terça-feira, abril 12, 2005

DEPOIS DA MAIORIDADE

Finalizando o primeiro ciclo de concertos do "For U Music", uma iniciativa que visa dinamizar o Fórum Lisboa através de espectáculos de músicos portugueses, os Rádio Macau comemoraram, no passado dia 9, os seus vinte anos de carreira ao vivo perante uma sala preenchida.

"Disco Pirata" e "Livro Pirata", editados em Fevereiro, celebraram o aniversário da banda, e na noite de sábado o concerto fechou com chave de ouro o festejo de duas décadas de actividade. O alinhamento incidiu sobre o álbum recentemente reeditado, incluiu alguns temas novos e destacou ainda várias canções clássicas do grupo, exibindo um considerável eclectismo.

Do baú de recordações brilharam a àspera "Guarda a Faca", a inebriante "Mais Uma Canção Sobre Edifícios a Arder", a envolvente "Só Para Matar o Tempo" ou a serena "A Última Gota de Mim", mediante as quais os Rádio Macau revisitaram registos mais antigos como o disco de estreia homónimo ou o marcante "O Rapaz do Trapézio Voador". Contudo, os temas desta primeira etapa do grupo mais aplaudidos pelo público foram a sóbria "Amanhã (É Sempre Longe Demais)", a carismática "Bom Dia Lisboa" e, claro, as inevitáveis "O Anzol" e "O Elevador da Glória", que ainda se mostram capazes de despoletar reacções de inegável entusiasmo na audiência.

A banda alternou então momentos de crueza e visceralidade rock com episódios vincados pela placidez da pop, estes últimos característicos dos álbuns mais recentes dos Rádio Macau, "Onde o Tempo Faz a Curva" e "Acordar".
Assim, houve espaço para exemplos de pop sofisticada e elegante como "Sempre Mais", "Acordar" e a fascinante "De Azul em Azul", uma das mais absorventes e hipnóticas canções do grupo que envereda por apelativas atmosferas trip-hop, comprovando uma eficaz experiência com as electrónicas mais actuais.

Apesar de alguma nostalgia, a noite não se reduziu a um best of ao vivo, uma vez que o quinteto estreou canções inéditas, que serão incluídas no próximo disco. Foi esse o caso de um tema ainda sem título, inspirado em amigos dos tempos da adolescência, "que tinham umas cabeças porreiras", mas que entretanto foram perdendo o contacto com os elementos da banda.

Em cerca de duas horas, os Rádio Macau proporcionaram um agradável e inspirado concerto onde Xana evidenciou, mais uma vez, a sua boa forma vocal e um afável contacto com o público, Flak destacou-se com uma postura enérgica na guitarra e os demais membros do grupo exibiram uma solidez e coesão irrepreensível.
Saliente-se ainda as boas condições do espaço, o som competente e o apropriado trabalho de iluminação (que se adaptou aos ambientes das canções apostando, por exemplo, em tons púrpura e escarlate na densa "Guarda a Faca" ou na alternância entre azul e dourado na cativante "O Anzol").
Com esta eficaz combinação de ingredientes, a audiência - que não era dos 7 aos 77, mas quase - rendeu-se sem hesitações e comprovou que, vinte anos depois, os Rádio Macau continuam relevantes e recomendáveis.
E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM

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