quarta-feira, junho 15, 2005

REBELDES COM CAUSA

Nos últimos anos, filmes como "O Pianista", de Roman Polanski, ou "A Queda - Hitler e o Fim do Terceiro Reich", de Oliver Hirschbiegel, têm reavivado a memória do Holocausto, propondo diversas perspectivas sobre uma das catástrofes mais marcantes do século XX.

"Sophie Scholl – Os Últimos Dias" (Sophie Scholl - Die letzten Tage), de Marc Rothemund, volta a centrar-se nessa temática, mais propriamente nas peripécias do movimento Rosa Branca (Weisse Rose), implementado por um grupo de jovens alemães que reagiram, sem recorrer à violência, às medidas nazistas que se disseminaram pela Alemanha nos anos 40.

A película segue o percurso de Sophie Scholl, uma persistente estudante universitária, e do seu grupo de amigos, que distribuem folhetos clandestinamente, apelando a uma revolta contra o sistema ditatorial. Contudo, quando as suas manobras são descobertas, a protagonista é alvo de um exaustivo ataque psicológico por parte dos elementos da Gestapo, vendo a sua vida ameaçada à medida que as acusações vão sendo cada vez mais reforçadas.

Baseado em factos verídicos - Sophie Scholl existiu de facto -, o filme começa bem, apresentando um ritmo escorreito e uma tensão digna de um thriller consistente, pois Marc Rothemund consegue inserir alguma vertigem nas situações que envolvem os planos de oposição dos jovens revolucionários.
Contudo, esta densa vibração nem sempre se mantém, uma vez que "Sophie Scholl – Os Últimos Dias" segue depois moldes próximos de um vulgar telefilme, não dispensando longas e cansativas cenas de redundantes interrogatórios e do estereotipado julgamento. Esta linearidade manifesta-se também nas personagens, que exceptuando a protagonista são pouco aprofundadas.

É pena que estes momentos de previsibilidade dominem grande parte do filme, dado que as atmosferas claustrofóbias e os tons duros e secos concedem a "Sophie Scholl – Os Últimos Dias" uma interessante carga realista e, por vezes, próxima de uma vertente documental.

Premiado com dois Ursos de Prata no Festival de Berlim – Melhor Realizador para Marc Rothemund e Melhor Actriz para Julia Jentsch (numa interpretação sentida e convincente) -, o filme acaba por ser vítima do peso das expectativas, não por ser mal conseguido mas por não ir tão longe quanto poderia.
Honesta e com uma envolvente aura idealista, "Sophie Scholl – Os Últimos Dias" é uma obra meritória e relevante, mas demasiado frágil, não ficando, infelizmente, como um registo especialmente marcante acerca das experiências do regime nazi. Não deixa de ser um filme a ver, ainda assim.

E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL

8 comentários:

gonn1000 disse...

Esperemos que sim :S

Flávio disse...

Concordo com a crítica. Mas há um momento magistral do filme: aquele extraordinário plano final da guilhotina vista pelos olhos de Sophie. Além de chocante, o plano representa brilhantemente e em poucos fotogramas toda a brutalidade do regime nazi. O resto do filme é mediano: houve política a mais (os longos discursos eram fastidiosos e superficiais) e psicologia a menos, acho eu. Quando surgem os créditos finais, continuamos afinal sem saber quem era essa tal de Sophie Scholl.

gonn1000 disse...

Sim, é um filme bem-intencionado mas também algo limitado. Mesmo assim, tem algo relevante a dizer, o que não acontece com grande parte dos filmes em cartaz (sobretudo no Verão).

Anónimo disse...

Para mim o melhor filme do género "Alternativa á 2ª guerra" (como eu lhe chamo) foi o "The Pianist" e duvido que haja melhor. Gostei d' "A Queda (...)", mas acho que 2,5 não chega para eu ir ver este filme ao cinema :P lol.

Cumprimentos cinéfilos

gonn1000 disse...

Gostos...Para mim o "Sophie Scholl" está ao mesmo nível desses dois lol...

Flávio disse...

Esqueci-me de dizer uma coisinha: o plano da guilhotina é tão chocante, porque até aí nunca nos tinha sido revelado que a morte seria por decapitamento.

gonn1000 disse...

Cuidado com os spoilers!!!

LOL

Flávio disse...

Ooops!