Com uma filmografia aclamada, onde constam títulos como "Rainha Margot" ou "Intimidade", Patrice Chéreau tem vindo a destacar-se, nas últimas décadas, como um cineasta capaz de proporcionar interessantes olhares sobre o âmago das relações humanas em películas de considerável carga dramática.
"O Seu Irmão" (Son Frère), de 2003, volta a atestar a sua perspicácia na abordagem de questões nucleares, oferecendo um olhar acerca da relação de dois irmãos que, após alguns anos de escassos contactos, voltam a reatar a sua relação devido a um súbito infortúnio.
Depois de lidar durante algum tempo com uma recém-descoberta doença sanguínea sem a revelar à sua família, Thomas decide divulgá-la ao seu irmão mais novo, Luc, com quem já só contactava esporadicamente. Orgulhoso e de temperamento difícil, Thomas torna-se cada vez mais impaciente e nervoso à medida que se apercebe que o seu estado dificilmente melhorará, e assim vai-se apoiando, cada vez mais, em Luc, reforçando uma ligação conturbada mas afinal essencial e determinante para ambos.
Se em "Quem Me Amar Irá de Comboio" Chéreau focava as dores do luto e em "Intimidade" as interligações entre o amor, o sexo e a solidão, em "O Seu Irmão" a acção centra-se no contacto com a doença e os seus efeitos, tanto a nível físico como emocional. No entanto, tal como nesses títulos, o cineasta baseia-se na ideia central e alarga-a, interligando-a com as contrariedades dos laços familiares, a complexidade das relações amorosas ou a ambiguidade sexual.
A realização de Chéreau gera apropriadas atmosferas lúgubres e clínicas, que aliadas a um ritmo pausado, a uma fotografia seca e uma banda-sonora discreta (a única canção presente é “Sleep”, de Marianne Faithfull) contribuem para que o filme contenha uma estranha aura doentia, muitas vezes difícil para o espectador mas bastante verosímil.
Contudo, mais do que a cinematografia, o grande trunfo do filme são mesmo as excelentes interpretações, sobretudo as dos dois protagonistas. Seria difícil escolher actores mais credíveis do que Bruno Todeschini – que, no papel de Thomas, irradia uma convincente revolta e fricção emocional devido ao seu estado de saúde – e Eric - Caravaca – que, encarnando Luc, emana uma calma, altruísmo e ponderação contrastantes com a recorrente tensão do irmão.
A forma como Chéreau retrata a interdependência das duas personagens é notável e comovente, e a energia e vibração do duo protagonista envolve mesmo quando algumas cenas são demasiado longas e redundantes (com certos momentos excessivamente expositivos). De resto, os laços entre Thomas e Luc acabam por sobrepor-se a quaisquer outros que ambos possuem com outras pessoas, nomeadamente à relação com os seus companheiros, Claire e Vincent, respectivamente.
Intenso e claustrofóbico, "O Seu Irmão" é uma obra que, apesar de irregular (prejudicado, principalmente, por uma narrativa um pouco dispersa), é mais um recomendável título da filmografia de Patrice Chéreau e um dos bons dramas que o cinema francês ofereceu recentemente. Dificilmente será para todos os gostos, mas merece ser (re)descoberto.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
13 comentários:
Qual a reputação de Cheréau como cineasta na França?
Não sei ao certo, mas penso que é um realizador estimado.
Hum...não conheço muito do realizador, mas vou investigar.
Cumps. cinéfilos
Eu gostei muito. Estava mesmo para não ir ver, mas à última hora decidi-me. Ainda bem que me lembraste!
SOLO: Ide, ide que vale a pena...
João: Boa, já vi que te deixou inspirado :)
Sim, mas isso também é o que o cinema muitas vezes deveria ser :)
parece-me uma interessante sugestão.
bom texto.
cumprimentos.
Obrigado :)
Fica bem ()
Não conheço. Desconheço. Estou ignorante. Desculpem...
Wow, então, a tua auto-estima foi atacada?? Calma...
É que fiquei desiludido comigo, há coisas que me escapam! Lá vai, lá vai...
LOL...Acontece aos melhores :P
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