quarta-feira, maio 11, 2005

KEVIN E O LOBO

Um dos temas mais polémicos e mediáticos dos dias de hoje, a pedofilia tem sido alvo de abordagens recentes na sétima arte. Nos últimos anos, títulos como o denso "Mystic River", de Clint Eastwood; o olhar documental de Andrew Jarecki em "Os Friedman"; o soberbo drama indie "L.I.E. – Sem Saída", de Michael Cuesta, ou o atípico "Birth - O Mistério", de Jonathan Glazer; têm gerado múltiplos olhares sobre esta questão complexa e delicada.

"O Condenado" (The Woodsman), a estreia na realização de longas-metragens de Nicole Kassell, possibilita mais uma perspectiva sobre a temática. O filme centra-se em Walter (Kevin Bacon), que após cumprir uma pena de 12 anos devido ao abuso sexual de menores muda-se para um apartamento numa nova cidade e começa a trabalhar numa serração. Tentando controlar os seus instintos, o protagonista procura uma conduta que se afaste do seu passado obscuro, mas a sua obstinação terá de lidar com alguns entraves à medida que os que o rodeiam se vão apercebendo do seu passado.

Um atento retrato sobre a busca da redenção, "O Condenado" decorre em ambientes urbanos melancólicos e realistas, seguindo as convulsões e conflitos interiores de uma personagem relutante, soturna e desencantada.

A realização de Kassell consegue fornecer a carga de inquietação necessária, apostando num estilo seco, árido e despido de artifícios, próximo de algumas outras obras do cinema independente norte-americano como "Monster's Ball - Depois do Ódio", de Marc Foster, com a qual partilha essas atmosferas de crueza e solidão.

Para além da subtileza da cineasta, "O Condenado" salienta-se como uma película bem conseguida devido à convincente interpretação de Kevin Bacon, actor que apresenta aqui mais uma prova do seu talento e versatilidade, num desempenho contido e discreto mas sempre denso e intrigante.
O restante elenco também cumpre com eficácia, com destaque para Kyra Sedgwick no papel de uma colega de trabalho do protagonista, uma das personagens que mais de aproxima deste (curiosamente, a actriz é esposa de Bacon, o que ajudará a explicar a visível química entre o duo).
No entanto, apesar da competência dos secundários, "O Condenado" é nitidamente um filme de actor, vivendo sobretudo da prestação de Bacon, que oferece um sólido one man show e é determinante para que Walter seja uma figura humana, ainda que envolta num espectro de ambiguidades.

Seria fácil etiquetar o protagonista como um "monstro" sem escrúpulos, enveredando por domínios escabrosos e de um choque gratuito, ou optar por apresentar uma banal perspectiva assente numa constante vitimização recorrendo ao melodrama de gosto duvidoso. Contudo, Nicole Kassell prefere seguir tons intimistas, desenvolvendo um envolvente e equilibrado estudo de personagem que tanto possui cenas algo desconfortáveis como momentos mais emotivos, num olhar justo e rigoroso.

O ritmo do filme nem sempre é o mais aliciante, mas o argumento é bem trabalhado e verifica-se um acerto na criação de ambientes, o que faz com que "O Condenado" seja uma obra relevante e com algo a dizer. Já é o suficiente para que o resultado consista num bom filme que revela uma cineasta promissora.

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

5 comentários:

gonn1000 disse...

É claro que a presença de Kevin Bacon é determinante, mas a realizadora também tem os seus méritos e sabe controlar o filme de forma sóbria e inteligente, por isso não concordo com o 1/5 com que esse crítico despachou "O Condenado"...

Gustavo H.R. disse...

Pedofilia é um tema muito caro à sociedade e a todos que já sofreram tal abusos. Se O LENHADOR (como é chamado no Brasil) for minimamente decente - e pelo que li em seu texto é - é um trabalho a ser apreciado e visto. Terei que esperar pelo DVD.

gonn1000 disse...

Sim, Gustavo, o filme é bastante decente e merece ser visionado...

Anónimo disse...

Também pensei em ir vê-lo...vou ver se ainda encontro um cinema onde ele ainda esteja em exibição!

Cumprimentos cinéfilos

gonn1000 disse...

Então bom filme :)