quarta-feira, maio 25, 2005

UMA CASA NO FIM DO MUNDO

A primeira longa-metragem de Shainee Gabel chegou discretamente, sem grandes manobras de divulgação e promoção, mas destaca-se como uma das boas surpresas cinematográficas de 2005.

Ambientado nos cenários de calmaria e serenidade de Nova Orleães, "Uma Canção de Amor" (A Love Song for Bobby Long) foca a relação entre Purseland Will (Scarlett Johansson), uma jovem de 18 anos, e dois amigos da sua falecida mãe, Bobby Long (John Travolta) e Lawson Pines (Gabriel Macht). Os contactos iniciais da adolescente com a dupla masculina são conturbados, uma vez que Pursy herdou uma casa da sua mãe mas só após regressar da Florida a Nova Orleães é que se apercebe que terá de conviver com duas inesperadas companhias.

"Uma Canção de Amor" é daquelas obras que, embora não traga nada de especialmente original ou inovador, consegue ser quase sempre convincente e por vezes emanar uma vibrante aura encantatória. Um olhar realista sobre a inadaptação, o conceito de família, o crescimento, a arte e a amizade, a película de estreia de Shainee Gabel oferece um denso e estimulante estudo de personagens, ou não fosse este um filme de (óptimos) actores.

John Travolta assinala aqui a sua interpretação mais sólida e interessante desde o emblemático "Pulp Fiction", encarnado com subtileza e carisma Bobby Long, um ex-professor de literatura inglesa de meia-idade que se encontra imerso num quotidiano marcado pelo ócio, boémia e melancolia.
A estrela ascendente Scarlett Johansson confirma a sua versatilidade, apresentando uma prestação igualmente sedutora e longe da postura algo apática que expôs noutros papéis. Contudo, o actor que mais surpreende é Gabriel Macht, menos mediático do que os restantes protagonistas mas capaz de proporcionar um desempenho seguro, emotivo e magnético como Lawson Pines, afirmando-se como um talento a ter em conta.

Shainee Gabel apresenta uma obra com um ritmo pausado, mas raramente monótono, muito adequado às atmosferas sulistas norte-americanas de tons desencantados e melancólicos. O trabalho de realização é simples, mas não banal, e a narrativa desenvolve-se de forma espontânea e cativante.
"Uma Canção de Amor" é um intrigante retrato das experiências e tensões de um singular trio de anti-heróis que vive um dia-a-dia onde a música, o álcool e a literatura (há muitas citações por aqui) são os três elementos essenciais para que a sua existência ainda tenha algum sentido.

Sóbrio, intimista e agridoce, "Uma Canção de Amor" é mais um bom exemplo do actual cinema independente norte-americano, um título que não revoluciona mas envolve e surpreende consideravelmente. Não fosse o desenlace algo desequilibrado, incapaz de sustentar a discreta carga dramática que se tinha insinuado até então, e estaríamos perante um grande filme. Assim, Shainee Gabel gera uma primeira-obra que é bela sem ser excelente. Não deixa de ser, contudo, uma das que merece um atento visionamento e reflexão.

E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM

10 comentários:

Anónimo disse...

Já sabes o que penso deste filme, acho que foi uma das boas surpresas do ano :)!

Cumprimentos cinéfilos

gonn1000 disse...

Já sei, já sei, parece que desta vez estamos de acordo :)

Fica bem

gonn1000 disse...

A premissa é simples, mas a execução foge, geralmente, aos lugares-comuns e gera algumas surpresas. Não é um filme imprescindível, mas conseguiu atrair-me mais do que esperava...

João M disse...

"uma casa no fim do mundo" é outro filme, adaptação literária, que por acaso também está nas salas.

Anónimo disse...

Sim João, mas "Uma casa no fim do mundo" também podia ser o nome deste filme...não é, Gonn1000 :)? Apenas quem vê este filme (e olhem que vale a pena vê-lo!) percebe o porquê do que eu disse.

Cumprimentos cinéfilos

gonn1000 disse...

João, como o sOlo bem disse "Uma Casa no Fim do Mundo" é um título que também se adequaria a "Uma Canção de Amor", mas seguramente isso não será tão óbvio para quem não viu o filme. Admito que possa ser confuso intitular o artigo desta forma, sobretudo quando ambas as obras estão em cartaz, mas pareceu-me apropriado.

Fica bem ;)

João M disse...

Ok.

Eu quero ir ao cinema, mas já não há nada que me motive há bastante tempo. O último que vi foi o "The life aquatic", portanto... :-(
O melhor que se arranja é vontade para o "Em boa companhia", e mesmo assim... - talvez vá ver hoje ao saldanha.

gonn1000 disse...

"Uma Boa Companhia" vale a pena, mistura bem o drama e a comédia e contorna alguns clichés. E "Uma Canção de Amor" também é uma boa surpresa, como escrevi na crítica.
"Uma Casa no Fim do Mundo" (o tal lol) já não me convenceu tanto, mas se calhar foi por ter lido o livro e não ter gostado especialmente da abordagem do realizador, pois acho que ficou por fazer um grande filme...Ah, e melhor do que qualquer um desses (para mim) é "Uma Pequena Vingança" (Mean Creek). Recomendo sobretudo este :)

Gustavo H.R. disse...

É bom assim? Noto que você não é facilmente impressionável. Vi o trailer e me pareceu precário. Talvez assista por Miss Johansson...

gonn1000 disse...

Pois, mas os trailers por vezes enganam. Eu achei que valeu a pena, não só pela "Miss Johansson" mas pelos outros protagonistas também...

Vê e diz alguma coisa :)