quinta-feira, abril 28, 2005

ADRIANA VAI À CIDADE

Seis anos depois de "O Anjo da Guarda", Margarida Gil regressa com um novo filme, "Adriana", centrado nas peripécias de uma jovem ingénua de uma ilha fictícia dos Açores que é enviada para o continente pelo pai na tentativa de “constituir família por métodos naturais”.

Parece estranho? Ora, se a premissa já é incomum, o filme ainda o é mais, seguindo a protagonista nos seus contactos com uma realidade urbana lisboeta em tudo contrastante com a calmaria da sua terra-natal. Uma oposição entre a pureza/inocência do meio rural e os constantes perigos e ameaças de ambientes citadinos seria uma ideia demasiado óbvia para a película, mas Margarida Gil não segue propriamente esse caminho.

O problema, no entanto, é que também nunca se percebe qual o rumo que o filme pretende adoptar. Este carácter aleatório e descoordenado do argumento é compensado por um ritmo suficientemente entusiasmante que nunca deixa "Adriana" cair no tédio, mas não impede que o filme possua muitos altos e baixos (os segundos bem mais regulares).

Os desequilíbrios evidenciam-se logo nos diálogos, que tanto podem ser competentes e até divertidos como insuportavelmente pretensiosos quando tentam ser literários e injectam referências culturais forçadas (como numa das últimas, e mais penosas cenas, com as supostas madames da alta sociedade).

A construção das personagens é pouco conseguida e nunca vai além da caricatura, que se por vezes até tem alguma graça (casos do transformista Saturnino ou do precoce Amadeu) nunca possibilita uma tensão dramática considerável. O elenco é também desigual, embora Ana Moreira volte a demonstrar os talentos interpretativos que a tornam numa das mais promissoras jovens actrizes nacionais, mesmo que as limitações da sua personagem não lhe possibilitem gerar uma prestação tão brilhante e magnética como a que ajudou a fazer de "Os Mutantes", de Teresa Villaverde, uma obra tão marcante. O trabalho de realização é competente e adequado à mescla de tons realistas e fantasiosos, e as belas paisagens açorianas são especialmente bem enquadradas.

Esta combinação de elementos leva a que "Adriana" seja um filme ousado, que por vezes parece desafiante mas que acaba por não convencer, descambando num final preguiçoso e mal resolvido que deita por terra a interessante, ainda que irregular, imprevisibilidade dos momentos anteriores. É uma película pouco convencional, e esse aspecto é meritório, só se lamenta que a execução seja tão inconstante, atirando "Adriana" para uma esforçada mas frágil mediania.

E O VEREDICTO É: 2/5 - RAZOÁVEL

2 comentários:

JPN disse...

falámos do mesmo filme. fiz uma ligação para o respirar o mesmo ar .

gonn1000 disse...

Pois foi, já vi. Tks. Keep dropping by :)