Realizadora de um dos filmes mais elogiados de 2004, "Lost in Translation - O Amor é um Lugar Estranho", Sofia Coppola estreou-se na realização há quatro anos com "As Virgens Suicidas" (The Virgin Suicides), um peculiar retrato da adolescência. Um objecto raro e atípico entre os muitos filmes sobre adolescentes que surgiram nos últimos anos, "As Virgens Suicidas" é a subtil e intrigante primeira-obra de Sofia Coppola. Inspirado no livro homónimo de Jeffrey Eugenides, o filme explora a entrada na adolescência e a interligação deste processo de mudança com o desejo, o sonho, a inocência, o sexo e a morte.
Situada nos anos 70, a obra segue as experiências das cinco irmãs Lisbon, reprimidas e controladas pelos pais. Simultaneamente encantadoras e sombrias, as cinco jovens irradiam uma carga etérea e hipnótica, apresentando um comportamento recatado e distinto do da maioria dos colegas. Escapando, na medida do possível, à pressão dos pais, as irmãs descobrem novas formas de perspectivar o mundo, um processo que tem tanto de surpreendente como de inquietante.
Ameaçadas pelo isolamento e falta de comunicação, as jovens criam escassos laços com o ambiente que as envolve, vivendo um quotidiano claustrofóbico onde tentam estabelecer pontos de evasão e fuga (e por vezes conseguem-no, como na brilhante cena da transmissão de música pelo telefone).
Sofia Coppola gera uma atmosfera absorvente, encantatória e enigmática, e apesar do ritmo da narrativa ser lento encontra-se carregado de intensidade e vibração. As subtis tonalidades do trabalho de iluminação, aliadas à insinuante música proporcionada pelo duo francês Air, suscitam adequadas doses de estranheza e fascínio, assinalando um crescendo emocional que conduz ao desconcertante (e inevitável?) desenlace.
O elenco está à altura da serenidade inebriante dos ambientes, com destaque para os meticulosos pais, interpretados por James Woods e Kathleen Turner, e para a mais rebelde e memorável das irmãs, a incandescente Kirsten Dunst.
Pode acusar-se o filme de não explicar as motivações de algumas personagens, deixando muitas questões em aberto, mas a insólita combinação de melancolia e cenários oníricos que caracteriza a aparente calmaria dos subúrbios é mais do que suficiente para conferir um universo próprio (e interessante) à primeira obra de Sofia Coppola.
E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM
1 comentário:
É um bom começo, mas para obra-prima ainda lhe falta um bocado. Mas sim, é um filme bonito e enigmático como poucos.
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