quinta-feira, outubro 28, 2004

TUDO BONS RAPAZES

"Always Outnumbered, Never Outgunned" é o título do mais recente álbum dos Prodigy, que assinala o regresso da banda após sete anos de repouso criativo. Mas depois de uma ausência tão longa, a pirotecnia do grupo conseguirá ainda incendiar paixões?

Com três bem-sucedidos discos de originais - "Experience", "Music For The Jilted Generation" e "The Fat of The Land" - Liam Howlett, Keith Flint, Maxim e Leeroy Thornhill construíram um percurso musical único na década de 90, aliando a energia do rock e a atitude do punk a poderosas atmosferas electrónicas, gerando fenómenos de culto mas atingindo igual sucesso junto de um público mainstream. A apoteose deste rumo consolidou-se em 1997 com "The Fat of The Land", o disco que os lançou para o sucesso global e que fez com que muitos vissem nos quatro rapazes o caminho para o futuro e salvação do rock. "The Fat of The Land" foi também decisivo para uma maior disseminação da música de dança (particularmente do big beat), colocando o grupo como porta-estandarte da cena underground (que acabou por se mesclar com o mainstream) britânica, ao lado de nomes como os Chemical Brothers, Underworld, Leftfield ou Orbital, entre outros.

Sete anos depois, os Prodigy resumem-se agora a Liam Howlett, o único elemento que permaneceu no projecto e que conta com uma consagrada lista de convidados em "Always Outnumbered, Never Outgunned" (Liam Gallagher, Kool Keith, Ping Pong Bitches, Princess Superstar e até a actriz Juliette Lewis). Depois da revolta cibernética-tecno-industrial que explodiu com uma inspirada e influente trilogia de discos, qual o lugar de uma nova experiência em 2004?

A única canção nova que o grupo gerou desde 1997 foi "Baby`s Got a Temper", que trazia um certo sabor a mais do mesmo e não continha as doses de adrenalina que sempre se atribuíram aos Prodigy, por isso o novo álbum era aguardado com expectativa mas também alguma desconfiança.
O resultado é um registo sem a carga de novidade que o grupo apresentou nos discos anteriores, expondo um território familiar onde, a espaços, se verificam algumas vias consideravelmente surpreendentes. Uma das boas surpresas é o atípico e viciante "Girls", o primeiro single extraído do disco que aponta para domínios electro/hip-hop e ousa desviar-se da imagem de marca dos Prodigy. "Action Radar" é outro tema portentoso e demolidor, recuperando a intensidade de hinos urbanos como os clássicos "Breathe" ou "Firestarter", e "Hotride" introduz-nos a uma Juliette Lewis revoltada e capaz de rivalizar com a raiva de Courtney Love. "Shoot Down" complementa a voz dos Oasis, Liam Gallagher, com efusivas batidas big beat, e o atmosférico "Medusa`s Path" traz à memória elementos das hipnóticas sonoridades ambientais do saudoso "Climbatize" (de "The Fat of The Land").
A maioria das restantes faixas do disco confirma que os Prodigy são um projecto com personalidade própria e vincada, mas não transmitem grandes doses de inovação e entusiasmo, incidindo em território já conhecido e, por vezes, demasiado datado. Algumas canções poderiam ser sobras ou lados-B de "The Fat of The Land", não registando novidades face ao que já ouvíamos em 1997.
Ainda assim, Liam Howlett consegue proporcionar um disco que, apesar de não apontar novos rumos (o tempo passa e a sonoridade dos Prodigy já não tem muito de futurista e visionário), contém força, eficácia e solidez suficiente para matar as saudades dos fãs e, talvez, impressionar alguns novos seguidores.
Em "Shoot Down", o tema que encerra o disco, uma das frases cantadas por Liam Gallagher é "Your Time is Running Out". Esperemos então que, se regressarem novamente, os Prodigy não o façam após uma ausência tão prolongada, até porque desde 1997 muitas bandas perderam já o prazo de validade. Mas por enquanto, e apesar da concorrência, este projecto ainda consegue usar algumas armas e garantir que o seu tempo - pelo menos o criativo - ainda não terminou...
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

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