Olhando apenas para o título, a sinopse e demais formas como "Super Baldas" (Superbad) tem sido promovido, julgar-se-ia que esta é mais uma banal comédia sobre e para adolescentes, assente nas mesmas piadas rasteiras que têm sido reaproveitadas em múltiplos derivados que brotaram como cogumelos depois do êxito de "American Pie - A Primeira Vez".
No entando, este filme até é menos devedor dessa saga teen criada por Paul Weitz do que dos trabalhos que o produtor Judd Apatow tem assinado, tanto para cinema como, e sobretudo, para televisão, ou não tivesse sido o realizador de "Virgem aos 40 Anos", comédia mainstream convincente q.b., e da série de culto "Freaks and Geeks", uma das melhores a abordar o universo da adolescência em muitos anos. Depois dessa, Apatow esteve na origem de outra, menos brilhante embora ainda meritória, "Undeclared", sobre um grupo de estudantes universitários, em que Greg Mottola colaborou como realizador e cuja influência se reflecte neste seu segundo filme.
Não é que "Super Baldas" não recorra, até com alguma frequência, a um humor algo alarve e grosseiro, mas distingue-se de inúmeros subprodutos ao evitar ser um mero cabide de gags pois conta com personagens e situações minimamente trabalhadas, onde a comédia nem sempre é disparatada e gratuita.
O filme centra-se nos últimos dias do liceu de dois losers, Evan, tímido e cauteloso, e Seth, desbocado e mais imaturo, que antes de irem para a universidade têm a missão de fornecer as bebidas (alcoólicas) a uma festa de final do ano lectivo. Como são menores de idade, têm de recorrer ao auxílio do único colega mais nerd do que eles, Fogell, cujo bilhete de identidade falso promete fazer maravilhas. Claro que nem tudo corre como esperado e, no meio de uma série de entraves, arriscam-se a ficar sem bebidas nem festa, cenário que ameaça aumentar a humilhação de que já são alvo habitual.
No meio de episódios conturbados com a polícia ou bêbados enraivecidos, o mais difícil para os dois protagonistas nem é tanto superar estes imprevistos mas fazer com que a amizade sobreviva, já que a noite lhes reserva também algumas revelações e verdades difíceis de digerir.
"Super Baldas" retrata eficazmente, e de forma divertida, situações típicas da amizade masculina na adolescência, assim como o despontar (ou, no caso, explosão) da sexualidade, para a qual contribuem muito os desempenhos de Jonah Hill e Michael Cera (conhecido pela aclamada série "Arrested Development"), duas jovens promessas com óbvio talento para a comédia. Christopher Mintz-Plasse, que tem aqui a sua estreia como actor na pele de Fogell AKA McLovin, não lhes fica atrás, e sai-se bem na tarefa de encarnar uma das personagens mais desconcertantes e irresistíveis do ano.
Vale a pena ver o filme para comprovar o empenho deste trio, mas é pena que noutros aspectos "Super Baldas" não seja tão conseguido, em particular nas cenas com dois polícias que redescobrem a rebeldia e cujo tempo de antena é excessivo, gerando os momentos de humor mais vulgares. Um dos agentes é interpretado por Seth Rogen (protagonista de "Um Azar do Caraças", o mais recente de Judd Apatow), que aqui assume também funções de co-argumentista e, ironicamente, desempenha uma das personagens menos interessantes.
Outro elemento que debilita o filme é a duração, que quase chega às duas horas e obriga a esticar o argumento com palha narrativa que suscita algum cansaço (reforçado pela realização indistinta e televisiva de Greg Mottola). O facto desta ser uma história já vista não seria problemático se o resultado fosse coeso, até porque há personagens para isso, mas há também demasiadas situações redundantes e supérfluas que não chegam a ser totalmente compensadas pelos muito inspirados minutos finais, onde se atinge uma densidade emocional inesperada (ou talvez não tanto, já que se aproxima da sensibilidade de Apatow em "Freaks and Geeks").
A última sequência, tão ambígua quanto tridimensional, é um achado que diz muito sobre o fim da adolescência e a entrada na idade adulta, e lamenta-se que "Super Baldas" não conte com muitas ao nível dessa, fazendo-se passar por mais um filme parvo (que não é). Assim fica-se com uma obra desigual, até um pouco frustrante tendo em conta o talento envolvido, embora plenamente satisfatória quando comparada com as restantes comédias (sobretudo juvenis) que costumam estar em cartaz.
E O VEREDICTO É: 2,5/5 - RAZOÁVEL