Uma das figuras que, goste-se ou não, marcou a música dos anos 90, Marilyn Manson chocou ou entusiasmou através de uma imagem singular e minuciosamente trabalhada, que embora evidenciasse referências conseguia, ainda assim, marcar pela diferença.
A sua discografia tem apresentado um conjunto de temáticas onde a violência, a morte, a religião, a fama ou o sexo se entrelaçam, gerando reflexões ou retratos das sociedades de hoje, devidamente carregados de bizarria e, por vezes, um humor cáustico e cortante.
Desde os dias mais marginais de “Portrait of an American Family”, de 1994, passando pelo marcante “The Antichrist Superstar”, dois anos depois, ou por “The Golden Age of Grotesque”, de 2003, que a banda – ou o artista, afinal a face mais visível desta – tem enveredado por territórios sonoros entre o gótico, o metal e o industrial, mas o seu álbum mais atípico – e provavelmente o mais interessante -, “Mechanical Animals”, de 1998, não evita contaminações da pop ou do glam rock, e reforça ainda a carga electrónica que já se encontrava em registos anteriores mas de forma mais discreta.
Para a considerável mudança das sonoridades de “Mechanical Animals” face aos trabalhos anteriores da banda não terá sido alheia a cisão da colaboração com Trent Reznor, dos Nine Inch Nails, cuja marca pessoal era bem evidente em “Antichrist Superstar”, mas em contrapartida o grupo colabora aqui com Billy Corgan – embora este tenha sido, supostamente, apenas um consultor – e o produtor Michael Beinhorn.
As alterações no trabalho de produção são notórias, uma vez que Beinhorn não aposta tanto nas texturas densas e sujas que caraterizaram o grupo até então mas antes torna os ambientes mais polidos e acessíveis, à semelhança do que fez no brilhante “Celebrity Skin”, das Hole, que produziu no mesmo ano (e que, curiosamente, também contou com a colaboração de Corgan).
Assim, “Mechanical Animals” é um disco que, muitas vezes, contém atmosferas surpreendentemente calmas, tendo em conta as sonoridades a que a banda é mais frequentemente associada, como em “Disassociative” e “The Speed of Pain”, duas baladas desencantadas, ou na atípica mas envolvente “Fundamentally Loathsome”.
Ainda há, no entanto, vários momentos carregados de adrenalina, como o visceral “Posthuman”, o igualmente dinâmico “Rock is Dead” ou o portentoso “User Friendly” (com um corrosivo olhar sobre as relações actuais, bem expresso em frases como “I’m not in love but I’m gonna fuck you ‘til somebody better comes along”).
Mesclando o synth-pop da década de 80 com o rock industrial dos anos 90, recuperando traços do glam de 70 e até pontuais traços de gospel (como em “I Don’t Like the Drugs (But the Drugs Like Me)”), “Mechanical Animals” não esconde influências de David Bowie, Nine Inch Nails (que em “The Fragile” e “With Teeth” percorreriam ambientes não muito distantes), Gary Numan, The Cure ou New Order – exibindo ainda pontos de contacto com “TheFutureEmbrace”, de Billy Corgan -, mas sabe readaptar essas sonoridades para originar um álbum coeso e estimulante (embora um pouco longo).
Mesmo que se tenham reservas quanto à relevância ou interesse de Marilyn Manson, este é um disco digno de nota e um dos mais coesos da sua irregular discografia, mantendo-se ainda actual e recomendável.
23 comentários:
A capa dos disco faz-nos pensar que ele (?) é uma gaja, mas não é.. Ou é? Medo, muito medooo, eh eh!
Ele estava mesmo inspirado quando fez isto! - não lhe tenho ligado aos últimos trabalhos. Tenho o Antichrist Superstar e este M.A., e é realmente surpreendente o disco. A electrónica faz maravilhas! A Fundamentally Loathsome é talvez a melhor do disco e contem talvez o melhor solo que já vi na minha curta vida.
Be Well
para mim este gajo devia ser morto já....
desculpem lá....
O disco é bom sim senhor, surpreendeu-me bastante quando o ouvi, não esperava de vir a gostar dum disco dos Marilyn Manson ,mas gosto deste disco e não tenha vergonha de o dizer!
Acho que onde o Billy Corgan entra (mesmo que muito sbtilmente como aqui) se faz luz!
Mas é verdade que de resto, Marilyn Manson tem perdido cada vez mais originalidade e perdeu um belo baixista, Jeordie White (que hoje em dia se move entre os A Perfect Circle e Nine Inch Nails).
Sempre gostei bastante da música dos Marilyn Manson, em particular este 'Mechanical Animals': os singles 'I Don't Like The Drugs' e 'Rock Is Dead' são grandes malhas. Ainda gosto mais de ver o quão simples e normal Marilyn Manson é nas entrevistas, contrariamente à sua atitude em palco.
Antichrist Superstar e este M. Animals são dois trabalhos fundamentais no rock dos anos 90, até pela reinvenção/evolução que cada um deles teve em relação ao anterior. O problema é que a partir daí foi sempre downhill...
André Batista: Ah, mas não julgues um disco pela capa, embora a deste seja muito boa...
Turat Bartoli: Sim, também gostei do modo como a electrónica foi usada aqui, pena que não tenha tido continuidade...
Dedos Biónicos: Pois, ele nunca foi muito consensual, tás desculpado lol
Spaceboy: Vá lá, desta vez não disseste que o disco só era bom por cauda do Billy :P
Pedro Quintino: Yup, a atitude nas entrevista é surpreendentemente "normal"...
kimikkal: Percebo a importância do "Antichrist Superstar", mas não é um disco que me convença inteiramente, prefiro o "Mechanical Animals". Mas sim, os álbuns seguintes são menos inspirados, especialmente "The Golden Age of Grotesque", muito fraquinho...
Concordo, é um disco a (re)descobrir...Hasta ()
Digam o que disserem...eu gosto de ouvir Marilyn Manson :)!
Cumps. musicais
Eu já gostei mais, mas continuo a ouvir este disco...
MArylin Manson tem um conceito, que pretende chocar e ir contra muito do que tomamos como adquirido, e o que está pré-estabelecido. Só isso, por si só, é fascinante.
Quando o vi pela primeira vez fiquei mesmo chocado! Não sabia que existiam pessoas assim. Mas depois de o ouvir falar percebi a pessoa inteligente que existia e o conceito original que estava por trás.
Em relação à música, tal como o próprio conceito, é arrojada e pretende chocar, destruir o pré-estabelecido e também rockar.
Ele é um homem muito consciente, interessante - quem não se lembra de o ter ouvido falar com tanta pertinência no documentário de Michael Moore, Bowling for Columbine - e que tem aquele conceito com um propósito bastante interessante.
Sou fã, até certo ponto. Grandes músicas e videoclips impressionantes, mas eficazes.
ABRAÇO, JT
Este gajo não é aquele que arrancou uma costela para fazer umas "coisitas" a si próprio?
Mas eu também curto as músicas dele. Os videoclips é que roçam um pouco o macabro, mas vendo bem até são artísticos. Com boa fotografia, cenografia...
serEmot: Sim, quando o descobri há uns dez anos também fiquei um pouco chocado com a sua imagem, mas creio que hoje em dia as suas tentativas nesse sentido já não são tão conseguidas e a sua excentricidade visual desgastou-se.
Brain-Mixer: Eheh... Ao que parece, isso era só um boato. Mas sim, tens alguns videoclips muito bons, reconheça-se...
Marilyn Manson sempre foi um músico que não liguei devido ao seu marketing um pouco brutal demais para o meu gosto... gostei do "beautiful people" e do "rock is dead", nunca me interessei pelo resto, agora lendo o teu post decidi investigar um pouco mais e vou dar uma hipótese ouvindo os seus albuns todos :) Marilyn Manson prá veia!!!!!!
O Velho: Marketing? Com certeza que terá algo - ou muito - a ver com isso, não creio a imagem seja trabalhada assim só por acaso... Pena que não tenha conseguido renovar-se ultimamente...
membio: Eheh... Acho que fazes bem, considero a discografia desequilibrada mas penso que encontrarás algo que te agrade:)
acho que o marilyn manson é dos tipos mais inteligentes do rock e não só. gere o marketing à volta dele da melhor forma, não se contradiz, tem um discurso organizado.
este álbum é o único álbum que tenho dele, porque é o único que achei que valesse mesmo a pena comprar. se bem que gosto mt da "man that you fear" do album anterior. mas este é fantástico.
Concordo, é o único que vale a pena comprar, se bem que o "Antichrist Superstar" também tem alguns momentos muito bons.
falem bem ou mal de mariyn; ele sempre sera assim otimo cantor. sempre revirando o belo mundo do ROCK,e renovando todos os estilos.quero que continue assim pois como ele nao tem igual!!!! MARILYN MANSON EU AMO MUITO VOCE!!! VOCE E O MAXIMO
Já teve óptimos momentos, mas os últimos discos têm sido pouco entusiasmantes...
oh pah! lol venero este album do Marilyn...e sim gosto dele, podem dizer o q kiserem, o trabalho é notavel a personalidade ou q o q deixa d fazer...isso nao interessa! é uma pessoa inteligente e sabe o que faz...
nao sabia era q o meu Corgan tinha participado neste album...é q ate me vou deitar mais feliz, so de pensar q amo este album q tinha d ter a participaçao do meu amor!! pa bigada!
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Pois é, a ajuda do Corgan dá sempre jeito (enfim, há os Zwan mas adiante...), e não sei se foi por ele ou não, mas este é o meu disco preferido do Marilyn Manson.
sem duvida é o meu preferido dele, desde que o ouvi em 1998/1999 ja nao sei ao certo, ha faixas que nao me dizem mto, mas a maior parte diz bastante, exemplo d minha predilecta do album a "fundamentally loatshome"!
depois la esta, Corgan no seu melhor...acho que foi o toque de genio sim!
quanto a zwan para mim foi cmo se nao tivessem existido, tanto cmo uma vez li ele dizer tambem..enfim ate os maiores genios tem falhas!! errar é humano =)
Não sei até que ponto é que o Corgan colaborou, mas acredito que tenha sido uma boa influência, sim.
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