Referência clássica do cinema francês, com um papel determinante para a consolidação da Nova Vaga, Claude Chabrol é um cineasta que, apesar de se encontrar há já várias décadas no activo, é ainda alguém a quem se atribui a capacidade de proporcionar obras conseguidas e estimulantes (embora com alguns passos em falso, como o insípido e enfadonho “No Coração da Mentira”).
“A Dama de Honor” (La Demoiselle D’Honneur) é um desses casos, um filme que assenta em territórios já habituais no percurso do realizador, ou seja, numa envolvente mistura de policial e drama onde um elemento se revela tão central como o outro e são ambos trabalhados a partir das personagens, não as utilizando como meros joguetes mas antes enquanto presenças contraditórias e ambíguas.
Ambiguidade é, de resto, a palavra-chave de “A Dama de Honor”, sobretudo na aura que engloba a relação de Philippe, um jovem responsável, metódico e dedicado à família, e Senta, uma das damas de honor do casamento da irmã que lhe desperta um desejo abrupto e correspondido (e que incorpora múltiplos mistérios, tão intrigantes quanto sedutores).
A ligação entre os dois amantes gera-se de forma intensa e assim continuará, iniciando uma espiral de obsessão, paixão, medo, dúvida e hesitação, pois à medida que Philippe vai conhecendo Senda sente um misto de encanto e repúdio, sensação que se torna cada vez mais inquietante quando a morte – ou, em particular, o homicídio – coloca em causa a possibilidade de consumação do amor.
Para além da sufocante relação entre os dois jovens, Chabrol oferece ainda um olhar sobre o quotidiano das localidades rurais, evidenciando as redes de intriga, boato, mesquinhez e pequenos antagonismos que aí se desenvolvem – elemento recorrente na sua obra -, a par de uma interessante perspectiva acerca dos laços familiares (temática subexplorada, mas determinante para a conduta dos protagonistas).
Mesmo não sendo uma película especialmente inovadora, “A Dama de Honor” é uma sólida proposta cinematográfica, com um seguro trabalho de realização, uma fotografia absorvente (a cargo do português Eduardo Serra) e uma consistente direcção de actores (Laura Smet é uma boa revelação, mas é Benoît Magimel quem mais impressiona, com um excelente desempenho que supera, e muito, a sua promissora interpretação em “A Pianista”, de Michael Haneke).
O filme possui alguns problemas de ritmo, pois a monotonia ameaça instalar-se a espaços, mas Chabrol proporciona quase sempre uma eficaz gestão do suspense, que acompanha de forma convincente a tensa dilaceração emocional do protagonista. Por isso, embora não se junte à lista de títulos indispensáveis, “A Dama de Honor” contém consideráveis qualidades que o tornam num filme a ver.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
9 comentários:
Também gostei do filme, mas não concordo muito contigo. Acho que o filme podia ser mais ambíguo e o policial não é tão central como o drama. É um "macguffin" apenas.
Sim, a ambiguidade poderia ter sido mais explorada, mas ainda assim está presente em doses suficientes, sobretudo no estranho mas apropriado desenlace.
Se arranjar comapnhia vou ver este filme, parece-me interessante pelo que li aqui.O difícil será mesmo convencer alguém a ver, muita gente parte logo do princípio, que um filme francês é uma grande seca e que não presta!!!
Pois, infelizmente essa é uma daquelas ideias feitas que muitos partilham mas que não corresponde necessariamente à realidade, e este filme comprova-o. Boa sessão :)
também gostei do filme :)
Já li, já li :)
Ainda naum vi :(
Então vai ver, vale a pena, mesmo não sendo imperdível :)
Excellent, love it! » »
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