quarta-feira, abril 26, 2006

NÃO HÁ DOIS SEM TRÊS

Tal como em "2 Duo" ou "Un Couple Parfait", Nobuhiro Suwa apresenta em "M/other", de 1999, um drama intimista alicerçado no relacionamento de um casal, mas a variação deste filme é que a repentina presença de uma criança irá alterar a dinâmica do par protagonista.

Ao fim daquele que parece mais um banal dia de trabalho, Aki surprende-se ao ver que o seu companheiro, Tetsuro, chega a casa acompanhado pelo filho, Shun, revelando-lhe que este terá de passar cerca de um mês com eles devido a um acidente da sua ex-mulher. Se inicialmente Aki recebe esta novidade com alguma amargura, uma vez que não foi consultada acerca dessa decisão, a situação complica-se ainda mais através de um considerável acréscimo das suas tarefas domésticas, fruto da chegada da criança.

"M/other" fornece um retrato das tensões e contrariedades deste casal que, apesar de não apostar à partida num compromisso sério, vê-se repentinamente transformado numa família, levando a que Aki reconsidere a natureza da sua relação e também aquilo que pretende da sua vida. Sentindo-se por vezes como uma estranha na sua própria casa e revoltando-se com a inércia de Tetsuro, envolve-se numa espiral de emoções conflituosas tentando superar uma situação inesperada que não domina.

Suwa deixa os actores praticamente entregues a si próprios, uma vez que o filme não tem propriamente um argumento e antes pede que estes recorram ao improviso, o que dá a "M/other" uma conseguida atmosfera realista, pois o elenco consegue tornar a acção plausível. Makiko Watanabe, que interpreta Aki, oferece o melhor desempenho, conciliando serenidade, apreensão e entrega e proporcionando alguns momentos de intensa carga dramática.

"M/other" é um filme promissor e intrigante, mas que peca pelo excesso de duração, já que ao longo das suas duas horas e meia Suwa nem sempre é capaz de manter o interesse, perdendo-se em sequências supérfluas e demasiado longas.
O recurso a planos fixos é a espaços saturante, impondo à película uma rigidez formal que por vezes gera distância.
O resultado é um drama familiar sensível e sóbrio, com uma boa história, mas que infelizmente não é contada da forma mais entusiasmante, tornando mediano um filme que poderia atingir um nível superior.
E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL

6 comentários:

P.R disse...

Também tive oportunidade de ver este filme ontem no Indielisboa e sublinho a excessiva duração do filme, arrastando-se interminavelmente. No entanto o filme tem de facto algumas ideias bem interessantes mas, ao contrário do que dizes na crítica, gostei bastante da realização. Os planos fixos e distantes das personagens, juntamente com outros em que a câmara não entra em determinados lugares, situam o telespectador como uma terceira personagem, como se de facto, estivessemos a ver uma situação normal de um casual também ele normal. Esse foi para mim um dos aspectos mais interessantes deste M/other

gonn1000 disse...

Esse elemento que referes tem interesse, mas parece ser algo que Suwa repete em todos os filmes, e a partir de certo ponto torna-se previsível e rotineiro. Mas o problema principal, para mim, foi mesmo ser um filme muito arrastado.

P.R disse...

Pois, como não conheço bem a obra de Suwa não tinha essa noção. Mas sim o filme arrasta-se de forma quase dolorosa, sendo desesperante vê-lo até ao fim...

gonn1000 disse...

Apesar de tudo, este ainda foi o que gostei mais dos 3 que vi dele. "2 Duo" então é que é mesmo doloroso de aguentar até ao fim.

not_alone disse...

Não consigo imaginar como é que um filme consiga ser mais doloroso de assistir do que este. Apesar de ter gostado é preciso muito café para nos manter acordados.

gonn1000 disse...

As duas horas e meia são mesmo excessivas. Se o filme dispensasse algumas cenas, julgo que seria bem mais interessante.