sexta-feira, novembro 30, 2007
10 BLOGUES, 5 FILMES, 1 REALIZADOR
quinta-feira, novembro 29, 2007
FUTURISMO OLD SCHOOL
“The Story of Espion”, o seu álbum de estreia editado em 2002, garantiu-lhe alguns elogios, que foram agora reforçados com o seu segundo disco em nome próprio, “Lucky Boy”, um claro passo em frente onde exibe maior eclectismo e segurança.
“Lucky Boy” resulta num interessante conjunto de ambientes, geralmente através de canções instrumentais não muito dinâmicas, de onde sobressai a eficácia de Mehdi como produtor e algum talento na composição, ainda que nunca registe um nível inventivo muito acima da média. Mais agradável do que desafiante, o disco é um curioso caleidoscópio que se empenha na revisitação de estilos e não tanto na projecção de novas ideias, o que não chega a ser um problema já que consegue ser quase sempre absorvente.
Pontualmente há temas menos consistentes, como “Wee Bounce”, cuja percussão repetitiva e imutável acaba por cansar, mas na maior parte dos casos DJ Mehdi convence e faz com que “Lucky Boy” seja um disco capaz de resistir a muitas audições, com potencial para se tornar numa das bandas-sonoras para o quotidiano de muitos.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
DJ Mehdi feat. Chromeo - "I Am Somebody"
quarta-feira, novembro 28, 2007
ESTREIA DA SEMANA: "PROMESSAS PERIGOSAS"
Outras estreias:
"Conversas com o Meu Jardineiro", de Jean Becker
"Hitman - Agente 47", de Xavier Gens
"Paranoid Park", de Gus Van Sant
"Uma História de Encantar", de Kevin Lima
segunda-feira, novembro 26, 2007
O MEU TIO
Ricardo, que faz espectáculos musicais como travesti num bar lisboeta, entra em desespero após o abrupto suicídio do namorado, mas depois de uma visita da sua irmã, que não via há anos, decide regressar com ela à sua terra natal, uma localidade no interior, local onde deixou um pai desiludido e uma noiva frustrada. É aí que conhece outro familiar, o seu sobrinho Tomás, um jovem com trissomia 21 que aos poucos o vai contagiando com a sua espontaneidade e optimismo, e as conversas que partilham acabam por os encorajar a encetar novas fases nas suas vidas.
Felizmente, o desenvolvimento da narrativa torna-se mais interessante à medida que as personagens se vão dando a conhecer, e mesmo com um ritmo irregular este drama acaba por ir conquistando através de um argumento consistente e um assinalável rigor formal.
Tal como em outras obras do cineasta, "A Outra Margem" demonstra apuro tanto na realização como na direcção de actores, tendo esta última sido distinguida no Festival de Montreal, onde Filipe Duarte e Tomás Almeida foram ambos galardoados com o prémio de melhor actor. Percebe-se porquê, já que a dupla oferece aqui interpretações sentidas, e Duarte é especialmente notável, compondo uma personagem que facilmente poderia cair na caricatura mas que aqui surge num retrato tridimensional - das expressões faciais à linguagem corporal, o actor sofre uma impressionante metamorfose face ao que já demonstrou em qualquer outro papel que encarnou.
Pena que os interessantes conflitos entre as personagens não sejam tão explorados como se desejaria, impondo um desenlace que deixa várias pontas soltas. Situações como a do reencontro do protagonista com o pai - claramente simbólica, a explicar o título do filme - perdem força por não terem seguimento, não aproveitando ao máximo as possibilidades da premissa.
Aliadas aos problemas iniciais da narrativa, fazem de "A Outra Margem" uma obra desequilibrada, embora não a impeçam de se destacar como um dos bons títulos do final de 2007 e, principalmente, como um dos escassos filmes portugueses dos últimos tempos que vale a pena descobrir.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
VER E OUVIR (2)
Como aperitivo para o espectáculo deixo a colaboração da cantora com os Leftfield num dos poucos grandes momentos de "Rythm & Stealth", o último álbum do duo britânico:
Leftfield - "Swords"
domingo, novembro 25, 2007
VER E OUVIR
Bloc Party - "Flux"
sábado, novembro 24, 2007
POR FAVOR NÃO ME DEVOREM O PESCOÇO
A premissa é excelente, focando a invasão de uma pequena localidade do Alaska por um grupo de sugadores de sangue durante 30 dias em que nunca se vê a luz do Sol. O cenário frio, hostil e sobretudo nocturno é o ideal para que o grupo de vampiros consiga fazer um banquete duradouro, e o realizador de David Slade - o mesmo do muito promissor "Hard Candy" - é hábil na confecção de atmosferas com tanto de inquietante como de absorvente.
A realização de Slade não desaponta e mantém a hipnótica energia visual que já era um dos trunfos de "Hard Candy", propiciando belíssimos contrastes entre o sangue e a neve, e o realizador imprime um ritmo eficaz, por vezes vertiginoso, que mantém o suspense ao longo das quase duas horas de duração.
Este evidente savoir faire compensa alguns aspectos menos conseguidos, sendo o mais flagrante a do desenvolvimento das personagens, quase todas carne para canhão - ou pescoço para dentição - e não tanto figuras que surtam especial empatia.
Mesmo assim, esta é ainda uma experiência cinematográfica meritória, que se não redefine o género - como a premissa poderia sugerir - também não o envergonha, apresentando muitas sequências certeiras e envolventes, dominadas por explosões de cor e tensão. Slade aposta, e bem, numa narrativa directa e escorreita, com uma eficácia de série-B - não por acaso, a sombra de Carpenter, e de "The Thing" em particular, nota-se em algumas cenas -, e serve aqui uma refeição recomendável para apreciadores destas iguarias. Quem tiver estômagos mais sensíveis deve, contudo, optar por menus mais ligeiros.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
quarta-feira, novembro 21, 2007
FUNDO DE CATÁLOGO (6): MULU
O álbum é também um dos que não resistiu muito bem ao tempo, marcado pelo misto de trip-hop e de uma pop dançável de finais de 90 que, apesar de exibir alguma frescura nesses dias, está agora datado. O tal single, que dá pelo nome de "Pussycat", é continua a ser, mesmo assim, uma canção eficaz e indispensável em qualquer revisitação aos one hit wonders da década passada. Mas nada como recordá-la para tirar as dúvidas, aqui em baixo:
Mulu - "Pussycat" Recordações anteriores
terça-feira, novembro 20, 2007
NOVAS AMEAÇAS NA HISTÓRIA DO COSTUME
Não é novidade que grande parte da ficção científica sempre teve no âmago uma análise a contextos políticos e sociais, por vezes lançando interessantes questões sobre a natureza humana, e se é verdade que "A Invasão" se esforça por empreender um debate não o é menos que essa tentativa resulta num esforço forçado e pouco subtil, que impõe pontos de vista ao espectador em vez de fazer com que este se interrogue.
A premissa, centrada numa epidemia onde um microorganismo se insere nos humanos e passa a controlá-los após estes dormirem, poderia estar na origem de bons resultados, e embora Hirschbiegel consiga ofecer alguns eficazes momentos de suspense acaba por perder-se numa narrativa mecânica e formulaica.
Muitas das situações foram já vistas e revistas em filmes da série ou fora dela - a fuga da protagonista com o seu filho faz lembrar a jornada de Tom Cruise e Dakota Fanning em "Guerra dos Mundos", de Spielberg, e perde na comparação -, o desenlace é particularmente apressado e pouco satisfatório e a realização, mesmo sendo sempre competente, não tira o filme do anonimato já que nunca gera sequências memoráveis.
"A Invasão" não chega a ser um filme despiciendo, pois apesar de pouco imaginativo não se torna aborrecido, é escorreito e por vezes interessante de seguir. Contudo, também nunca nunca vai além de uma mediania indistinta, o que é pouco para uma obra que, tanto pela premissa como pelos nomes envolvidos, tinha obrigação de ser mais do que um entretenimento descartável.
E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL
sábado, novembro 17, 2007
ROCK MELANCÓLICO SERVIDO COM ENERGIA
Este ano, os Editors regressaram com "An End Has a Start", um digno sucessor que manteve o carisma de um projecto seguro, não alargando muito os seus horizontes musicais mas cimentando as boas impressões iniciais.
Estes dois registos constituíram o cerne do alinhamento de ontem no Pavilhão do Restelo, onde o jovem quarteto de Birmingham se apresentou pela segunda vez em Portugal após uma breve passagem pelo festival Super Bock Super Rock do ano passado.
O vocalista Tom Smith, que em disco remete para a carga soturna de vocalistas urbano-depressivos da década de 80, exibiu uma vivacidade que contrastou com o tom melancólico da maioria das canções, e subiu para cima do piano logo aos primeiros minutos, gerando uma química com os espectadores que se manteve ao longo da quase hora e meia de concerto.
A banda satisfez tanto em momentos dinâmicos e épicos como "Bones" ou "An End Has a Start" como nos mais contemplativos e serenos "The Weight of the World" ou "When Anger Shows", perdendo pouco tempo com conversas com a audiência - embora Smith não tenha sido parco nos já tradicionais "obrigados" - e oferecendo uma rápida sucessão de temas, praticamente sem pausas, impondo um ritmo que só desacelerou em episódios de alguma monotonia como "Spiders".
Esta e algumas outras canções do segundo álbum, ainda que bem recebidas e muito aplaudidas, perderam na comparação com as do primeiro, que felizmente dominaram grande parte do repertório.
Entre passagens pelos dois discos hove ainda espaço para um inédito, "Banging Heads", e o lado-B "You Are Fading", ambos igualmente bem acolhidos, complementando uma sucessão de consistentes portentos de rock negro ora dançável ora medidativo.
Com uma actuação escorreita e empenhada, os Editors só não entusiasmaram quando a bateria e a guitarra eclipsaram o piano em demasiadas ocasiões, ou quando Smith procurou imitar os trejeitos vocais de Ian Curtis, algo de que não precisou nos discos e que ao vivo soou forçado e balofo, comprometendo o carisma de algumas canções. Não ameaçaram, no entanto, as reacções do público, sempre dedicado e atento, que acompanhou muitas vezes o vocalista e revelou-se um profundo conhecedor da discografia da banda.
Antes do quarteto de Birmingham subir a palco, coube a Mazgani receber o público que foi chegando sem pressas. O músico iraniano, actualmente a residir em Setúbal, levou ao Pavilhão do Restelo o seu álbum de estreia, "Song of the New Heart", substituindo os previstos Boxer Rebellion. Durante pouco mais de meia hora, o cantor e a sua banda obtiveram uma quantidade assinalável de aplausos após uma actuação competente, vincada pela matriz singer songwriter que por vezes lembrou a angústia de um Nick Cave. Não sendo a primeira parte mais óbvia ara um concerto dos Editors, acabou por antecipar eficazmente o rock negro que se seguiu.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
Fotos: Eduardo Santiago
MODELO E DETECTIVE
O facto do argumento ser assinado por Richard Kelly, o realizador do filme de culto "Donnie Darko", indicia que esta será uma obra pouco convencional, e a embalagem em que Scott a envolve só o confirma, atirando-a para a categoria de onvis cinematográficos, um objecto intrigante e inclassificável mas não necessariamente conseguido.
Não falta ambição ao projecto, que de resto pode ser confirmada na lista de ilustres (ou não tanto) que integram o elenco: além da protagonista Keira Knightley e do renascido Mickey Rourke, também Christopher Walken, Lucy Liu ou Mena Suvari marcam presença, embora o mais inesperado seja ver, no mesmo filme, gente tão díspar como Macy Gray, Jerry Springer(!), Tom Waits(!!) ou Brian Austin Green e Ian Ziering, dois actores de "Beverly Hills 90210" que fazem deles próprios(!?!).
Assim, o filme não é tanto sobre os dilemas da protagonista mas antes uma sátira ao lixo televisivo dos últimos anos, escolhendo alvos fáceis como séries juvenis ou reality shows.
Ou se calhar é sobre as diferenças étnicas, culturais e sociais e das injustiças que a elas estão ligadas, tornando válido um jogo de vale tudo quando encetado a favor da defesa dos mais frágeis e inocentes.
Ou talvez não queira ser nada disso, contentando-se em funcionar como um concentrado pós-moderno que quase dilui as fronteiras entre a linguagem cinematográfica e a do videoclip - o que nem é inédito na filmografia do realizador, vincada pelos recorrentes planos curtos e montagem hiperactiva.
No meio de garridos borrões de cor tão omnipresentes e intrusivos como a voz off da protagonista (que não se cansa de repetir muitas frases), assim como da constante mudança de azimutes do argumento, não há grandes hipóteses de sair daqui um resultado consistente, o que faz de "Dominó" um filme que está quase sempre na corda bamba entre o brilhantismo e a banalidade, sem que se mova definitivamente para um dos lados.
"Dominó" tem então potencial para irritar quem já não era adepto do estilo de Scott, mas quem não depositar aqui expectativas muito elevadas ainda pode divertir-se com o descaramento de alguns momentos e com o tubo de ensaio estético que ocasionalmente gera sequências hipnóticas. E mesmo sendo um filme inconsequente e parcialmente falhado, este tem o mérito de arriscar mais do que a maioria dos produtos made in Hollywood, o que já é motivo para que mereça alguma atenção.
E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL
quinta-feira, novembro 15, 2007
ESTREIA DA SEMANA: "CONTROL"
Outras estreias:
"Across the Universe", de Julie Taymor
"Beowul 3D Digital", de Robert Zemeckis
"Delírios", de Tom DiCillo
"E Não Viveram Felizes Para Sempre", de Paul Bolger e Yvette Kaplan
"Gangster Americano", de Ridley Scott
"Nomad - A Profecia do Guerreiro", de Sergei Bodrov e Ivan Passer
Trailer de "Control"
quarta-feira, novembro 14, 2007
FESTEJOS SEM CERIMÓNIAS
Acolhido por fãs acérrimos, recém-convertidos e alguns curiosos, o trio de Ace, Presto e Serial não demorou muito a lançar ondas de energia pela sala, desafiando o público, incitando-o a dançar e a não permanecer sentado em várias ocasiões. O convite foi sempre correspondido, o que fez com que, embora o recinto estivesse apenas com cerca de metade da lotação, o concerto nunca tenha perdido o ritmo, mantendo um dinamismo regular do início ao fim.
Isto não pareceu incomodar a maioria dos que lá estiveram, já que os aplausos foram constantes, os pedidos de músicas também, e o bom-humor dos dois MCs encarregou-se de gerar vários episódios curiosos. Ace foi especialmente mordaz em breves comentários ao cenário político ou ao entretenimento televisivo, conquistando a adesão imediata do público, ao qual dirigiu diversos agradecimentos.
O já velhinho "Dedicatória", primeiro single do disco de estreia, "Sem Cerimónias" (que celebra dez anos), foi um dos pontos altos, confirmando-se ainda como um tema essencial do hip-hop feito por cá, e será o cartão de visita da compilação "Matéria Prima".
Com a química entre banda e público a compensar alguma falta de surpresas ou rasgos, a actuação chegou para atestar a boa forma dos Mind da Gap e terá sido uma oportunidade para alguns dos espectadores se terem inciado nos concertos - a julgar pela faixa etária de muitos e pelo facto de outros tantos terem começado a sair antes do encore. Espera-se que hajam outras, tanto para o público como para o grupo.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
Entrevista aos Mind da Gap
segunda-feira, novembro 12, 2007
VIAGEM AO SUBMUNDO LONDRINO
Isto não implica, contudo, que o seu novo filme esteja desprovido de fortes marcas identitárias, uma vez que desde o início que a narrativa mergulha numa atmosfera sinuosa e inquietante, e à medida que se vai desenvolvendo a acção abre espaço para a exploração de temas recorrentes do cineasta canadiano, sejam questões relacionadas com o corpo e as suas alterações, sejam os interstícios mais negros da esfera humana e a forma como a violência regula relações.
Ambientado nos recantos mais obscuros de Londres, este cruzamento de thriller e drama centra-se numa enfermeira que, após ter ajudado a dar à luz uma bebé cuja mãe adolescente morreu no parto, tenta encontrar a sua família tendo como única pista um diário.
Aliados à segura realização, capaz de servir algumas cenas de antologia - como as dos (literalmente) cortantes momentos iniciais ou de uma sequência de combate num balneário -, estes elementos concedem ao filme um assinalável equilíbrio, felizmente complementado pela apurada direcção de actores.
Coeso e absorvente, "Eastern Promises" não chega a ser arrebatador devido a um desenlace algo abrupto, fechando demasiado cedo uma história que talvez ganhasse com mais alguns minutos - a personagem de Watts, por exemplo, poderia ter sido mais desenvolvida. Ainda assim, é um filme acima da média e o melhor do cineasta em muitos anos, demonstrando que, não obstante alguns altos e baixos na sua obra, Cronenberg continua a ser um realizador singular e um atento observador do mundo de hoje.
E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM
"Eastern Promises" é exibido nesta terça-feira pelas 16h30 no Cinema Villa, em Cascais, no âmbito do European Film Festival
sábado, novembro 10, 2007
26
Sugarcubes - "Birthday"
Garbage - "When I Grow Up"
Cibo Matto - "Birthday Cake"
quinta-feira, novembro 08, 2007
UMA BANDA PARA ADMIRAR
O arranque, com "Pioneer to the Falls", que também é o primeiro tema do novo disco, cativou pela imponência, mas com canções mais antigas, como "Say Hello to the Angels", "Narc" e "Obstacle 1", logo a seguir, é que a banda acendeu um rastilho que a levou a resultados explosivos, e que de resto preencheram grande parte do alinhamento.
O desequilibrado "Our Love to Admire" não teve, felizmente, muito mais espaço do que os dois álbuns anteriores, e todos foram devidamente representados por pela maioria das melhores composições do grupo. Não faltou a pujante "Slow Hands", com um refrão que não deu descanso aos corpos de muitos dos que dançaram na plateia, nem outros pontos altos de "Antics" como a irresistível "Evil" ou a belíssima canção de amor que é "C'Mere", cuja ressonância emocional foi visível.
Se na sua estreia em Portugal, na última edição do festival Super Bock Super Rock, muitos acusaram o quarteto de adoptar uma postura demasiado fria e distante, nesta nova visita o grupo não foi propriamente caloroso mas demonstrou simpatia através dos frequentes agradecimentos emitidos pelo vocalista Paul Banks - nem faltou o obrigatório "obrigado" - ou dos seus elogios a Lisboa. Antes isto do que tagarelices forçadas e dispensáveis, até porque no que realmente interessa - a música - o desempenho dos Interpol foi inatacável, exibindo uma evidente coesão, com uma segurança instrumental invejável e uma não menos envolvente entrega vocal de Paul Banks.
Antes do óptimo concerto dos Interpol, a noite começou com uma primeira parte à altura, a cargo do trio italo-japonês Blonde Redhead, também sediado em nova-iorque embora praticante de um rock mais etéreo e onírico, suportado por atmosferas intrigantes e pelas convincentes vozes de Kazu Makino e Amadeo Pace.
Temas do aclamado "23", o seu mais recente álbum, dividiram o protagonismo com recordações de registos anteriores, num aquecimento durou pouco mais de meia hora mas chegou para comprovar que não eram poucos os conhecedores do grupo. Quem não conhecia teve em momentos como "Equus", "23" e principalmente "Spring and by Summer Fall" (uma das mais apaixonantes canções de 2007) excelentes portas de entrada para uma banda que, tal como a de Paul Banks, merece um concerto em nome próprio por estes lados.
E O VEREDICTO É: 4/5 - MUITO BOM
Fotos: Vera Moutinho
ESTREIA DA SEMANA: EUROPEAN FILM FESTIVAL
Pedro Almodóvar e David Lynch são os realizadores em destaque, e o primeiro estará presente na cerimónia de abertura, esta noite (assim como algumas das suas actrizes de eleição, como Rossy de Palma ou Marisa Paredes), e amanhã à tarde num encontro com o público. As obras de ambos ocupam uma considerável fatia do cartaz, que as revisita na íntegra e inclui alguns títulos nunca exibidos antes por cá (como os primeiros filmes de Almodóvar ou as curtas-metragens de Lynch).
O European Film Festival contempla ainda concertos de Victoria Abril, Bernardo Sassetti Trio e Julee Cruise, que tal como as Master Classes de Werner Schroeter ou Raoul Ruiz, entre outros, são de acesso gratuito. Todas as informações no site oficial.
Das estreias da semana propriamente ditas não há muito a destacar, ainda que "A Morte do Sr. Lazarescu", de Cristi Puiu, ou "30 Dias de Escuridão", de David Slade (o realizador de "Hard Candy"), mereçam uma espreitadela.
terça-feira, novembro 06, 2007
UMA HISTÓRIA SIMPLES
segunda-feira, novembro 05, 2007
FESTIVAL DE INTERPRETAÇÕES NUM DRAMA SÓBRIO
Felizmente, o realizador húngaro não desaponta e, mesmo não gerando aqui uma experiência cinematográfica insuperável, é capaz de apresentar um filme interessante, onde o resultado final não fica ofuscado pelos nomes do elenco e permite identificar aqui outros elementos meritórios.
Adaptado do livro homónimo de Susan Minot, "Ao Anoitecer" teve um argumento que contou com a colaboração da escritora e de Michael Cunningham (autor de "As Horas" ou "Uma Casa no Fim do Mundo", também já transpostos para cinema), e do trabalho da dupla saiu um drama intimista e complexo, que funciona como um envolvente estudo de personagens.
O filme parte do estado actual de Ann, uma mulher de idade avançada que se encontra acamada, vítima de cancro, enquanto é tratada pelas duas filhas e lhes revela, num estado entre o sono e a vigília, nomes de pessoas da sua juventude que elas não reconhecem. O espectador, no entanto, fica a conhecê-las através de constantes flashbacks rumo aos anos cinquenta, em particular à breve estadia de Ann em casa de uma amiga da classe alta britânica prestes a casar, e que aí acaba por ser um dos vértices de um inesperado triângulo (aliás, quadrado) amoroso.
Tanto num cenário como noutro há espaço para várias personagens, o que não há muito é tempo para algumas, já que ao longo das suas duas horas a película opta por desenvolver com mais profundidade a protagonista e mais duas ou três figuras, deixando outras entregues às necessidades do argumento.
Tecnicamente, Lajos Koltai oferece um trabalho sem reparos, uma vez que a sua realização é leve e fluída, a reconstituição de época é convincente e com óbvios bons valores de produção e a fotografia seduz e conduz a momentos de fascinante energia visual (ou não tivesse sido um dos trunfos do seu primeiro filme, "Sem Destino"), o que com a mais-valia de um elenco irrepreensível poderia fazer desta uma obra de calibre superior.
Contudo, quando actrizes como Miranda Richardson, Meryl Streep ou Glenn Close não têm oportunidade de desenvolver as suas personagens e o argumento contém algumas soluções algo apressadas, questões por explorar (o fascínio da protagonista por Harris, por exemplo) ou uma carga poética e simbólica por vezes forçada, o resultado não é tão estimulante, ainda que mereça elogios.
Mesmo sem dar o salto para o núcleo de obras obrigatórias, "Ao Anoitecer" é uma proposta bastante recomendável, desenhando um subtil mapa de experiências e memórias e captando com sensibilidade detalhes das relações amorosas, familiares e sociais, evitando ainda cair na formatação e previsibilidade de um anódino "filme de prestígio". Uma das boas estreias recentes.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
domingo, novembro 04, 2007
FERA FERIDA
É certo que o seu currículo inclui a participação em obras de Richard Linklater, Spike Lee ou Wim Wenders, embora nos últimos anos as suas escolhas tenham incidido em títulos pouco aliciantes como "Resident Evil" ou "Ultravioleta", que lhe oferecem pouco espaço para demonstrar o seu talento interpretativo.
".45", estreia na realização do norte-americano Gary Lennon, poderia ser um ponto de viragem na sua carreira, já que lhe pede que faça mais do que contracenar com explosões e efeitos especiais, sendo um drama urbano com potencial, mas é pena que arranque mal e nunca consiga melhorar.
".45" começa com um misto de irreverência e tentativa de provocação, apresentando personagens feias, porcas e más, ainda que supostamente cool, que disparam diálogos carregados de palavras pouco simpáticas. Nada contra, afinal nem todos os filmes têm que focar gente adorável, o problema é que não é Tarantino nem Scorsese quem quer, e Gary Lennon não constrói mais do que personagens caricaturais, sem a espessura emocional que as torne interessantes.
O propósito poderá ser nobre, já o modo como é trabalhado não vai além dos vícios de telefilme "caso-da-vida", e nem as cenas de nudez (algo desnecessárias) nem o misto de ficção e reportagem (através dos depoimentos das personagens de frente para a câmara) fazem com que o produto final seja mais arrojado.
Filme de auto-ajuda disfarçado de retrato realista, cruel e visceral do quotidiano em bairros "perigosos" de Nova Iorque, ".45" até acaba por trair as suas boas intenções quando a protagonista adopta atitutes não muito menos condenáveis do que as do namorado. Pelo menos a "mensagem" que Lennon passa é a de que na vida vale tudo, desde que feito em nome da emancipação feminina, num testemunho de girl power que até faria corar de vergonha as Spice Girls.
No meio disto os actores pouco podem fazer, e se Angus MacFadyen é um Big Al canastrão, Stephen Dorff e Sarah Strange ainda são capazes de injectar alguma consistência às suas personagens, mais do que a que ".45" merece. Milla Jovovich também se esforça, e chega a gritar muito em cenas "chocantes" que, contudo, se habilitam a causar pouco impacto já que a sua personagem insiste em não gerar empatia. Como este pouco auspicioso filme, de resto.
E O VEREDICTO É: 1/5 - DISPENSÁVEL
WINDOWS 2007
Uma das iniciativas do Festival Temps D'Images a descobrir esta noite pelas 21h30 no Teatro Maria Matos, em Lisboa.
sexta-feira, novembro 02, 2007
UM FILME PARA ACORDAR O PASSADO
Ao assistir a um julgamento em que a sua filha participa como advogada de defesa, Jaime, um professor universitário de meia idade, reconhece no arguido traços de um agente da PIDE que o torturou nos seus tempos de jovem antifascista, e que terá sido um dos responsáveis pela morte de Marcelino, um dos seus melhores amigos.
Desdobrando-se entre o thriller e o drama, "Julgamento" confirma o eclectismo estilístico de Leonel Vieira, que aqui apresenta um filme nos antípodas da comédia de "A Bomba", do romance de "A Selva" ou do olhar sobre a juventude urbana de "Zona J".
De tom menos ligeiro do que alguns desses títulos, mergulha num retrato geracional de forma mais densa e madura do que se esperaria, evitando as tentações de algum cinema assumidamente comercial que se faz por cá - não há por aqui overdoses de cenas de sexo gratuitas, linguagem censurável ou violência despropositada.
O argumento exibe algumas semelhanças com o de "A Noite da Vingança", de Roman Polanski, que também era marcado por fortes contornos políticos (nomeadamente ditatoriais), onde uma vítima raptava o seu suposto torturador, ainda que "Julgamento" esteja longe de ser um exercício copista, conseguindo definir personagens e ambientes próprios.
Por vezes o debate interno do protagonista é previsível e o de algumas das outras personagens fica por explorar com um grau de complexidade mais acentuado, mas o filme está uns degraus acima de um mero objecto panfletário pronto a despertar consciências, contando com figuras adequadamente ambíguas e credíveis. Também era difícil não o fazer tendo em conta o elenco, sem dúvida um dos mais consistentes vistos numa película portuguesa nos últimos tempos, que concentra uma galeria de veteranos como Júlio César, José Eduardo, Carlos Santos e Henrique Viana, este no seu último papel.
"Julgamento" poderá não ser ainda o filme que levará a que Leonel Vieira seja considerado um "autor" pelos seus detractores, mas é um digno exemplo de cinema que tem em vista o grande público sem prescindir de uma abordagem inteligente às questões que foca, servindo-a com uma profissionalíssima embalagem industrial. Caso raro tanto em filmes portugueses como estrangeiros, e que por isso mesmo impõe que este seja saudado, visto e divulgado.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
quinta-feira, novembro 01, 2007
TECHNO MINIMAL NUMA NOITE ESPECIAL
Não que isso tenha sido uma condicionante, pelo contrário, já que não foram poucos os que quiseram dançar ao som de "Chromophobia", o disco de estreia do músico, gerando uma enchente impressionante e longas filas à porta do espaço, onde mesmo durante a actuação muitos aguardavam ainda a entrada.
Esses trabalhos pouco ou nada têm a ver, contudo, com os que faz hoje, alicerçados numa electrónica engenhosa e subtil, simultaneamente dançável e contemplativa, recheada de pormenores mas com um apelo melódico directo.
Singles como "Arquipélago" ou "Like You", assim como remisturas para temas da banda-sonora do filme "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles, concederam-lhe uma aura de respeito que o disco de estreia consolidou, sendo uma das edições mais entusiasmantes do ano.
No set que apresentou nesta madrugada, Boratto voltou a demonstrar os seus méritos em cerca de duas horas onde desfilaram não só composições de "Chromophobia" mas também algumas dos EPs que lançou antes.
Não por acaso, as de "Chromophobia" foram que resultaram melhor, recebidas com recorrentes aplausos e gritos, em especial a mecânica e incisiva "Gate 7" ou a reluzente "Beautiful Life", um dos raros casos que se desviou do techno para se aproximar das fronteiras de uma pop encantatória e imediata.
Suficientemente hipnótico e pulsante, este set de Gui Boratto contribuiu para reforçar o estatuto de rapaz-prodígio que muitos lhe têm concedido, dando bons motivos para que os seus passos continuem a ser acompanhados pois o melhor ainda poderá estar para vir.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM