Gregg Araki, o controverso realizador da “trilogia adolescente apocalíptica” - Totally F***d Up (1993), The Doom Generation (1995) e Nowhere (1997) – reduz consideravelmente as suas atmosferas de choque e desespero num filme surpreendentemente linear e convencional. “Esplendor” (Splendor), de 1999, afasta-se dos retratos de juventude alienados e niilistas que caracterizaram a obra do cineasta e aproxima-se (perigosamente?) de territórios relacionados com a comédia romântica, ainda que ligeiramente atípica.
Veronica é uma jovem de 22 anos, responsável e ponderada, que subitamente começa a envolver-se com dois homens ao mesmo tempo (o baterista Zed, interpretado por Matt Keeslar, e o crítico de música alternativa Abel, incorporado por Johnathon Schaech). Vivendo uma situação inédita na sua vida, Veronica acaba por encontrar pontos de interesse em ambos os relacionamentos e apaixona-se pelos dois pretendentes em simultâneo. Em vez de optar por um deles, a jovem acaba por gerar uma relação a três, convencendo os dois rapazes a aceitar o triângulo amoroso e, alguns meses depois, os três decidem partilhar o mesmo lar.
Araki afirma ter-se inspirado nas screwball comedies dos anos 30 para criar “Esplendor”, adaptando-as aos dias de hoje, simultaneamente mantendo a abordagem a temáticas sexuais que é inerente à sua obra. Contudo, essa abordagem é inesperadamente discreta e pouco arriscada, não registando particular ousadia ou carga inventiva. É certo que há um esforço por tornar o filme excêntrico, trendy e irreverente (a ménage à trois logo no início, a melhor amiga lésbica, a origem de novos tipos de família, …), mas a perspectiva é, aqui, demasiado superficial e pouco aprofundada, situando-se perto de uma banal sitcom e evitando entrar no âmago das questões.
Se na primeira metade o filme ainda promete surpreender, na segunda a história torna-se cada vez mais açucarada e previsível, expondo um desfecho minado de clichês e não muito longe de comédias românticas na linha de “O Diário de Bridget Jones”, apresentando a protagonista como uma vítima dos acontecimentos (quando, na verdade, ela é a principal responsável pelo caos que domina a sua vida).
“Esplendor” proporciona certos momentos com alguma frescura e, em determinadas cenas, oferece um curioso retrato dos dilemas dos actuais jovens adultos, mas globalmente não ultrapassa a mediania e apresenta uma boa ideia subaproveitada. O recente “Os Sonhadores” (The Dreamers), de Bernardo Bertolucci, engloba alguns dos pontos de partida de “Esplendor” e trabalha-os de forma bem mais inquietante e criativa, transmitindo um resultado final bem mais convincente.
“Esplendor” é um daqueles filmes que é facilmente superado pela sua (excelente) banda-sonora, que contém nomes como New Order, Blur, Air, Chemical Brothers, Lush, Suede, Slowdive ou Fatboy Slim. Espera-se que, na sua próxima obra, Araki volte a exibir alguma da sua carga provocadora e desconcertante…
E O VEREDICTO É: 2/5 - RAZOÁVEL
Sem comentários:
Enviar um comentário