Cineasta francês com experiência na área das curtas e médias-metragens, Alain Guiraudie estreia-se nas longas com "Os Bravos Não Têm Descanso" (Pas de Repos Pour les Braves).
Se o título é incomum, o respectivo filme não o é menos, fugindo a qualquer tipo de catalogação ou delimitação de géneros, antes mesclando diversas referências e universos aparentemente contraditórios e distantes.
A película centra-se nas peripécias de Basile Matin, um jovem de uma localidade rural francesa que crê que irá morrer se adormecer, premissa que dará origem a uma série de sequências onde as fronteiras entre o real e o imaginário se diluem, assim como as dos estados de vigília e de sono.
Como companheiros de aventuras o protagonista conta com Igor, um adolescente contaminado pela inércia, e Johnny Got, um enigmático investigador com quem Basile estabelece uma peculiar relação de amor/ódio. No entanto, as caracterizações das personagens tendem a variar, uma vez que Alain Guiraudie deixa bem claro que, no seu filme, nada é definitivo e tudo pode ser alterado a qualquer momento.
"Os Bravos Não Têm Descanso" une humor slapstick a atmosferas oníricas, suspense próximo de um thriller a um delírio absurdo e surrealismo com uma discreta tensão sexual (tendencialmente homoerótica).
O argumento evita domínios lineares e aposta numa imprevisibilidade recorrente, onde o espectador fica sem ideia do que se seguirá, o que poderia ser interessante se a narrativa não fosse tão desarticulada e o filme não tivesse personagens tão indefinidas e descartáveis.
Guiraudie aborda temas como a adolescência, a família, o isolamento e a morte, mas raramente consegue tratá-las com a tensão dramática necessária, enveredando antes por uma bizarria que, se até aparenta ser intrigante nos momentos iniciais, logo entra num jogo de ilusões que apenas suscita a descoordenação do espectador.
Por vezes, a interligação entre o mundo da infância e o adulto em que o filme assenta tornam-no próximo de "A Cara que Mereces", do português Miguel Gomes, embora "Os Bravos Não Têm Descanso" seja, ainda assim, um pouco menos auto-indulgente e pretensioso.
Ideias não faltam a Alain Guiraudie, o problema é que nem todas são boas e as que o são encontram-se perdidas numa confusa e inconsequente teia de acontecimentos e reviravoltas. É pena, porque por vezes há aqui bons momentos, e o cineasta apresenta um interessante trabalho de realização, fotografia e banda-sonora, sendo capaz de criar ambientes envolventes. No entanto, sem um argumento à altura não há salvação para o filme, gerando mais uma oportunidade desperdiçada...
E O VEREDICTO É: 1,5/5 - DISPENSÁVEL
3 comentários:
1,5 :o?! E eu que estive mesmo para ir ver isto! LOL
Cumprimentos cinéfilos
LOL...Então se calhar é melhor ires, porque este é o típico filme capaz de suscitar tantos ódios como paixões. Talvez tu te enquadres mais na segunda tendência...
Hasta :)
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