domingo, dezembro 31, 2006

FELIZ ANO NOVO!

Para não variar, ainda não foi desta que consegui publicar aqui as listas de melhores filmes do ano antes deste terminar. Enfim, talvez da próxima. Entretanto, podem recordar 2006 aqui e, para iniciar 2007 de forma apropriadamente festiva, deixo esta sugestão para a banda-sonora do reveillon:

Kylie Minogue - "Come Into My World (Fischerspooner Mix)"

FOTOGRAMAS DE 2006 (VIII)

"Ninguém Sabe", de Hirokazu Kore-eda

POSTO DE ESCUTA: MÚSICA DE 2006

Embora tenha gostado de alguns discos de 2006 - dos Cansei de Ser Sexy, Yeah Yeah Yeahs, The Knife,... -, este não foi um ano que me trouxe álbuns apaixonantes, daí que, em altura de balanços, faça mais sentido destacar canções. Aqui ficam dez que ouvi com regularidade:

A Naifa - "Monotone"
Cansei de Ser Sexy - "Bezzi" (ou "Acho Um Pouco Bom", ou "Computer Heat", ou...)
Ellen Allien & Apparat - "Jet"
Justin Timberlake - "My Love" (ou como uma canção quase salva um álbum)
Muse - "Map of the Problematique"
Nelly Furtado - "Say It Right"
The Knife - "Like a Pen"
Tiga - "3 Weeks"
TV on the Radio - "Playhouses"
Yeah Yeah Yeahs - "Cheated Hearts"

Nos palcos, vou lembrar-me da brilhante actuação de Kode 9 & Spaceape no Festival Roots & Routes, da muito boa estreia em Portugal dos Strokes, no Lisboa Soundz, e, mais pelas canções do que propriamente o concerto, do regresso dos Pixies.

The Knife - "Like a Pen"

sábado, dezembro 30, 2006

FOTOGRAMAS DE 2006 (VII)

"A Senhora da Água", de M. Night Shyamalan

sexta-feira, dezembro 29, 2006

7 BLOGUES, 6 ESTREIAS, 5 ESTRELAS?

Mais um mês, mais filmes, mais classificações.

quinta-feira, dezembro 28, 2006

ESTREIA DA SEMANA: "BABEL"

Depois de uma promissora estreia na realização com "Amor Cão" e de uma não menos convincente segunda obra, "21 Gramas", Alejandro González Iñárritu regressa com a sua terceira longa-metragem, "Babel".
Apostando novamente numa estrutura narrativa em mosaico, seguindo várias histórias em simultâneo, este olhar sobre a família, a solidão e as barreiras da comunicação é um sério candidato a última grande estreia do ano. Brad Pitt, Cate Blanchett e Gael García Bernal (actor que Iñárritu ajudou a revelar) são alguns dos nomes de um elenco apelativo, num filme a descobrir a partir de hoje.

Outras estreias:

"Agente 117", de Michel Hazanavicius
"As Tartarugas Também Voam", de Bahman Ghobadi
"Escola Para Totós", de Todd Phillips
"Funcionário do Mês", de Greg Coolidge
"O Pacto", de Renny Harlin
"O Terceiro Passo", de Christopher Nolan

quarta-feira, dezembro 27, 2006

FOTOGRAMAS DE 2006 (VI)

"Em Paris", de Christophe Honoré

domingo, dezembro 24, 2006

FELIZ NATAL ;)


David Fonseca - "Little Drummer Boy"


Madonna - "Love Profusion (Head Cleaner Rock Mix)"

FOTOGRAMAS DE 2006 (V)

"Munique", de Steven Spielberg

UM HOMEM NO CAMPO

Nos últimos anos, Ridley Scott tem apostado em filmes que o confirmam como um dos mais versáteis realizadores em actividade, constituindo uma obra que engloba títulos de vários géneros, mas essa diversidade não tem oferecido, infelizmente, propostas especialmente estimulantes. Do sobrevalorizado "Gladiador" ao desequilibrado "Hannibal", passando pelo inconsequente "Cercados" ou pelo malogrado "Reino dos Céus", não lhe têm faltado projectos com potencial, embora a execução dos mesmos não chegue a ascender a um nível acima da mediania.

"Um Ano Especial" (A Good Year) é mais uma prova do eclectismo de Scott e causa alguma surpresa devido à sua escassa ambição, combinando drama e comédia para contar uma história convencional sem grandes pretensões, não aspirando a mais do que um exercício essencialmente lúdico.

O motor da narrativa é a herança, por parte de um bem-sucedido homem de negócios inglês, de uma propriedade localizada em Provença, deixada pelo tio deste, recentemente falecido e com o qual manteve uma relação próxima durante a infância. A notícia leva-o a deixar por alguns dias a Bolsa de Londres e a viajar até à localidade francesa onde, à medida que a sua estadia vai tendo uma duração mais longa do que a esperada, a sua decisão inical, vender a propriedade, vai sendo reavaliada, em parte devido às acolhedoras memórias do local que vão despontando, mas também por um interesse amoroso que surge inesperadamente.

Uma premissa pouco ousada e inovadora, portanto, que mais não faz do que reaproveitar o conflito entre a consumação do amor e a prosperidade profissional ou a dicotomia campo/cidade, realçando a pureza e serenidade do primeiro e o misto de hipocrisia e competitividade que infecta a segunda.
Esta associação, simplista e redutora, quando associada à tentativa do protagonista se tornar "numa pessoa melhor" redefinindo as suas prioridades, parece sugerir que "Um Ano Especial" se resume a uma colecção de lugares-comuns (como o foi, por exemplo, o recente "Um Homem na Cidade", de Mike Binder).
Ora se é verdade que os clichés estão lá, reconheça-se que o filme não é assim tão meloso e forçado, enveredando por um bem-comportado tom agridoce que nunca faz desta uma experiência cinematográfica acima do aceitável mas também não a torna num objecto a recusar por completo.

Visualmente, Scott volta a suportar-se numa linguagem próxima da publicitária (meio de onde provém), com as suas qualidades (a caracterização dos sofisticados ambientes londrinos, com uma envolvente combinação de azuis e cinzentos) e excessos (o olhar sobre Provença raramente vai além do postal ilustrado, abusando do exibicionismo e de uma carga bucólica pouco genuína, a lembrar alguns anúnicos de vinho, azeite e afins).
A mistura de comédia e drama também tem altos e baixos, dado o humor demasiado brando e a ténue densidade emocional; e Russel Crowe, no papel protagonista, não se sai especialmente bem na conciliação dos dois registos. As melhores interpretações do filme pertencem, aliás, a quem tem menos tempo de antena, casos do veterano Albert Finney e do jovem Freddie Highmore (a promessa de "À Procura da Terra do Nunca" e "Charlie e a Fábrica de Chocolate"), respectivamente tio e sobrinho nos ocasionais flashbacks. Destaque ainda para uma Abbie Cornish em busca de internacionalização depois de "Salto Mortal" e "Candy", insinuante mas com menos carisma do que nesses dois filmes.

Ainda não é com "Um Ano Especial" que Ridley Scott volta a assinar um filme obrigatório, mas admita-se que, embora seja uma obra menor e não mude a vida de ninguém (tirando, claro, a do protagonista), cumpre minimamente aquilo que se propõe, oferecendo duas horas agradáveis e despretensiosas. Não é muito, mas não podia pedir-se muito mais a um feelgood movie.
E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL

quinta-feira, dezembro 21, 2006

ESTREIA DA SEMANA: "AMOR SUSPEITO"

"Amor Suspeito" (La Moustache) tem como elemento determinante um acto aparentemente banal: Marc, o protagonista, decide rapar o bigode que usa há anos. No entanto, o seu dia-a-dia começa a tornar-se cada vez mais inquietante à medida que ninguém, nem mesmo a sua esposa, parece lembrar-se que ele já teve bigode.
Protagonizado por Vincent Lindon e Emmanuelle Devos, este drama de Emmanuel Carrère é uma das estreias mais promissoras do final de 2006. Não terá muito a ver com a época natalícia, mas é capaz de ser mais interessante do que grande parte da concorrência.

Outras estreias:

"20,13 - Purgatório", de Joaquim Leitão
"Déjà Vu", de Tony Scott
"Um Vizinho a Apagar", de John Whitesell

FOTOGRAMAS DE 2006 (IV)

"O Tempo que Resta", de François Ozon

(até agora estas escolhas, para além dos melhores filmes, parecem contemplar também os melhores abraços, mas prometo ser mais ecléctico nas próximas)

ANO NOVO, EQUIPA NOVA?

Para o Quarteto Fantástico parece ser assim, pelo menos segundo algumas previews que já circulam pela net e que indicam que Tempestade e Pantera Negra (o novo casal-sensação da Marvel) substituirão o Senhor Fantástico e a Mulher Invisível.

Hum, será que a Halle Berry fez mais exigências contratuais e que agora quer papéis noutros filmes de equipas de super-heróis, para além dos X-Men?? Pobres fãs da Jessica Alba...

quarta-feira, dezembro 20, 2006

SONHOS EFÉMEROS

Quando, há dois anos, o francês Michel Gondry realizou a sua segunda longa-metragem, “O Despertar da Mente”, não foram poucos os que a consideraram – e justamente – um dos filmes nucleares da primeira metade da década, aliança perfeita entre comédia delirante e drama envolvente, um prodígio de escrita que, combinada com uma peculiar identidade visual e um elenco irrepreensível, deixou muita expectativa quanto às futuras obras do realizador.

“A Ciência dos Sonhos” (La Science des Rêves) tem agora a tarefa ingrata de ser o seu título sucessor e deixa claro que, embora apresente algumas qualidades, está muito abaixo da excelência, ou mesmo de um nível acima da média, ficando longe de ser um marco da década ou sequer do ano.
Reconheça-se que Gondry continua a apostar num trabalho de realização pessoal e imaginativo, herdeiro do cruzamento de minimalismo e surrealismo pelo qual já se havia destacado nos videoclips que dirigiu antes de testar os domínios da sétima arte. O que falta, e de que maneira, é um argumento que consiga coordenar o experimentalismo visual (por vezes brilhante), e sobretudo dar alma às personagens, ou não tivessem sido estas que ajudaram a que “O Despertar da Mente” criasse um raro e difícil elo emocional com o espectador.

A superficial carga dramática é especialmente frustrante uma vez que desperdiça um sólido elenco, não tanto no caso dos protagonistas, mas gritantemente no dos secundários, onde constam, entre outros, Alain Chabat, Aurélia Petit, Sacha Bourdo ou Miou Miou, com pouco ou nada para fazer. Já Gael García Bernal destila carisma na pele de um ilustrador que viaja para Paris, consegue um emprego menos estimulante do que esperava e que entretanto se apaixona pela vizinha do lado, interpretada por uma competente Charlotte Gainsbourg. A dupla resulta bem, mas também prova que a superlativa química partilhada por Jim Carrey e Kate Winslet não é para todos.

Se no filme anterior o motor da acção era a memória, aqui é o universo dos sonhos, cuja abordagem é inventiva e refrescante nos primeiros minutos mas não consegue aguentar-se perante uma acção elíptica e pouco surpreendente. A alternância entre sequências reais e oníricas é curiosa e faria maravilhas num videoclip, mas a forma como é trabalhada aqui não contém trunfos que sustentem uma hora e meia imune a desequilíbrios.

Nota-se, portanto, a ausência da escrita de Charlie Kaufman, e apesar de “A Ciência dos Sonhos” seguir o template edificado pelo argumentista, Gondry nunca consegue ser mais do que um esforçado, embora irregular imitador. Será injusto, mesmo assim, acusá-lo de oferecer aqui um mau filme, pois se este não deixa de ser uma semi-desilusão ainda contém vários momentos meritórios que compensam as suas falhas.
É pena, contudo, que aquilo que acaba por ser uma brincadeira com alguma piada, candura e excentricidade nunca chegue a aproximar-se do objecto admirável e encantador que “A Ciência dos Sonhos” poderia ter sido. Resta esperar que da próxima Gondry acorde mais inspirado.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

segunda-feira, dezembro 18, 2006

FOTOGRAMAS DE 2006 (III)

"Voltar", de Pedro Almodóvar

sábado, dezembro 16, 2006

2006: A SPACE ODISSEY

Com um atraso de dois meses, lá entreguei ao Spaceboy a compilação que gravei para ele. Como não lhe enviei o alinhamento, deixo-o aqui. Acertaste muitas, João?

DJ Shadow - Six Days (Soulwax Remix)
Orbital - Oi
Flunk - Kebab Shop 3 AM
Mirwais - I Can't Wait
Madonna - Nobody Knows Me (Mount Sims Old School Mix)
Sugababes - It Ain't Easy
Justin Timberlake - My Love (DFA Mix)
Annie - Heartbeat
Cansei de Ser Sexy - Let's Make Love and Listen Death From Above
Bloc Party - Like Eating Glass (Ladytron Zapatista Mix)
Interpol - Stella Was a Diver and She Was Always Down
12 Rounds - Another Day
The Smashing Pumpkins - Never Let Me Down
Mirah - Jerusalem
Rádio Macau - À Distância do Meu Grito
UNKLE - Celestial Annihilation

Annie - "Heartbeat"

quinta-feira, dezembro 14, 2006

ESTREIA DA SEMANA: "O AMOR NÃO TIRA FÉRIAS"

Numa semana de poucas estreias, e nenhuma especialmente estimulante, o destaque vai, ainda assim, para "O Amor Não Tira Férias" (The Holiday), o mais recente filme de Nancy Meyers, que parece não querer largar o formato da comédia romântica (o público também não tem reclamado até agora, tanto em "O Que as Mulheres Querem" como em "Alguém Tem que Ceder", que sempre foram melhores do que "Pai Para Mim... Mãe Para Ti"). Só pelo elenco - Kate Winslet, Jack Black, Cameron Diaz e Jude Law - já merece o benefício da dúvida, e um feelgood movie de vez em quando, sobretudo em época natalícia, não faz mal a ninguém.

Outras estreias:

"Artur e os Minimeus", de Luc Besson
"Eragon", de Stefen Fangmeier

quarta-feira, dezembro 13, 2006

FOTOGRAMAS DE 2006 (II)

"O Segredo de Brokeback Mountain", de Ang Lee

BEM-VINDO A SARAJEVO

Premiado com o Urso de Ouro na mais recente edição do Festival de Berlim, "Filha da Guerra" (Grbavica) marca a estreia de Jasmila Zbanic na realização e, embora não exiba méritos que o incluam na lista de objectos cinematográficos ímpares, é bem sucedido na sua proposta de apresentar um olhar sobre o legado da Guerra dos Balcãs em Sarajevo.

O filme foca a tensa relação entre uma mãe solteira e a sua filha adolescente e através destas vai gerando, de forma sempre sóbria e controlada, o retrato de um quotidiano onde os fantasmas de um passado recente ainda se encontram bem visíveis, tendo deixado várias marcas por cicatrizar.

A realização de Zbanic, de forte travo realista, aproxima-se por vezes de algum cinema documental, e apesar de não exibir particulares sinais de originalidade ou traço autoral é bastante eficaz no verismo que consegue injectar na definição de espaços e ambientes, fazendo-o de um modo francamente mais estimulante do que, por exemplo, o desapontante "Diários da Bósnia", de Joaquim Sapinho.

A abordagem do relacionamento entre a mãe a filha é igualmente consistente, porém também não muito inventiva, uma vez que a fricção que se vai adensando entre as duas, motivada pelas questões que a segunda coloca acerca da identidade do pai, já foi vista em muitos outros dramas ("Aos Doze e Tantos", de Michael Cuesta, é um dos casos mais recentes), e é aqui desenvolvida sem muitas surpresas. A revelação final é, de resto, logo sugerida por algumas cenas dos primeiros minutos, mas felizmente não coloca em causa a forte carga dramática que o filme vai tecendo até lá.

Dispensando rodriguinhos fáceis e recusando transformar as suas personagens em meras vítimas, "Filha da Guerra" contém uma saudável secura emocional, não deixando por isso de ser uma obra comovente. Para além do equilíbrio que Zbanic demonstra, parte do mérito é também das duas actrizes principais, Mirjana Karanovic e Luna Mijovic, exemplares na construção de protagonistas tridimensionais e palpáveis, que ajudam a reforçar a assinalável verosimilhança do projecto. Motivos mais do que suficientes, então, para não se passar ao lado deste pequeno filme, discreto e honesto como poucos.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

segunda-feira, dezembro 11, 2006

FOTOGRAMAS DE 2006 (I)

"Match Point", de Woody Allen

domingo, dezembro 10, 2006

AO TERCEIRO (DIA) FOI DE VEZ

O festival Roots & Routes reservou para o séu último dia um dos nomes cimeiros do dubstep, movimento urbano emergente do qual "Memories From the Future", de Kode 9 e The Spaceape, é apontado como um disco exemplar e defendido por muitos como um dos lançamentos discográficos nucleares de 2006. Pese embora algum exagero, a verdade é que a dupla britânica apresentou-se ontem em palco e mostrou ao público do MusicBox tudo o que um concerto deve ser, proporcionando um alinhamento mais rico do que o do álbum de estreia, onde as versões das composições perderam a carga minimalista a favor, e bem, de uma sonoridade mais atmosférica, absorvente e dinâmica.

Geiom

Spaceape, situando-se sempre próximo de um spoken word austero e inquietante, foi um contraponto perfeito para a minuciosa manipulação de beats encetada por um discreto Kode 9, e se os momentos iniciais viveram muito da carga sinistra e densa, quase sonâmbula, que já contaminava o disco, pouco demorou para que Spaceape começasse a interagir com os espectadores, dando início a uma euforia dançável que disseminou pela maioria (todos?) os presentes.
As imagens projectadas atrás do palco, quase todas dominadas por tons brancos, cinzentos e negros, constituíram a única iluminação do espectáculo, adequando-se às palavras de ordem emitidas por Spaceape, onde o sagrado e o profano se misturam num discurso tenso, pungente e quase apocalíptico (não é por acaso que "Sing of the Times", de Prince, foi o tema ouvido durante a entrada do duo).

Sombrio mas vibrante, o concerto foi, e justificadamente, o que registou a maior adesão do festival, tanto a nível do número de espectadores como da energia que se propagou entre estes e os músicos, uma vez que Spaceape saiu por várias vezes do palco para cantar no meio da audiência, comprovando ser um exímio mestre de cerimónias (o que quase fez esquecer a sua entoação algo monocórdica).

Boxcutter

Durante cerca de duas horas imparáveis, sem momentos mortos nem sequer quebras de ritmo, a dupla mostrou que o dubstep respira saúde, e ao vivo é a melhor forma de atestar os seus méritos e singularidades. Atribuir-lhes o título de autores do "disco do ano" será excessivo, mas no campeonato dos concertos não andarão longe disso.

A terceira noite do Roots & Routes registou ainda o live set de Barry Linn, mais conhecido como Boxcutter, rapaz-prodígio irlandês cujo álbum "Oneiric" consta também entre os obrigatórios do dubstep. Embora marcada por alguns problemas de som nos primeiros minutos, a actuação logo fez esquecer esse percalço através de uma vitaminada amálgama sonora, expondo consideráveis doses de experimentalismo sem no entanto cair na auto-indulgência.
Enveredando por domínios ambientais e abstractos, Boxcutter ofereceu um caldeidoscópio electrónico de forte carga urbana e nebulosa, que não poderia ser mais apropriado para noites frias e chuvosas. Entre bleeps imaginativos e espontâneos, oscilações constantes no volume do som e texturas algures entre um Aphex Twin e um DJ Shadow, não esquecendo a determinante contribuição do baixo, Linn mostrou engenho e confirmou-se como um nome a seguir.

Também em registo live set, o espanhol Mwëslee trouxe ao festival um interessante combinado de batidas hip-hop condimentadas com sujas doses de electro e noise, e o britânico Geiom gerou uma sessão à base de dubstep funcional e dinâmico, com pontuais explosões rítmicas não muitos distantes do asian underground.
Antes destes, coube aos portugueses Seenistra meets Sallivah e Unidade Sonora prepararem o início da noite, que terminou com a actuação dos Raska Soundsystem e, por fim, com o set de DJ MK.

Mwëslee

Trazendo a Lisboa alguma da mais estimulante música que foi nascendo nos últimos tempos, o festival Roots & Routes apresentou ao vivo nomes que nunca estiveram abaixo da competência, e alguns destes revelaram-se mesmo como sérios casos a revisitar com urgência, seja no palco do MusicBox ou noutro espaço igualmente acolhedor e intimista. E provou que o dubstep é um movimento com uma alta probabilidade de disseminação depois de efectuado o primeiro contacto, o público presente no concerto de Kode 9 & The Spaceape que o diga.

sábado, dezembro 09, 2006

AO RITMO DO HIP-HOP

Depois dos Various Productions terem iniciado o festival da melhor forma na passada quinta-feira, o segundo dia do Roots & Routes apresentou ontem mais motivos de interesse, tanto nacionais como de fora de portas.

Rocky Marsiano foi um desses casos, músico luso-croata que integra os Micro (onde adopta o alter ego D-Mars) ou Double D Force mas que levou ao MusicBox algumas composições de "The Pyramid Sessions", o seu segundo álbum a solo, editado no ano passado.
Motivo para cerca de uma hora onde o hip-hop e o jazz se entrecruzaram numa sessão maioritariamente instrumental, uma vez que as raras vozes presentes eram sampladas. Interessante exercício de cut n' paste, não propriamente inovador mas envolvente q.b., investindo tanto em momentos mais festivos e efusivos como em episódios pontuados por alguma melancolia. T One na guitarra, Jorge Amado no saxofone e o scratching de DJ Ride ajudaram, proporcionando um acolhedor início de noite.

O segundo dia do festival Roots & Routes contou ainda com os DJ sets de Kalaf, Steinski, Daz I Kue e TM Juke, assim como o concerto de Ty e DJ Big Ted. Para hoje, as propostas incluem Seenistra meets Sallivah (20h), Boxcutter (21h), Mwëslee (22h), Geiom (23h), Unidade Sonora (00h), Kode 9 & The Space Ape (1h), Raska Soundsystem (2h30) e DJ MK (4h).

sexta-feira, dezembro 08, 2006

O FUTURO É AGORA

O festival Roots & Routes, que chega agora a Portugal depois de já ter passado por outros países europeus, tem como propósito divulgar alguns dos nomes em ascensão da música urbana recente, e nesta edição o destaque centra-se essencialmente no dubstep. Movimento londrino cuja sonoridade híbrida recupera traços de muitas outras, desde o 2 step ao dub, passando pelo drum & bass a batidas hip-hop, proporcionou ontem uma amálgama refrescante que não ficou refém das suas influências.

O primeiro dia do festival (a decorrer no MusicBox, no Cais do Sodré) ficou marcado pela actuação dos britânicos Various Productions, um dos porta-estandartes do movimento, cujo álbum de estreia "The World is Gone", editado este ano, lhes tem rendido consideráveis elogios.

Apresentando-se sob o formato live set, não recorrendo às cantoras que colaboram no disco, proporcionaram cerca de hora e meia de cruzamentos sonoros inspirados, embora bastante distantes do legado de algum trip-hop e R&B presentes no álbum. E ainda bem, porque a fusão do set foi mais estimulante, suscitando um apreciável dinamismo através de beats contagiantes envoltos em atmosferas densas e obscuras.
O cruzamento de uma forte pulsão rítmica, sempre presente, com texturas soturnas e opressivas originou um ambiente com tanto de intrigante como de viciante, incitando a dança do público que não ultrapassaria as 50 pessoas mas cujo entusiasmo foi permanente.

A actuação aglutinou, de forma equilibrada, múltiplos géneros e tendências, onde coube tanto o drum & bass (vertente bass acentuada) como discretos temperos rock (via Radiohead, mais uma vez abençoados por nomes da música de dança), passando por vezes por temperos quase tribais ou por uma vibração electro, lembrando ainda o experimentalismo da IDM de um Aphex Twin ou a energia techno de uns Prodigy antes da explosão global. Ficou aguçada a curiosidade para eventuais futuras sessões e justificou-se o hype que se tem disseminado por alguns círculos.

Antes dos Various Productions, coube ao português Mike Stellar ir iniciando a noite enquanto chegavam os primeiros espectadores, e pela madrugada dentro actuaram ainda no MusicBox o espanhol Joan Barbena e Karl Injex, dos EUA, todos através de DJ sets, e ainda houve tempo para um showcase de dança. Hoje à noite o cartaz inclui Kalaf (20h), Rocky Marsiano (21h), João Gomes, dos Cool Hipnoise (22h), Ty e DJ Big Ted (23h), Steinski (00h30), Daz I Kue (2h15) e TM Juke (4h).

quinta-feira, dezembro 07, 2006

ESTREIA DA SEMANA: "HAPPY FEET"

Outras estreias:

Parece que os pinguins estão mesmo na moda. Depois de serem as melhores (e mais subaproveitadas) personagens de "Madagáscar" e de terem tido direito a um filme próprio em "A Marcha dos Pinguins" (que ficou aquém das expectativas), regressam em "Happy Feet", a mais recente proposta de animação pré-natalícia, realizada pelo australiano George Miller (que já fez um pouco de tudo, desde "Mad Max" a "Um Porquinho Chamado Babe"). A acção segue as peripécias de um pinguim-imperador rejeitado pela sua comunidade por não saber cantar, mas que acaba por encontrar outra espécie onde se destaca por outros aspectos. Será que à terceira é de vez e que desta será feita justiça aos pinguins no cinema?

Outras estreias:

"Alex", de José Alcala
"O Nascimento de Cristo", de Catherine Hardwicke
"Saw III - O Legado", de Darren Lynn Bousman

ROTAS LISBOETAS

Nos próximos dias, as coordenadas musicais em destaque vão situar-se para os lados do Cais do Sodré, no MusicBox, a propósito do Festival Roots & Routes. Alguns dos nomes cimeiros do dubstep, do hip-hop e de territórios aparentados estarão por Lisboa entre hoje à noite e domingo. Kode 9, Various Production, Ty e Boxcutter, entre outros, são alguns dos nomes do cartaz. Line up completo, horários, preços e restantes informações aqui e aqui, e acompanhamento dos principais momentos neste espaço em breve.

Various Production - "Hater"

quarta-feira, dezembro 06, 2006

CATCH THEM IF YOU CAN

Começou, na quinta-feira passada no King, um ciclo dedicado ao Novo Cinema Inglês. "Topsy Turvy", de Mike Leigh, foi o filme inaugural, e nos próximos dias passarão por lá "Rapariga com Brinco de Pérola", de Peter Webber (dia 4, 5 e 6); "Nu", de Mike Leigh (dia 7); "Breakfast on Pluto", de Neil Jordan (dias 11, 12 e 13); "Trainspotting", de Danny Boyle (dia 14 e 15); "Estranhos de Passagem", de Stephen Frears (dia 18, 19 e 20); "28 Dias Depois", de Danny Boyle (dia 21 e 22); "Orgulho e Preconceito", de Joe Wright (dia 26 e 27) e "Mrs. Henderson", de Stephen Frears (dia 28 e 29). "Brisa de Mudança", de Ken Loach, será o último a ser exibido, a 2 e 3 de Janeiro, e todas as sessões são às 19h.
Vou tentar ver, pelo menos, o "Nu", e se possível rever alguns dos outros.

HELLO KITTY

Não fui ao concerto da Cat Power, mas tendo em conta que inspirou este texto do par, acho que deveria ter ido.

terça-feira, dezembro 05, 2006

OS DIAS DO FIM

Realizador alvo de uma crescente internacionalização nos últimos anos, o mexicano Alfonso Cuarón tem sedimentado uma filmografia com tanto de versátil como de desequilibrado, iniciando-a com "A Princesinha" (1995) e "Grandes Esperanças" (em 1998, mais uma adaptação da obra de Dickens), títulos pouco mais do que curiosos, mas revelando contudo uma envolvente singularidade em "E a Tua Mãe Também" (2001), road movie que ofereceu um dos mais belos retratos da adolescência do cinema recente.

"Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban" (2004), a sua contribuição para as aventuras do jovem e mediático feiticeiro, acrescentou um recomendável negrume à saga, e se não se saiu mal enquanto trabalho de encomenda também não foi um filme à altura das expectativas geradas pelo seu projecto anterior.

Agora, com "Os Filhos do Homem" (Children of Men), transfere para o grande ecrã o livro homónimo de ficção científica de PD James, cuja acção decorre num futuro próximo (2027) onde o mundo é caracterizado por um caótico contexto de anarquia global, vitimado por sérios problemas de imigração e, sobretudo, por uma crise de infertilidade que se arrasta há anos.

É certo que as atmosferas futuristas que o filme apresenta não são propriamente originais, compilando elementos já vistos no cinema e, sobretudo, na literatura, mas Cuarón consegue, ainda assim, proporcionar uma visão suficientemente refrescante e pessoal, contando com uma convincente criação dos cenários e impondo uma aura que traduz um clima conturbado e contaminado pela repressão.
Para tal não é alheia a soberba fotografia de Emmanuel Lubezki, com variações cromáticas dominadas por apropiados tons de castanho e cinza, determinantes para a edificação de um ambiente nebuloso e intrigante, e principalmente o trabalho de realização de Cuarón, que em dois ou três momentos atinge a excelência pelo nervo e carga realista que imprime a algumas sequências de antologia (uma atribulada viagem de carro ou, já mais perto do desenlace, a autêntica guerra civil nos prédios em ruínas).

Infelizmente, este rigor técnico não tem contraponto na narrativa, seguidora de uma lógica de videojogo, onde as personagens vão saltitando de nível para nível ou, neste caso, de perigo para perigo, encontrando novos aliados e adversários à medida que a sua fuga decorre.

A escassa solidez do argumento, que não sabe como aproveitar as muitas e pertientes temáticas sugeridas (todavia não aprofundadas), desbarata assim a competência (e a espaços mestria) visual, limitando também as prestações de um elenco forte, mas que mal tem oportunidade de mostrar o que vale. Julianne Moore, Michael Caine e Chiwetel Ejiofor, secundários de luxo, mereciam maior tempo de antena, e cabe assim a Clive Owen carregar o filme às costas, tarefa para a qual se mostra à altura, compondo um protagonista simultaneamente intrépido e desencantado.

Mesmo sendo algo decepcionante no seu desenvolvimento, "Os Filhos do Homem" resulta enquanto um eficaz thriller apocalíptico, já que Cuarón é geralmente bem sucedido na gestão do suspense, sabe filmar imaginativas cenas de acção e mantém o interesse até ao final, encontrando ainda uma valiosa mais-valia no carisma de Owen. Mas não deixa de ser inevitável pensar no grande filme que poderia ter saído daqui...
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

segunda-feira, dezembro 04, 2006

UM BANQUETE NO COLISEU

Uma das melhores bandas a surgir em terras de Sua Majestade nos últimos tempos já incluiu Portugal na agenda de concertos para 2007. Os Bloc Party, que com "Silent Alarm" asseguraram um dos melhores discos de 2005, actuam no Coliseu de Lisboa a 18 de Maio, três meses depois da edição do seu novo registo de originais, "A Weekend in the City". As primeiras audições do segundo álbum não me convenceram muito, mas mesmo assim este é um dos concertos que merece desde já destaque na lista dos obrigatórios do próximo ano. Aqui fica uma amostra do que poderá ser visto:

Bloc Party - "Luno (live)"

MARCHA LENTA (E LONGA)

Tendo já concentrado o seu olhar em alguns dos habitantes do bairro das Fontainhas em dois dos seus filmes anteriores, “Ossos” (1997) e “No Quarto da Vanda” (2000), Pedro Costa retorna ao mesmo espaço em “Juventude em Marcha”, focando desta vez a mudança dos habitantes para um bairro social nas imediações.

As fronteiras entre a ficção e documentário voltam a esbater-se nesta obra de arriscada catalogação, pois as personagens são figuras reais e o filme apresenta alguns estilhaços do seu dia-a-dia, colocando-as face a uma câmara quase sempre imóvel, particularmente claustrofóbica nos momentos centrados em Ventura, que tem em “Juventude em Marcha” um protagonismo que no filme anterior pertencia a Vanda, agora moradora do bairro social.

Ventura é aqui a âncora de Costa, e através de episódios do quotidiano deste vai sendo construída uma perspectiva sobre um Portugal raramente mostrado, pelo menos desta forma, expondo uma realidade marcada pelo fenómeno da imigração (neste caso, cabo-verdiana) e pelas condições de vida precárias, e muitas vezes ignoradas, a que os habitantes do bairro estão sujeitos.

Filme-denúncia? Não, pelo menos não no sentido da adopção de intrusivas posições militantes, antes um retrato com um realismo levado ao extremo, estabelecendo relações entre um presente e um passado ainda muito próximo que despoletou drásticas mudanças. Igualmente extremas são as reacções que as opções tomadas por Costa na abordagem deste universo geográfico, social e humano podem trazer, uma vez que, se a temática é pertinente, a forma como é trabalhada arrisca-se a deixar cair por terra as suas potencialidades.

O verismo cru dos espaços e figuras começa por ser inquietante, mas “Juventude em Marcha” vai anulando esse efeito ao apostar em cenas de duvidosa pertinência, repetindo códigos e situações ao longo de duas horas e meia que se tornam cansativas, entediantes e, sobretudo, injustificadas.
Se por vezes se detecta alguma energia visual nos enquadramentos e, em particular, no trabalho de iluminação, tal não compensa a formatação em que o filme se vai afundando progressivamente, sendo vítima de um hermetismo que atinge o ponto de combustão nos inconsequentes planos fixos de quadros, portas, janelas ou paredes, prolongados até à exaustão.

Esta tendência, porventura identificada como marca de autor, é acompanhada por um miserabilismo que, de tão omnipresente, apenas conduz a que o desinteresse pelas personagens se vá instalando, a que não são alheias as apáticas expressões de todas elas, exceptuando Vanda, levando ao limite a rigidez e aridez do projecto.
Torna-se quase impossível encontrar aqui qualquer vestígio de densidade emocional, e embora Costa tente interromper a modorra através da carta que Ventura recita várias vezes, essa opção não passa de um mecanismo forçado, mais piegas do que poético e francamente ingénuo.

Ainda que os seus propósitos possam ser nobres, “Juventude em Marcha” apoia-se numa estrutura formal e narrativa tão impenetrável e alienante que se transforma num exercício de estilo destinado a testar a paciência do espectador.
Muito ambicioso mas pouco intenso e dominado por uma frustrante letargia dramática, fica refém de um esquematismo tão desinteressante como o dos mais banais blockbusters. Com a agravante de, ao contrário destes, “Juventude em Marcha” abusar da dose de pretensão, não estando à sua altura pois raramente consegue ser mais do que um soporífero arty com tiques de reality show.
E O VEREDICTO É: 1/5 - DISPENSÁVEL

domingo, dezembro 03, 2006

PRESENTE QUE NÃO CORTA COM O PASSADO

Na passada sexta-feira, o Teatro Maria Matos marcou o início de uma mini-tournée que conduzirá A Naifa a outras três cidades nacionais: Aveiro, Braga e Faro. O projecto de Luís Varatojo (guitarra portuguesa), João Aguardela (baixo), Paulo Martins (bateria) e Maria Antónia Mendes, ou Mitó (voz), levou a palco algumas canções dos seus dois discos, quase todas caracterizadas por uma pop híbrida e estimulante que sabe conciliar referências próximas do fado com linguagens electrónicas recentes, propondo uma combinação que já se revelava promissora em "Canções Subterrâneas"(2004) e que encontrou formas mais definidas em "3 Minutos Antes de a Maré Encher"(2006).

Actuando perante uma sala cheia, o quarteto apresentou uma notória coesão e incidiu essencialmente nas canções do segundo álbum, e ainda bem, uma vez que é o registo que contém as suas melhores composições. É o caso da brilhante "A Verdade Apanha-se Com Enganos", da serena e envolvente "Da Uma da Noite às Três da Manhã" e da não menos cativante "Monotone", não esquecendo a muito aplaudida (e dançável) "Señoritas", cujo irresistível ritmo é acompanhado por uma letra plena de fina ironia.

As letras são mesmo um dos trunfos da banda, e embora não sejam da sua autoria, pois recuperam poemas de José Luís Peixoto ou Adília Lopes, entre outros, adaptam-se sem dificuldades ao seu universo musical, sendo caracterizadas tanto por uma considerável carga subversiva ("Fé", "Bairro Velho") como por domínios de um amargurado romantismo ("Todo o Amor do Mundo Não Foi Soficiente" ou "Quando os Nossos Corpos se Separaram").

Para além das canções originais, apresentadas sem arranjos muito diferentes dos dos discos, a noite incluiu ainda pelas versões de temas de nomes tão diversos como Simone de Oliveira ("A Desfolhada"), Três Tristes Tigres ("Subida aos Céus"), Fernando Tordo ("Tourada") ou Mler Ife Dada ("Alfama"), referências que A Naifa conseguiu adaptar com convicção e todas escolhas que fazem sentido tendo em conta as idiossincrasias do projecto.

Os contactos da banda com o público não foram frequentes, mas no encore grande parte dos presentes acedeu sem reservas ao pedido de Mitó (cada vez mais uma vocalista a seguir) e dançou ao som das repetidas "A Desfolhada" e "Señoritas" (muito provavelmente a canção da noite).

Num concerto que durou pouco mais de uma hora (e que soube a pouco), A Naifa voltou a evidenciar-se como um dos mais interessantes projectos nacionais a emergir nos últimos anos, apostando em canções onde tanto a música como a palavra são um elementou vital e, juntas, traduzem uma obra actual, refrescante e genuinamente portuguesa sem olvidarem a herança do passado.
E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM

A Naifa - "Monotone"

DIZ-ME O QUE CANTAS...

Quero ser amada só por mim
E não por andar enfeitada
Ser adorada mesmo assim
Careca, nua, descarnada
Engano de alma ledo e cego
Ó linda inês posta em sossego imortal
Diz adeus

Com perfumes a presa é fácil
Com jóias, casacos de peles
Gosto do amor quando é difícil
E cheiro o meu hálito reles
Quero ser amada à flor da pele
Não quero peles de vison
Amada p’lo sabor a mel
E não pela cor do baton
Engano de alma ledo e cego
Ó linda inês posta em sossego imortal
Diz adeus

Com cabeleira a presa é fácil
Há quem se esconda atrás dos pelos
Gosto do amor quando é difícil
De ser amada sem cabelos
Guero que me beijem a caveira
E o meu ossinho parietal
Que se afoguem na banheira
P’lo meu belo occipital
Engano de alma ledo e cego
Ó linda Inês posta em sossego imortal
Diz adeus

Com carne viva a presa é fácil
É ordinário e obsoleto
Gosto do amor quando é difícil
Quando me aquecem o esqueleto
Quero ser amada p’la morte
P’los meus ossos de luar
Quero que os cães da minha corte
Passem as noites a ladrar
Engano de alma ledo e cego
Ó linda Inês posta em sossego imortal
Diz adeus
Sobe aos céus
Sobe aos céus

Acima, a letra de uma das versões que A Naifa apresentou no concerto de sexta-feira. Pertence a "Subida aos Céus", canção dos Três Tristes Tigres, e foi uma excelente recordação.