Wow...Suspense e alta tensão em "Sete Palmos de Terra"??? Bem, esta série percorre mesmo tudo, e este foi um dos melhores episódios dos últimos tempos, especialmente imprevisível e asfixiante. Poor David :(
terça-feira, maio 31, 2005
ROADTRIP
O CORPO É QUE PAGA
Finalizando uma série de treze espectáculos no âmbito da 6ª edição do FATAL - Festival Anual de Teatro Académico de Lisboa -, a peça "Ao Segundo", encenada por Ana Lacerda, propôs uma reflexão acerca da singularidade do corpo humano e daqui partiu para apresentar vários retratos de múltiplas vidas e experiências.
No passado dia 29 de Maio, o FATAL exibiu assim o seu último espectáculo deste ano, colocando fim a um ciclo que decorreu no Teatro da Politécnica (Museus da Politécnica - Rua da Escola Politécnica) desde dia 17, num total de 13 peças.
Esta última foi criada pelo Ultimacto, da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, e baseou-se em textos de autores como Sarah Kane, Sofia Melo, Herberto Hélder e António Lobo Antunes. A escolha destes autores, aparentemente díspares, justifica-se pelo olhar acerca do corpo humano que todos desenvolvem em algumas das suas obras, e "Ao Segundo" congregou estes universos gerando uma interessante amálgama de perspectivas e referências.
Começando de forma intrigante, durante uma autópsia, a peça oferece inicialmente um cenário de carregada escuridão durante alguns minutos, num possível retrato da morte, sempre inexorável. Contudo, depois dessa introdução o espectáculo destaca múltiplos acontecimentos e situações que poderão ocorrer entre o momento do nascimento e da finitude de um corpo - ou vida - humano.
Apresentando uma estrutura episódica e fragmentada, muitas vezes não-linear, "Ao Segundo" oferece visões ambíguas sobre a relação de um indivíduo com o seu corpo, temática que origina momentos onde se focam os códigos sociais (numa das cenas mais certeiras e perspicazes, proporcionando uma atenta crítica ao comportamento humano), a (im)possibilidade do suicídio, o carácter dúbio do amor e das relações humanas, o prazer e degradação físicos ou o contacto com a inevitabilidade da morte.
As formas de abordagem são versáteis, não só pela diversidade dos autores dos textos mas também pelos contrastes entre monólogos/diálogos, drama/comédia (por vezes de difícil distinção) e pela vibrante energia que os actores conseguem injectar à peça, num coeso trabalho de empenho e entrega (não raras vezes arriscada e visceral).
As atmosferas assentam quase sempre em ambientes surreais e oníricos, não raras vezes com algumas doses de absurdo e nonsense, territórios eficazmente ilustrados através de uma encenação minimalista que apenas recorre aos adereços indispensáveis (privilegiando, assim, o olhar sobre o corpo), com um discreto, mas apropriado, trabalho de iluminação.
Qualitativamente, o balanço é interessante e promissor, mas algo irregular, nem sempre expondo solidez e coesão, e a espaços a peça abusa das doses de pretensão, optando por cenas demasiado monótonas e sem ritmo. No final, fica a vontade de seguir os próximos passos do Ultimacto, uma vez que talento é algo que se insinua por aqui, só falta mesmo é limar algumas arestas e uma certa dispersão de ideias. Nada que não possa ser remediado em breve, de forma a "dar corpo" às intenções conceptuais de um modo mais consistente.
E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL
domingo, maio 29, 2005
WHAT SOUND
O Spaceboy lançou-me este desafio musical e resolvi aderir a mais um dos questionários que se propagam descontroladamente pela net:
1) Tamanho total dos arquivos no meu computador?
Não sei, mas é considerável...Devo ter uns 40/50 álbuns :S
2) Último disco que comprei:
Já não me lembro se foi o "Hullabaloo Soundtrack" dos Muse ou o "Rough Dreams" dos Shivaree...
3) Canção que estou a escutar agora:
"Nite and Fog", dos Mercury Rev
Bons sons!!
sábado, maio 28, 2005
CINEMA NA TV
Um dos mais surpreendentes filmes de 2004 é exibido hoje às 23h na 2:
"Os Sonhadores" (The Dreamers), um poderoso retrato da adolescência e da cinefilia ambientado no período do maio de 68, assinalou o regresso em força de Bernardo Bertolucci num dos seus melhores filmes, que já analisei aqui. Imperdível!
sexta-feira, maio 27, 2005
AMIZADE SEM LIMITES
Depois do popular "As Horas", surge agora mais um filme inspirado numa obra literária de Michael Cunningham, "Uma Casa no Fim do Mundo" (A Home at the End of the World). O livro não é tão mediático como aquele que deu origem à elogiada película interpretada por Nicole Kidman, Julianne Moore e Meryl Streep, mas é, não obstante, um título interessante e absorvente.
Desta vez, o responsável pela adaptação ao grande ecrã não é Stephen Daldry mas o estreante Michael Mayer, encenador da Broadway que assim assinala a sua entrada em domínios cinematográficos.
Infelizmente, não se pode dizer que este primeiro filme de Mayer seja particularmente bem-sucedido, uma vez que a transposição de uma obra literária exigente e complexa é aqui feita de forma pouco surpreendente e singular.
"Uma Casa no Fim do Mundo" é um drama que foca a relação de dois amigos de infância, Bobby e Jonathan, que crescem juntos numa pequena localidade do Ohio, nos anos 60, e voltam a encontrar-se anos depois numa Nova Iorque em mutação e efervescência.
É já na idade adulta que conhecem Clare, uma mulher irreverente e pouco convencional, e com ela irão tentar formar uma família distinta dos padrões socialmente implementados, onde a amizade e o amor se imbricam e confundem.
De facto, é sobretudo na construção de personagens que o filme falha, sobretudo nas interligações entre estes, pois Mayer não lhes injecta grande densidade emocional.
Bobby assume aqui o papel de protagonista e orienta o rumo dos acontecimentos, originando uma secundarização das presenças de Jonathan e Clare, algo que não se manifestava no livro. Colin Farrel encarna a personagem principal na idade adulta e, embora ofereça um desempenho competente, faz com que a peculiaridade de Bobby fique aquém do potencial.
Dallas Roberts, Robin Wright Penn e Sissy Spacek asseguram a consistência do elenco, conseguindo gerar alguma carga dramática mas não a suficiente para elevar o filme acima da mediania.
Michael Mayer aposta numa estrutura narrativa demasiado episódica, com cenas geralmente curtas e apressadas, tornando "Uma Casa no Fim do Mundo" numa película fragmentada que só a espaços concede tempo para as personagens se revelarem.
O realizador é eficaz na escolha da banda-sonora, fotografia, guarda-roupa e nas reconstituições de época, mas um filme não vive só destes elementos e este denuncia as fragilidades de um argumento desequilibrado e de uma irregular construção de personagens, tornando "Uma Casa no Fim do Mundo" numa primeira obra que prometia, mas cujo resultado não é dos mais fascinantes...
quinta-feira, maio 26, 2005
NOITE ESCURA
Um dos cantores/compositores que tem visto o seu grupo de fãs aumentar entre nós foi a presença principal da noite da passada sexta-feira no Café-Teatro Santiago Alquimista, em Lisboa.
Perry Blake tem realizado alguns espectáculos para assinalar o lançamento do seu novo álbum de originais, "The Crying Room", e do seu livro "These Pretty Love Songs".
Frequentemente comparado a Leonard Cohen, Scott Walker, Nick Drake ou David Sylvian, Blake possui uma discografia vincada por sonoridades sóbrias e intimistas, proporcionando uma elegante pop de travo clássico.
O concerto do passado dia 20 comprovou a discrição e minimalismo das composições do músico irlandês, expondo canções tranquilas que não precisaram de mais do que uma agradável voz acompanhada apenas pelo piano, contrabaixo e guitarra acústica.
Entre relatos de amores desencontrados e demais inquietações urbano-depressivas, o crooner ofereceu uma série de momentos delicados e soturnos, unindo os universos da pop e da folk numa prestação eficaz, mas pouco vibrante.
Perry Blake movimenta-se com competência nos territórios musicais que escolheu, mas o concerto foi demasiado morno e monocórdio, raramente ultrapassando a fasquia da razoabilidade.
O alinhamento incluiu alguns temas interessantes, como "The Hunchback of San Francisco", "Pretty Love Songs" ou uma versão de "Forbidden Colours", um original de Ryuichi Sakamoto e David Sylvian, mas na globalidade foi excessivamente monótono, sisudo e homogéneo.
O cantor, com uma presença estática e tímida, esboçou alguns contactos com o público entre a interpretação das canções, contudo não exibiu um carisma especialmente marcante ou memorável que o tornem num mestre-de-cerimónias acima da média.
O público, atento e concentrado, aplaudiu consideravelmente o músico em várias ocasiões num espectáculo que não envergonhou ninguém mas que ficou, infelizmente, abaixo das expectativas.
A primeira parte esteve a cargo de Rui Gaio, que propôs um pouco estimulante rock alternativo cujo maior ponto de interesse foi uma inesperada cover de "Sweet Harmony", dos Beloved.
E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL
quarta-feira, maio 25, 2005
UMA CASA NO FIM DO MUNDO
A primeira longa-metragem de Shainee Gabel chegou discretamente, sem grandes manobras de divulgação e promoção, mas destaca-se como uma das boas surpresas cinematográficas de 2005.
Ambientado nos cenários de calmaria e serenidade de Nova Orleães, "Uma Canção de Amor" (A Love Song for Bobby Long) foca a relação entre Purseland Will (Scarlett Johansson), uma jovem de 18 anos, e dois amigos da sua falecida mãe, Bobby Long (John Travolta) e Lawson Pines (Gabriel Macht). Os contactos iniciais da adolescente com a dupla masculina são conturbados, uma vez que Pursy herdou uma casa da sua mãe mas só após regressar da Florida a Nova Orleães é que se apercebe que terá de conviver com duas inesperadas companhias.
"Uma Canção de Amor" é daquelas obras que, embora não traga nada de especialmente original ou inovador, consegue ser quase sempre convincente e por vezes emanar uma vibrante aura encantatória. Um olhar realista sobre a inadaptação, o conceito de família, o crescimento, a arte e a amizade, a película de estreia de Shainee Gabel oferece um denso e estimulante estudo de personagens, ou não fosse este um filme de (óptimos) actores.
A estrela ascendente Scarlett Johansson confirma a sua versatilidade, apresentando uma prestação igualmente sedutora e longe da postura algo apática que expôs noutros papéis. Contudo, o actor que mais surpreende é Gabriel Macht, menos mediático do que os restantes protagonistas mas capaz de proporcionar um desempenho seguro, emotivo e magnético como Lawson Pines, afirmando-se como um talento a ter em conta.
Shainee Gabel apresenta uma obra com um ritmo pausado, mas raramente monótono, muito adequado às atmosferas sulistas norte-americanas de tons desencantados e melancólicos. O trabalho de realização é simples, mas não banal, e a narrativa desenvolve-se de forma espontânea e cativante.
"Uma Canção de Amor" é um intrigante retrato das experiências e tensões de um singular trio de anti-heróis que vive um dia-a-dia onde a música, o álcool e a literatura (há muitas citações por aqui) são os três elementos essenciais para que a sua existência ainda tenha algum sentido.
Sóbrio, intimista e agridoce, "Uma Canção de Amor" é mais um bom exemplo do actual cinema independente norte-americano, um título que não revoluciona mas envolve e surpreende consideravelmente. Não fosse o desenlace algo desequilibrado, incapaz de sustentar a discreta carga dramática que se tinha insinuado até então, e estaríamos perante um grande filme. Assim, Shainee Gabel gera uma primeira-obra que é bela sem ser excelente. Não deixa de ser, contudo, uma das que merece um atento visionamento e reflexão.
E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM
terça-feira, maio 24, 2005
CHOQUE DE CULTURAS COM TEMPEROS INDIANOS
Apesar do mercado discográfico nacional ser reduzido e limitado, o público português tem manifestado uma adesão muitas vezes inesperada a artistas que, não se sabe bem como - não será certamente pelo apoio da maioria dos media -, conseguem implementar-se aos poucos, despoletando consideráveis fenómenos de culto.
Tendo em conta o muito concorrido concerto decorrido no Coliseu de Lisboa no passado dia 20, Nitin Sawhney é mais um nome a acrescentar à lista de notáveis, conseguindo conquistar uma vasta audiência (a sala estava cheia) e gerando sem dificuldades um contagiante ambiente festivo.
O compositor e multi-instrumentista conta já com uma discografia consistente e elogiada, e regressou a palcos nacionais para apresentar o seu sétimo registo de originais, "Philtre", mais um concentrado fusionista que mescla pop, trip-hop, soul, dub, flamenco, r'n'b, hip-hop, rock e spoken word, entre outros géneros, acrescentando a esta vasta amálgama uma forte carga de sonoridades indianas.
O terceiro disco do músico, "Beyond Skin", de 1999, é já um clássico do asian underground, destacando Nitin Sawhney como uma figura de proa num movimento que inclui, entre outros, os Asian Dub Foundation, Talvin Singh ou Badmarsh & Shri.
Diversidade e eclectismo foram uma constante ao longo das cerca de duas horas de espectáculo, que contou com a colaboração de vários vocalistas, femininas e masculinos, que o músico foi apresentando.
O cardápio sonoro foi geralmente apelativo, percorrendo diversas geografias onde ritmos apaziguados foram interrompidos por alguns gritos de revolta. As atmosferas disseminaram a postura pacifista e tolerante que Sawhney expõe nos discos, que musicalmente resulta quando congrega os melhores elementos de uns Massive Attack, Zero 7 ou Transglobal Underground mas que, por vezes, envereda também por um menos interessante registo new age, mais próximo de uns Enigma ou mesmo Enya.
Apesar destes pontuais deslizes, a noite ofereceu alguns momentos exemplares, casos do emblemático "Sunset", com a voz de Sharon Duncan, ou do belíssimo "Spark", interpretado por Tina Grace. Pelo meio evidenciou-se um afável contacto com o público e até algumas críticas à política norte-americana (ao que parece, indispensável na maioria dos concertos de hoje), realizadas através de imagens de Bush e da mascote da McDonald's no ecrã ao fundo do palco.
Efusivamente aplaudidos, Nitin Sawhney e os seus colaboradores passaram assim com distinção num concerto que destilou competência e savoir faire, ainda que as composições do músico já tenham sido mais profícuas e inventivas. No entanto, a julgar pela reacção do público, as canções de Sawhney ainda estão, decididamente, dentro do prazo de validade.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
BLINKS & LINKS
domingo, maio 22, 2005
OS DIAS DEPOIS DE AMANHÃ
Uma curiosa mistura de thriller, drama psicológico e fantástico, "Colete de Forças" (The Jacket) segue as peripécias de Jack Starks (Adrien Brody), um veterano da Guerra do Golfo que sofre de problemas de amnésia e que é acusado de homicídio, embora alegue não se recordar de ter cometido tal crime.
Starks é internado numa instituição para doentes mentais e alvo de um tratamento peculiar, onde o paciente é injectado com drogas, preso com uma camisa de forças e colocado na gaveta de uma morgue, de forma a que os seus instintos mais primários e agressivos sejam eliminados.
John Maybury apresenta uma obra que percorre ambientes de estranheza não muito distantes de "Estrada Perdida", de David Lynch; "O Maquinista", de Brad Anderson; ou "Memento", de Chris Nolan; onde os limites entre o real e o onírico são muito ténues e as memórias nem sempre são as mais fidedignas.
Durante o tempo que passa na morgue, o protagonista estabelece contactos com um mundo futuro - a uma distância temporal de 15 anos -, onde inicia um relacionamento com Jackie (Keira Knightley), uma jovem que Starks já conhecia antes de ser internado mas que, nessa altura, era ainda uma criança. A dupla, que sempre partilhou uma invulgar cumplicidade, tenta então resolver os mistérios que envolvem a vida de Starks e as suas intrigantes viagens temporais, originando uma espiral de enigmas e revelações.
"Colete de Forças" é um filme ousado e envolvente, mas Maybury não consegue oferecer um argumento suficientemente coeso, gerando uma película irregular e cujos acontecimentos seguem uma lógica demasiado aleatória e até incongruente. A premissa é uma variação interessante dos pontos de partida de "Regresso ao Futuro", de Robert Zemeckis, e "Efeito Borboleta", de Eric Bress e J. Mackye Gruber, mas a sua execução é, infelizmente, demasiado desequilibrada.
Embora desigual, "Colete de Forças" conta com uma sólida direcção de actores, e tanto os protagonistas (Adrien Brody e Keira Knightley) como os secundários (Kris Kristofferson e Jennifer Jason Leigh, sobretudo) expõem eficácia e consistência. John Maybury assinala um competente trabalho de realização, capaz de auxiliar a construção de atmosferas negras, dementes e inquietantes, ainda que o argumento não esteja à altura.
No geral, "Colete de Forças" é uma experiência cinematográfica entusiasmante, mas que poderia ter ido mais longe. Recomendável, mesmo assim, para os adeptos do género.
E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL
sábado, maio 21, 2005
FRIDAY NIGHT FEVER...
sexta-feira, maio 20, 2005
UM PALCO ALTERNATIVO
Três dos principais nomes do rock alternativo actual irão actuar nos próximos dias no Café Teatro Santiago Alquimista, em Lisboa, em três concertos prometedores.
A noite de hoje pertence ao irlandês Perry Blake, que apresentará as suas duas novas obras: um CD, "The Crying Room", e um livro, "These Pretty Love Songs". Na sua discografia constam bons títulos de pop melancólica e intimista como "Perry Blake", "Still Life" e "California", suficientemente entusiasmantes para que se espere um memorável concerto do cantor-compositor. A primeira parte está a cargo de Rui Gaio.
Igualmente subtis e introspectivas, as canções dos American Music Club poderão ser (re)descobertas a 23 de Maio. Após um hiato de 10 anos, a banda de Mark Eitzel reuniu-se e traz agora "Love Songs for Patriots", o seu mais recente álbum de originais onde o rock, a folk e o country voltam a unir-se.
Uma das figuras mais emblemáticas da mítica editora 4AD, Kristin Hersh destacou-se nas Throwing Muses mas tem vindo a consolidar um interessante percurso a solo, de que são exemplo discos como "Hips and Makers" ou "Sky Motel", ou com os 50 Foot Wave. A diva indie actuará no próximo dia 25.
Vou tentar ir pelos menos a um destes...
HÁ DIAS ASSIM...
quinta-feira, maio 19, 2005
BLINKS & LINKS
segunda-feira, maio 16, 2005
sábado, maio 14, 2005
ME, MYSELF AND I
1.Tinha 13 anos;
2. Vivia na Amadora;
3.Repartia o tempo entre a escola, os escuteiros e o viciante mundo da BD;
4. Andei pela primeira vez de avião, quando fui a Londres;
FIVE YEARS AGO I
1. Estava quase a concluir o primeiro ano de Ciências da Comunicação;
2. Adaptava-me à Margem Sul;
3. Tirei a carta de condução;
4. Começava a entrar no ritmo do dia-a-dia lisboeta;
5. Fui às Jornadas Mundiais da Juventude, em Roma;
TWO YEARS AGO I
1. Concluí a licenciatura;
2. Fiz o estágio curricular;
3. Cheguei ao fim de um longo ciclo e pensei “e agora?”
ONE YEAR AGO I
1. Comecei a colaborar num jornal online;
2. Fiz uma (sort of) pós-graduação em “Novas Formas de Comunicação”;
3. Fui mais vezes ao cinema e a concertos do que em qualquer outro ano;
4. Criei um blog!!!!!;
5. Consegui o meu primeiro emprego;
YESTERDAY I
1. Fui trabalhar;
2. Comprei os DVDs de “Cypher” e “The Rules of Attraction”;
3. Desiludi-me com a adaptação cinematográfica de “Uma Casa no Fim do Mundo”;
4. Estive um bocado no MSN, para variar…;
TODAY I
1. Acordei às duas da tarde (é sábado, ok?);
2. Conduzi um pouco para não perder a prática;
3. Revi videoclips gravados em VHS;
4. Li os suplementos de música e cinema dos principais jornais semanais
TOMORROW I WILL
1. Passar o dia em Tomar, e logo se vê o que acontece...
FIVE THINGS I CAN'T LIVE WITHOUT
1. Família
2. Amigos
3. Música, livros, filmes, etc….
4. Já disse 5...
5. …
FIVE THINGS I WOULD BUY WITH $1,000
1. Viajava mais
2. CDs
3. DVDs
4. Livros
5. Guardava para ajudar na compra de uma casa
FIVE BAD HABITS I HAVE
1. Economizar demasiado;
2. Deixar tudo para amanhã;
3. Ponderar muito e agir pouco;
4. Manter horários de sono irregulares;
5. Ser parco em palavras;
FIVE SHOWS I LIKE
1. Six Feet Under
2. Gato Fedorento
3. Southpark
4. The Simpsons
5. MTV: new
THREE THINGS THAT SCARE YOU
1. Solidão;
2. Violência;
3. Mentira;
THREE THINGS YOU ARE WEARING RIGHT NOW
1. T-Shirt
2. Calças
3. Relógio
FOUR OF YOUR FAVORITE BANDS/MUSICAL ARTISTS:
1. Garbage
2. The Smashing Pumpkins
3. Depeche Mode
4. Placebo
THREE THINGS YOU WANT TO DO REALLY BADLY RIGHT NOW:
1. Not much, podia ser ir a um concerto, mas não há grande oferta hoje;
2. Ver um filme de jeito;
3. Huh...não vou dizer :P;
THREE PLACES YOU WANT TO GO ON VACATION:
1. Nova Iorque;
2. Austrália;
3. Japão;
Questionário retirado daqui...
DIAS INDIE
A segunda edição do IndieLisboa - Festival Internacional de Cinema Independente - decorreu entre 21 de Abril e 1 de Maio de 2005 e foi, novamente, uma aposta ganha, registando uma considerável adesão do público e apostando uma oferta cada vez mais ecléctica e consistente. Através do Cinema 2000, tive a oportunidade (assim como o Daniel Pereira) de fazer a cobertura diária do evento e registar alguns dos principais destaques. Aqui fica o conjunto de textos que fui escrevendo:
Diário:
Dia 1 - Dia 2 - Dia 3 - Dia 4 - Dia 5 - Dia 6 - Dia 7 - Dia 8 - Dia 9
Filmes:
"A Hole in my Heart", Lukas Moodysson
"A Ponte das Artes", Eugène Green
"Amor de Verão", Pawel Pawlikowski
"As Consequências do Amor", Paolo Sorrentino
"Born into Brothels", Zana Briski/ Ross Kauffman
"Dias de Santiago", Josué Méndez
"Infiltrados - Trilogia", Andrew Lau/ Alan Mak
"Infiltrados I", Andrew Lau/ Alan Mak
"Infiltrados II", Andrew Lau/ Alan Mak
"Infiltrados III", Andrew Lau/ Alan Mak
"O Sargento da Força Um - A Reconstrução", Samuel Fuller
"Salto Mortal", Cate Shortland
"The Forest for the Trees", Maren Ade
sexta-feira, maio 13, 2005
INTRIGA INTERNACIONAL
Através de filmes como "África Minha" ou "Os Três Dias do Condor", Sidney Pollack tornou-se num dos mais reputados cineastas norte-americanos das últimas décadas, apresentando uma obra diversificada e geralmente meritória. No entanto, na década de 90 essa consistência não foi tão visível, uma vez que nem "Sabrina" nem "Encontro Acidental" estavam à altura dos seus melhores títulos e colocaram algumas reservas quanto à carreira do realizador.
O recente "A Intérprete" (The Interpreter) não é o golpe de génio que fará com que Pollack se inclua no grupo de cineastas de primeira linha da actualidade, mas é um inspirado e muito seguro regresso à boa forma. Um thriller político seguidor dos modelos clássicos - que, de resto, Pollack ajudou a implementar -, aborda as peripécias de Silvia Broome (Nicole Kidman), uma intérprete das Nações Unidas que ouve uma conversa no edifício da ONU e crê que esta se refere a uma tentativa de assassínio de um governante de uma nação africana.
A partir daqui, gera-se uma atmosfera de inquietação à medida que a protagonista começa a ser perseguida por conspiradores e é também tratada com alguma desconfiança pelo agente federal responsável pela sua protecção, Tobin Keller (Sean Penn).
"A Intérprete" parte de uma premissa curiosa e consegue proporcionar uma execução equilibrada, apostando num coeso trabalho de construção do argumento que mescla competentemente tensão emocional com cenas de considerável suspense.
Pollack dá espaço às personagens, criando uma interessante relação entre o par protagonista, com tanto de conflituoso como de empático. Os actores estão à altura, superando os estereótipos que poderiam surgir por aqui, e há bons momentos de estranha cumplicidade como a cena da conversa de telemóvel à noite, comprovando que um thriller não tem de subjugar as personagens às cenas de acção.
Sofisticado e envolvente - como grande parte das obras do cineasta -, o filme contém um olhar actual e pertinente sobre a conjuntura política internacional, com referências mais ou menos óbvias a questões controversas (em particular às conturbadas realidades de alguns estados africanos, como o Mugabe).
O evidente apelo a uma postura pacifista e diplomática, reforçado pelo destaque dado às Nações Unidas - este foi, aliás, o primeiro filme a incluir cenas filmadas dentro do edifício da ONU - pode ser um pouco simplista, mas nunca forçado, e a complexidade das temáticas em jogo fazem com que este thriller esteja acima de grande parte da concorrência recente.
Pollack gere o projecto com subtileza e elegância, dispensado sequências frenéticas e over-the-top, o que não impede que não forneça alguns momentos de antologia, como a bem construída cena do autocarro, claustrofóbica e intrigante. Apesar do ritmo geralmente pausado, a película não se torna cansativa nem redundante, dado que o cineasta revela aptidão para a criação de um absorvente thriller intimista e de inatacável profissionalismo.
"A Intérprete" não traz nada de especialmente inventivo ou transgressor, é apenas - e já não é pouco - uma obra coerente e bem trabalhada, capaz de funcionar como entretenimento sem ser um atentado à inteligência do espectador. Dentro do género, somente "O Candidato da Verdade", de Jonathan Demme, exibiu tamanho rigor e desenvoltura nos últimos tempos, por isso esta é mesmo uma obra a não perder...
E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM
THE QUEEREST OF THE QUEER...
Já tínhamos "Six Feet Under", "The Sopranos", "Lost" e "24", mas ainda faltava uma das mais elogiadas séries televisivas dos últimos anos: "Queer as Folk", traduzida para "Diferentes Como Nós" (sim, também falta "Desperate Housewifes", mas está para breve...).
Ousada, inventiva e aclamada internacionalmente, parece ter sido considerada mais uma série para encher programação, tendo em conta que a estreia é hoje à 1h:20m na 2:. Enfim, programar o início de uma série de culto para uma sexta à noite, bem depois do horário nobre, não será a melhor forma de a promover, mas infelizmente este já começa a ser um caso recorrente entre nós...No caso de "Diferentes Como Nós" ainda se compreende, não vá uma dona de casa ou avózinha fazer zapping entre as novelas e chocar-se com uma série que, entre outras, aborda a temática da homossexualidade...Haja respeito!!!
quinta-feira, maio 12, 2005
BOTÃO AVARIADO
Um dos principais nomes que ajudou a consolidar e implementar o big beat - subgénero da electrónica caracterizado pelas batidas trepidantes, repetitivas e viciantes -, os Chemical Brothers possuem uma sólida discografia que lhes permite serem considerados uma das referências incontornáveis destes domínios.
A surpresa da estreia, "Exit Planet Dust" (1995), a evolução na continuidade com o segundo álbum "Dig Your Own Hole" (1997) e a reinvenção de "Surrender" (1999) são exemplos de uma contagiante mistura de rock e electrónica, equilibrando altas cargas de energia cinética com adequadas doses de inspiração e criatividade. À aclamação crítica juntou-se o sucesso comercial, e singles portentosos como "Block Rockin' Beats", "Setting Sun" ou "Hey Boy Hey Girl" ficaram como marcos da electrónica de finais dos anos 90.
"Come With Us", de 2002, não mantinha o nível qualitativo dos três primeiros discos, pois apesar da sua eficiência nas pistas de dança exibia também traços de um certo esgotamento de ideias em alguns momentos.
"Push the Button", o mais recente álbum da dupla Tom Rowlands/ Ed Simons, editado no início de 2005, reforça a ideia de que os Chemical Brothers já não apresentam composições tão surpreendentes como nos primeiros anos do projecto, mantendo a competência mas raramente expondo episódios de génio.
A amálgama de rock, techno, funk, electro, house, pop, ambient e psicadelismo ainda se encontra neste novo registo, mas o duo abre mais espaço para a percentagem de hip-hop, comprovável no hipnótico primeiro single "Galvanize", que conta com a colaboração de Q-Tip, dos A Tribe Called Quest. Um dos melhores temas do disco, possui um ritmo irresistível e uma vibração característica das criações mais carismáticas dos Chemical Brothers, mas infelizmente "Push the Button" nem sempre está à altura desta promissora primeira amostra.
À semelhança de todos os álbuns anteriores do duo, o seu quinto disco conta com participações especiais, casos do acima referido Q-Tip; Kele Okereke, dos Bloc Party (no dinâmico mas cansativo "Believe"); Tim Burgess, dos Charlatans (pouco estimulante em "The Boxer); o rapper Anwar Superstar (no repetitivo "Left Right") ou a banda indie The Magic Numbers (em "Close Your Eyes", um belo desvio por cenários de placidez), congregando um lote de respeitáveis convidados em canções maioritariamente medianas.
"Push the Button" é suficientemente ecléctico, mas só consegue cativar a espaços. Embora os Chemical Brothers sejam mais conhecidos pelos seus efusivos singles, neste disco os melhores momentos são aqueles que apostam em vertentes mais calmas e apaziguadas, como "Hold Tight London" (com Anna Lynne, na já habitual faixa chill out) ou "Surface to Air" (apelativa passagem por domínios ambientais), enquanto que os temas mais trepidantes - "Come Inside", sobretudo - não se afastam muito de formatos demasiado estereotipados e repisados.
Tal como aconteceu com os discos mais recentes dos Prodigy ou de Fatboy Slim, outras referências fortes do big beat, a nova proposta dos Chemical Brothers constitui uma semi-desilusão. Não contém nada que envergonhe a recomendável discografia do duo, mas também não possui méritos suficientes que lhe permita dar um passo em frente, tornando-se num registo que, exceptuando dois ou três momentos, apenas oferece mais do mesmo.
"Push de Button" não é um mau disco, mas é o menos ousado do percurso dos irmãos químicos, possuindo tanto de competente como de efémero. Seria satisfatório se gerado por nomes menos produtivos, sabe a pouco vindo de quem vem...
E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL
QUEM ÉS TU?
Your #1 Match: INFP |
The Idealist You are creative with a great imagination, living in your own inner world. Open minded and accepting, you strive for harmony in your important relationships. It takes a long time for people to get to know you. You are hesitant to let people get close. But once you care for someone, you do everything you can to help them grow and develop. You would make an excellent writer, psychologist, or artist. |
Your #2 Match: INFJ |
The Protector You live your life with integrity, originality, vision, and creativity. Independent and stubborn, you rarely stray from your vision - no matter what it is. You are an excellent listener, with almost infinite patience. You have complex, deep feelings, and you take great care to express them. You would make a great photographer, alternative medicine guru, or teacher. |
Enfim, estes testes têm alguma piada mas valem o que valem. Curiosamente, desta vez até concordo com os resultados (a do guru de medicina alternativa é que está ali a mais, mas pronto)...E vocês, quem são? ;)
quarta-feira, maio 11, 2005
KEVIN E O LOBO
Um dos temas mais polémicos e mediáticos dos dias de hoje, a pedofilia tem sido alvo de abordagens recentes na sétima arte. Nos últimos anos, títulos como o denso "Mystic River", de Clint Eastwood; o olhar documental de Andrew Jarecki em "Os Friedman"; o soberbo drama indie "L.I.E. – Sem Saída", de Michael Cuesta, ou o atípico "Birth - O Mistério", de Jonathan Glazer; têm gerado múltiplos olhares sobre esta questão complexa e delicada.
"O Condenado" (The Woodsman), a estreia na realização de longas-metragens de Nicole Kassell, possibilita mais uma perspectiva sobre a temática. O filme centra-se em Walter (Kevin Bacon), que após cumprir uma pena de 12 anos devido ao abuso sexual de menores muda-se para um apartamento numa nova cidade e começa a trabalhar numa serração. Tentando controlar os seus instintos, o protagonista procura uma conduta que se afaste do seu passado obscuro, mas a sua obstinação terá de lidar com alguns entraves à medida que os que o rodeiam se vão apercebendo do seu passado.
Um atento retrato sobre a busca da redenção, "O Condenado" decorre em ambientes urbanos melancólicos e realistas, seguindo as convulsões e conflitos interiores de uma personagem relutante, soturna e desencantada.
A realização de Kassell consegue fornecer a carga de inquietação necessária, apostando num estilo seco, árido e despido de artifícios, próximo de algumas outras obras do cinema independente norte-americano como "Monster's Ball - Depois do Ódio", de Marc Foster, com a qual partilha essas atmosferas de crueza e solidão.
Para além da subtileza da cineasta, "O Condenado" salienta-se como uma película bem conseguida devido à convincente interpretação de Kevin Bacon, actor que apresenta aqui mais uma prova do seu talento e versatilidade, num desempenho contido e discreto mas sempre denso e intrigante.
O restante elenco também cumpre com eficácia, com destaque para Kyra Sedgwick no papel de uma colega de trabalho do protagonista, uma das personagens que mais de aproxima deste (curiosamente, a actriz é esposa de Bacon, o que ajudará a explicar a visível química entre o duo).
No entanto, apesar da competência dos secundários, "O Condenado" é nitidamente um filme de actor, vivendo sobretudo da prestação de Bacon, que oferece um sólido one man show e é determinante para que Walter seja uma figura humana, ainda que envolta num espectro de ambiguidades.
Seria fácil etiquetar o protagonista como um "monstro" sem escrúpulos, enveredando por domínios escabrosos e de um choque gratuito, ou optar por apresentar uma banal perspectiva assente numa constante vitimização recorrendo ao melodrama de gosto duvidoso. Contudo, Nicole Kassell prefere seguir tons intimistas, desenvolvendo um envolvente e equilibrado estudo de personagem que tanto possui cenas algo desconfortáveis como momentos mais emotivos, num olhar justo e rigoroso.
O ritmo do filme nem sempre é o mais aliciante, mas o argumento é bem trabalhado e verifica-se um acerto na criação de ambientes, o que faz com que "O Condenado" seja uma obra relevante e com algo a dizer. Já é o suficiente para que o resultado consista num bom filme que revela uma cineasta promissora.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
terça-feira, maio 10, 2005
COM UNHAS E DENTES
Após um hiato de seis anos, os Nine Inch Nails (ou seja, Trent Reznor) voltam com um novo disco, "With Teeth". As primeiras audições não desiludem, embora o nível global pareça estar um pouco abaixo do óptimo díptico "The Fragile", o álbum antecessor.
Ainda assim, há momentos muito altos como "All the Love in the World", "Everyday is Exactly the Same", "Only" ou "Sunspots", novos exemplos da brilhante amálgama rock/industrial/electro/pop/gótico deste projecto. Comentário mais alargado em, breve...
AMOR CÃO
Um dos filmes europeus mais aclamados dos últimos tempos, "Head On - A Esposa Turca" (Gegen Die Wand) foi o vencedor do Leão de Ouro no Festival de Berlim 2004 e considerado o filme europeu do ano nos prémios da Academia do Cinema Europeu, tornando-se alvo de consideráveis elogios por onde tem passado.
Esta obra de Fatih Akin apresenta a conturbada relação de Cahit (Birol Ünel), um alcoólatra quarentão que vive num estado que oscila entre a irreverência e a angústia, e Sibel (Sibel Kekelii), uma jovem cuja rebeldia é a resposta directa aos forte controlo e repressão familiar de que é alvo.
Estes dois imigrantes turcos residentes na Alemanha encontram-se pela primeira vez numa clínica de recuperação após uma tentativa de suicídio e depressa formam uma estranha cumplicidade onde a empatia e a repulsa se entrelaçam e imbricam.
Determinada a libertar-se do conservadorismo da sua família, Sibel persuade Cahit a casar-se com ela, propondo-lhe a partilha do mesmo espaço mas com uma total independência na vida pessoal de ambos. O protagonista acaba por ceder a este casamento de conveniência, uma vez que o acordo também lhe traz algumas vantagens, nomeadamente um crescente conforto e comodidade do seu lar.
À medida que vai partilhando experiências do quotidiano, o casal gera uma maior proximidade, onde a estranheza e frieza iniciais vão abrindo espaço para uma progressiva empatia. Aos poucos, cada um dos elementos do par acaba por encontrar resposta à solidão e ao desencanto no outro, mas um trágico e abrupto incidente ameaça, então, deitar tudo a perder.
A realização, com tons de um realismo sujo e soturno, é adequada, e a banda-sonora (que vai de um recorrente "I Feel You" dos Depeche Mode a canções tradicionais interpretadas por um grupo turco) evidencia bem o contraste de mentalidades e culturas e une o passado ao presente.
No entanto, o melhor do filme são os actores, em especial a dupla protagonista, que irradia um denso magnetismo e presença. As personagens não despoletam grande empatia, mas as vertiginosas interpretações concedem-lhes suficientes doses de carisma, originando uma atmosfera emocional tensa e sufocante.
"Head On - A Esposa Turca" está uns furos abaixo do estatuto de obra-prima que alguns defendem, e nem sequer será um dos títulos essenciais do ano, mas é um dos bons e recomendáveis exemplos da nova cinematografia europeia e revela ainda um realizador a seguir. Não esmaga nem assombra, mas é intenso q.b.. E, às vezes, isso chega.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
COMEÇAR DE NOVO
BLINKS & LINKS
segunda-feira, maio 09, 2005
MAR ADENTRO
"Roda Livre" (Bottle Rocket), "Gostam Todos da Mesma" (Rushmore) e "Uma Comédia Genial" (The Royal Tenembaums) contribuíram para que muitos incluíssem Wes Anderson entre a nova - e criativa - vaga de realizadores norte-americanos, uma geração oriunda dos anos 70 que cresceu a ver Spielberg, Coppola e Scorcese e que nestes se inspira para reformular os códigos cinematográficos.
Tal como Sofia Coppola, Paul Thomas Anderson e Spike Jonze, também Wes Anderson aborda frequentemente a temática da solidão, da família ou da inadaptação, algo que se encontra bem presente no seu novo filme, "Um Peixe Fora de Água" (The Life Aquatic With Steve Zissou). Mais uma vez há um elenco de personagens peculiares e atípicas que oscilam entre o bizarro e o offbeat, vivendo quase sempre numa constante apatia emocional e em esferas de indiferença.
O filme segue as peripécias de Steve Zissou (Bill Murray), um oceanógrafo de meia idade determinado a capturar e eliminar uma criatura marinha responsável pela morte de um dos seus amigos e companheiros de bordo. Na sua jornada será acompanhado por uma diversificada tripulação que inclui, entre outros, a sua gélida esposa (Angelica Houston)o seu recém-descoberto suposto filho (Owen Wilson) e uma instável jornalista que acompanha a expedição (Cate Blanchett).
Pelo meio há um estilo visual muito próprio e facilmente identificável que recupera influências dos anos 70 e revela uma cuidada atenção ao pormenor, tanto nas figuras marinhas animadas digitalmente como em todos os cenários e adereços das personagens. A banda-sonora do brasileiro Seu Jorge apresenta versões em português de canções de David Bowie e é mais uma prova da inventividade de Anderson, capaz de misturar elementos que se julgariam inconciliáveis.
Infelizmente, a criação de um universo singular com consideráveis doses de ironia e provocação não bastam para que um filme resulte, e "Um Peixe Fora de Água" é - como o é toda a a obra do relizador - disso exemplo. A película é mais uma excêntrica dramedy que, embora contenha sequências inspiradas, não satisfaz nem como drama nem como comédia.
A gestão da tensão dramática é no mínimo desequilibrada, uma vez que as cenas sérias são abruptamente interrompidas por momentos de humor corrosivo e vice-versa, gerando uma estranha amálgama que só funciona a espaços. Ora desencantado e melancólico, ora áspero e cínico, o filme congrega episódios tão imprevisíveis quanto qualitativamente desiguais, e em alguns momentos o tom paródico chega a ser ridículo, como na cena de tiroteio com os piratas (despropositada e exagerada, ainda que intencional).
As personagens também não são especialmente intrigantes, uma vez que nunca se afastam da caricatura e não chegam a ser aprofundadas (o que é pena, porque têm potencial). O protagonista será a única excepção, mas é apenas mais uma oportunidade para Bill Murray fazer de...Bill Murray, expondo a pose e trejeitos que já não congregam grandes doses de surpresa e apenas oferecem mais do mesmo.
"Um Peixe Fora de Água" é demasiado "espertalhão" para se tornar envolvente, e por isso as sequências que poderiam suscitar algum impacto emocional soam a falso e não geram reacção, tornando o filme num objecto curioso mas que não é mais do que um irregular concentrado de gags nonsense...
E O VEREDICTO É: 2/5 - RAZOÁVEL
domingo, maio 08, 2005
APANHA-ME SE PUDERES
Uma das maiores surpresas do cinema de Hong Kong dos últimos anos, a trilogia "Infiltrados" (Infernal Affairs) é uma interessante adição ao género do thriller/policial, confirmando que John Woo não foi o único cineasta a trabalhar esses domínios com criatividade e eficácia.
Há que reconhecer que a premissa desta saga deve algo a uma das obras desse realizador, "Hard-Boiled", de 1992, onde um polícia e um criminoso possuíam mais semelhanças do que diferenças e partilhavam uma crescente dilaceração emocional.
Andrew Lau e Alan Mak, contudo, vão mais longe nessa abordagem e geram uma ambiciosa história onde Yan (Tony Leung), um elemento das forças policiais, se infiltra numa tríade e lá permanece durante vários anos, mas os criminosos recorrem ao mesmo estratagema e conseguem inserir um dos seus membros, Ming (Andy Lau) na polícia.
O ponto de partida de "Infiltrados" poderia ter servido para mais um espectáculo exibicionista com uma mirabolante sucessão de cenas de acção e altas doses de pirotecnia, contendo tanto de megalómano como de inócuo.
No entanto, a dupla de realizadores desvia-se de territórios mais previsíveis e oferece uma envolvente mistura de drama intimista e thriller claustrofóbico, que, ao contrário de muitos “filmes de acção” actuais, revela um esforço significativo no desenvolvimento das personagens e no estudo dos seus conflitos interiores. Junte-se a isto um arrojado estilo visual e uma não menos viciante banda-sonora e estão reunidas as condições para uma experiência cinematográfica acima da média.
Se, por um lado, a saga é mais uma variação sobre os contrastes entre o Bem e o Mal, a lógica da abordagem não é propriamente maniqueísta, uma vez que o decorrer dos acontecimentos demonstra que as fronteiras entre esses domínios podem ser bastante ténues, desorientando os protagonistas e despoletando uma densa inquietação.
Criativa e cativante, "Infiltrados" é uma interessante saga que, mesmo não sendo uma obra-prima, sabe tratar com competência territórios já repisados e à beira da exaustão. O primeiro episódio é o mais coeso e escorreito, mas os tomos seguintes também são meritórios e não meras jogadas de marketing para aproveitar um produto bem sucedido.
A segunda parte beneficiaria com uma maior concentração em Yan e Ming e a terceira seria mais convincente se não recorresse a uma narrativa tão fragmentada (que consegue ir do muito estimulante ao igualmente confuso), mas ambas são oportunidades bem aproveitadas para aprofundar as tensões e fricções de um sólido conjunto de personagens.
Reconheçam-se, então, os méritos de Andrew Law e Alan Mak, capazes de criar uma saga que consegue manter as doses de surpresa do primeiro ao último episódio, algo que, infelizmente, nem sempre acontece. Agora só falta mesmo a estreia (integral) em salas nacionais…
E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM
sábado, maio 07, 2005
EPISÓDIO UM
"Infiltrados" (Infernal Affairs), o primeiro episódio da aclamada trilogia de Andrew Lau e Alan Mak, centra-se num absorvente jogo do “gato e do rato” e segue as perseguições de Yan e Ming através de uma complexa rede de perigos e embustes, onde a polícia e as tríades tentam encontrar e eliminar os “toupeiras” da facção oposta.
Tal como noutra saga (por sinal, de não tão boa memória), aqui “no final só pode haver um”, e antes desse momento chegar o filme proporciona múltiplas sequências plenas de tensão, com um engenhoso equilíbrio de energia cinética e densidade emocional.
E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM