terça-feira, junho 07, 2005

CRÓNICA FEMININA

Se "Beleza Americana", de Sam Mendes; "As Virgens Suicidas", de Sofia Coppola; "Alguém tem que Ceder", de Nancy Meyers e a série televisiva "Donas de Casa Desesperadas" fossem fundidos num só filme, o resultado não deveria andar longe de "O Lado Bom da Fúria" (The Upside of Anger), a mais recente obra de Mike Binder, que para além de realizador ocupa aqui o cargo de argumentista e actor secundário (interpretando o esgrouviado Shep).

Centrado na relação de de uma dupla de protagonistas em crise de meia idade - Joan Allen e Kevin Costner -, o filme combina drama e comédia de forma certeira, nunca se tornando tão depressivo como alguns filmes indie nem caindo nas armadilhas açucaradas de uma formatada comédia romântica.

Os trunfos de "O Lado Bom da Fúria" são o apelativo argumento e, sobretudo, a óptima direcção de actores, que para além do respeitável duo principal conta ainda com quatro jovens e promissoras actrizes que encarnam as filhas da personagem de Joan Allen: Erika Christensen, Keri Russell, Alicia Witt e Evan Rachel Wood (esta última particularmente magnética, dando continuidade às soberbas prestações apresentadas na série "Começar de Novo", de Edward Zick, ou "Treze - Inocência Perdida", de Catherine Hardwicke).

Mike Binder foca a angústia e descontrolo de Terry Wolfmeyer, uma mulher subitamente abandonada pelo marido, cuja amargura a torna cada vez mais neurótica e distante dos que a rodeiam, mantendo uma fricção constante com as suas filhas. Esta espiral descendente será amparada por Denny, radialista e ex-jogador de basebol, velho conhecido da família que se torna cada vez mais próximo e cúmplice dos dilemas de Terry, num relacionamento tenso e contraditório.

Joan Allen e Kevin Costner contribuem muito para a consistência das personagens centrais, oferecendo sólidos desempenhos e gerando uma química irresistível. Allen é especialmente marcante, proporcionando, de resto, uma das interpretações do ano e comprovando que é uma magnífica actriz.

O olhar sobre as realidades suburbanas norte-americanas é cada vez mais recorrente no cinema (e televisão) actual, mas "O Lado Bom da Fúria" ainda consegue ser refrescante dentro desses domínios, pois Mike Binder revela aqui bom gosto na escolha do elenco, banda-sonora e (brilhante) fotografia, assim como na estruturação da narrativa. O suficiente, por isso, para que esta seja uma das boas surpresas do ano.

E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM

6 comentários:

Anónimo disse...

E pelo que se diz por aí, Joan Allen é uma candidata ás nomeações para o Óscar de Melhor Actriz :)!

Cumprimentos cinéfilos

Hitler disse...

E acho que merece bem!
A única coisa que na minha opinião não é tão boa é a realização. Mike devia ficar-se por escrever argumentos pois tem muito talento, mas a realização é um pouco fraquita. Apesar de tudo gostei bastante do filme e dava-lhe também uns 3,5 a fugir para os 4.

gonn1000 disse...

SOLO: Acho que seria uma nomeação merecida...

Ana Marques: Acho que o trabalho de realização é bom, embora Mike Binder não apresente nada de especialmente distinto ou original...

Ricardo disse...

Viva,

Tenho que confessar que o Kevin Costner provoca-me um efeito do género repelente...

É um preconceito, admito, mas é mais forte do que a razão, hehe

Abraço,

kimikkal disse...

Fiquei curioso, já sei qual vai ser o próximo filme que vou ver no cinema!

gonn1000 disse...

Ricardo: Pois, fez alguns filmes de gosto duvidoso, mas neste saiu-se bem...

Kimikkal: Eheh...Enjoy!