domingo, outubro 29, 2006

(O FIM D)A IDADE DA INOCÊNCIA

Um dos cineastas-revelação do novo milénio, Michael Cuesta iniciou a sua filmografia com uma obra complexa e sensível, "L.I.E. - Sem Saída", em 2001, e desde então desenvolveu um interessante percurso na realização de alguns episódios de séries televisivas como "Sete Palmos de Terra" e, mais recentemente, "Dexter".

"Aos Doze e Tantos" (12 and Holding), à semelhança desses trabalhos, dá continuidade à abordagem de questões habituais do cinema independente norte-americano, focando a inadaptação, as relações familiares ou a morte, e revisita os dilemas da adolescência com um olhar novamente vincado pelo realismo e sentido de observação.

Desta vez, o filme segue o percurso não de um mas de três adolescentes, em especial a forma como estes reagem, directa ou indirectamente, à morte de um outro, que perde a vida devido a um incêndio originado por dois colegas de escola.

Leonard, que sofre de excesso de peso, decide mudar o seu tipo de alimentação, dedicando-se a uma dieta de maçãs e suscitando a estupefacção da sua família; Malee, a rapariga deste trio de amigos, apaixona-se por um trabalhador das obras que recorre às consultas de psicologia da sua mãe; e Jacob, irmão da vítima do acidente, divide-se entre optar pelo perdão aos responsáveis pela morte ou fazer justiça pelas próprias mãos (e aqui o filme lembra, a espaços, "Bully - Estranhas Amizades", de Larry Clark, ou "Uma Pequena Vingança", de Jacob Aaron Estes).

Atento mergulho nas contrariedades do processo de crescimento, oferecendo três personagens centrais que, apesar de terem doze anos, não são reduzidas a estereótipos e têm a tridimensionalidade que merecem, "Aos Doze e Tantos" evidencia que a perspicácia de Cuesta para retratos da adolescência (e neste caso, da pré-adolencência) presente no seu predecessor não foi mera sorte de principiante.
Ainda que a certo ponto o argumento contenha situações extremas, a verosimilhança do filme nunca é posta em causa, fruto não só de uma escrita séria e inteligente mas também das credíveis interpretações de todo o elenco, de onde importa destacar a pequena Zoe Weizenbaum, que passou despercebida em "Memórias de uma Gueixa" mas é aqui brilhante como a precoce Malee.

"Aos Doze e Tantos" é então uma obra de méritos vários mas não exibe, infelizmente, o golpe de asa que lhe permita ascender à lista das obrigatórias, nas quais o muitíssimo promissor "L.I.E. - Sem Saída" podia integrar-se.
Ao contrário da sua primeira longa-metragem, Cuesta divide a acção em três pequenas narrativas que ocasionalmente se entrecruzam, o que não é necessariamente mau - pelo contrário, está bem aproveitado -, mas nunca atinge o efeito obtido pelo enfoque nas experiências do protagonista do filme anterior.
Mais frustrante é o facto do cineasta apostar aqui num trabalho de realização algo indistinto, suportado pelo recurso à câmara à mão, apropriado a uma obra de contornos realistas mas também mais genérico, utilizado em tantos outros títulos indie e menos estimulante do que a sofisticação visual e carga sensorial características da sua película de estreia.

O facto de não estar à altura do peso das expectativas imposto pelo seu antecessor não implica, no entanto, que "Aos Doze e Tantos" seja uma decepção, antes um filme dominado por uma estimável solidez onde se vê potencial para resultados mais memoráveis e onde permanece, felizmente, a impressão de que Cuesta é um realizador que deve continuar a ser seguido.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

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