quinta-feira, abril 21, 2005

O LADO NEGRO DA POP

Uma das bandas mais subestimadas do panorama musical actual, os Sneaker Pimps têm percorrido um interessante percurso desde os últimos anos da década de 90, combinando influências para gerar um universo - não só sonoro mas também visual - específico e peculiar.

"Becoming X", o disco de estreia, trouxe-lhes um relativo sucesso devido aos singles "6 Underground" e "Spin Spin Sugar", onde a cativante voz de Kelli Ali era acompanhada por envolventes atmosferas trip-hop. Em "Splinter", o segundo registo de originais, Chris Corner ocupou o cargo de vocalista e o resultado foi um álbum ainda mais intenso e estimulante, ainda que a recepção da crítica e do público tenha sido pouco consensual.

Com "Bloodsport", de 2002, o grupo destaca-se, mais do que nunca, como um projecto de culto, longe das aproximações ao mainstream que marcaram os seus primeiros passos. Cruzando referências abrangentes, o espectro sonoro do terceiro álbum dos Sneaker Pimps mescla ambientes trip-hop, rock, industriais, pop, electro e góticos, gerando uma sedutora aura de tensão e mistério que vicia a cada audição.

A banda sempre criou canções que, apesar de relativamente acessíveis e por vezes bastante catchy, são mais do que inócuos pedaços de música para enfeitar playlists. Carregadas de densidade e mistério q.b., as composições de "Bloodsport" não são excepção, exibindo um forte apelo dançável a par de um conteúdo lírico menos imediato, mas suficientemente intrigante.

O single "Sick" é um exemplo de elegância e sofisticação pop, recorrendo a uma utilização eficaz dos samples e proporcionando um refrão apelativo. Momentos como o enérgico "Kiro TV", o denso "The Fuel", ou o inebriante "Think Harder" congregam entusiasmantes cargas de sombra e inquietação, com expoente máximo no fenomenal "Loretta Young Skills", uma das melhores canções da discografia dos Sneaker Pimps.

Tão determinante como o absorvente recurso à electrónica é a prestação vocal de Chris Corner (pontualmente bizarra e andrógina, à semelhança do aspecto do músico), essencial para que as canções consigam ser invulgarmente enigmáticas e penetrantes.
Comprova-se, então, que o cantor foi uma óptima escolha para substituir Kelli Ali, que desistiu do grupo após o primeiro álbum para se dedicar a uma carreira a solo.

Os detractores poderão acusar "Bloodsport" de ser um disco demasiado derivativo, dados os visíveis paralelismos com nomes como os Massive Attack, Nine Inch Nails, Portishead, Gus Gus, Depeche Mode, Placebo ou Tricky.
Embora não estejam à altura de algumas dessa referências, os Sneaker Pimps geram, ainda assim, uma pop negra com consideráveis marcas de personalidade, não obstante as potenciais influências. O resultado é um álbum quase sempre interessante (apesar de alguns momentos mais convencionais, como "Blue Movie") e ocasionalmente brilhante, que ainda está a tempo de ser (re)descoberto.

E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM

5 comentários:

serebelo disse...

Já se sabe que não há coincidências... este sábado ao me pedirem algo para ouvir no carro foi este um dos cd´s que calhou. E que bom acaso foi.
Admito que lhe daria um classificação um pouco mais alta e que as referências que referes não são as que eu oiço por lá... mas é uma excelente lembrança e mais umas audições terão agora de acontecer.
Acho que é a altura do ano para isso.

gonn1000 disse...

Como alguém disse, realmente "não há coincidências"...Mas que referências ouves por lá, então?

Duarte disse...

Já não me lembrava deles. Maldita democracia.

O Puto disse...

São, na verdade, uns dos mais dignos representantes do lado negro da pop, que tiveram uma evolução interessante.

gonn1000 disse...

Duarte: Pois, eles também não dão muito nas vistas...

Puto: E parece que continuarão a evoluir, tendo em conta as mutações anunciadas no site oficial da banda...