segunda-feira, julho 02, 2007

TRÊS É DEMAIS (?)

No advento da animação digital que tem marcado o cinema deste género nos últimos anos, a saga de Shrek teve um papel decisivo, erguendo-se como uma referência capaz de agradar a um público vasto através de personagens bem delineadas, um humor perspicaz e por vezes com vários níveis de leitura, argumentos capazes de homenagear e satirizar o universo dos contos de fadas e, claro, técnicas imaginativas e mesmo pioneiras.

A combinação de todos estes elementos tornou os dois primeiros filmes do carismático ogre verde em entretenimento familiar acima da média, mas como tem sido hábito nas terceiras partes de outros blockbusters "Shrek o Terceiro" (Shrek the Third) coloca em causa o equilíbrio que estas aventuras continham. A mudança de realizador talvez ajude a explicar essa relativa perda de vitalidade, já que Chris Miller aposta numa narrativa mais previsível do que Andrew Adamson, apoiando-se também em gags algo óbvios, e ainda que se registem suficientes momentos divertidos raramente são hilariantes e falham quase tanto como acertam.

O filme segue, por um lado, a vingança de Príncipe Encantado, que se une a uma série de vilões clássicos de inúmeras fábulas para reclamarem o lugar de respeito a que defendem ter direito após recorrentes derrotas e exclusões, o que os leva a invadir o castelo de Far Far Away. Para além deste problema, Shrek enfrenta um momento de crise ao saber que Fiona está grávida, e de imediato começam a surgir os primeiros fantasmas da paternidade (ou, mais especificamente, incontáveis ogres bebés que atormentam o sono do protagonista).

Apesar de uma premissa que até parece acrescentar algo de novo à saga, "Shrek o Terceiro" desenvolve-se de forma bastante linear, sem a considerável frescura que caracterizou os antecessores. Falta aqui risco e ousadia, e o resultado é um Shrek em versão clean e politicamente correcta, com medo de ofender.

Essa falta de arrojo reflecte-se nas personagens - tanto nas novas, nos desengraçados Artur e Merlin; como nas habituais, pelo gritante desaproveitamento do Burro e do Gato das Botas, que trocam de corpo não se sabe muito bem com que finalidade (uma vez que o efeito cómico que daí resulta é nulo). As excepções ficam por conta da equipa de princesas destemidas - Branca de Neve, Cinderela, Bela Adormecida e Rapunzel - lideradas por Fiona, que geram os momentos mais divertidos, e das (infelizmente) diminutas participações de outros aliados como Pinóquio ou os Três Porquinhos.

Em tempo de vacas magras, "Shrek o Terceiro" nem é das piores propostas em cartaz, conseguindo ser um divertimento ligeirinho e competente, e a hora e meia de duração até joga a seu favor, pois se o filme se prolongasse provavelmente cairia na monotonia (que, de qualquer forma, se evidencia a espaços). Assim é uma película longe de imperdível mas que ainda funciona e inspira alguma simpatia, embora seja desejável que haja um maior sopro criativo caso a saga se arraste para um quarto episódio.


E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL

2 comentários:

x4x_it disse...

Sim, confesso que me desiludiu um pouco. Deve ter sido o ar paternal! Até o genérico no final me desiludiu! BAH!

gonn1000 disse...

Escapa, mas não impressiona. E sim, o genérico final é banalzinho.