Conhecido por títulos como "State & Main" ou "Jogo Fatal" (House of Games), David Mamet é um cineasta que tem trabalhado o tema das aparências ilusórias e verdades dúbias em grande parte dos seus projectos. O seu novo filme, "Spartan - O Rapto", não foge à regra e volta a investir numa narrativa com surpresas recorrentes e twists constantes, apresentando uma aventura cuja complexidade tende a aumentar progressivamente.
No cerne da acção encontra-se Scott (Val Kilmer), um agente especial que é incumbido de descobrir o paradeiro de Laura, a jovem filha de um influente político americano. À medida que o agente prossegue a sua busca e investigação, vê-se envolvido numa teia de revelações cada vez mais desconcertantes e inesperadas, tornando-se numa peça essencial (e indesejada) de um intrincado esquema de corrupção e interesses.
"Spartan - O Rapto" aposta assim num jogo de múltiplas e inquietantes peripécias que inserem o protagonista numa atmosfera de meias-verdades, esquemas de espionagem e um (sub)mundo de determinantes e nocivas convulsões. A lealdade dos aliados de Scott torna-se progressivamente questionável e a figura do "inimigo" permanece uma incógnita, uma vez que este se encontra enraizado em diversos quadrantes de uma sociedade contemporânea caracterizada por intensos fluxos de informação. Por isso, Scott só pode contar consigo mesmo, travando um combate isolado na tentativa de resgatar Laura (à semelhança dos soldados que o Rei de Esparta, Leónidas, enviava para os seus inimigos, preferindo atacar de forma abrupta através de um homem só em detrimento de um exército).
Val Kilmer interpreta competentemente o sisudo e perspicaz Scott, e o restante elenco (William H. Macy, Derek Luke, Tia Texada) fornece prestações igualmente seguras, apesar da caracterização das personagens não ser muito complexa e entusiasmante (apenas o protagonista tem um desenvolvimento com alguma substância, uma vez que as figuras secundárias são reduzidas a meras peças da engrenagem). A falta de chama das personagens é compensada pela eficiência do argumento, mas mesmo este apresenta alguns problemas, dado que certas surpresas são tão inesperadas quanto inverosímeis, tornando o filme inconstante e irregular.
A realização de Mamet, sofisticada e eficaz, auxilia o tom minimalista desta história de espionagem com um carácter mais cerebral do que explosivo. Ao contrário de muitos thrillers, "Spartan - O Rapto" não proporciona uma overdose de sequências de acção ultra-dinâmicas, antes prefere optar por uma vertente mais discreta e sóbria. Este elemento torna o filme frio e distante em alguns momentos, mas gera também curiosas cenas de suspense e episódios que testam as certezas do espectador.
Mais criativo do que alguns dos títulos recentes de Mamet (os insípidos "Heist - O Golpe" e "O Prisioneiro Espanhol") e ambientado num contexto de forte ambiguidade política e moral (aludindo para o poder dos media e os conflitos de interesses de uma nova e problemática ordem mundial), "Spartan - O Rapto" é um interessante e eficaz thriller, que sofre contudo de um argumento pouco convincente e credível a espaços. Dentro do género, atreve-se a oferecer algumas curiosas variações e a afastar a previsibilidade que mina muita da concorrência actual, reforçando o talento de um realizador que ainda consegue surpreender.
E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL
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