quarta-feira, agosto 17, 2005

MAIS UMA FAMÍLIA DISFUNCIONAL

Nos últimos anos, personagens da Marvel Comics têm sido transpostas da banda-desenhada para o grande ecrã de forma regular, e figuras emblemáticas da nona arte são, de resto, uma das novas grandes apostas de Hollywood actualmente (como o confirmam adaptações de ícones de outras editoras, como “Batman: O Início” ou “Sin City – A Cidade do Pecado”).

Assim, era uma questão de tempo até que os heróis de “Quarteto Fantástico” (Fantastic Four) saltassem do papel para a película, uma vez que compõem um dos grupos mais emblemáticos e antigos da Marvel.

Criados pela profícua dupla de Stan Lee e Jack Kirby na década de 60, a equipa distanciou-se de outros super-heróis ao incorporar elementos mais humanos e verosímeis nas suas aventuras, afastando-se um pouco de supra-sumos larger than life como o Super-Homem ou a Liga da Justiça e abrindo espaço para uma maior complexidade emocional.

Um dos elementos essenciais do grupo é relação dos seus elementos, que se comportam como uma família e expõem todas as tensões e dilemas inerentes a estas.
Esta característica viria a ser aplicada por Lee e Kirby noutras das suas criações, como os X-Men ou o Homem-Aranha, que também apresentavam uma densidade emocional incomum nos comics de super-heróis até então, mas para todos os efeitos o Quarteto Fantástico foi a equipa percursora desta inovação.

Mais de 40 anos depois do seu surgimento, “Quarteto Fantástico” torna-se agora num filme (houve um projecto realizado por Oley Sassone, mas foi praticamente ignorado), e apesar de aguardado com alguma expectativa pelos fãs o resultado tem sido alvo de críticas pouco abonatórias, ainda que seja um dos blockbusters mais mediáticos do Verão de 2005.

Contando com um tarefeiro indistinto na realização – Tim Story, cujo filme anterior foi o inane “Táxi de Nova Iorque” – e um elenco de nomes pouco carismáticos, o filme não contém assim bases que joguem muito a seu favor, mas apesar dessa limitação “Quarteto Fantástico” consegue ser uma adaptação bastante escorreita e eficaz, tornando-se num daqueles objectos que surpreendem talvez por não se esperar muito deles.

É certo que a perspectiva adoptada foi essencialmente lúdica e pouco profunda, que os factores da origem dos heróis foram um pouco alterados e que o filme não contém a carga dramática da saga de “Homem-Aranha”, de Sam Raimi; a sofisticação da visão de “X-Men” de Brian Singer; ou a carga intimista e experimental de “Hulk” de Ang Lee.
Contudo, “Quarteto Fantástico” resulta enquanto película de simples entretenimento despretensioso, não se preocupando em desenvolver questões existenciais presentes na maioria dos filmes de super-heróis.

Tim Story oferece um trabalho de realização impessoal, mas competente, conseguindo gerar um ritmo eficaz durante a maior parte da película; as interpretações não impressionam, mas também não envergonham ninguém; e a mistura de comédia e acção é suficientemente convincente.
Não será uma adaptação à altura do potencial que os quatro heróis possuem, mas é francamente mais interessante do que exemplos falhados como “Demolidor”, “Elektra” ou a saga de “Blade”.

De resto, o espírito das personagens é preservado e em alguns casos os actores saem-se especialmente bem, como Chris Evans, que encarna um Johnny Storm/ Tocha Humana irresponsável, egocêntrico e espirituoso q.b., ou Julian McMahon, que compõe um Victor Von Doom/ Dr. Destino apropriadamente sinistro e obsessivo.

O que "Quarteto Fantástico" não contém em densidade dramática é compensado pelo seu valor enquanto entretenimento bem confeccionado, que apesar de seguir o formato convencional dos filmes de super-heróis possui entusiasmo e imaginação capazes de gerar duas horas de diversão (cujos melhores momentos englobam a reacção dos protagonistas aos recém adquiridos poderes e à repentina fama que daí advém).

Quem esperar mais do que isso, no entanto, talvez deva escolher outra película, já que esta não engana ninguém e não é (nem pretende ser) mais do que um filme-pipoca, que mesmo com limitações é um dos blockbusters mais consistentes do Verão de 2005, quanto mais não seja pela gritante debilidade da maioria da concorrência, nada fantástica…

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

14 comentários:

Daniel Pereira disse...

Não é texto para 3/5, mas tu lá sabes (ou não)...

Fica a correcção: o outro filme dos quatro fantásticos é realizado por Oley Sassone. Roger Corman produz, como fez na maioria dos filmes a que está ligado.

gonn1000 disse...

Achas que não?? Hum, eu acho que é, mas creio que para ti não será é um filme de 3/5... Obrigado pela correccção :)

Frankenstakion disse...

Não tinha muitas expectativas acerca do filme talvez por isso não me tenha desiludido. É soberbo se comparado com o vómito da "Guerra dos Mundos".

gonn1000 disse...

Gostei mais da "Guerra dos Mundos", mas esse desiludiu-me um pouco enquanto que "Quarteto Fantástico" foi melhor do que esperava. Sim, as expectativas contam muito...

Anónimo disse...

Eu estou entre a espada e a parede. Se as expectativas altas de Sin City foram recompensadas, as Batman algo duvidosas, ainda mais recompensadas e as de War of the Worlds extremamente altas foram pelo cano abaixo e com este estou com 69 pontos de interrogação em cima da nuca, será possível, que sejam superadas!!! O filme em comparação com I,Robot é bom entretenimento????

gonn1000 disse...

Percebo-te LOL, mas achei este um pouco melhor do que "I, Robot"...

Gustavo H.R. disse...

Parecia-me infantil demais. Não tenho afinidade com as BD originais.
E, de fato, a expectativa conta na hora de balancear os resultados.

gonn1000 disse...

Não é muito complexo, mas também não é tão infantil como eu pensava (embora seja juvenil). O facto de gostar da BD pode ajudar a defender o filme, a nostalgia também conta :)

Daniel Pereira disse...

Li todos os comentários. Estou a aguentar-me.

gonn1000 disse...

LOL... Então, não tenhas má vontade e vai lá ver o filme, para depois poderes comentar (acho que tens medo de gostar:P).

O Puto disse...

Muito, mas muito longe da emoção da BD. Foi uma desilusão para mim. Valha-nos a Jessica.

gonn1000 disse...

Não é "O" filme do "Quarteto Fantástico", mas é um bom entretenimento e as personagens não foram mal adaptadas. Nas mãos de Sam Raimi, Brian Singer ou Ang Lee o resultado seria, provavelmente, superior, mas tendo em conta que a maioria dos filmes deste Verão foram tão desinspirados já me dou por satisfeito...

Daniel Pereira disse...

Não é por causa do "Fantastic Four". Claro que não é.

gonn1000 disse...

Ah, mas olha que a "Guerra dos Mundos" não é assim TÃO bom :P