terça-feira, outubro 19, 2004

SANGUE, SUOR E ADOLESCENTES

Um dos títulos fulcrais do Festival de Toronto de 2002 e do Fantasporto de 2004, "A Cabana do Medo" (Cabin Fever) combina elementos de suspense, terror, gore e comédia negra para proporcionar hora e meia de bem-conseguidos sustos e arrepios.

O ponto de partida não é muito original, uma vez que não passa de mais uma variação sobre um grupo de jovens pré-universitários que passam alguns dias de férias numa cabana algures no interior dos EUA. A agradável atmosfera inicial da aventura altera-se quando um dos elementos do grupo é contagiado por uma misteriosa bactéria que lhe começa a apodrecer o corpo. A partir do momento em que surge esse elemento de tensão, o ambiente altera-se drasticamente e os cinco adolescentes vêem-se imersos numa teia de medo, suspeita, paranóia e desespero, gerando uma sucessão de conflitos, atritos e episódios macabros.

"A Cabana do Medo" apresenta uma boa gestão do tempo e do ritmo da acção, desencadeando surpresas suficientes para despertar o interesse, embora não esteja imune a alguns lugares comuns. As cinco personagens centrais, pouco desenvolvidas, não ultrapassam os clichés do género. Jeff (Joey Kern) é o típico jovem bem-parecido e arrogante, Marcy (Cerina Vincent) a morena sensual, Paul (Rider Strong) o rapaz bem-comportado, Karen (Jordan Ladd) a loura simpática e Bert (James DeBello) o egoísta irresponsável. O argumento do filme também não traz nada de realmente novo, antes aproveita situações de obras anteriores e elabora uma mistura de condimentos com energia e fôlego suficientes para entusiasmar.
Simultaneamente cómico e perverso, "A Cabana do Medo" nunca se leva muito a sério, equilibrando cenas inesperadas e claustrofóbicas com momentos mais satíricos e lúdicos. O realizador Eli Roth consegue dosear os níveis de suspense e adrenalina, oferecendo uma banda-sonora críptica e perturbante, uma fotografia de tons negros e ensaguentados, uma montagem eficaz e múltiplos sobressaltos que compensam a falta de chama de alguns actores e os esboços de personagens que orientam a acção.
Protegido de David Lynch ("Mulholland Drive", "Estrada Perdida") e elogiado por Peter Jackson (realizador da trilogia "O Senhor dos Anéis" e cineasta de culto), Eli Roth apresenta uma competente e curiosa estreia na realização, proporcionando uma interessante série-B que é descendente directa dos clássicos de John Carpenter ou Sam Raimi. Enquanto arrepia e sufoca, "A Cabana do Medo" suscita ainda um subtexto que alude para temas como o preconceito, ostracismo, tolerância ou individualismo VS espírito de grupo. O facto de ser um filme de baixo orçamento acaba por jogar a seu favor, evitando uma exposição de supérfluos efeitos especiais e apostando em processos mais modestos que acentuam as texturas sinistras e a espaços bizarras.
Não sendo uma obra brilhante, "A Cabana do Medo" é uma experiência consistente e dinâmica, constituindo uma boa adição ao género de terror com adolescentes (bem mais estimulante e criativa do que os clones de "Gritos - Scream" que surgiram como cogumelos nos finais da década de 90). Juntamente com "Nunca Brinques Com Estranhos" (Joyride), de John Dahl, e "28 Dias Depois" (28 Days Later), de Danny Boyle, a primeira obra de Eli Roth é um dos mais sólidos filmes dos últimos anos (dentro do género) que ainda vai mantendo vivos os domínios do gore e do terror.
Suficientemente desconfortável e intrigante.

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

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