Seis anos depois de "O Anjo da Guarda", Margarida Gil regressa com um novo filme, "Adriana", centrado nas peripécias de uma jovem ingénua de uma ilha fictícia dos Açores que é enviada para o continente pelo pai na tentativa de “constituir família por métodos naturais”.
Parece estranho? Ora, se a premissa já é incomum, o filme ainda o é mais, seguindo a protagonista nos seus contactos com uma realidade urbana lisboeta em tudo contrastante com a calmaria da sua terra-natal. Uma oposição entre a pureza/inocência do meio rural e os constantes perigos e ameaças de ambientes citadinos seria uma ideia demasiado óbvia para a película, mas Margarida Gil não segue propriamente esse caminho.
O problema, no entanto, é que também nunca se percebe qual o rumo que o filme pretende adoptar. Este carácter aleatório e descoordenado do argumento é compensado por um ritmo suficientemente entusiasmante que nunca deixa "Adriana" cair no tédio, mas não impede que o filme possua muitos altos e baixos (os segundos bem mais regulares).
Os desequilíbrios evidenciam-se logo nos diálogos, que tanto podem ser competentes e até divertidos como insuportavelmente pretensiosos quando tentam ser literários e injectam referências culturais forçadas (como numa das últimas, e mais penosas cenas, com as supostas madames da alta sociedade).
A construção das personagens é pouco conseguida e nunca vai além da caricatura, que se por vezes até tem alguma graça (casos do transformista Saturnino ou do precoce Amadeu) nunca possibilita uma tensão dramática considerável. O elenco é também desigual, embora Ana Moreira volte a demonstrar os talentos interpretativos que a tornam numa das mais promissoras jovens actrizes nacionais, mesmo que as limitações da sua personagem não lhe possibilitem gerar uma prestação tão brilhante e magnética como a que ajudou a fazer de "Os Mutantes", de Teresa Villaverde, uma obra tão marcante. O trabalho de realização é competente e adequado à mescla de tons realistas e fantasiosos, e as belas paisagens açorianas são especialmente bem enquadradas.
Esta combinação de elementos leva a que "Adriana" seja um filme ousado, que por vezes parece desafiante mas que acaba por não convencer, descambando num final preguiçoso e mal resolvido que deita por terra a interessante, ainda que irregular, imprevisibilidade dos momentos anteriores. É uma película pouco convencional, e esse aspecto é meritório, só se lamenta que a execução seja tão inconstante, atirando "Adriana" para uma esforçada mas frágil mediania.
E O VEREDICTO É: 2/5 - RAZOÁVEL
2 comentários:
falámos do mesmo filme. fiz uma ligação para o respirar o mesmo ar .
Pois foi, já vi. Tks. Keep dropping by :)
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