Cineasta polémico devido ao seu olhar frequentemente incisivo, directo e por vezes áspero das sociedades urbanas contemporâneas (particularmente as norte-americanas), Spike Lee tem sedimentado, ao longo dos últimos anos, uma filmografia que, mesmo não sendo consensual, exibe personalidade, carisma e relevância, com obras que tem sempre algo a dizer.
“Ela Odeia-me” (She Hate Me), o novo joint, é mais um concentrado de múltiplas bases para discussão acerca de temáticas já habituais no percurso do realizador, abordando, entre outras, a cultura empresarial, a sexualidade, os novos tipos de família, a xenofobia ou as desigualdades sociais, elementos que nem sempre são suficientemente desenvolvidos e que se interconectam de forma desregrada num filme com tanto de desafiante como de irregular.
O mote da película evidencia logo que este é um projecto arriscado e de difícil catalogação, centrando-se em John Henry, um jovem executivo de uma empresa forte que, ao tomar conhecimento de alguns actos ilegais que envolvem a mesma, decide denunciá-la, acabando não só por ser despedido mas por ser acusado de encetar essas práticas pouco lícitas.
Partindo desta situação, “Ela Odeia-me” colocará depois o seu protagonista a participar em negócios duvidosos, recebendo avultadas quantias para engravidar a sua ex-namorada, a companheira desta, e muitas outras lésbicas que lhe pagam para serem mães sem recorrerem à inseminação artificial.
Estas experiências trarão novos problemas a John, que entretanto se relacionará também com elementos da Máfia e terá de enfrentar os habituais dilemas da sua família, com quem mantém uma relação algo distante.
Lee conta aqui com um argumento singular e até mesmo inventivo, mas também desequilibrado, uma vez que a mescla de denúncia dos podres das grandes corporações, comédia burlesca, drama familiar, thriller político e filme de tribunal gera um resultado que tanto oferece momentos de antologia (quando foca as dificuldades dos relacionamentos e a aceitação – ou rejeição – das orientações sexuais) como cenas embaraçosas devido à gritante falta de subtileza (o desenlace banal e demagógico no julgamento, com uma forçada ligação ao caso Watergate).
A alternância entre a irreverência e a suposta seriedade não é muito conseguida, mas tal não implica que “Ela Odeia-me” seja um filme falhado, longe disso. Lee volta a apresentar um absorvente trabalho de realização, sendo capaz de criar as múltiplas atmosferas que o argumento exige, recorrendo a um brilhante trabalho de fotografia e a uma montagem fluida e dinâmica.
O elenco é, como se esperaria, igualmente sólido, confirmando que Anthony Mackie, depois de participações em títulos como “8 Mile” ou “Million Dollar Baby – Sonhos Vencidos”, é capaz de carregar um filme às costas (e se ele não estivesse à altura “Ela Odeia-me” não se aguentaria), compondo um protagonista apropriadamente ambíguo e carismático. Woody Harrelson, John Turturro, Monica Bellucci ou Kerry Washington, entre outros, asseguram também um consistente núcleo de secundários.
Mesmo não estando ao nível de algumas das últimas obras do realizador - como o habitualmente referido “A Última Hora” ou o mais esquecido, mas não menos interessante “Verão Escaldante” -, “Ela Odeia-me” ainda é um filme que se situa bem acima da média, e apesar de nem sempre acertar no alvo tem o mérito de tentar inovar, evitando lógicas formatadas e previsíveis.
Só é pena que não seja a obra-prima que alguns dos seus momentos sugerem, mas não deixa de constar entre as recomendáveis experiências cinematográficas de 2005.
E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM
11 comentários:
Vou muito pouco à bola com Spike Lee, à excepção de "25th Hour"... este filme, talvez o visione daqui por uns tempos...
A ver em DVD...talvez!
Cumps.
Ainda não vi o filme e também não estou para aí muito virado. Mas só pela imagem no link em baixo, vale a pena comentar sobre o filme:
http://www.benhillman.com/quicktime/sperm.jpg
Francisco Mendes: Também não gosto de todos os seus filmes mas este, mesmo não sendo dos melhores, ainda é muito recomendável.
SOLO: Combinaste com o Francisco, foi? :P
Brain-Mixer: Mas vocês fazem parte de algum clube de não-fãs do Spike? :P
Para contrastar com as opiniões atrás dadas digo que Spike Lee, com Quentin Tarantino, formam o duo de realizadores mais importantes a surgir em terras americanas nos últimos 20 anos.
eu até gostei bastante do "25th hour" mas achei este "She hate me" fraquinho.
Daniel: Hmmmm, se calhar também não diria tanto, até porque falta aí o Fincher...
Eur3ka: Está um pouco abaixo desse, mas muito acima da maioria do que anda pelas salas.
Achei um filme diferente, um autêntico cocktail de política e sexo.Penso que a mensagem que ele quis deixar foi que as pessoas são mais preconceituosas em causas menores, em vez de o serem em causas maiores.Preocupam-se mais com o que fica bem do que com o que faz mal!
É incrível!, ainda não estreou na Madeira, e queria mesmo vê-lo para ver do que Spike é capaz depois de 1 25th hour que simplesmente amei.
Cumps
Susana: Sim, também passa por aí...
Turat Bartoli: Está visto que tens de te mudar para o "cóntenente". Em relação ao filme, não esperes assim tanto...
i loved this movie cause it has lodes of sex
i'm a lesbian and i think they should do more sex movies about us
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