domingo, dezembro 31, 2006
FELIZ ANO NOVO!
POSTO DE ESCUTA: MÚSICA DE 2006
Cansei de Ser Sexy - "Bezzi" (ou "Acho Um Pouco Bom", ou "Computer Heat", ou...)
Ellen Allien & Apparat - "Jet"
Justin Timberlake - "My Love" (ou como uma canção quase salva um álbum)
Muse - "Map of the Problematique"
Nelly Furtado - "Say It Right"
The Knife - "Like a Pen"
Tiga - "3 Weeks"
TV on the Radio - "Playhouses"
Yeah Yeah Yeahs - "Cheated Hearts"
Nos palcos, vou lembrar-me da brilhante actuação de Kode 9 & Spaceape no Festival Roots & Routes, da muito boa estreia em Portugal dos Strokes, no Lisboa Soundz, e, mais pelas canções do que propriamente o concerto, do regresso dos Pixies.
The Knife - "Like a Pen"
sábado, dezembro 30, 2006
sexta-feira, dezembro 29, 2006
quinta-feira, dezembro 28, 2006
ESTREIA DA SEMANA: "BABEL"
Depois de uma promissora estreia na realização com "Amor Cão" e de uma não menos convincente segunda obra, "21 Gramas", Alejandro González Iñárritu regressa com a sua terceira longa-metragem, "Babel".
Apostando novamente numa estrutura narrativa em mosaico, seguindo várias histórias em simultâneo, este olhar sobre a família, a solidão e as barreiras da comunicação é um sério candidato a última grande estreia do ano. Brad Pitt, Cate Blanchett e Gael García Bernal (actor que Iñárritu ajudou a revelar) são alguns dos nomes de um elenco apelativo, num filme a descobrir a partir de hoje.
"Agente 117", de Michel Hazanavicius
"As Tartarugas Também Voam", de Bahman Ghobadi
"Escola Para Totós", de Todd Phillips
"Funcionário do Mês", de Greg Coolidge
"O Pacto", de Renny Harlin
"O Terceiro Passo", de Christopher Nolan
quarta-feira, dezembro 27, 2006
domingo, dezembro 24, 2006
FELIZ NATAL ;)
David Fonseca - "Little Drummer Boy"
Madonna - "Love Profusion (Head Cleaner Rock Mix)"
UM HOMEM NO CAMPO
"Um Ano Especial" (A Good Year) é mais uma prova do eclectismo de Scott e causa alguma surpresa devido à sua escassa ambição, combinando drama e comédia para contar uma história convencional sem grandes pretensões, não aspirando a mais do que um exercício essencialmente lúdico.
O motor da narrativa é a herança, por parte de um bem-sucedido homem de negócios inglês, de uma propriedade localizada em Provença, deixada pelo tio deste, recentemente falecido e com o qual manteve uma relação próxima durante a infância. A notícia leva-o a deixar por alguns dias a Bolsa de Londres e a viajar até à localidade francesa onde, à medida que a sua estadia vai tendo uma duração mais longa do que a esperada, a sua decisão inical, vender a propriedade, vai sendo reavaliada, em parte devido às acolhedoras memórias do local que vão despontando, mas também por um interesse amoroso que surge inesperadamente.
Esta associação, simplista e redutora, quando associada à tentativa do protagonista se tornar "numa pessoa melhor" redefinindo as suas prioridades, parece sugerir que "Um Ano Especial" se resume a uma colecção de lugares-comuns (como o foi, por exemplo, o recente "Um Homem na Cidade", de Mike Binder).
Ora se é verdade que os clichés estão lá, reconheça-se que o filme não é assim tão meloso e forçado, enveredando por um bem-comportado tom agridoce que nunca faz desta uma experiência cinematográfica acima do aceitável mas também não a torna num objecto a recusar por completo.
Visualmente, Scott volta a suportar-se numa linguagem próxima da publicitária (meio de onde provém), com as suas qualidades (a caracterização dos sofisticados ambientes londrinos, com uma envolvente combinação de azuis e cinzentos) e excessos (o olhar sobre Provença raramente vai além do postal ilustrado, abusando do exibicionismo e de uma carga bucólica pouco genuína, a lembrar alguns anúnicos de vinho, azeite e afins).
A mistura de comédia e drama também tem altos e baixos, dado o humor demasiado brando e a ténue densidade emocional; e Russel Crowe, no papel protagonista, não se sai especialmente bem na conciliação dos dois registos. As melhores interpretações do filme pertencem, aliás, a quem tem menos tempo de antena, casos do veterano Albert Finney e do jovem Freddie Highmore (a promessa de "À Procura da Terra do Nunca" e "Charlie e a Fábrica de Chocolate"), respectivamente tio e sobrinho nos ocasionais flashbacks. Destaque ainda para uma Abbie Cornish em busca de internacionalização depois de "Salto Mortal" e "Candy", insinuante mas com menos carisma do que nesses dois filmes.
Ainda não é com "Um Ano Especial" que Ridley Scott volta a assinar um filme obrigatório, mas admita-se que, embora seja uma obra menor e não mude a vida de ninguém (tirando, claro, a do protagonista), cumpre minimamente aquilo que se propõe, oferecendo duas horas agradáveis e despretensiosas. Não é muito, mas não podia pedir-se muito mais a um feelgood movie.
quinta-feira, dezembro 21, 2006
ESTREIA DA SEMANA: "AMOR SUSPEITO"
Outras estreias:
"20,13 - Purgatório", de Joaquim Leitão
"Déjà Vu", de Tony Scott
"Um Vizinho a Apagar", de John Whitesell
FOTOGRAMAS DE 2006 (IV)
"O Tempo que Resta", de François Ozon
(até agora estas escolhas, para além dos melhores filmes, parecem contemplar também os melhores abraços, mas prometo ser mais ecléctico nas próximas)
ANO NOVO, EQUIPA NOVA?
Para o Quarteto Fantástico parece ser assim, pelo menos segundo algumas previews que já circulam pela net e que indicam que Tempestade e Pantera Negra (o novo casal-sensação da Marvel) substituirão o Senhor Fantástico e a Mulher Invisível.
Hum, será que a Halle Berry fez mais exigências contratuais e que agora quer papéis noutros filmes de equipas de super-heróis, para além dos X-Men?? Pobres fãs da Jessica Alba...
quarta-feira, dezembro 20, 2006
SONHOS EFÉMEROS
“A Ciência dos Sonhos” (La Science des Rêves) tem agora a tarefa ingrata de ser o seu título sucessor e deixa claro que, embora apresente algumas qualidades, está muito abaixo da excelência, ou mesmo de um nível acima da média, ficando longe de ser um marco da década ou sequer do ano.
Reconheça-se que Gondry continua a apostar num trabalho de realização pessoal e imaginativo, herdeiro do cruzamento de minimalismo e surrealismo pelo qual já se havia destacado nos videoclips que dirigiu antes de testar os domínios da sétima arte. O que falta, e de que maneira, é um argumento que consiga coordenar o experimentalismo visual (por vezes brilhante), e sobretudo dar alma às personagens, ou não tivessem sido estas que ajudaram a que “O Despertar da Mente” criasse um raro e difícil elo emocional com o espectador.
Se no filme anterior o motor da acção era a memória, aqui é o universo dos sonhos, cuja abordagem é inventiva e refrescante nos primeiros minutos mas não consegue aguentar-se perante uma acção elíptica e pouco surpreendente. A alternância entre sequências reais e oníricas é curiosa e faria maravilhas num videoclip, mas a forma como é trabalhada aqui não contém trunfos que sustentem uma hora e meia imune a desequilíbrios.
Nota-se, portanto, a ausência da escrita de Charlie Kaufman, e apesar de “A Ciência dos Sonhos” seguir o template edificado pelo argumentista, Gondry nunca consegue ser mais do que um esforçado, embora irregular imitador. Será injusto, mesmo assim, acusá-lo de oferecer aqui um mau filme, pois se este não deixa de ser uma semi-desilusão ainda contém vários momentos meritórios que compensam as suas falhas.
É pena, contudo, que aquilo que acaba por ser uma brincadeira com alguma piada, candura e excentricidade nunca chegue a aproximar-se do objecto admirável e encantador que “A Ciência dos Sonhos” poderia ter sido. Resta esperar que da próxima Gondry acorde mais inspirado.
segunda-feira, dezembro 18, 2006
sábado, dezembro 16, 2006
2006: A SPACE ODISSEY
Orbital - Oi
Flunk - Kebab Shop 3 AM
Mirwais - I Can't Wait
Madonna - Nobody Knows Me (Mount Sims Old School Mix)
Sugababes - It Ain't Easy
Justin Timberlake - My Love (DFA Mix)
Annie - Heartbeat
Cansei de Ser Sexy - Let's Make Love and Listen Death From Above
Bloc Party - Like Eating Glass (Ladytron Zapatista Mix)
Interpol - Stella Was a Diver and She Was Always Down
12 Rounds - Another Day
The Smashing Pumpkins - Never Let Me Down
Mirah - Jerusalem
Rádio Macau - À Distância do Meu Grito
UNKLE - Celestial Annihilation
Annie - "Heartbeat"
quinta-feira, dezembro 14, 2006
ESTREIA DA SEMANA: "O AMOR NÃO TIRA FÉRIAS"
Outras estreias:
"Artur e os Minimeus", de Luc Besson
"Eragon", de Stefen Fangmeier
quarta-feira, dezembro 13, 2006
BEM-VINDO A SARAJEVO
O filme foca a tensa relação entre uma mãe solteira e a sua filha adolescente e através destas vai gerando, de forma sempre sóbria e controlada, o retrato de um quotidiano onde os fantasmas de um passado recente ainda se encontram bem visíveis, tendo deixado várias marcas por cicatrizar.
A abordagem do relacionamento entre a mãe a filha é igualmente consistente, porém também não muito inventiva, uma vez que a fricção que se vai adensando entre as duas, motivada pelas questões que a segunda coloca acerca da identidade do pai, já foi vista em muitos outros dramas ("Aos Doze e Tantos", de Michael Cuesta, é um dos casos mais recentes), e é aqui desenvolvida sem muitas surpresas. A revelação final é, de resto, logo sugerida por algumas cenas dos primeiros minutos, mas felizmente não coloca em causa a forte carga dramática que o filme vai tecendo até lá.
Dispensando rodriguinhos fáceis e recusando transformar as suas personagens em meras vítimas, "Filha da Guerra" contém uma saudável secura emocional, não deixando por isso de ser uma obra comovente. Para além do equilíbrio que Zbanic demonstra, parte do mérito é também das duas actrizes principais, Mirjana Karanovic e Luna Mijovic, exemplares na construção de protagonistas tridimensionais e palpáveis, que ajudam a reforçar a assinalável verosimilhança do projecto. Motivos mais do que suficientes, então, para não se passar ao lado deste pequeno filme, discreto e honesto como poucos.
segunda-feira, dezembro 11, 2006
domingo, dezembro 10, 2006
AO TERCEIRO (DIA) FOI DE VEZ
As imagens projectadas atrás do palco, quase todas dominadas por tons brancos, cinzentos e negros, constituíram a única iluminação do espectáculo, adequando-se às palavras de ordem emitidas por Spaceape, onde o sagrado e o profano se misturam num discurso tenso, pungente e quase apocalíptico (não é por acaso que "Sing of the Times", de Prince, foi o tema ouvido durante a entrada do duo).
Sombrio mas vibrante, o concerto foi, e justificadamente, o que registou a maior adesão do festival, tanto a nível do número de espectadores como da energia que se propagou entre estes e os músicos, uma vez que Spaceape saiu por várias vezes do palco para cantar no meio da audiência, comprovando ser um exímio mestre de cerimónias (o que quase fez esquecer a sua entoação algo monocórdica).
A terceira noite do Roots & Routes registou ainda o live set de Barry Linn, mais conhecido como Boxcutter, rapaz-prodígio irlandês cujo álbum "Oneiric" consta também entre os obrigatórios do dubstep. Embora marcada por alguns problemas de som nos primeiros minutos, a actuação logo fez esquecer esse percalço através de uma vitaminada amálgama sonora, expondo consideráveis doses de experimentalismo sem no entanto cair na auto-indulgência.
Enveredando por domínios ambientais e abstractos, Boxcutter ofereceu um caldeidoscópio electrónico de forte carga urbana e nebulosa, que não poderia ser mais apropriado para noites frias e chuvosas. Entre bleeps imaginativos e espontâneos, oscilações constantes no volume do som e texturas algures entre um Aphex Twin e um DJ Shadow, não esquecendo a determinante contribuição do baixo, Linn mostrou engenho e confirmou-se como um nome a seguir.
Também em registo live set, o espanhol Mwëslee trouxe ao festival um interessante combinado de batidas hip-hop condimentadas com sujas doses de electro e noise, e o britânico Geiom gerou uma sessão à base de dubstep funcional e dinâmico, com pontuais explosões rítmicas não muitos distantes do asian underground.
Antes destes, coube aos portugueses Seenistra meets Sallivah e Unidade Sonora prepararem o início da noite, que terminou com a actuação dos Raska Soundsystem e, por fim, com o set de DJ MK.
sábado, dezembro 09, 2006
AO RITMO DO HIP-HOP
Rocky Marsiano foi um desses casos, músico luso-croata que integra os Micro (onde adopta o alter ego D-Mars) ou Double D Force mas que levou ao MusicBox algumas composições de "The Pyramid Sessions", o seu segundo álbum a solo, editado no ano passado.
Motivo para cerca de uma hora onde o hip-hop e o jazz se entrecruzaram numa sessão maioritariamente instrumental, uma vez que as raras vozes presentes eram sampladas. Interessante exercício de cut n' paste, não propriamente inovador mas envolvente q.b., investindo tanto em momentos mais festivos e efusivos como em episódios pontuados por alguma melancolia. T One na guitarra, Jorge Amado no saxofone e o scratching de DJ Ride ajudaram, proporcionando um acolhedor início de noite.
sexta-feira, dezembro 08, 2006
O FUTURO É AGORA
Apresentando-se sob o formato live set, não recorrendo às cantoras que colaboram no disco, proporcionaram cerca de hora e meia de cruzamentos sonoros inspirados, embora bastante distantes do legado de algum trip-hop e R&B presentes no álbum. E ainda bem, porque a fusão do set foi mais estimulante, suscitando um apreciável dinamismo através de beats contagiantes envoltos em atmosferas densas e obscuras.
O cruzamento de uma forte pulsão rítmica, sempre presente, com texturas soturnas e opressivas originou um ambiente com tanto de intrigante como de viciante, incitando a dança do público que não ultrapassaria as 50 pessoas mas cujo entusiasmo foi permanente.
Antes dos Various Productions, coube ao português Mike Stellar ir iniciando a noite enquanto chegavam os primeiros espectadores, e pela madrugada dentro actuaram ainda no MusicBox o espanhol Joan Barbena e Karl Injex, dos EUA, todos através de DJ sets, e ainda houve tempo para um showcase de dança. Hoje à noite o cartaz inclui Kalaf (20h), Rocky Marsiano (21h), João Gomes, dos Cool Hipnoise (22h), Ty e DJ Big Ted (23h), Steinski (00h30), Daz I Kue (2h15) e TM Juke (4h).
quinta-feira, dezembro 07, 2006
ESTREIA DA SEMANA: "HAPPY FEET"
Outras estreias:
Parece que os pinguins estão mesmo na moda. Depois de serem as melhores (e mais subaproveitadas) personagens de "Madagáscar" e de terem tido direito a um filme próprio em "A Marcha dos Pinguins" (que ficou aquém das expectativas), regressam em "Happy Feet", a mais recente proposta de animação pré-natalícia, realizada pelo australiano George Miller (que já fez um pouco de tudo, desde "Mad Max" a "Um Porquinho Chamado Babe"). A acção segue as peripécias de um pinguim-imperador rejeitado pela sua comunidade por não saber cantar, mas que acaba por encontrar outra espécie onde se destaca por outros aspectos. Será que à terceira é de vez e que desta será feita justiça aos pinguins no cinema?
Outras estreias:
"Alex", de José Alcala
"O Nascimento de Cristo", de Catherine Hardwicke
"Saw III - O Legado", de Darren Lynn Bousman
ROTAS LISBOETAS
Various Production - "Hater"
quarta-feira, dezembro 06, 2006
CATCH THEM IF YOU CAN
HELLO KITTY
terça-feira, dezembro 05, 2006
OS DIAS DO FIM
"Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban" (2004), a sua contribuição para as aventuras do jovem e mediático feiticeiro, acrescentou um recomendável negrume à saga, e se não se saiu mal enquanto trabalho de encomenda também não foi um filme à altura das expectativas geradas pelo seu projecto anterior.
Agora, com "Os Filhos do Homem" (Children of Men), transfere para o grande ecrã o livro homónimo de ficção científica de PD James, cuja acção decorre num futuro próximo (2027) onde o mundo é caracterizado por um caótico contexto de anarquia global, vitimado por sérios problemas de imigração e, sobretudo, por uma crise de infertilidade que se arrasta há anos.
Para tal não é alheia a soberba fotografia de Emmanuel Lubezki, com variações cromáticas dominadas por apropiados tons de castanho e cinza, determinantes para a edificação de um ambiente nebuloso e intrigante, e principalmente o trabalho de realização de Cuarón, que em dois ou três momentos atinge a excelência pelo nervo e carga realista que imprime a algumas sequências de antologia (uma atribulada viagem de carro ou, já mais perto do desenlace, a autêntica guerra civil nos prédios em ruínas).
Infelizmente, este rigor técnico não tem contraponto na narrativa, seguidora de uma lógica de videojogo, onde as personagens vão saltitando de nível para nível ou, neste caso, de perigo para perigo, encontrando novos aliados e adversários à medida que a sua fuga decorre.
A escassa solidez do argumento, que não sabe como aproveitar as muitas e pertientes temáticas sugeridas (todavia não aprofundadas), desbarata assim a competência (e a espaços mestria) visual, limitando também as prestações de um elenco forte, mas que mal tem oportunidade de mostrar o que vale. Julianne Moore, Michael Caine e Chiwetel Ejiofor, secundários de luxo, mereciam maior tempo de antena, e cabe assim a Clive Owen carregar o filme às costas, tarefa para a qual se mostra à altura, compondo um protagonista simultaneamente intrépido e desencantado.
Mesmo sendo algo decepcionante no seu desenvolvimento, "Os Filhos do Homem" resulta enquanto um eficaz thriller apocalíptico, já que Cuarón é geralmente bem sucedido na gestão do suspense, sabe filmar imaginativas cenas de acção e mantém o interesse até ao final, encontrando ainda uma valiosa mais-valia no carisma de Owen. Mas não deixa de ser inevitável pensar no grande filme que poderia ter saído daqui...
segunda-feira, dezembro 04, 2006
UM BANQUETE NO COLISEU
Bloc Party - "Luno (live)"
MARCHA LENTA (E LONGA)
As fronteiras entre a ficção e documentário voltam a esbater-se nesta obra de arriscada catalogação, pois as personagens são figuras reais e o filme apresenta alguns estilhaços do seu dia-a-dia, colocando-as face a uma câmara quase sempre imóvel, particularmente claustrofóbica nos momentos centrados em Ventura, que tem em “Juventude em Marcha” um protagonismo que no filme anterior pertencia a Vanda, agora moradora do bairro social.
Ventura é aqui a âncora de Costa, e através de episódios do quotidiano deste vai sendo construída uma perspectiva sobre um Portugal raramente mostrado, pelo menos desta forma, expondo uma realidade marcada pelo fenómeno da imigração (neste caso, cabo-verdiana) e pelas condições de vida precárias, e muitas vezes ignoradas, a que os habitantes do bairro estão sujeitos.
O verismo cru dos espaços e figuras começa por ser inquietante, mas “Juventude em Marcha” vai anulando esse efeito ao apostar em cenas de duvidosa pertinência, repetindo códigos e situações ao longo de duas horas e meia que se tornam cansativas, entediantes e, sobretudo, injustificadas.
Se por vezes se detecta alguma energia visual nos enquadramentos e, em particular, no trabalho de iluminação, tal não compensa a formatação em que o filme se vai afundando progressivamente, sendo vítima de um hermetismo que atinge o ponto de combustão nos inconsequentes planos fixos de quadros, portas, janelas ou paredes, prolongados até à exaustão.
Torna-se quase impossível encontrar aqui qualquer vestígio de densidade emocional, e embora Costa tente interromper a modorra através da carta que Ventura recita várias vezes, essa opção não passa de um mecanismo forçado, mais piegas do que poético e francamente ingénuo.
Ainda que os seus propósitos possam ser nobres, “Juventude em Marcha” apoia-se numa estrutura formal e narrativa tão impenetrável e alienante que se transforma num exercício de estilo destinado a testar a paciência do espectador.
Muito ambicioso mas pouco intenso e dominado por uma frustrante letargia dramática, fica refém de um esquematismo tão desinteressante como o dos mais banais blockbusters. Com a agravante de, ao contrário destes, “Juventude em Marcha” abusar da dose de pretensão, não estando à sua altura pois raramente consegue ser mais do que um soporífero arty com tiques de reality show.
domingo, dezembro 03, 2006
PRESENTE QUE NÃO CORTA COM O PASSADO
As letras são mesmo um dos trunfos da banda, e embora não sejam da sua autoria, pois recuperam poemas de José Luís Peixoto ou Adília Lopes, entre outros, adaptam-se sem dificuldades ao seu universo musical, sendo caracterizadas tanto por uma considerável carga subversiva ("Fé", "Bairro Velho") como por domínios de um amargurado romantismo ("Todo o Amor do Mundo Não Foi Soficiente" ou "Quando os Nossos Corpos se Separaram").
Os contactos da banda com o público não foram frequentes, mas no encore grande parte dos presentes acedeu sem reservas ao pedido de Mitó (cada vez mais uma vocalista a seguir) e dançou ao som das repetidas "A Desfolhada" e "Señoritas" (muito provavelmente a canção da noite).
Num concerto que durou pouco mais de uma hora (e que soube a pouco), A Naifa voltou a evidenciar-se como um dos mais interessantes projectos nacionais a emergir nos últimos anos, apostando em canções onde tanto a música como a palavra são um elementou vital e, juntas, traduzem uma obra actual, refrescante e genuinamente portuguesa sem olvidarem a herança do passado.
A Naifa - "Monotone"
DIZ-ME O QUE CANTAS...
E não por andar enfeitada
Ser adorada mesmo assim
Careca, nua, descarnada
Engano de alma ledo e cego
Ó linda inês posta em sossego imortal
Diz adeus
Com perfumes a presa é fácil
Com jóias, casacos de peles
Gosto do amor quando é difícil
E cheiro o meu hálito reles
Quero ser amada à flor da pele
Não quero peles de vison
Amada p’lo sabor a mel
E não pela cor do baton
Engano de alma ledo e cego
Ó linda inês posta em sossego imortal
Diz adeus
Com cabeleira a presa é fácil
Há quem se esconda atrás dos pelos
Gosto do amor quando é difícil
De ser amada sem cabelos
Guero que me beijem a caveira
E o meu ossinho parietal
Que se afoguem na banheira
P’lo meu belo occipital
Engano de alma ledo e cego
Ó linda Inês posta em sossego imortal
Diz adeus
Com carne viva a presa é fácil
É ordinário e obsoleto
Gosto do amor quando é difícil
Quando me aquecem o esqueleto
Quero ser amada p’la morte
P’los meus ossos de luar
Quero que os cães da minha corte
Passem as noites a ladrar
Engano de alma ledo e cego
Ó linda Inês posta em sossego imortal
Diz adeus
Sobe aos céus
Sobe aos céus