quarta-feira, outubro 31, 2007

MÚSICA BRASILEIRA PARA O HALLOWEEN

Quem quiser sair de casa a altas horas no dia das bruxas pode dançar ao som do paulista Gui Boratto, que estará no Lux nesta quarta-feira, e embora a sua música não seja assustadora, ao contrário da de inúmeros "artistas" brasileiros mais disseminados, é uma proposta a ter muito em conta.

O compositor/músico/produtor/DJ/etc brasileiro é um dos rapazes-prodígio do techno minimal e um dos trunfos da editora alemã Kompakt, cujo álbum de estreia, "Chromophobia", editado este ano, conseguiu convencer até os menos aficionados do (sub)género (como eu, que o tenho há meses como disco de cabeceira).
O single "Beautiful Life" não é muito representativo do que o álbum tem para oferecer, mas não deixa de ser um bom aperitivo:



Gui Boratto - "Beautiful Life"

terça-feira, outubro 30, 2007

10 BLOGUES, 5 FILMES, 1 REALIZADOR


A tabela de estrelas de Outubro, via Knoxville, cujo realizador em destaque foi M. Night Shyamalan. As opiniões dividiram-se, mas acho que "The Village" é de longe o melhor, embora o massacrado "Lady in the Water" também não desmereça.
Aproveito para deixar aqui também as estreias que vi mas que não foram escolhidas, assim como outros filmes vistos no cinema ou em casa este mês:

Estreias:

".45", Gary Lennon - 1/5
"Ils", David Moreau e Xavier Palud - 4/5
"Julgamento", Leonel Vieira - 3/5
"The Breakup Kid", Bobby Farrelly e Peter Farrelly - 2/5

Outros:

"Choses Secrètes", Jean-Claude Brisseau - 2/5
"Dark City", Alex Proyas - 3/5
"Midnight Cowboy", John Frankenheimer - 3/5
"Morvern Callar", Lynn Ramsey - 1/5
"O Ano em que os Meus Pais Partiram de Férias", Cao Hamburguer - 3/5
"Peggy Sue Got Married", Francis Ford Coppola - 2/5
"Personal Velocity: Three Portraits", Rebecca Miller - 2/5
"Pierrot Le Fou", Jean-Luc Godard - 1/5
"Saneamento Básico", Jorge Furtado - 3/5

segunda-feira, outubro 29, 2007

AS ÚLTIMAS ONDAS

Nos últimos dias dediquei um post ao disco e outro ao concerto dos Micro Audio Waves, e como às vezes não há dois sem três fica aqui mais um dedicado ao trio, desta vez com a entrevista que lhes fiz na semana passada. Que me desculpe quem não simpatiza com a banda, mas como não há muitos projectos nacionais que me tenham impressionado em 2007 acho que este merece a dose tripla:


Entrevista aos Micro Audio Waves

domingo, outubro 28, 2007

TEIAS E MUTANTES

aqui falei do Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora, a decorrer até dia 4 de Novembro, embora só neste fim-de-semana lá tenha ido sem ser em trabalho - ou melhor, teve que ser assim depois da câmara e microfone me terem pregado partidas, por isso nada de entrevistas ao Manara e outros autores, mas adiante.

Ainda sou capaz de lá voltar, já que houve pouco tempo para explorar em condições tudo o que havia nas bancas, e por isso só trouxe duas recordações:


Finalmente vou conseguir saber se o hype Josh Whedon no universo X é justificado (não tenho paciência para a a Buffy mas gostei de "Serenity");



O Aranha e o Miller no mesmo livro, parece-me bem, e desconhecia que o autor de "Sin City" tinha iniciado o seu percurso nos comics com o sobrinho da tia May.

E espero não voltar a cair no vício de comprar BD de super-heróis regularmente, foram necessários muitos anos para o largar e a carteira agradeceu...

sábado, outubro 27, 2007

ROCK IT 2NIGHT!

Faltavam cerca de dez minutos para a uma da manhã quando Cláudia Efe, Flak e C. Morg, mais conhecidos como Micro Audio Waves, iniciaram o concerto no MusicBox, em Lisboa, com quase uma hora de atraso que pareceu ter passado despercebida para grande parte do público, que até aí se entreteve com copos, música ambiente e conversas várias. Mas mesmo os que deram pelo atraso terão "perdoado" o trio - acompanhado por mais dois elementos - logo aos primeiros minutos de actuação, já que o grupo entrou em palco com "At the Age of Five", um dos melhores temas de "Odd Size Baggage", o seu terceiro registo de originais.

Para além de ser uma canção hipnótica e servir como brilhante introdução para o espectáculo, foi apresentada numa versão consideravelmente diferente da do disco, onde a bateria ganhou protagonismo e ajudou a implementar uma cadência mais enérgica e dançável. Esta situação não foi, de resto, caso único, já que a maioria dos temas do concerto surgiram com alterações face ao que se conhecia dos discos, não sendo meros decalques mas antes repensadas para melhor se adaptarem a um formato ao vivo.

Esta foi sem dúvida uma grande mais-valia, mostrando uma vertente mais orgânica da banda, pois embora a presença da electrónica tenha sido uma constante não o foi tanto como em disco, dando lugar a recorrentes devaneios de guitarra e bateria, esta última o elemento responsável pela força rítmica da maioria dos temas (a remeter para alguns territórios dos Moloko ou dos Spektrum).
A considerável rudeza instrumental, distante da sofisticação e sobriedade registadas nos álbuns, fez com que a voz de Cláudia Efe ficassse por vezes submersa no meio de momentos de descarga, mas isso não impediu que os Micro Audio Waves tenham gerado um concerto sem episódios menores, mantendo um perfeito domínio do ritmo e uma notável coesão.

Mesmo as canções menos interessantes de "Odd Size Baggage" ganharam aqui vida nova, caso de "Future Smile", que conseguiu cativar numa versão mais acelerada (e onde, mais uma vez, a bateria foi fulcral), ou "Curl Like a Cannonball", cujas imponentes camadas de distorção dos momentos finais foram um curioso contraponto à carga contemplativa inicial.

"Down by Flow" provou ser um single já bem conhecido pela maioria do público presente, não sendo poucos os que acompanharam a vocalista no refrão, e "2night (U & I)" parece seguir-lhe os passos pelas boas reacções que despoletou, levando muitos a dançar ao seu ritmo frenético.

Melhor ainda foi "Odd Size Baggage", o grande momento da noite, que resultou numa excelente centrifugadora de ruído tornado melodia, mais uma vez com um irrecusável apelo dançável. "Fully Connected", disparado logo a seguir, ofereceu competição à altura e também apareceu com texturas mais agressivas do que em disco, e outros temas como "Escape From Albania" mantiveram o alto nível de intensidade. No extremo oposto, "Shadow of Things" ou "Long Tongue" enveredaram por ambientes mais apaziguados e igualmente cativantes, mas não demorou muito para que a agitação voltasse a tomar conta do palco e dos espectadores.

Se "Odd Size Baggage" fora já um passo em frente para os Micro Audio Waves, a julgar pelo que demonstram em concertos como este terão avançado mais dois ou três, corrigindo alguns desequilíbrios que impediram que todo o disco estivesse à altura de uma série de momentos acima da média.

Para além de estetas exigentes em álbum, baseados num sólido domínio da electrónica, convencem ainda pela crueza e visceralidade rock que exibem ao vivo, e o mínimo que se pode dizer para resumir o espectáculo é que terá sido seguramente o melhor shot de adrenalina da noite, e nada indigesto.

E O VEREDICTO É: 4/5 - MUITO BOM

FEBRE (AMARELA) DE SÁBADO À TARDE

'Samurai Champloo', uma das seis séries que estreiam sábado no AXN

Neste fim-de-semana, o canal AXN inaugura a Zona Animax, dedicada à animação nipónica (aka Anime), que vai passar a preencher a programação dos inícios das tardes de sábado e domingo.

Hoje, a partir das 12h45, arrancam então seis(!) séries, a maioria inéditas por cá, e das quais apenas vi alguns episódios da bizarra e inclassificável "Excel Saga" e da curiosa "Trigun". As restantes são "OutlawStar", "Orphen", "Samurai Champloo" e "Inuyasha". Não vou poder ver nenhuma nem hoje nem amanhã, mas aceito recomendações.

quinta-feira, outubro 25, 2007

(BOAS) ONDAS ELECTRÓNICAS

Nos seus dois registos anteriores – o EP homónimo e o álbum “No Waves” – os Micro Audio Waves destacaram-se como um dos projectos nacionais mais ousados na abordagem à electrónica, encetando manobras de considerável experimentalismo que, aos poucos, foram adoptando contornos mais pop.
“Odd Size Baggage”, o mais recente disco, reforça essa aproximação ao formato canção, quase fugindo aos ensaios por vezes herméticos que dominaram os primeiros trabalhos, e ao fazê-lo torna-se no melhor cartão de apresentação que o trio de Cláudia Efe, Flak e C.Morg criou até agora.

É certo que o grupo tinha já algumas composições interessantes, como o single “Fully Connected”, que lhes rendeu elogios de gente como o guru John Peel, embora não as suficientes para evitar que os seus discos fossem mais esboços de ideias do que a concretização destas. “Odd Size Baggage” não está ainda imune a desequilíbrios, mas exibe maior consistência, uma personalidade mais vincada e demonstra que os Micro Audio Waves parecem ter encontrado uma linguagem própria, devidamente expressa num estimulante conjunto de canções.

Versátil e imaginativo, o álbum apresenta alguma da melhor electrónica feita nos últimos tempos, interligando-a com passagens pelo rock ou R&B e equilibrando momentos de apelo dançável com episódios de tranquilidade e placidez. Da elegância de uma produção milimétrica, que traduz bom gosto e contemporaneidade, ao carisma de Claudia Efe, cuja voz é capaz de seduzir seja em estados mais frágeis ou austeros, “Odd Size Baggage” é, em vários momentos, um atestado de segurança e maturidade, pop nacional do melhor que se fez este ano.

A comprová-lo estão canções como “2night (U&I)”, que transpira intensidade e incita à festa; o spoken word visceral da faixa-título, impressionante devaneio centrado na letra de um manual de instruções para um computador; “At the Age of Five”, com um contagiante electro cru e cerebral; “Shadow of Things”, um belo interlúdio contemplativo; ou “Down By Flow”, um óptimo single onde Efe se encosta a uma Róisín Murphy no seu melhor.

Tivesse apenas estes temas e “Odd Size Baggage” seria um brilhante EP, mas tem o dobro e resulta num disco nem sempre tão inspirado, e que até demora a arrancar, já que as três primeiras canções do alinhamento são as menos apelativas, onde o experimentalismo se sobrepõe à pop e os Micro Audio Waves saem a perder. O instrumental “Russian Connection”, mais à frente, também não é especialmente marcante, e o facto de ser dos momentos mais longos volta a quebrar a coesão de um álbum que, de resto, tende a viciar e confirma a criatividade de uma banda em evidente estado de progressão.

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

Os Micro Audio Waves actuam esta sexta-feira no MusicBox, em Lisboa, antes dos DJ sets de Richard Dorfmeister e Mike Stellar. O espaço abre às 22 horas.



Micro Audio Waves - "Down by Flow"

ESTREIA DA SEMANA: "O ESCAFANDRO E A BORBOLETA"

Depois de "Antes que Anoiteça", Julian Schnabel regressa com "O Escafandro e a Borboleta" (Le Scaphandre et le Papillon), mais uma obra inspirada num caso real e com um protagonista numa situação-limite. Desta vez, o realizador segue o jornalista Jean-Dominique Bauby, que ficou paralizado após um AVC e conseguia apenas mexer um olho, a sua única forma de comunicar com terceiros.

Se é verdade que "Mar Adentro" já enveredou por temática próximas há pouco tempo, diz quem viu que aqui a abordagem é distinta, mas não menos conseguida. Mathieu Amalric e Emmanuelle Seigner são os dois nomes centrais deste filme que deu a Schnabel o prémio de Melhor Realizador na última edição de Cannes.

Outras estreias:

"A Outra Margem", de Luís Filipe Rocha
"Ao Anoitecer", de Lajos Koltai
"Bratz, O Filme", de Sean McNamara
"Os Seis Sinais da Luz", de David L. Cunningham
"Rescue Dawn - Espirito Indomável", de Werner Herzog
"Resident Evil 3: Extinção", de Russell Mulcahy
"Terra de Cegos", de Robert Edwards



Trailer de "O Escafandro e a Borboleta"

terça-feira, outubro 23, 2007

CELEBRAR A NONA ARTE

Gullivera, de Milo Manara

A edição deste ano do Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora arrancou na passada sexta-feira e decorre no Fórum Luís de Camões até 4 de Novembro (subdividindo-se por outros espaços da cidade).
Como habitual, por lá há exposições de autores de vários estilos e origens, lançamentos de novas obras nacionais e internacionais, conferências e sessões de autógrafos com artistas convidados ou projecções de filmes de animação, entre outros motivos de interesse.
As 100 bandas-desenhadas do século, Salazar, Astérix ou Milo Manara (um dos autores presentes no evento) são alguns dos destaques na 18ª edição do festival, este ano apropriadamente dedicada ao tema da Maioridade.

Eu e o Eduardo Santiago já lá fomos e recomendamos:

FUNDO DE CATÁLOGO (5): 808 STATE

Nome indissociável da música de dança de finais de 80/ inícios de 90, os britânicos 808 State foram um dos projectos que lançaram as bases para aquilo que viria a ser reapropriado por novas bandas da classe de 00 e catalogado como new rave.
"In Yer Face", apesar de datado, ainda hoje é um single capaz de agitar qualquer pista de dança, tendo ficado como um dos mais emblemáticos do trio de Manchester. Incluído no seu terceiro disco, "Ex:El", de 1991, é agora recordado no videoclip ali ao lado.
Ainda estou para perceber quem diz que grupos como os Klaxons ou os New Young Pony Club têm alguma coisa a ver com isto...



808 State - "In Yer Face"

domingo, outubro 21, 2007

IDENTIDADE (FINALMENTE) CONHECIDA

Do cinema de acção não têm chegado grandes surpresas nos últimos anos, mas o nome Jason Bourne já começa a ser familiar dentro dos (anti-)heróis do meio recentemente instituídos, e que em "Ultimato" (The Bourne Ultimatum) vive a sua terceira aventura após "Identidade Desconhecida" (2002) e "Supremacia" (2004). À saga regressa o protagonista, Matt Damon, e o realizador que assinou o segundo episódio, Paul Greengrass (o primeiro esteve a cargo de Doug Liman), assim como se recuperam os ambientes de espionagem e conspiração governamental que têm orientado o seu desenvolvimento.

Greengrass, por vezes interessante (como no docudrama "Voo 93"), noutras nem por isso ("Domingo Sangrento"), volta aqui a recorrer ao tipo de realização pelo qual se tem distinguido, apostando no método da câmara ao ombro, com planos curtos, montagem acelerada e muitos close ups, recusando quase sempre a pirotecnia vistosa a favor de uma colagem à pele das personagens, desenhando um estilo tenso e claustrofóbico.

O resultado oferece algumas sequências conseguidas, mais frenéticas e intensas do que as da maioria da concorrência, construindo um caos ordenado que se distingue dos golpes fáceis de uma realização ao estilo videoclip. É certo que, por vezes, essa efervescência pode descoordenar o espectador, que por mais que se concentre não tem tempo de se aperceber do que está de facto a ocorrer em algumas cenas de perseguição ou tiroteio, mas no geral Greengrass comprova saber o que está a fazer e conduz o filme com mão segura, nunca deixando que este caia na monotonia.

"Ultimato" não desilude nas injecções de adrenalina, já no argumento o balanço é mais irregular, caíndo numa abordagem algo genérica e superficial, não inserindo grandes novidades. O que há, como nos títulos antecessores, é um ponto de partida minimamente capaz de desencadear mais uma história do gato e do rato, e Greengrass precocupa-se mais com o estilo e a energia das sequências de acção do que com as motivações e singularidades das suas personagens, mantendo a frieza emocional que tem contaminado a saga.

A profundidade que daqui emana a espaços provém mais do empenho dos (óptimos) actores do que da escrita dos seus papés, e é pena que num filme que por vezes consegue entusiasmar com cenas de perseguição realistas e tridimensionais não se esforce por dar a mesma substância aos seus protagonistas.
Sobretudo nesta terceira parte da saga, que conclui o que se desenvolveu nos anteriores, era importante conceder maior densidade a Jason Bourne, aqui na procura dos responsáveis pela sua transformação num agente (e assassino) da CIA. Os medos e inquietações do espião em relação à descoberta do seu passado do qual não se lembra são alvo de foco regular, o problema é que a sua exploração é pouco imaginativa, nunca atingindo uma tensão dramática especialmente memorável.

A questão da identidade é um tema nuclear da saga, no entanto nunca se torna tão intrigante como os bons momentos de suspense que frequentemente dominam a narrativa, não deixando que "Ultimato" saia do campo do thriller engenhoso, cerebral e clínico, mas assente em personagens que não geram muita empatia.
O maior exemplo desta situação é a inconsequência da "revelação" final, onde Bourne tem acesso à verdade sobre o seu processo de recrutamento e só se confirma que não há grandes motivos para o espectador se colocar mais do lado dele do que dos seus antagonistas.

E daí, talvez aquilo que Greengrass proporciona aqui até já seja mais do que se deveria pedir, se se tiver em conta que não são todos os blockbusters que conseguem prender a atenção ao longo de quase duas horas. Se a isto se adicionarem três ou quatro sequências de antologia, melhor ainda - a da perseguição ao jornalista britânico na estação de comboio durante a hora de ponta, logo no início, e sobretudo a dos tiroteios num bairro pobre de Tânger são excelentes exemplos do melhor cinema de acção.

E depois há ainda um elenco que, além de um Matt Damon cada vez mais confortável na pele de espião angustiado, conta ainda com secundários de luxo como David Strathairn, Joan Allen e a promissora Julia Stiles.
Só é pena que o tal argumento sisudo não conte com as qualidades dos de outros filmes de acção recentes, como o sentido de humor de "Die Hard 4.0 — Viver ou Morrer" ou o romantismo do surpreendente "007 — Casino Royale", e embora isso faça com que "Ultimato" não ascenda ao nível desses não o impede de ser um título a ter em conta para os fãs do género.

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

sexta-feira, outubro 19, 2007

FIM-DE-SEMANA BRASILEIRO

Arrancou hoje a 2ª Mostra de Cinema Brasileiro, que até domingo ocupa as salas do São Jorge, em Lisboa. A programação deste ano incide sobretudo nas obras de Daniel Filho e Jorge Furtado, que juntamente com Glória Pires constituem o núcleo de convidados do evento.
Três filmes do primeiro, que incluem a actriz no elenco, estão em destaque amanhã - "A Partilha", "Se Eu Fosse Você" e "O Primo Basílio" -, mas os que mais me interessavam eram os de Furtado, de quem tinha visto o muito recomendável "O Homem que Copiava". Agora só consegui apanhar "Saneamento Básico", o seu (divertido) novo filme, por isso "Houve Uma Vez Dois Verões" e "Meu Tio Matou um Cara" terão que ficar, infelizmente, para a próxima.
Entretanto no domingo passa, entre outros, "O Ano em que os Meus Pais Partiram de Férias", de Cao Hamburguer, o concorrente brasileiro aos Óscares 2008 na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, que é capaz de valer a pena.

Apesar de hoje não ter tido tempo de ver os dois filmes de Jorge Furtado que me faltavam, eu e a Inês Gens conseguimos sacar-lhe umas palavras na sessão especial de quinta-feira à noite, que deixo aqui em baixo. Também falámos com Daniel Filho e Glória Pires, neste vídeo.


Entrevista ao realizador Jorge Furtado

quinta-feira, outubro 18, 2007

ESTREIA DA SEMANA: "AS CANÇÕES DE AMOR"

Christophe Honoré intrigou-me em "Minha Mãe", interessou-me mais no superior "Em Paris" e agora convenceu-me plenamente em "As Canções de Amor" (Les Chansons d'Amour), um belo musical alicerçado num jovem triângulo amoroso criado e destruído na Paris dos dias de hoje.
É um dos grandes filmes do ano, para o qual contribui, claro, a igualmente recomendável banda-sonora composta por Alex Beaupain e interpretada pelos actores - entre estes constam Louis Garrel, Ludivine Sagnier ou Chiara Mastroianni (crítica ao filme aqui).

Honoré e Garrel passaram por Lisboa a propósito da ante-estreia do filme na Festa do Cinema Francês e eu e o Eduardo Santiago falámos com eles. A reportagem pode ser vista no vídeo que está aqui em baixo.

Outras estreias:

"A Estranha em Mim", de Neil Jordan
"El Cantante", de Leon Ichaso
"Eles", de David Moreau e Xavier Palud
"Um Azar do Caraças", de Judd Apatow, o realizador de "Virgem aos 40 Anos"




Entrevista a Christophe Honoré e Louis Garrel

OUTRA ESTREIA: "ELES"

Uma proposta no mínimo surpreendente, este pequeno filme de evidente baixo orçamento mas considerável engenho e solidez. É certo que obras de terror ambientadas em casas assombradas estão longe de ser novidade, mas "Eles" (Ils) prova que esse ponto de partida pode ainda revelar-se muito funcional, haja imaginação e domínio dos mecanismos do suspense.

David Moreau e Xavier Palud parecem tê-los, já que esta história de um jovem casal francês cuja mansão isolada, nos arredores de Bucareste, é subitamente invadida durante a noite, contém uma competentíssima gestão do ritmo e nunca deixa o espectador (nem as personagens) parar para respirar ao longo de quase hora e meia. Se o argumento nada traz de novo, “Eles” surpreende pela apropriada realização, onde a câmara à mão é mais do que um recurso estilístico e reveste-se de inegável eficácia.

O filme instala o medo sem recorrer a um grama de gore e torna-se ainda mais convincente pelo facto do espectador ter acesso à mesma informação que os dois atormentados protagonistas, só ficando a conhecer o que os ameaça nos momentos finais. Estes são talvez os menos bem arquitectados, e a legenda explicativa após a última cena era dispensável, mas até aí “Eles” consegue ser uma experiência asfixiante e um dos melhores filmes de terror dos últimos tempos.

E O VEREDICTO É:
3,5/5 - BOM

terça-feira, outubro 16, 2007

25 ANOS DEPOIS

Um quarto de século após a sua morte, Adriano Correia de Oliveira volta a ser lembrado através de um disco de homenagem onde músicos das gerações mais novas recontextualizam a sua obra. "Adriano Aqui e Agora - O Tributo", editado esta semana, é uma oportunidade para (re)descobrir o cantor de Coimbra que marcou a música portuguesa de intervenção (e não só) de há três décadas:

Estruturado por Henrique Amaro, o projecto convoca 14 músicos de géneros díspares e é um dos discos nacionais mais interessantes dos últimos tempos, nem sempre convincente mas com vários temas que merecem ser ouvidos - como os dos Micro Audio Waves, Nuno Prata, Ana Deus & Dead Combo, Vicente Palma (o filho de Jorge Palma, numa auspiciosa primeira gravação) e, sobretudo, o de Margarida Pinto, o preferido por estes lados (que prova que há vida depois do desapontante último álbum dos Coldfinger).
Deixo aqui uma opinião mais alargada acerca do tributo, e quem quiser saber mais sobre Adriano pode espreitar esta pequena biografia.

Fica aqui também a reportagem que eu e a Vera Moutinho fizemos acerca do disco, com comentários de Henrique Amaro e de alguns dos participantes na homenagem:

segunda-feira, outubro 15, 2007

QUINTETO FANTÁSTICO

O primeiro single, “Ice Cream”, foi já editado em 2005, mas o disco, “Fantastic Playroom”, só teve edição este ano, e apesar de ser pouco mais do que uma compilação de um EP e restantes singles entretanto editados – com escassos temas novos – é mais do que suficiente para colocar os londrinos New Young Pony Club na lista das boas estreias (em álbum) de 2007.

A par de nomes como os Klaxons ou ShitDisco, o quinteto tem sido associado (sobretudo pela imprensa britânica) ao movimento new rave, rótulo pouco consensual e que aqui – mais uma vez - nem fará muito sentido, já que o grupo, não obstante a óbvia vertente dançável, segue mais a linha de algumas referências new wave do que propriamente as de electrónicas enérgicas de inícios da década de 90.

Ritmicamente há por aqui ecos da escola Gang of Four (via baixo e percussão), com produção devidamente actualizada e próxima da de uns LCD Soundsystem, e a escrita das canções respira a mesma tendência irreverente e provocadora que tanto remete para os B52’s ou para a faceta mais festiva das Le Tigre.

Na verdade, ao escutar “Fantastic Playroom” é quase inevitável não pensar noutras referências, o que não chega a ser um problema já que os New Young Pony Club não parecem querer fazer mais do que um conjunto de canções apelativas, dinâmicas e com considerável carga viciante, onde o imediatismo não implica que se esgotem ao fim de um par de audições. E nesse aspecto são muito bem sucedidos, construindo um álbum que pode não ficar para a história mas que soa actual apesar da óbvia herança do passado e mantém mesmo, ao longo de todo o alinhamento, uma frescura invejável.

As primeiras faixas são, de resto, alguma da confeitaria pop mais saborosa do ano, desde “Get Lucky”, que marca logo uma contagiante cadência dançável, até “Jerk Me”, caso onde as letras insinuantes do grupo adquirem um carácter mais forte (o título da canção já o sugere e frases como Mark your sordid X on me confirmam-no), sendo devidamente acompanhadas por uma percussão e baixo repetitivos, impecavelmente conjugados com palmas, teclados e sintetizadores à Gary Numan (presentes noutros temas mas não de uma forma tão apurada como neste).

Os singles “Ice Cream” e “The Bomb” não lhes ficam atrás, sobretudo o segundo, que faz jus ao nome e é uma vibrante bomba prestes a incitar explosões numa pista de dança, sendo apenas superado por “Hiding on the Staircase”, talvez o momento mais alto do disco, cópia tão descarada quanto perfeita das Luscious Jackson no seu melhor.

Vertiginoso e por vezes imbatível durante a primeira metade, “Fantastic Playroom” desacelera na segunda e, talvez por isso, perde parte substancial do seu interesse, ficando-se por composições menos desafiantes.

Os coros do refrão de “The Get Go”, atípica canção onde a melancolia tem espaço, ainda permitem que esta supere a mediania, o que já não ocorre tanto na lacónica “Talking Talking” – a evocar atmosferas dos Cure - ou na pouco surpreendente “Grey”. Mais empolgante, “Fan” regressa à vertente pop da banda e pode deixar muitos a entoar I’m your F-A-N, M-A-N, e “Tight Fit” não destoaria num álbum de Gwen Stefani ou Madonna (fase “Confessions on a Dance Floor”), fechando o disco de forma eficaz ainda que sem a força dos primeiros temas.

Prejudicado por uma segunda metade menos consistente, “Fantastic Playroom” nunca chega a ser decepcionante nem tem maus momentos, mesmo que o grau de inspiração varie.
Um dos trunfos que se mantém sempre é Tahita Bulmer, vocalista cujo carisma emana tanto nos temas festivos como recatados, nos coros ou nos sussurros, consolidando grande parte da atitude descomplexada que sobressai nas canções da banda (e libidinosa q.b., expressa em sugestões como Second punch me with your love ou Let your girlfriend do what your boyfriend can’t).
A sua presença chega a lembrar a de Lovefoxxx, dos Cansei de Ser Sexy, responsáveis pelo party album mais convincente de 2006, categoria na qual os New Young Pony Club parecem vencer este ano com um primeiro disco carregado de muitas e boas proteínas dançáveis. Nem sempre é fantástico, mas nunca deixa de ser interessante.

E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM



New Young Pony Club - "The Bomb"

sábado, outubro 13, 2007

VIRGENS AOS 17 ANOS

Olhando apenas para o título, a sinopse e demais formas como "Super Baldas" (Superbad) tem sido promovido, julgar-se-ia que esta é mais uma banal comédia sobre e para adolescentes, assente nas mesmas piadas rasteiras que têm sido reaproveitadas em múltiplos derivados que brotaram como cogumelos depois do êxito de "American Pie - A Primeira Vez".

No entando, este filme até é menos devedor dessa saga teen criada por Paul Weitz do que dos trabalhos que o produtor Judd Apatow tem assinado, tanto para cinema como, e sobretudo, para televisão, ou não tivesse sido o realizador de "Virgem aos 40 Anos", comédia mainstream convincente q.b., e da série de culto "Freaks and Geeks", uma das melhores a abordar o universo da adolescência em muitos anos. Depois dessa, Apatow esteve na origem de outra, menos brilhante embora ainda meritória, "Undeclared", sobre um grupo de estudantes universitários, em que Greg Mottola colaborou como realizador e cuja influência se reflecte neste seu segundo filme.

Não é que "Super Baldas" não recorra, até com alguma frequência, a um humor algo alarve e grosseiro, mas distingue-se de inúmeros subprodutos ao evitar ser um mero cabide de gags pois conta com personagens e situações minimamente trabalhadas, onde a comédia nem sempre é disparatada e gratuita.

O filme centra-se nos últimos dias do liceu de dois losers, Evan, tímido e cauteloso, e Seth, desbocado e mais imaturo, que antes de irem para a universidade têm a missão de fornecer as bebidas (alcoólicas) a uma festa de final do ano lectivo. Como são menores de idade, têm de recorrer ao auxílio do único colega mais nerd do que eles, Fogell, cujo bilhete de identidade falso promete fazer maravilhas. Claro que nem tudo corre como esperado e, no meio de uma série de entraves, arriscam-se a ficar sem bebidas nem festa, cenário que ameaça aumentar a humilhação de que já são alvo habitual.

No meio de episódios conturbados com a polícia ou bêbados enraivecidos, o mais difícil para os dois protagonistas nem é tanto superar estes imprevistos mas fazer com que a amizade sobreviva, já que a noite lhes reserva também algumas revelações e verdades difíceis de digerir.

"Super Baldas" retrata eficazmente, e de forma divertida, situações típicas da amizade masculina na adolescência, assim como o despontar (ou, no caso, explosão) da sexualidade, para a qual contribuem muito os desempenhos de Jonah Hill e Michael Cera (conhecido pela aclamada série "Arrested Development"), duas jovens promessas com óbvio talento para a comédia. Christopher Mintz-Plasse, que tem aqui a sua estreia como actor na pele de Fogell AKA McLovin, não lhes fica atrás, e sai-se bem na tarefa de encarnar uma das personagens mais desconcertantes e irresistíveis do ano.

Vale a pena ver o filme para comprovar o empenho deste trio, mas é pena que noutros aspectos "Super Baldas" não seja tão conseguido, em particular nas cenas com dois polícias que redescobrem a rebeldia e cujo tempo de antena é excessivo, gerando os momentos de humor mais vulgares. Um dos agentes é interpretado por Seth Rogen (protagonista de "Um Azar do Caraças", o mais recente de Judd Apatow), que aqui assume também funções de co-argumentista e, ironicamente, desempenha uma das personagens menos interessantes.

Outro elemento que debilita o filme é a duração, que quase chega às duas horas e obriga a esticar o argumento com palha narrativa que suscita algum cansaço (reforçado pela realização indistinta e televisiva de Greg Mottola). O facto desta ser uma história já vista não seria problemático se o resultado fosse coeso, até porque há personagens para isso, mas há também demasiadas situações redundantes e supérfluas que não chegam a ser totalmente compensadas pelos muito inspirados minutos finais, onde se atinge uma densidade emocional inesperada (ou talvez não tanto, já que se aproxima da sensibilidade de Apatow em "Freaks and Geeks").

A última sequência, tão ambígua quanto tridimensional, é um achado que diz muito sobre o fim da adolescência e a entrada na idade adulta, e lamenta-se que "Super Baldas" não conte com muitas ao nível dessa, fazendo-se passar por mais um filme parvo (que não é). Assim fica-se com uma obra desigual, até um pouco frustrante tendo em conta o talento envolvido, embora plenamente satisfatória quando comparada com as restantes comédias (sobretudo juvenis) que costumam estar em cartaz.


E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL

quinta-feira, outubro 11, 2007

ESTREIA DA SEMANA: "JULGAMENTO"

Filmes portugueses coesos e convincentes não são propriamente uma regra, e são menos ainda aqueles feitos a pensar no grande público que não caem em facilitismos como forma de chamariz. Surpreendentemente, "Julgamento" é um desses raros casos, reavivando memórias do antigo regime numa história bem desenvolvida e melhor interpretada, contando com um elenco que inclui Júlio César, Alexandra Lencastre, José Eduardo ou Henrique Viana (naquele que viria a ser o seu último papel).
Leonel Vieira pode não ser o realizador com a filmografia mais impressionante ("A Bomba", "Zona J", "A Selva"), mas neste caso o seu filme justifica sem dúvida o preço do bilhete.

E a propósito da estreia deixo aqui um vídeo, feito por mim e pela Vera Moutinho, com comentários do realizador e de dois actores, Júlio César e Fernanda Serrano.

Outras estreias:

"A Juventude de Jane", de Julian Jarrold
"A Vida Interior de Martin Frost", de Paul Auster
"Hora de Ponta 3", de Brett Ratner
"Invisível", de David S. Goyer
"O Reino", de Peter Berg



Comentários do realizador e actores de "Julgamento"

segunda-feira, outubro 08, 2007

gonn1000 x 3

Há precisamente três anos, iniciei o meu percurso na blogosfera com este blog, nessa altura ainda sem destino ou âmbito claramente definido mas que entretanto já parece ter encontrado um rumo próprio e temas mais ou menos regulares. Felizmente, tal como nos dois aniversários anteriores, posso dizer que tem sido uma aventura quase sempre estimulante, em parte pelo feedback que tenho recebido dos que por aqui vão ou foram passando. Obrigado então a todos e continuem a passar por aqui, já que também não tenciono parar tão depressa, e vão dizendo de vossa justiça :)

Como segunda-feira é mau dia para festas, deixo duas sugestões de literal bedroom dancing. A primeira é servida pelo Vitalic, "La Rock O1", que fez maravilhas na melhor cena do filme "0 Capacete Dourado". O videoclip é homemade e não-oficial (e fraquinho), mas a música compensa-o. A segunda, "Pogo", mais abaixo, fica a cargo dos Digitalism e oferece concorrência à altura. Enjoy ;)

(Vês, Knox, ainda foi antes da meia-noite :P)





Vitalic - "La Rock 01"


Digitalism - "Pogo"

(DES)ENCONTROS URBANOS

"Coeurs" adapta para o grande ecrã a peça "Private Fears in Public Places", do britânico Alan Ayckbourn, transferindo a acção de Londres para Paris mas mantendo o seu elemento central, um olhar sobre as relações humanas - familiares, amorosas, laborais ou outras - no atribulado quotidiano de uma grande cidade contemporânea.
Alain Resnais já tinha recorrido a uma obra do dramaturgo como fonte inspiradora em "Fumar/Não Fumar", e agora volta a provar que essa base teatral não deixa de funcionar enquanto interessante matéria-prima cinematográfica, pelo menos quando abordada por si.

De facto, o filme está muito longe de ser um daqueles pastelões de teatro filmado, incorporando os elementos da peça - os únicos diálogos provêm das sete personagens (uma é apenas ouvida), as cenas decorrem todas em interiores -, e trabalhando-os com engenho e criatividade, usando-os não como uma limitação mas um desafio.

Embora os espaços onde se desenrola a acção sejam quase sempre os mesmos - as casas ou locais de trabalho das personagens -, Resnais filma-os com uma frescura sempre renovada, apresentando novos pormenores e explorando ao máximo as potencialidades dos impressionantes décors, com enquadramentos imaginativos, nunca caindo no entanto em exageros de esteta exibicionista.
A neve, elemento recorrente do início ao fim do filme, é outra ideia visual que reforça a mestria cénica, funcionando por um lado como metáfora para a frieza emocional que percorre as grandes metrópoles e como fonte catalisadora de uma aura poética que se entrecruza com o ambiente realista dominante.

Investindo nos modelos cada vez mais adoptados do filme-mosaico, "Coeurs" segue os (des)encontros de seis figuras que, para além do emprego (ou procura deste), pouco têm de certo nas suas vidas, o que os força a tentar encontrar pontos de fuga à solidão, seja através do refúgio no álcool, em anúncios em jornais ou no entretenimento televisivo.

Entre a comédia e o drama, o argumento flui com inteligência e sensibilidade, colocando em jogo os comportamentos humanos e as redes que vão estabelecendo, alicerçando-se em personagens suficientemente complexas. Contudo, ainda que todas sejam interessantes, algumas só ganhariam se fossem mais desenvolvidas, e o filme resultaria melhor se fechasse mais subenredos.

"Coeurs" não será a obra mais original, arrojada ou marcante de Resnais, mas o facto de ser um filme com tanto de pertinente como de agradável e de reunir um elenco em estado de graça - Sabine Azéma, Pierre Arditi ou Lambert Wilson, entre outros - já é mais do que muitos cineastas conseguem oferecer, e especialmente impressionante quando desenvolvido por um que atingiu já os 85 anos - uma idade respeitável, tal como este filme.


E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM


Filme apresentado na 8ª Festa do Cinema Francês, a decorrer até dia 15 no Cinema São Jorge, em Lisboa

domingo, outubro 07, 2007

PROFUNDO AZUL

Marie, magra e circunspecta, e Anne, obesa e imatura, são duas amigas de quinze anos cuja fisionomia está longe dos estereótipos de beleza seguidos pela maioria dos jovens com quem convivem, e que se coadunam mais com a figura esbelta e delicada de Floriane, não por acaso a adolescente mais disputada do bairro.
Invejada pela maioria das raparigas, esta acaba por gerar alguma cumplicidade com Marie, facultando-lhe o acesso às suas aulas de natação sincronizada em troca de ajuda para que os pais a deixem sair de casa (levando-os a pensar que estão juntas quando na verdade Floriane vai encontrar-se com o namorado).
De um regular ciclo de favores nasce uma relação de amizade que as marca de formas distintas: a Marie porque lhe permite conviver com alguém que admirava em segredo, a Floriane porque lhe garante uma confidente feminina que não almeja tomar o seu lugar.

Os contactos destas duas conhecidas tornadas amigas, assim como as reacções de Anne, são o cerne de "Naissance des Pieuvres", segura estreia na realização da francesa Céline Sciamma, que aqui deixa um atestado de maturidade neste relato do universo da adolescência feminina, partindo de personagens e situações reconhecíveis sem no entanto cair em domínios óbvios.
A realizadora oferece um envolvente estudo de personagens, seguindo os episódios quotidianos de três jovens para quem a infância ainda é um espaço recém abandonado e de difícil articulação com as obrigatoriedades que a adolescência lhes impõe, em particular a forma de se relacionarem com o despontar da sexualidade.

Debruçando-se sobre os fantasmas que nascem do modo como as personagens lidam com as mudanças do corpo, tanto em privado como em público - onde a piscina surge como território decisivo -, "Naissance des Pieuvres" incide também nos dilemas que moldam e influenciam a construção das suas personalidades, o que leva a que os laços de amizade sejam cada vez mais voláteis, ainda que dolorosos, sobretudo quando se confundem com outras emoções.

Céline Sciamma concede a esta história de auto-descoberta uma tridimensionalidade invejável, para a qual contribuem as muito convincentes interpretações do jovem trio de actrizes e uma atmosfera realista e intimista, fruto de um sóbrio trabalho de realização e fotografia.

Se a espaços o filme quase se perde em cenas demasiado contemplativas, compensa-as noutras com uma forte intensidade emocional e visual, de onde sobressaem os expressivos olhares das protagonistas ou a cuidada iluminação com frequentes (e hipnóticos) tons azulados.
A bela banda-sonora instrumental composta por Para One, uma das sensações da nova electrónica francesa, sedimenta a elegância cenográfica e ajuda a que algumas sequências remetam para a carga sensorial da obra de Sofia Coppola, embora Céline Sciamma também mostre o que Catherine Breillat poderia ter atingido em "Para a Minha Irmã!" se não tivesse o propósito de chocar. E assim apresenta uma primeira longa-metragem que surpreende pela maturidade demonstrada e deixa curiosidade quanto a futuros - e breves, espera-se - passos na realização.

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

Filme apresentado na 8ª Festa do Cinema Francês, a decorrer até dia 15 no Cinema São Jorge, em Lisboa



Para One - "Finale"

sábado, outubro 06, 2007

TV SPOTTING

Adrien Brody em 'Verão Escaldante'

Chamada de atenção para a sessão tripla de luxo desta noite no canal Hollywood: "O Candidato da Verdade", sólido thriller de Jonathan Demme, às 19h; a admirável obra-prima "Verão Escaldante", de Spike Lee, às 21h30; e a boa estreia na realização de Vincent Gallo, "Buffalo 66", à meia-noite. Para quem preferir cinema francês, a RTP2 propõe "Alice e Martin", competente drama de André Téchiné; e "India Song", fastidioso soporífero de Marguerite Duras.

FUNDO DE CATÁLOGO (4): ASH

Consta que a banda irlandesa tem novo álbum, que ainda não foi ouvido por estes lados nem se aguarda com muita expectativa, ou não fosse este um grupo que vale mais pelos singles do que pelos discos. E mesmo no caso dos singles, há já alguns anos que os Ash não apresentam um que fique na memória, ao contrário do que aconteceu nos seus primeiros dias em que "Girl From Mars" ou "Jesus Says" os apontaram como promessas a seguir.
Tal como esses, também "Numbskull" (tema do álbum "Nu-Clear Sounds", de 1998) era uma das presenças regulares do saudoso programa "Alternative Nation", no tempo em que a MTV ainda merecia alguma atenção e podia ser considerada um canal de música.
Uma canção portentosa com videoclip a condizer, a recordar aqui em baixo, mas pouco recomendável aos mais impressionáveis.



Ash - "Numbskull"

quinta-feira, outubro 04, 2007

ESTREIA DA SEMANA: "PLANETA TERROR"

Gajas. Motas. Zombies. Uma protagonista com uma metralhadora em vez de uma perna. Estes são alguns dos elementos, aliciantes talvez, de "Planeta Terror" (Planet Terror), a metade do projecto díptico "Grindhouse" que Robert Rodriguez concebeu com Quentin Tarantino.

Se "À Prova de Morte", o filme do autor de "Pulp Fiction", já tinha chegado cá no Verão, o do realizador de "Sin City - A Cidade do Pecado" só estreia agora, e tal como esse concorre para o lugar de experiência cinematográfica mais esgrouviada do ano.
Esta homenagem à série Z conta com um elenco encabeçado por Rose McGowan, Freddy Rodriguez (o Rico de "Sete Palmos de Terra") e Naveen Andrews (o Sayid de "Perdidos"). A ver com tremoços e cerveja.

Outras estreias:

".45", de Gary Lennon
"Estás Cada Vez Mais Frito, Meu!", de Steve Carr
"Fados", de Carlos Saura
"O Caminho do Guerreiro Pacífico", de Victor Salva
"O Mal Casado", de Bobby e Peter Farrelly



Trailer de "Planeta Terror"

quarta-feira, outubro 03, 2007

3 AMANTES EM PARIS

O musical, género cinematográfico considerado morto por alguns, tem nos últimos anos ressuscitado através de títulos tão díspares como "Moulin Rouge", de Baz Luhrmann, "Dancer in the Dark", de Lars Von Trier", ou "Hairspray", de Adam Shankman, entre outros, investindo tanto em formatos clássicos como mais extremos.
"As Canções de Amor" (Les Chansons D'Amour), o quinto filme do francês Christophe Honoré, é mais um exemplo da vitalidade que o género ainda vai exibindo ocasionalmente, recolhendo influências da obra de Jacques Demy (nomeadamente de "Os Guarda-Chuvas do Amor", de 1964) e recontextualizando-as num cenário parisiense contemporâneo, palco dos (des)amores de um grupo de jovens dos dias de hoje.

A música já tinha sido um elemento basilar no filme anterior do realizador, "Em Paris", em especial numa inesquecível cena onde Romain Duris ouvia uma canção de Kim Wilde no quarto ou numa outra onde cantava "Avan la Haine" ao telefone, mas em "As Canções de Amor" surge com uma relevância reforçada, uma vez que os vários momentos em que as personagens cantam são episódios fundamentais para a expressão das suas convulsões emocionais.

Embora a vertente musical seja forte, o filme não se resume, ao contrário de outros exemplos do género, a uma sucessão de números mais ou menos pomposos e impressionantes, antes investe numa sólida base dramática complementada por canções sóbrias e melancólicas. Compostos por Alex Beaupin, os temas seguem a tradição singer/songwriter e são interpretados pela maioria dos actores, abordando, tal como o filme, as dificuldades das relações humanas e nunca desvirtuando a atmosfera discreta e realista que domina a narrativa.

Dividido em três actos - a partida, a ausência e o recomeço -, "As Canções de Amor" começa por se centrar num triângulo amoroso que é destruído pela súbita morte de um dos jovens que o constitui. O filme segue depois as reacções dos outros dois, em especial as de Ismael, que ao tentar reconstruir a sua vida enceta várias relacionamentos sem superar, no entanto, a tragédia recente.
Tal como nos títulos anteriores de Honoré, o amor e a família voltam a ser elementos centrais, e o realizador constrói novamente uma história assente em personagens credíveis, onde os erros que fazem não as impedem de gerar empatia e apenas reforçam a sua verosimilhança.

A narrativa mantém a leveza de "Em Paris", contando com uma realização viva e imaginativa, mas não exibicionista, e o tom caloroso reforça a ideia de que Honoré deixou para trás os ambientes clínicos e inquietantes de "Minha Mãe". O que se recupera, e de forma cada vez mais madura, é um subtil olhar sobre as relações amorosas, que em "As Canções de Amor" se desdobram entre a monogamia e a poligamia, assim como pela hetero, bi e homossexualidade, sem que se enverede por qualquer tentativa de moralismo, irreverência juvenil ou choque gratuito.

O elenco reflecte o mesmo equilíbrio e inclui nomes confiáveis como Louis Garrel, habitué nas obras do realizador, que mais uma vez confirma ser um dos melhores jovens actores de hoje, epíteto que que também pode servir para Ludivine Sagnier, que tem aqui um dos seus desempenhos mais comoventes e memoráveis.
A presença - e voz - de Chiara Mastroianni ou Clotilde Hesme, em papéis secundários, sedimentam o afinco da direcção de actores, contribuindo para que o filme resulte num conjunto de grandes canções e interpretações. É o melhor de Honoré a chegar a salas nacionais e catapulta-o para a lista de cineastas obrigatórios do novo cinema francês, sendo também uma das experiências cinematográficas mais belas e contagiantes do ano. A ver - e ouvir - sem reservas.


E O VEREDICTO É: 4/5 - MUITO BOM

"As Canções de Amor"
é o filme de abertura da 8ª Festa do Cinema Francês e estreia a 18 de Outubro

VIVE LA FÊTE!


A 8ª Festa do Cinema Francês já chegou a Lisboa e até dia 28 passará por Évora, Coimbra, Almada, Faro e Porto, com 24 filmes inéditos por cá onde se incluem propostas entre a comédia e o drama, a animação e o documentário.
O São Jorge e o Instituto Franco-Português acolhem a inciativa na capital até dia 15, onde a Cinemateca recorda também o policial francês, indo da década 30 à de 90, e a RTP2 oferece uma programação especial com curtas e longas-metragens aos fins-de-semana.

A abertura fica a cargo do musical "As Canções de Amor", do cada vez melhor Cristophe Honoré ("Minha Mãe", "Em Paris"), hoje no cinema São Jorge, e quem não conseguir vê-lo aí pode - e deve - apanhá-lo numa sala a partir de dia 18, data da estreia nacional. Mais informações no site oficial.

terça-feira, outubro 02, 2007

A CASA DE CAMPO

"Pintar ou Fazer Amor" (Peindre ou Faire L'Amour) é o primeiro filme dos irmãos Arnaud e Jean-Marie Larrieu a estrear em Portugal, e mesmo que chegue com algum atraso - data de 2005 e concorreu à Palma de Ouro em Cannes no mesmo ano - ainda vem a tempo de evidenciar os méritos da dupla francesa.

É uma obra que merece relevo, desde logo por focar um tema não muitas vezes retratado: a relação de um casal de meia-idade, onde a sua vida sexual é alvo de considerável atenção. "O Odor do Sangue", de Mario Martone, que estreou por cá no início do ano, era outro dos raros títulos recentes a incidir na mesma temática, ainda que as situações e o tom dos filmes sejam bem distintos.

Outro motivo que joga a favor desta obra é o par protagonista, composto por dois nomes fortes do cinema francês: Daniel Auteuil, um dos seus rostos mais reconhecíveis, e Sabine Azéma, popularizada sobretudo pelos seus papéis em filmes de Alain Resnais.
O duo interpreta um casal de meia-idade que, depois de dar por terminada a vida profissional, muda-se da cidade para o campo, encetando uma amizade crescente com o presidente da junta de uma localidade vizinha e com a sua esposa.

"Pintar ou Fazer Amor" olha com complexidade e inteligência para a relação de um casal unido há décadas, focando a rotina em que o seu dia-a-dia acaba por cair mas também as tentativas de alteração do status quo, quando uma rebeldia quase adolescente convida a uma procura de novas experiências. Novas e com tanto de excitante como de inquietante, uma vez que impõem um teste ao equilíbrio e consistência da relação.

A acção decorre num cenário campestre, plácido e aprazível, embora os realizadores façam, pouco a pouco, a desconstrução de lugares-comuns associados à tranquilidade da vida rural, contaminando as situações com uma tensão emocional que se vai insinuando sem que nem o espectador nem as personagens se apercebam muito disso, pelo menos até ao ponto em que o contexto já mudou drasticamente.

A atmosfera vai passando de serena a lânguida, os protagonistas deixam de reconhecer ou decifrar parte dos seus comportamentos e do ritmo lento da narrativa emana, subtilmente, uma aura enigmática (o que não impede, ainda assim, que a monotonia tome conta de algumas sequências) .

Apesar de "Pintar ou Fazer Amor" relatar episódios da vida conjugal - e, como o título indica, sexual -, rege-se sempre por uma sobriedade assinalável, mantendo-se longe de cenas "sórdidas" e "escaldantes", provando que muitas vezes a sugestão funciona melhor do que a revelação, sendo graficamente discreto.

Recusando de dramatismos telenovelescos e demonstrando maturidade na caracterização das personagens - o elenco é também exemplar na transmissão de realismo -, este é um bom filme sobre adultos e para adultos, algo que não vai chegando muito ao grande ecrã, e que por isso merece não passar despercebido.

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

segunda-feira, outubro 01, 2007

DIA MUNDIAL DA MÚSICA



Os Cansei de Ser Sexy dizem mais ou menos o que acho (enfim, a parte em português já não subscrevo tanto). Bom dia e bons sons :)

From all the drugs the one i like more is music
From all the junks the one i need more is music
From all the boys the one I take home is music
From all the ladies, the one I kiss is music
Music is my boyfriend
Music is my girlfriend
Music is my dead end
Music's my imaginary friend
Music is my brother
Music is my great grand daughter
Music is my sister
Music is my favorite mistress

From all the shit the one I gotta buy is music
From all the jobs the one I choose is music
From all the drinks I get drunk of music
From all the bitches the one I wanna be is music
Music is my beach house
Music is my hometown
Music is my king size bed
Music's where I meet my friends
Music is my hot hot bath
Music is my hot hot sex
Music is my backrub
My music is where I'd like you to touch

Claro que sim, fui escoteira mirim
direto da escola não não ia cheirar cola
nem basquete, pebolim
o que eu gosto não é de graça
o que eu faço não é faaarsaaa
tem guitarra, bateria, computador saindo som
alguns dizem que é mais alto que um furacão

Perto dele eu podia sentir
saía de seu olho e chegava em mim
sentada do seu lado eu queria encostar
faria o Tigela até o sol raiar
debaixo do lençol ele gemia em ré bemol
fiquei tensa, mas tava tudo bem
tudo bem
ele é fodão mas eu sei que eu sou também
ele é fodão mas eu sei que eu sou também
ele é fodão mas eu sei que eu sou também
ele é fodão mas eu sei que eu sou também
ele é fodão mas eu sei que eu sou também

"Music Is My Hot Sex", Cansei de Ser Sexy

BLINKS & LINKS

Obrigado aos responsáveis pelos blogs Conspirasons, Esperrinha, LOLST, Luís Soares, Mr Robinson, Penso Sonoro e Stolen Ideas por me blinkarem ;)