Na altura do seu lançamento nos EUA, em Janeiro de 2006, "Bubble" tornou-se mais mediático pela vertente inovadora da sua distribuição do que propriamente pelo seu valor enquanto filme.
Alvo de uma estratégia incomum, a película foi disponibilizada nos cinemas, na televisão em DVD com intervalos de poucos dias, numa atitude ousada por parte de Steven Soderbergh que sugere uma nova lógica de mercado.
Se o cineasta já era conhecido pelo seu percurso imprevisível e experimental, cimenta ainda mais esse estatuto, reforçado pelo facto do filme ter sido rodado em vídeo digital de alta definição, de contar com actores não-profissionais e de ser o primeiro de uma série de seis que serão produzidos e distribuídos da mesma forma.
Não é a primeira vez que Soderbergh gera um filme de baixo orçamento, uma vez que quer a sua aclamada estreia, "Sexo, Mentiras e Vídeo", quer outros projectos seguintes, caso de "Full Frontal - Vidas a Nú", não poderiam estar mais longe de produções com somas astronómicas. O segundo, contudo, pouco mais era do que um home video em que o realizador se divertia com estrelas como Julia Roberts ou Brad Pitt, um objecto curioso mas tão inane como o mais rentável e popular "Ocean's Eleven", exercício de estilo cujo cast de luxo não compensava a falta de substância.
Alvo de uma estratégia incomum, a película foi disponibilizada nos cinemas, na televisão em DVD com intervalos de poucos dias, numa atitude ousada por parte de Steven Soderbergh que sugere uma nova lógica de mercado.
Se o cineasta já era conhecido pelo seu percurso imprevisível e experimental, cimenta ainda mais esse estatuto, reforçado pelo facto do filme ter sido rodado em vídeo digital de alta definição, de contar com actores não-profissionais e de ser o primeiro de uma série de seis que serão produzidos e distribuídos da mesma forma.
Não é a primeira vez que Soderbergh gera um filme de baixo orçamento, uma vez que quer a sua aclamada estreia, "Sexo, Mentiras e Vídeo", quer outros projectos seguintes, caso de "Full Frontal - Vidas a Nú", não poderiam estar mais longe de produções com somas astronómicas. O segundo, contudo, pouco mais era do que um home video em que o realizador se divertia com estrelas como Julia Roberts ou Brad Pitt, um objecto curioso mas tão inane como o mais rentável e popular "Ocean's Eleven", exercício de estilo cujo cast de luxo não compensava a falta de substância.
Versátil e desigual, a filmografia de Soderbergh contém, no entanto, objectos mais desafiantes, e felizmente "Bubble" é um deles, já que por detrás de todo o aparato do lançamento encontra-se de facto um trabalho consistente.
Alicerçado no quotidiano de três operários de uma fábrica de bonecas algures no Ohio, o filme segue a sua rotina diária, marcada pela apatia e falta de perspectivas, e a rede de relações que se se desenvolve entre o trio.
Martha, uma quarentona obesa e solitária, divide o seu tempo entre o pai paralítico, de quem cuida, e o trabalho, onde praticamente só contacta com o tímido e circunspecto Kyle, cerca de 20 anos mais novo, que vive em casa da mãe enquanto poupa dinheiro para mudar de vida. A relativa proximidade dos dois colegas é ameaçada quando Rose, a nova e enigmática operária, começa a almoçar com eles, levando a que Martha se sinta cada vez mais ignorada e subestimada.
Se a partir daí o dia-a-dia se torna mais claustrofóbico, a tensão aumenta quando ocorre um homicídio na noite em que Kyle e Rose saem juntos e Martha toma conta da pequena filha da sua mais recente colega (e rival).
Mais do que relatar as peripécias de um triângulo amoroso ou do que se esgotar nos modelos de suspense whodunit, "Bubble" ofecere um seco, duro e muito pessimista retrato da falta de esperança de figuras white trash da América profunda.
Alicerçado no quotidiano de três operários de uma fábrica de bonecas algures no Ohio, o filme segue a sua rotina diária, marcada pela apatia e falta de perspectivas, e a rede de relações que se se desenvolve entre o trio.
Martha, uma quarentona obesa e solitária, divide o seu tempo entre o pai paralítico, de quem cuida, e o trabalho, onde praticamente só contacta com o tímido e circunspecto Kyle, cerca de 20 anos mais novo, que vive em casa da mãe enquanto poupa dinheiro para mudar de vida. A relativa proximidade dos dois colegas é ameaçada quando Rose, a nova e enigmática operária, começa a almoçar com eles, levando a que Martha se sinta cada vez mais ignorada e subestimada.
Se a partir daí o dia-a-dia se torna mais claustrofóbico, a tensão aumenta quando ocorre um homicídio na noite em que Kyle e Rose saem juntos e Martha toma conta da pequena filha da sua mais recente colega (e rival).
Mais do que relatar as peripécias de um triângulo amoroso ou do que se esgotar nos modelos de suspense whodunit, "Bubble" ofecere um seco, duro e muito pessimista retrato da falta de esperança de figuras white trash da América profunda.
Tão cru e cortante como muitos dos filmes do movimento Dogma 95, dos quais se aproxima pelo seu carácter lo-fi (as casa e roupas são as dos próprios actores, os diálogos são improvisados, o recurso à banda-sonora é escasso), o filme desenvolve-se a um ritmo moroso, mas estranhamente hipnótico, edificando uma sufocante aura realista onde predominam também traços do cinema documental.
Os recorrentes planos fixos e a atenção ao detalhe, aliados à determinante - e brilhante - prestação dos actores (ninguém diria que Debbie Doebereiner, Dustin James Ashley e Misty Dawn Wilkins são amadores), contribuem também para que "Bubble" se distinga enquanto um sóbrio, inteligente e desconfortável estudo de personagens, que nunca descura a complexidade humana.
Soderbergh, que para além da realização tem aqui a seu cargo a montagem e fotografia, assina uma obra que segue, e bem, a política do less is more, onde tudo se joga nos desencantados olhares dos actores e na espontaneidade dos diálogos.
Dispensando moralismos e optando por um olhar clínico, "Bubble" não é um objecto extraordinário mas tem a vantagem de se afastar do experimentalismo oco e auto-indulgente presente em parte da filmografia do realizador, afirmando-se como uma recomendável proposta indie, ainda que dificilmente gere consensos.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
8 comentários:
é isso mesmo. quotidiano angustiante reflectido em pessoas sem expressão, qual bonecas de borracha.
Sim, eram todos bastante inexpressivos, que era precisamente o que os papéis pediam. Confesso que esperava menos do filme.
achei-o um pouco minimalista demais, resultando numa experiência cinematográfica um pouco degradada, mas é uma proposta interessante do realizador...
H.: Julgo que era uma ante-estreia, por isso mais tarde ou mais cedo deve estar aí nas salas.
membio: É minimalista, sim, mas resulta, o tipo de realização é apropriado à história que se conta.
Por acaso, um dos últimos filmes que vi foi o Soderbergh's "Solaris". Gostei bastante. Espero não perder este novo. E, Gonçalo,apesar de teres descascado noutros, ainda bem que nesta crítica não li palavras maldosas contra o Palma de Ouro de 89 porque... é 1 filmaço do camandro!:P
Por acaso não gostei muito do "Palma de Ouro de 89", mas isto sou eu... :P
Mas isto (já) teve estreia em Portugal ?
Abraço
Não, teve ante-estreia no Lisbon Village Festival.
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