Para o grande público, Neneh Cherry ficará sempre associada, sobretudo, a duas canções, "Seven Seconds", o célebre dueto com Youssou N' Dour, e o não menos mediático "Woman", mas a sua discografia comprova que o seu talento para a composição e interpretação não se esgota nesses dois hits.
O seu disco de estreia, "Raw Like Sushi", foi editado em 1989 mas antecipava já, devido à sua criativa mistura de pop, funk, hip-hop, electrónica, soul e R&B, muitas das fusões sonoras que os anos 90 proporcionariam. "Homebrew", o álbum sucessor, de 1992, voltou a apostar numa saudável mescla de elementos, mantendo a vertente ecléctica e abrangente do registo anterior.
Mais sóbrio e intimista do que o trabalho de estreia, "Homebrew" é, à semelhança deste, um disco vincado por sonoridades urbanas, e as letras apresentam reflexões acerca do quotidiano citadino, debruçando-se sobre a violência das ruas, o materialismo, a solidão, as relações humanas ou o contacto com as drogas.
O disco conta com alguns convidados respeitáveis, tanto na interpretação (casos de Guru, dos Gang Starr; e Michael Stipe, dos R.E.M.) como na composição (Geoff Barrow, que viria a fundar os Portishead; e Lenny Kravitz), presenças que contribuem para a diversidade que "Homebrew" apresenta.
Embora as canções próximas de linguagens hip-hop/R&B/soul, como "Sassy" ou "Money Love", sejam competentes, são mais convencionais do que os momentos onde Cherry explora as electrónicas, pois é principalmente nestas últimas que "Homebrew" conquista e arrebata.
"Move With Me" é uma belíssima balada que condensa intensidade emocional sem recorrer a truques fáceis, "Somedays" oferece uma voz em grande forma aliada a atmosferas soturnas e sofisticadas, "Peace in Mind" convence pela cativante tranquilidade etérea e "Red Paint" encerra o disco da melhor forma com um perspicaz e comovente olhar sobre a violência e indiferença do dia-a-dia das grandes cidades.
Para além de excelentes, estas quatro canções são também decisivas por exibirem contaminações de um dos géneros musicais que viria a ser determinante na década de 90: o trip-hop, posteriormente desenvolvido por nomes como os Massive Attack (que editaram o seminal "Blue Lines" alguns meses antes da edição de "Homebrew"), Portishead ou Tricky mas que encontra aqui algumas das suas raízes.
Para tal não será alheia a contribuição de Geoff Barrow, pois o tema em que participou, "Somedays", contém ambientes semelhantes aos que caracterizariam as canções dos Portishead, a banda que integrou alguns anos depois.
"Homebrew" é um daqueles discos esquecidos que, não sendo uma obra-prima (o nível qualitativo das composições é irregular, mas nunca abaixo do muito aceitável), continua actual, refrescante e a espaços brilhante, o que não é algo que se possa dizer acerca de todos os discos, muito menos acerca daqueles que, como este, foram editados há mais de dez anos...
E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM
7 comentários:
Não esqueço nem este nem o "Raw Like Sushi", ou seja, os melhores discos de Neneh.
Concordo, pena que não tenham tido continuidade à altura...
o que é feito da sra.
A ultima vez que me lembro de a ver foi num dueto com o irmão.
de resto...
Eu bato mal com esta mulher!!
Woman, por diferentes motivos, é uma das músicas da minha vida.
Conhessem os remixes (o album das cerejas, vem lacrado como se de uma guloseíma se tratasse, e entre outros tem os AIR)?
David Santos: Depois disso participou no projecto A Giant Leap (juntamente com Michael Stipe, Robbie Williams, o vocalista dos Faithless e outros) e no novo álbum dos Gorillaz. De resto não sei...
Nel Colaça: Sei qual é o disco, mas nunca o ouvi...
Ei...1989...era um puto e descobrir Neneh Cherry foi uma revelação, ouvi "Buffalo Stance" inúmeras vezes numa K7, nessa altura estava sempre a gravar a musica que ouvia na rádio e as poucas vezes que na altura vi o videoclip foram suficientes para tornar Ms. Cherry objecto do meu primeiro poster no quarto.
Cherry começou hip hop mas a meu ver o seu ponto alto ocorre com "Woman". Belo.
Eheh... Bem, eu só a descobri mais tarde e nunca tive posters dela, mas também gosto. E "Buffalo Stance" ainda hoje é um bom single, assim como "Woman".
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