Iniciando o seu espectáculo com mais de meia hora de atraso perante uma Aula Magna muitíssimo concorrida - e com lotação esgotada -, Antony and the Johnsons ofereceram, no passado dia 31, um concerto onde os aplausos foram sempre recorrentes e a empatia com a audiência surgiu de forma visível e espontânea.
Os primeiros minutos do espectáculo foram protagonizados apenas pelos The Johnsons - Jeff Jangston no baixo, Rob Moose na guitarra, Julia Kent no violoncelo e Maxim Mostom no violino - numa eficaz e serena introdução, mas a estrela da noite chegou pouco depois e foi recebida com uma vibrante ovação geral.
Figura andrógina, de indumentária e cabelo negro, Antony apresentou ao vivo o seu mais recente álbum, "I Am a Bird Now", editado em Fevereiro, o sucessor do debutante "Antony and the Johnsons".
Com uma voz ambígua e peculiar, o cantor aborda, nas suas composições, as mutações do corpo, as complexidades das relações humanas e a ambivalência sexual, num registo teatral e metafórico q.b. com referências que vão de Boy George a Rufus Wainwright (não é por acaso que ambos os músicos participam no seu novo disco).
Incorporando a sobriedade da folk a par de ambientes mais barrocos e, a espaços, certas piscadelas de olho à dream pop, Antony assinalou uma prestação estranhamente incensada pelo público presente, que reagiu com histeria a um concerto apenas competente.
Apesar de interessantes em alguns momentos, as canções seguiram-se de forma monótona e pouco versátil, apostando no mesmo tipo de atmosferas e vivendo muito da voz do cantor (singular, é certo, mas não necessariamente entusiasmante).
As letras também não ajudam, tentando ser portentos de emoção e sensibilidade mas raramente indo além de uma lamechice banal mas muito pretensiosa.
Contudo, a prestação de Antony foi quase sempre afável e empenhada, gerando momentos de assinalável química com os espectadores como na chuva de palmas de "Water and Dust" ou no inebriante e solene murmúrio colectivo que se seguiu, dois dos episódios mais marcantes da noite.
As versões de temas de Nico, Leonard Cohen, Moondog e Lou Reed ("Candy Says" foi a última canção do encore, encerrando o espectáculo) conseguiram, também, suscitar uma refrescante carga de surpresa.
Entre momentos enfadonhos e ocasionais oásis de envolvente energia, Antony and the Johnsons ofereceram um concerto efusivamente elogiado e aplaudido pela maioria do público, mas que não foi além de um nível escorreito e simpático.
Talvez o próximo espectáculo seja mais absorvente, e a julgar pela reacção da audiência não deverá faltar muito para que a banda volte a palcos nacionais em breve.
E O VEREDICTO É: 2/5 - RAZOÁVEL
11 comentários:
Eheheh...5/5 é só para casos excepcionais, e quanto a mim este concerto esteve muito longe disso. Mas já dei alguns 5/5, ao "Adore" dos Smashing Pumpkins ou ao "Version 2.0" dos Garbage, por exemplo...
Aposto que, em relação a este concerto, foste a excepção à regra.
Pois, acho que tens razão, mas não se pode gostar de tudo, e este é mesmo um culto que me passa ao lado.
O Antony é só para as depressões!
LOL...Então não é mesmo para mim, pelo menos por agora :)
P. f. não confundir depressão com tristeza. Não tenho dúvidas que as melhores músicas que já escutei são tristes ou melancólicas.
Sim, mas assim como há boas canções melancólicas também há outras que apenas são chatas e arrastadas...
Não concordo nada com o “chatas e arrastadas”, e muito menos com “As letras também não ajudam, tentando ser portentos de emoção e sensibilidade mas raramente indo além de uma lamechice banal mas muito pretensiosa.” Lamechice banal? Depende bastante do conceito que cada um tem de “lamechas”, se frases como “I am a bird girl now” ou “You are my sister / And I love you” são consideradas lamechas é muito relativa. Na minha opinião, tal como o “amor”, certas expressões, palavras, foram apelidadas de lamechas, pirosas, etc, mas eu penso que a distinção entre o que é lamechas e o que não é, está precisamente no contexto e honestidade em que isso é dito, pois se é uma determinada expressão, palavra, ou mesmo acto, que se pretende dizer ou fazer, para quê camufla-la com sinónimos enganadores e esses sim pretensiosos, porque de pretensioso as letras de Antony and the Johnsons não têm nada, são do mais verdadeiro e sentido que se pode ler/ouvir. E achas realmente que letras como as de “Hope there's someone”, “I fell in love with a dead boy” ou “Mysteries of Love” são lamechas?? A mim parecem-me honestas e bastante comoventes, se para ti isso é “Lamechas”, então está provado que o conceito é bastante relativo.
Cumprimentos, e parabéns pelo blog.
Pois, acho que é mesmo relativo, e não pretendi expressar nada mais do que a minha opinião, subjectiva e obviamente discutível. As letras e canções do Antony deixam-me quase sempre distante, e se já achava que os discos eram monocórdicos o concerto não foi muito diferente, salvo os dois ou três momentos que enunciei no texto.
Obrigado e cumprimentos.
Claro, só estva a dar a tua opinião e não tentava musar o teu ponto de vista, tambem eu só estva a dar a minha. Peço desculpa se me fiz entender mal. E tal como tu disses-te não podemos gostar de tudo, e ainda bem que todos temos gostos e opiniões diferentes para o bem a diversidade.
Cump.
Nem mais :)
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