sexta-feira, julho 22, 2005

QUERIDA FAMÍLIA

Um interessante olhar sobre as relações familiares, “Uma Casa, uma Vida” (Life as a House) é um pequeno drama centrado no difícil relacionamento entre George, um arquitecto frustrado, e Sam, o seu filho adolescente rebelde.

Vitimado por uma doença trágica, George decide evitar a auto-comiseração e passar os últimos momentos da sua vida longe das obrigatoriedades da rotina profissional quotidiana, empenhando-se antes em dedicar-se a algo que realmente o motive e desafie. Assim, aproveita para reconstruir uma casa herdada pelo pai, situada numa baía, e em sedimentar o relacionamento com o seu filho, tornando-o menos conflituoso.

Irwin Winkler oferece um competente trabalho de realização, mas o filme possui algumas das irregularidades que caracterizam outras das suas obras. A sua filmografia não é especialmente estimulante, uma vez que filmes como “A Rede” (um estereotipado e formulaico thriller protagonizado por Sandra Bullock) ou “À Primeira Vista” (um desequilibrado drama sobre a cegueira que pouco mais tinha do que as boas interpretações de Val Kilmer e Mira Sorvino) são títulos que proporcionam escassas doses de inventividade.

“Uma Casa, uma Vida” é, à semelhança dos restantes trabalhos de Winkler, um filme demasiado convencional, raramente arriscando ou apostando em territórios que optem por caminhos já percorridos. Este elemento não é necessariamente negativo, até porque geralmente é elaborado de forma segura e correcta, mas também não suscita grandes rasgos de criatividade.

Por um lado, a película aproxima-se muitas vezes de um indistinto telefilme familiar (certos diálogos formatados, narrativa linear, gestão irregular da tensão dramática com cenas que apelam perigosamente à comoção fácil), por outro, apresenta a espaços traços de algum cinema independente (atmosferas sóbrias e agridoces, ocasionais sequências irreverentes e offbeat, personagens disfuncionais).
A própria banda-sonora evidencia essa dicotomia, assentando na rotineira música de Mark Ishman mas oferecendo, pontualmente, pequenas pérolas indie, como “How to Disappear Compeletely”, dos Radiohead (pelo meio há ainda Limp Bizkit, Joni Mitchell, Marilyn Manson, Violent Femmes ou Deadsy).

De qualquer forma, as personagens são suficientemente absorventes e as interpretações são ainda melhores, factor determinante para que as fragilidades de “Uma Casa, uma Vida” não superem o que de bom o filme contém.
Kevin Kline acrescenta mais um consistente desempenho ao seu currículo (interpretando um protagonista que felizmente evita a tentadora pose de “coitadinho”), Kristin Scott Thomas é igualmente tridimensional e Hayden Christensen encarna com solidez um adolescente verosímil. O elenco inclui ainda promissores jovens talentos em papéis secundários, como Jena Malone (pouco antes da participação em “Donnie Darko”) ou Ian Somerhalder (um dos protagonistas de “As Regras da Atracção”).

Não sendo um filme marcante, “Uma Casa, uma Vida” é um bom melodrama, que apesar de irregular consegue originar uma envolvente perspectiva sobre as relações familiares, a morte, o amor e o crescimento. E, no meio de tantos filmes sem substância, isso já justifica que este se torne num dos que vale a pena (re)descobrir.

E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

4 comentários:

Anónimo disse...

Hum, já tinha ouvido falar do filme. Pode ser que o veja um dia destes.

Cumps. cinéfilos

gonn1000 disse...

Sim, o filme merece que se perca algum tempo com ele :)

Gustavo H.R. disse...

Um filme apenas razoável, com boas atuações de Kline e Thomas. Discordo apenas em relação a Christensen, que aqui parece confuso e choramingão como sempre.

gonn1000 disse...

O Christensen faz o que a personagem pede, e acho que nem se sai mal...E considero que o filme está um pouco acima de apenas razoável, não obstante os defeitos...