quinta-feira, setembro 22, 2005

ENSAIO SOBRE A VINGANÇA

Um dos filmes orientais mais elogiados dos últimos anos – vencedor do Grande Prémio do Júri na edição de 2004 do Festival de Cannes, por exemplo -, “OldBoy – Velho Amigo” é o segundo tomo da trilogia da vingança do sul-coreano Park Chan-Wook, iniciada com “Sympathy for Mr. Vengeance”, de 2002 (que não chegou a salas nacionais).

Oh Dae-Su chega ao fim de uma aparentemente normal noite de boémia já sob os efeitos do álcool, mas estaria longe de imaginar que uma situação destas não voltaria a ocorrer tão cedo, e menos ainda que não reencontraria a sua mulher e filha, pelo menos nos próximos anos, uma vez que é raptado e encarcerado num pequeno quarto de hotel por motivos que desconhece.

Contudo, esse estado de súbito aprisionamento, angustiante e misterioso, prolonga-se por quinze anos, durante os quais Oh Dae-Su não contacta com ninguém (excepto com alguns indivíduos que lhe levam a comida) e só toma conhimento do mundo exterior através da televisão.
Após mais de uma década de reclusão forçada, o protagonista é finalmente libertado, tendo então apenas um motivo que orienta a sua existência amargurada: vingar-se daquele que o condenou a um longo martírio e lhe destruiu a vida.
Com base nesta premissa, “Oldboy – Velho Amigo” segue os cinco dias infernais que se sucedem à ansiada liberdade de Oh Dae-Su, onde este inicia uma jornada pela qual esperava há vários anos.

Park Chan-Wook apresenta um filme intenso e efervescente, com momentos de uma violência explícita e brutal, marcada por um considerável sadismo e requintes de malvadez.
Comparado a “Kill Bill: A Vingança”, de Quentin Tarantino, “Oldboy – Velho Amigo” exibe, à semelhança deste, largas doses de humor negro e cenas de violência estilizada, mas as atmosferas da película de Wook são mais doentias e claustrofóbicas e não apostam tanto numa amálgama de referências da iconologia pop.

Visualmente estimulante, o filme capta eficazmente o negrume dos ambientes urbanos, com contrastes de cores e texturas que mesclam traços das estéticas de David Fincher e Wong Kar-Wai, mas a absorvente banda-sonora é igualmente decisiva para complementar a visceralidade e energia cinética de muitas sequências.

Embora seja uma obra interessante, “Oldboy – Velho Amigo” só atinge um patamar superior na recta final, quando as motivações do antagonista de Oh Dae-Su são reveladas e geram momentos de grande impacto dramático.
Até aí, o filme motiva e inquieta mas não chega a conquistar por completo, pois apesar de contar com um ponto de partida curioso não se afasta muito de uma convencional estória de vingança (contada com competência formal mas sem golpes de génio, que só surgem na última meia-hora).

O estilo é conseguido e inatacável, mas em termos de impacto emocional o resultado é mais desequilibrado, e o facto de nenhuma personagem não gerar especial empatia também não ajuda.
Um filme a (re)descobrir, mesmo assim, ainda que o epíteto de “obra-prima” seja excessivo para designar um título meritório, mas longe de indispensável.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

22 comentários:

brain-mixer disse...

Ainda não vi! ArgH!! E todos dizem bem dele.

gonn1000 disse...

Não viste? Ó Brain, nem parece teu :P (também não perdes assim TANTO)

Ricardo disse...

Viva,

O filme deixou-me incomodado e isso é positivo. Tem momentos desequilibrados, admito, mas é uma pedrada no charco nos filmes anti-sépticos que Hollywood gosta de vender.

Abraço,

magnolias_forever disse...

huumm.. gosto do cartaz!

Unknown disse...

Hey Gonn100000 :) Eich!! Já há tanto tempo :P! Cá estou eu de volta ao mundo blogosférico e a visitar com café e bolachas os meus blogs preferidos e obrigatórios, como o teu (graxa qb, LOL). Passaste quase 3 semanas só a postar sobre filmes! Então e a música? Huh! (Kraakinho a implicar, LOLL).

Abração grande de regresso

gonn1000 disse...

Ricardo: Sim, tem momentos desconfortáveis, como o da revelação final, mas esperava mais...

magnolias_forever: O filme tem vários cartazes, e são todos intrigants q.b.

kraak/peixinho: Pois é verdade, o cinema tem tido maior predominância, mas só até começarem os concertos de Outubro/Novembro :D
Welcome back, tudo fish? :P
Cafezinho e bolachinhas, hein? Grandes vidas...

The Stranger disse...

Bahhh...é uma obra-prima, e mai'nada ! Tens que ser sempre do contra !

:-P

Anónimo disse...

simplesmente isto : é um dos melhores filmes do ano. tarantino bem o disse!!

Anónimo disse...

Yup, concordo com o André. É o segundo melhor filme do ano (de filmes estreados em 2005, em Portugal). Obrigatório! Tem de tudo: comédia, drama, cenas de luta, cenas românticas...

Cumps. cinéfilos

gonn1000 disse...

Duarte: Já chegaste a ver a nova série dos morangos? Que tal, gostaste tanto como da anterior?

André Batista: É relativo :P

SOLO: E o primeiro seria...? Ah ok, o do Clint (também não concordo, mas ok).

Daniel Pereira disse...

Gostei mais do filme do que tu, mas até concordo contigo. Simplesmente, a primeira parte fascinou-me mais do que a ti.

gonn1000 disse...

Se o hype não fosse tão grande, talvez não esperasse tanto, mas valeu a pena, mesmo assim...

playlist disse...

Infelizmente ainda não vi o filme!!tenho mesmo que ver.
abraço

gonn1000 disse...

Não é essencial, mas recomenda-se...

Francisco Mendes disse...

Obra-Prima? Ah pois é... e de k maneira!! :P
Viste-o em DVD não? LOL Isso representa a sombra da sua imponência! Mas tudo bem...

A brutalidade extrema do filme transpõe o mero plano físico e visual, e a deterioração emocional das personagens envolvidas amotina num plano anímico. É uma peculiar mescla de mel e fel, de beleza e abominação, de amor e horror. O filme aprofunda a ambiguidade do espírito humano e respectiva fragilidade quando corrompido pelos danos inerentes ao sentimento de perda e consequente desejo de vingança.

gonn1000 disse...

Não, vi-o no cinema, em toda a sua "imponência" :)
E pronto, parece que discordo da maioria, resta-me ver os outros dois filmes da saga para ver se dairo mais...

Anónimo disse...

Esse mesmo, Gonçalo. Mas é só a minha opinião :).

Cumps.

gonn1000 disse...

Ok with me :)

gonn1000 disse...

Sim, a última meia hora, em especial, dá que pensar, é um portento de violência física e psicológica...

Roberto Iza Valdés disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Uma macacada com o intuito de levar algum dinheiro para as terras do oriente... é como se pode descrever esse filme. Para quem leu "Os Maias" e "O Conde de Monte Cristo" o argumento não tem nada de novo a oferecer, até a imagem pausada com grafismo lento foi roubada de outros filmes como "Pulp Fiction"... aconselho vivamente a porem alguma leitura em dia se quiserem deixar de olhar para isto como abébias incapazes de fazer um raciocínio crítico suficientemente abrangente à temática e à cinematografia do filme... quem só quiser passar o tempo pode ficar de olhos arregalados a apreciar esta grande obra do cinema coreano cujo desenvolvimento vem com um atraso secular para ser apreciado por pessoas mais cultas. Argh...

gonn1000 disse...

Falou e disse...