quarta-feira, abril 25, 2007

O TEMPO QUE RESTA

Terrence Malick e Gus Van Sant são nomes a que o sueco Jesper Ganslandt tem sido comparado pela sua primeira longa-metragem, "Falkenberg Farewell", e percebe-se porquê, uma vez que este olhar sobre um grupo de pós-adolescentes de uma pequena localidade sueca possui uma carga contemplativa e poética não muito distante da que predomina nos trabalhos desses cineastas.

No entanto, se formalmente há algumas semelhanças, o jovem realizador não apresenta trunfos que o façam obter, pelo menos por enquanto, um estatuto à altura do já conquistado por esses dois autores. Não que este seja um filme desprovido de qualidades, já que consegue moldar um retrato por vezes sedutor e encantatório do dia-a-dia de um grupo de amigos que, após os estudos, aproveitam um último Verão antes da entrada decisiva na vida adulta os catapultar para outros rumos.

Ganslandt cruza um cru e directo realismo, ocasionalmente quase documental, com sequências de considerável carga onírica, de que resulta um ambiente etéreo e não raras vezes nostálgico que dá provas de uma sensibilidade apurada. Recorrendo também a imagens de arquivo, o realizador aborda aqui os últimos dias em que as suas personagens ainda estão ligadas à infância e aproveitam para viver ao máximo uma fase de relativa despreocupação, que contudo exibe já sinais de um desencanto que ameaça alastrar-se num futuro próximo.

Dominado por amizades sinceras e larger than life, "Falkenberg Farewell" mergulha no universo masculino e fornece uma perspectiva intimista do companheirismo de um grupo de amigos - em especial da próxima relação de dois destes -, desenvolvendo uma narrativa sem um fio condutor definido que agrega episódios soltos. Esta estrutura, intrigante nos primeiros minutos, acaba por se tornar pouco motivadora por apresentar situações que, de tão banais, suscitam indiferença e algum cansaço.
É certo que tal opção dota a película de um verismo conseguido, onde a plausibilidade não é posta em causa, mas até ao momento em que um acontecimento decisivo altera o percurso de uma das personagens, "Falkenberg Farewell" decorre sem despertar especial entusiasmo.
Infelizmente, essa sequência surge já tarde demais, e ainda que seja responsável pelo momento dramaticamete mais forte do filme, não chega para que o resultado global conquiste por completo.
É pena, pois a espontaneidade das interpretações ou a admirável banda-sonora de Erik Enocksson mereciam ser melhor aproveitadas, mas embora façam parte de uma obra desequilibrada não convém desprezar o potencial que Jesper Ganslandt exibe aqui - apenas se espera que surja com maior solidez nos próximos trabalhos.


E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL


"Falkenberg Farewell"
é uma das obras em competição na quarta edição do IndieLisboa

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