Steers terá certamente lido "Uma Agulha no Palheiro" (The Catcher in the Reye), o livro de J.D. Salinger que continua a marcar gerações pela combinação de humor negro e sensibilidade na abordagem da complexidade da adolescência. Essas características não só se verificam em "A Estranha Vida de Igby" como o protagonista do filme tem muitos traços em comum com Holden Caulfield, seja pela carga satírica dos seus comentários, pela postura distante e desconfiada ou pela fragilidade que esconde.
Para isso em muito contribui o desempenho de Kieran Culkin, que dá uma notável prova de talento na construção de uma personagem que, apesar da considerável arrogância, é capaz de gerar empatia. Todo o elenco é, de resto, muito convincente, o que nem surpreende já que contém nomes como Susan Sarandon (uma óptima mãe histriónica), Claire Danes (com o encanto habitual), Bill Pullman (memorável num pungente retrato da esquizofrenia) ou Ryan Phillippe (mais uma vez sóbrio e equilibrado). Alguns encarnam figuras que não vão muito além da caricatura, e embora merecessem mais o protagonista é alvo de um considerável desenvolvimento, o que acaba por assegurar a consistência do filme.
"A Estranha Vida de Igby" não será uma obra especialmente original, pois para além dos paralelismos com o livro de Salinger não se distancia muito de outras dramedies indie, mas Steers supera essa condicionante com um argumento sólido, de onde se destacam alguns diálogos apropriadamente irónicos entre algumas cenas de uma estimável secura emocional.
Se essas várias mudanças de tom, entre momentos cómicos e dramáticos, nem sempre são bem sucedidas, a realização é competente e a banda-sonora exibe bom-gosto, recorrendo a canções dos Dandy Warhols, Badly Drawn Boy, Beta Band ou Coldplay (muito apropriada, a utilização de "Don't Panic"). Uma promissora primeira-obra que passou algo despercebida mas justifica a (re)descoberta.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
12 comentários:
Kieran será, se já não é, um grande ator. Está muito bem nesse filme.
Abs!
Concordo, deve ser de família. Bons filmes ;)
Apesar do excelente trabalho por parte de todo o elenco (como eu gosto da Claire Danes...), o filme acaba por não se revelar a um nível tão elevado. Ainda assim, está longe de ser mau, e tem momentos bastante interessantes. Uma mistura de Salinger com Bret Easton Ellis e Wes Anderson :-P
Não achei que fosse um grande filme, mas safa-se bem. Vejo ali Wes Anderson (em melhor), já Easton Ellis nem por isso, não chega a ser tão cáustico e niilista (sorte a das personagens :P).
Não é nenhum poço de originalidade mas é um pequeno "indie" que gostei de ver, em boa parte devido aos desempenhos interessantes dos actores.
Mas o livro do Sallinger não está traduzido para português com o À Espera no Centeio? Pelo menos na minha edição está Esse livro é simplesmente um marco! Não me parece que tenha inspirado directamente esta personagem mas é possível, porque o livro é muito amado por muita gente...
Há ainda que referir que a família criada por Sallinger para um conjunto de histórias (que não a de Catcher in the Rye) inspirou sim Wes Anderson para os seus Tenenbaums.
Li a edição original do livro, mas houve duas traduções portuguesas para o título, primeiro "Uma Agulha no Palheiro" e depois "À Espera no Centeio". Gostei do livro, não foi dos que me disse mais mas também acho que vale a pena. Os Tenenbaums e o Anderson é que não me convencem muito.
Vi esse filme, mas não me lembro bem. Acho que gostei, mas ao mesmo tempo deixou-me relativamente indiferente.
Não é arrebatador, mas gostei q.b., até já o vi mais de uma vez.
nao é querer intrometer-me mas... o filme saiu com o titulo " a revolta de igby " pronto ! intrometi-me ... sorry !
Na verdade, já o vi por aí em ambas as versões :S
conheço o titulo devido ao que consta na capa de aluguer . fiquei supresa ao ver que era o mesmo .
Acredito, mas julgo que nas salas estreou com "A Estranha Vida de Igby". Enfim, também não haverá muitos com "Igby" no título, de qualquer forma :)
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