salas de cinema...

Anónimo disse...

é um bocado "certinho" demais, não se desvia para conceitos mais alternativos que poderiam espevitar a trama do argumento... mas enfim, é um filme que podem ver se não tiverem mais nada interessante no bolso.

gonn1000 disse...

Falta-lhe alguma dose de risco, sim, mas também não envergonha ninguém...