Apesar de ter tido uma estreia discreta e sem grande aparato promocional, “Um Refúgio no Passado” (In My Father’s Den) é um filme que merece alguma atenção, uma vez que é mais um bom exemplo da cinematografia neo-zelandeza, que apesar de ser pouco mediática já proporcionou uma série de entusiasmantes surpresas.
Esta estreia de Brad McGann nas longas-metragens – realizador que conta apenas com breves experiências no documentário e curtas -, mesmo expondo alguns desequilíbrios, é uma obra sóbria e intrigante, combinando elementos do drama familiar e do thriller para gerar um híbrido estranho, por vezes difícil, mas bastante meritório.
“Um Refúgio no Passado” começa com o regresso de Paul, um premiado fotógrafo de guerra, à sua terra-natal, uma pequena povoação na Nova Zelândia. Após mais de uma década de ausência, a viajar entre continentes, o protagonista revisita o local onde cresceu para marcar presença no funeral do seu pai.
Nos dias que se sucedem à cerimónia, Paul permanece mais alguns dias, visitando espaços que lhe foram familiares, revivendo memórias quase esquecidas e reencontrando o seu irmão, Andrew.
Nos seus passeios, o fotógrafo regressa a um refúgio do seu pai e conhece Celia, uma adolescente com a qual partilhará interesses, perspectivas e ideiais, desenvolvendo uma súbita mas forte relação de amizade.
Realista, inquietante e imprevisível, “Um Refúgio no Passado” é um filme irregular mas com uma vibração incomum, proporcionando uma narrativa não-linear e destacando-se assim não só pelo argumento complexo, mas sobretudo pela forma como este é apresentado.
Os primeiros 20/30 minutos da película não são especialmente cativantes, decorrendo a um ritmo lento e monótono, com cenas que oscilam entre personagens mas nunca desenvolvem nenhuma. Contudo, este processo revela-se necessário para que a peculiar aura do filme se adense progressivamente, e aos poucos o protagonista e aqueles que o rodeiam tornam-se mais interessantes, ainda que sempre enigmáticos.
A languidez da narrativa, que se estranha nos momentos iniciais, acaba por se revelar apropriada para os acontecimentos que o filme foca, sendo determinante para o surgimento de uma atmosfera densa e envolvente, para a qual contribuem também a belíssima fotografia (as paisagens naturais ajudam) e a recomendável banda-sonora (“Horses”, de Patti Smith, é uma referência fulcral, mas há ainda canções de Mazzy Star ou dos Turin Brakes).
“Um Refúgio no Passado” é um perspicaz olhar sobre uma série de questões, originando uma teia onde a solidão, a amizade, o suicídio ou o incesto se fundem, oferecendo um melancólico retrato da falta de comunicação, dos segredos que atormentam o (aparentemente) pacato dia-a-dia das comunidades rurais ou da intolerância face à diferença.
Exibindo alguns paralelismos com “A Balada de Jack & Rose”, de Rebecca Miller, e com o conterrâneo “Salto Mortal”, de Cate Shortland, esta estreia de Brad McGann marca ainda pelas ambiências etéreas e pela sólida direcção de actores, com destaque para a soberba dupla de protagonistas constituída por Matthew MacFadyen e Emily Barclay, dois nomes a reter.
O desinteresse de algumas cenas algo dispersas e dispensáveis e as mais de duas horas de duração não permitem que o que “Um Refúgio no Passado” tem de bom o tornem num grande filme, mas também não impedem que esta seja uma obra respeitável e acima da média. Por isso, vale a pena descobri-la...
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
3 comentários:
Pelas análises que tenho lido parece-me ser um bom filme. Mas ainda não fui convencido a vê-lo..LOL. Bela análise Gonn1000 (quando vir o filme depois digo alguam coisa). See ya!
Então vai vê-lo em vez de andares a perder tempo com filmes do Ron Howard LOL (mas enfim, o "Cinderella Man" até é aceitável...).
Então aproveita para ir espreitar este, se puderes... Não está em muitas salas, mas vale a pena :)
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