Ao sexto disco de originais, um dos nomes mais prestigiados do rock alternativo actual volta a convencer e a acrescentar mais um interessante capítulo a uma relativamente curta, mas versátil, carreira.
Figura ímpar no panorama musical de hoje, PJ Harvey tem conseguido captar as atenções de um público cada vez mais alargado sem nunca perder o respeito dos fiéis seguidores que a elogiam desde o início e a tornaram numa artista de culto. Essa aproximação a cenários mainstream verificou-se sobretudo em "Stories From the City, Stories From the Sea", de 2000, o seu álbum mais acessível, com uma considerável carga pop, mas nem por isso menos desafiante. "Uh Huh Her", o seu sucessor, revela-se menos directo e imediato, voltando a exibir marcas dos registos iniciais da cantora.
O primeiro single "The Letter" acentuou o regresso a um rock ríspido e potente, semelhante a alguns momentos de discos como "Dry" ou "Rid of Me", e parte dos restantes temas do novo álbum - "Who the Fuck", "Cat on the Wall - exibem essa visceralidade presente nos trabalhos de estreia de PJ Harvey. De resto, "Uh Huh Her" revisita muitas das etapas da discografia da artista, apresentando canções que não destoariam em discos anteriores. As etéreas e densas "It`s You" ou "The Desperate Kingdom of Love" relembram episódios do incontornável "To Bring You My Love", a hipnótica e atmosférica "The Slow Drug" revisita os ambientes claustrofóbicos de "Is This Desire?" e as belíssimas "Shame" e "You Came Through" seguem as tonalidades mais melódicas e apelativas de "Stories From the City, Stories From the Sea".
Esta ligação de "Uh Huh Her" a marcas sonoras do passado não esgota, contudo, o disco num mero exercício de "mais do mesmo", uma vez que a maioria dos temas são suficientemente consistentes para ultrapassarem essa limitação. O problema é que, por vezes, o álbum parece demasiado fragmentado e pouco coeso, dada a diversidade de domínios contrastantes das canções. Apesar de sólido, "Uh Hur Her" não consegue, por isso, ser tão forte e contagiante como alguns dos seus antecessores, sendo penalizado por alguma falta de fluidez. Mesmo assim, há por aqui consideráveis doses de surpresa e inquietação que justificam múltiplas audições, comprovando a vitalidade de PJ Harvey e da sua peculiar amálgama de rock, blues, pop, indie e punk.
E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM
4 comentários:
Concordo plenamente com a tua análise. De facto, este último álbum contém muitos (demasiados) pontos de contacto com os trabalhos anteriores, o que o torna mais disperso e menos interessante.
Ia colocar um post no meu blog sobre o disco, mas assim já não é necessário. ;)
Sim, está um pouco abaixo do muito bom "Stories from the City, Stories from the Sea", mas ainda é daqueles discos que se se aguenta bem em diversas audições...
Achas mesmo o RID OF ME semelhante a este album? Eu particularmente não acho (o RID OF ME) parecido com nada que a PJ fez até hoje. É o album mais pesado, mais cru e se tivermos que comparar, acho que o 4 TRACK DEMOS é o que de mais perto pode chegar.Acho este ultimo algo perdido no tempo, disperso e um dos menos interessantes da sua carreira. Isto é mais um daqueles clichés do rock, sempre que o artista resolve produzir o proprio disco, dá nisso.
Acho que há um pouco de todos os discos dela neste último. Não é o melhor que já vez, muito por causa dessa dispersão que referes, mas mesmo assim gostei mais dele do que de "Rid of Me" ou "4-Track Demos", cuja aspereza nunca me seduziu muito.
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