sexta-feira, outubro 29, 2004

NOVOS OLHARES CINEMATOGRÁFICOS

O Segundo Festival de Cinema Documental de Lisboa, a decorrer na Culturgest até ao final de Outubro, tem registado múltiplas sessões esgotadas e destaca-se como uma prova da adesão do público português a novos formatos cinematográficos.

Na programação de ontem, o doclisboa incluiu dois títulos integrados na secção "Foco Sobre Espanha": o olhar de Joaquín Jordá sobre a pedofilia em "De Niños" e ainda "La Espalda del Mundo", de Javier Corcuera, com três retratos que se debruçam nas experiências de trabalho numa pedreira de um grupo de crianças do Peru, nas peripécias de um exilado curdo na Suécia e no sofrimento dos familiares dos condenados à pena de morte nos EUA.

Ambos os documentários foram exibidos em diversas salas de cinema espanholas, comprovando a crescente abertura de nuestros hermanos ao cinema documental, contrariamente à situação que se verifica em Portugal, onde só escassos exemplos do género fazem parte do circuito comercial cinematográfico. Este é, de resto, um cenário que o doclisboa se tem esforçado em contrariar, assinalando a vitalidade e diversidade deste género em expansão.

Outra das secções nucleares do Festival, "Como Entender o Médio Oriente?", foi também alvo de destaque através de duas obras de Omar Amiralay. "Le Plat de Sardinesou La Première Fois que J’ai Entendu Parler d’Israel" e "Il y a Tant de Choses à Raconter" foram os dois títulos do veterano documentarista escolhidos para integrar a programação de ontem, focando a sua visão sobre o conflito israelo-árabe. Da Competição Internacional foram exibidos "Santa Liberdade" de Margarita Ledo Andión, "Untertage" de Jiska Rickels e "La Peau Trouée" de Julien Samani.

O doclisboa, para além de apresentar obras incontornáveis do género documental reconhecidas internacionalmente, compromete-se ainda a divulgar alguns dos exemplos deste formato cinematográfico produzidos por autores nacionais. Um desses casos é "Malmequer, Bem-Me-Quer ou o Diário de uma Encomenda" de Catarina Mourão, cineasta cuja primeira-obra, "Desassossego", foi exibida em 2003 nas salas de cinema nacionais.

Projectado num quase repleto Grande Auditório da Culturgest pelas 18h30m, o novo trabalho da realizadora relata as experiências que Catarina Mourão viveu para gerar um documentário para o canal ARTE. "Malmequer, Bem-Me-Quer ou o Diário de uma Encomenda" é, então, um documentário sobre a rodagem de um outro documentário, que tenta proporcionar um retrato dos jovens lisboetas de hoje.

Neste curioso projecto, Catarina Mourão demonstra alguns dos obstáculos e episódios conturbados que a marcaram durante a elaboração da encomenda, dando conta das cedências e limitações a que um autor é exposto quando se submete a prazos e regras formatadas. Acompanhando os vários passos da realizadora, o filme exibe o confronto entre a liberdade criativa e as directivas impostas pelo canal televisivo, centrando-se ainda num interessante olhar sobre cinco jovens lisboetas que exemplificam a heterogeneidade da juventude actual.

O doclisboa decorre no Pequeno e Grande Auditório da Culturgest até ao próximo domingo, dia 31 de Outubro, com cerca de seis sessões diárias. Terça-Feira, dia 2 de Novembro, serão apresentados os filmes premiados no Grande Auditório às 18h30m e às 21h.

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