domingo, maio 13, 2007

OS ANJOS DO APOCALIPSE

Uma das boas revelações do cinema britânico dos anos 90, Danny Boyle começou por surpreender com "Pequenos Crimes Entre Amigos" (1994), inspirada obra de suspense e humor negro protagonizada por um então desconhecido Ewan McGregor. No projecto seguinte, o realizador e o actor voltaram a colaborar e o resultado foi um dos mais icónicos e memoráveis filmes da década, "Trainspotting" (1996), pungente retrato de uma juventude perdida com uma abordagem original da toxicodependência, título que levou a que muitos vissem em Boyle um cineasta a caminho da genialidade.
Essa expectativa não se confirmou, contudo, nos filmes seguintes, já que tanto o esgrouviado road movie "Vidas Diferentes" (1997), apenas curioso, como o controverso "A Praia" (2000), ambicioso mas parcialmente falhado, desequilibraram uma filmografia até então sólida e promissora. "28 Dias Depois" (2002), mais conseguido, mantém-se ainda como um dos melhores filmes de terror dos últimos anos, e "Milhões" (2004) regressou às realidades suburbanas dos primeiros trabalhos do realizador, ainda que com uma perspectiva diferente e sem a mesma aura de culto.

"Missão Solar" (Sunshine), o seu sétimo filme, volta a evidenciar a sua versatilidade, investindo em mais um género que Boyle ainda não tinha explorado. Desta vez, a opção foi pela ficção científica, facção viagem espacial futurista, e o filme segue a jornada de uma equipa de oito astronautas que tentam reactivar o Sol, que se encontra em fase de arrefecimento contínuo há anos.
Em causa está não só a sobrevivência da estrela mas, consequentemente, a da Terra, que enfrenta um Inverno rigoroso e vê nesta missão a derradeira hipótese de inversão do contexto, uma vez que outra equipa tinha partido há sete anos com o mesmo objectivo e fracassou.
Os problemas aumentam quando se descobre o paradeiro da nave da primeira missão e há que decidir se vale a pena alterar o percurso estipulado para ir até lá, e assim duplicar as fontes de energia dos explosivos a depositar no Sol - escolha que não gera consenso entre a tripulação.

Apostando numa narrativa com um ritmo inicialmente lento e de considerável carga contemplativa, onde se expõem problemáticas e se desenham personagens, "Missão Solar" adquire, já mais perto do desenlace, uma interessante alteração de coordenadas, onde Boyle não hesita em carregar no acelerador com sucessões de planos curtos e um acréscimo de adrenalina.
O filme alia eficazmente entretenimento a uma reflexão sobre a condição - e vulnerabilidade - humana, contando com personagens minimamente trabalhadas e um rigor narrativo e formal que o colocam acima de um mero blockbuster serviçal.
Do competente elenco destacam-se os desempenhos de Cillian Murphy e Chris Evans, o primeiro revelado em "28 Dias Depois" e que aqui atesta, mais uma vez, o seu talento interpretativo, e o segundo distante da carga espirituosa que o caracterizava em "Quarteto Fantástico", mantendo no entanto o carisma.

"Missão Solar", não sendo uma obra especialmente inovadora ou de méritos superlativos, é ainda assim uma consistente investida de Boyle pela ficção científica, deixando como marca algumas imagens de rara beleza e de uma espectacularidade pouco intrusiva. Não é o seu melhor filme nem manifesta a ousadia dos seus primeiros títulos, mas comprova que o camaleónico realizador continua recomendável.


E O VEREDICTO É:
3/5 - BOM

10 comentários:

Carlos M. Reis disse...

Não fosse o vilão patético, quando não havia necessidade sequer de um, e Sunshine teria sido memorável. Assim, não passa do banal mediano do costume. Fica uma primeira metade de excelente categoria.

Um abraço Gonçalo!

gonn1000 disse...

Sim, o vilão não era indispensável, mas não creio que estrague assim tanto o filme. No geral gostei, só não me marcou como outros filmes do Boyle.
Fica bem, Miguel.

Anónimo disse...

o vilão até poderia ficar por ali na história, mas não daquela forma, parecia um Jason Voorhees invencível... enfim, à parte disso gostei bastante do filme, grandes planos, optimos conflitos entre as personagens e uma estrutura e encaminhamento de notar...

gonn1000 disse...

Sim, dentro do género é dos melhores que tem surgido ultimamente, mesmo não sendo genial.

João M disse...

quero ver.

gonn1000 disse...

Não daria o preço do bilhete por perdido.

Anónimo disse...

estava com enorme curiosidade sobre este filme.
primeiro o genero. ficção cientifica com um enredo que ja n se havia ha mto.
depois o realizador danny boyle.
Pensei sim sr. vamos lá.
So falhou o final, o "vilão" n foi convincente, o espectador n foi suficientemente bem trabalhado para crer naquela situação, apesar do momento qdo se descobre que ha mais um passageiro fazer recordar o alien, e os efeitos visuais ao seu redor n ajudaram.
Mas sem duvida que é mto positivo, mas fica aquela sensação que poderia ser um bocadinho melhor.

gonn1000 disse...

Concordo que poderia ter saído daqui um filme mais impressionante e memorável, mas tendo em conta os exemplos do género que têm surgido ultimamente, este convence mais do que a maioria. Boyle já fez melhor, e talvez volte a fazer.

Gonçalo Trindade disse...

Um filme no espaço do Danny Boyle com um vilão altamente rico em simbolismo religioso?

Tenho de ver isto.

gonn1000 disse...

Não é bem bem isso, ou pelo menos não só isso, mas vale a pena arriscares.