Sobre este "Dias de Santiago", a primeira longa-metragem do peruano Josué Méndez, algumas vozes evocavam traços do incontornável "Taxi Driver", de Martin Scorcese, pelo tipo de atmosferas e pelo protagonista numa situação-limite, incapaz de lidar com um mundo em combustão.
De facto, à semelhança do que ocorre com "O Assassínio de Richard Nixon", de Niels Mueller, os fantasmas dessa influente obra passam por aqui, neste retrato desencantado das experiências de um ex-soldado que regressa a casa após anos de combate e se depara com uma realidade pouco auspiciosa.
Santiago Roman observa e analisa os seus amigos, familiares e outros habitantes de Lima, mas não encontra nada de motivador ou esperançoso nestas figuras, recolhendo-se então numa esfera de melancolia, amargura e um carregado nervosismo à beira da explosão, sentimentos que se intensificam num quotidiano vincado pela falta de perspectivas. Um outcast incompreendido pelos que o rodeiam, o protagonista opta, aos poucos, por adoptar uma atitude mais proactiva, de forma a responder a uma sociedade decadente e infrutífera.
Josué Mendez aborda a inquietação da sua personagem principal de forma eficaz, apostando numa realização de tons crus e realistas, contando com uma fotografia de tonalidades apropriadamente rudes e ásperas. Contudo, o recurso a algumas imagens a preto-e-branco em diversos momentos torna-se cansativo, e o ritmo do filme é demasiado irregular, assim como o argumento, que não dispensa uma série de cenas redundantes.
Pietro Sibille foi uma escolha adequada para protagonizar o filme, expondo as doses necessárias de revolta, inocência e genuinidade, embora os restantes elementos do elenco não possuam interpretações especialmente memoráveis, raramente ultrapassando a mera competência.
"Dias de Santiago" é uma estreia interessante, mas que fica aquém das suas potencialidades, dado que a sua abordagem não fornece nada de novo nem de muito imaginativo. Um filme curioso, ainda assim, mas prejudicado por momentos bastante frágeis, como o desenlace que segue os moldes de um histérico e pouco convincente drama “de faca e alguidar”.
E O VEREDICTO É: 2/5 - RAZOÁVEL
3 comentários:
Um filme peruano com traços de TAXI DRIVER. Está aí algo que não vemos todos os dias.
Estou a ver que não gostaste tanto como eu! Dá uma espreitadela ao meu blog e vê quanto lhe dei (análise em breve).
Cumprimentos cinéfilos
Gustavo: Pois não, mas o resultado não é dos mais entusiasmantes...
sOlo: Sim, achei-o abaixo da média. Já vi que a tua opinião é bem mais positiva...
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