segunda-feira, abril 30, 2007

O BOM FILHO

Segundo filme do alemão Christoph Hochhaeusler, "Low Profile" (Falscher Bekenner) explora o quotidiano de um adolescente que, após o final do liceu, se encontra numa encruzinhada, uma vez que não tem ainda ideia de qual é a sua vocação nem especial vontade de a descobrir, o que o leva a arrastar-se em sucessivas entrevistas de emprego nas quais não deposita grande entusiasmo ou convicção.
O porquê desta desmotivação não chega a ser revelado, embora o filme deixe algumas pistas ao apresentar o constante incentivo - ou pressão - dos pais e dos dois irmãos, mais velhos e ambos bem-sucedidos. Armin, contudo, parece pouco interessado em aderir às vias socialmente impostas, adoptando uma postura que alia apatia e fragilidade e passando grande parte do tempo em deambulações pela cidade.

À partida, "Low Profile" parece assim apenas mais um retrato das contrariedades sentidas entre o fim da adolescência e a passagem para a idade adulta, mas ainda que se ambiente em domínios já familiares o filme contém suficientes elementos a seu favor, declinando alguns lugares-comuns.
Hochhaeusler é astuto no mergulho dentro do limbo existencial do protagonista, e para além de ser eficaz no relato das suas relações familiares e de amizade (estas quase inexistentes) insere no argumento pontuais cenas enigmáticas, como as de crimes locais pelos quais Armin fica algo obcecado, sendo mesmo sugerido que possa ser responsável por estes.
"Low Profile" nunca chega a clarificar essa questão, mas usa-a para instalar um suspense moderado que ajuda a que o filme seja interessante de seguir. Igualmente ambíguos são os momentos em que o jovem tem práticas sexuais com um grupo de motards, que Hochhaeusler não define se decorrem de facto ou se são fruto da contínua alienação de Armin e da sua ténue distinção entre acontecimentos reais ou imaginados.

Obra negra e magnética, contém várias sequências cortantes e estas compensam um argumento intrincado cujo desenlace fica abaixo das expectativas suscitadas. Os episódios das entrevistas de emprego evidenciam bem o ridículo que caracteriza muitos dos processos de selecção, enquanto que os das reuniões familiares são certeiros no incomportável peso que os pais, mesmo com as melhores intenções, podem colocar nos filhos.

Suportado numa sólida direcção de actores, de onde sobressai o muito prometedor Constantin von Jascheroff na pele do protagonista, "Low Profile" vale ainda pelo realismo que emana de um exemplar trabalho de realização e da fotografia de apropriados tons cinza.
Inquietante pela forma como dilui as fronteiras entre a inocência e a perversidade, é um filme que, embora seja vítima de um final demasiado abrupto e inconclusivo, vem comprovar, à semelhança de outros títulos recentes, que o novo cinema alemão contém consideráveis exemplos de cineastas e obras de méritos assinaláveis. Venham mais.


E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM


"Low Profile"
foi uma das obras incluídas na secção Herói Independente da quarta edição do IndieLisboa

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