Depois da recente digressão de promoção do disco e DVD "Fácil de Entender", que os levou a actuar por todo o país, os The Gift regressaram, nas noites de sexta e sábado, ao local onde tudo começou há mais de dez anos: Alcobaça.
Estes dois concertos, decorridos no bar Clinic, tiveram a particularidade de serem dirigidos apenas aos fãs mais acérrimos, uma vez que os bilhetes só foram disponibilizados através do site oficial da banda.
Com 150 espectadores por noite (ainda que houvesse cerca de 800 interessados em estar presentes), o grupo apresentou-se num formato mais intimista, devido não só às contingências do próprio espaço (exíguo) mas também às do público, com quem os The Gift partilharam uma química peculiar.
O segundo concerto, no sábado, não registou diferenças de alinhamento em relação ao do dia anterior e percorreu marcos dos três álbuns de originais da banda, assim como os dois inéditos incluídos no registo ao vivo "Fácil de Entender". Um dos primeiros temas da noite foi, contudo, "Summertime", canção que não está disponível em nenhum dos discos. Gravada entre "Film" e "AM/FM", funciona enquanto mais-valia apresentada em ocasiões especiais, segundo o esclarecimento de Nuno Gonçalves. O título deve-se à inclusão de excertos da composição homónima de George Gershwin, e ambas têm ainda em comum tons plácidos e apaziguados que proporcionaram um tranquilo início da actuação.
Não tão tranquilo foi "My Lovely Mirror", que surgiu com arranjos diferentes dos da versão presente em "Vinyl", sendo agora revestido com uma maior carga electrónica e a participação da bateria, que lhe deram maior dinamismo. Os fãs acompanharam a banda desde o início, originando o primeiro de vários momentos eufóricos que condimentaram as duas horas de concerto.
Outros de energia semelhante foram o inevitável "OK! Do You Want Something Simple?", o primeiro single dos The Gift, a deliciosa pérola poppy "Question of Love" ou os mais recentes "Driving You Slow", "11:33" e "Music", três dos mais emblemáticos de "AM/FM", que geraram uma adesão generalizada. Do mesmo disco, foram ainda recordados "Red Light", revestido de texturas e alternando entre episódios de descarga e outros mais serenos, e "1977", numa versão visceral que levou a uma explosão cinética tanto da banda (em particular da vocalista Sónia Tavares) como do público, encerrando o concerto com uma overdose de energia.
"Fácil de Entender", interpretada durante o espectáculo e no encore, foi a mais votada pelos fãs para constar do alinhamento dos dois concertos. Uma escolha inesperada para a banda, que se confessou surpreendida pelo facto de grande parte dos fãs ter privilegiado uma canção tão mediática (embora grande parte do cardápio musical da noite tenha optado também pelos temas mais óbvios, não necessariamente os mais interessantes).
Em "645", o grupo convidou os espectadores a filmarem a actuação e a enviarem os resultados para o SAPO Vídeos, a fim de se criar um videoclip com as melhores imagens recolhidas. Outra das novidades relacionadas com a Internet foi a notícia de que o grupo tem já uma página no Myspace, e lançou o desafio de que esta se torne na mais vista de uma banda portuguesa. Já perto do final da actuação, foi sorteada a The Gift Box, uma caixa inédita com material relativo à banda.
Seguramente memorável para os 150 fãs presentes, que aplaudiram e cantaram de forma incansável, a noite comprovou também - mais uma vez -, que os The Gift são uma aposta ganha ao vivo. Se é certo que o público já estaria conquistado à partida, o grupo não deixou de oferecer uma actuação coesa que justificou o entusiasmo.
O espaço não permitiu que se registasse aqui a sofisticação e perfeccionismo cenográficos que a banda já exibiu noutras ocasiões, assim como a colaboração de mais músicos (estavam apenas seis em palco), mas em contrapartida possibilitou a consolidação de uma aura acolhedora e descomprometida, onde as canções foram alternadas com muitos relatos de episódidos curiosos aos espectadores. A julgar pelas reacções, a troca parece ter valido a pena, e ficou já prometido um novo encontro para o próximo ano, que se suspeita ter já espaço reservado em muitas agendas.
E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM
The Gift - "Driving You Slow"
26 comentários:
Sempre que ouço falar de música portuguesa, só me aparecem os Madredeus, You Should Go Ahead, J.P. Simões e, principalmente, The Gift.
Madredeus não faz meu gênero. Adoro YSGA. J.P. conheço nada e os The Gift devo conhecer só duas músicas. Preciso corrigir essas falhas, afinal se eles são referência é pq algo bom devem fazer, né?
Desses todos que referiste são os que gosto mais, e sim, acho que qualquer álbum deles vale a pena. Não sabia que os YSGA eram conhecidos por aí.
Naum sabia que eras fã dos The Gift...
Não sou, embora goste dos álbuns deles (fui em trabalho).
ui... dou agora por mim a pensar que, ao fim de tantos e tantos anos - uma década? - escapei-me sempre dos concertos dos Gift. não que não goste deles. aliás, pelo contrário. hum...
isto está mesmo a fazer-me confusão. será que estou a esquecer algum?...
Não seja por isso, não é propriamente uma banda difícil de encontrar... e olha que vale a pena :)
Há muita coisa boa na música portuguesa que merece atenção. Mão Morta, Rodrigo leão, Primitive reason (principlamente o alternative prison um álbum variado e genial), Blasted Mechanism, Clã, Sérgio Godinho, Jorje Palma, Carlos Paredes, David Fonseca, Dulce Pontes (muito bom o cd com o Ennio Morricone), dealema (hip hop nacional do melhor), cool hipnoise, legendary tiger man, Wray Gunn, Pedro Abrunhosa, etc :)
Cool Hipnoise eu conheço. Acho-os geniais! Se parecem muito com uma banda brasileira que amo muito: os Funk Como Le Gusta.
Dentre aqueles que citei como referência por cá, ainda há Toranja (que todo fã de Los Hermanos conhece), X-Wife e os Cool Hipnoise, no gênero funk/soul.
Anotei todos esses nomes que disse, Loot, logo mais vou soulseeká-los ;D
Rafaéu: Já agora, seguindo o exemplo do _Loot_, acrescento mais alguns que vale a pena escutar: Ornatos Violeta, Supernova, Mesa, A Naifa, Rádio Macau, Silence 4, Mãozinha, Da Weasel, Belle Chase Hotel, Três Tristes Tigres, Micro Audio Waves, Cello e ainda faltarão muitos.
Ta muito bom!! Gostei :) Ja agora visitem tb http://arevoltadospetroleiros.blogspot.com
Obrigado
Obrigado... mas da próxima sou capaz de cobrar pela publicidade.
Sim há muita coisa, depois de escrever o post lembrei-me logo de mais uams quantas como os Dead Combo. Rafaéu agora é a tua vez aconselha aí algum som brasileiro, costumo ouvir Tom Jobim, Sepultura, Caetano Veloso, já ouvi Seu Jorge, ando agora a ouvir o último do Martinho da Vila e vou ver se arranjo os mutantes e os já falados por vocês cansei de ser sexy.
Pois, bandas brasileiras também não conheço muitas, e as que gosto são mesmo poucas: CSS, algumas coisas do Otto e dos Smoke City, e acho que é só...
Pois é como eu também não conheço muitas, mas não sei como me pude esquecer acima de gabriel o pensador, e como gabriel é o meu nome é um esquecimento imperdoável, enfim só para dizer que gosto muito deste senhor também.
já agora Gonçalo, tive a ler sobre o novo álbum dos Da Weasel e promete muito, com partecipações de Bernardo Sassetti, da orquestra de Praga dirigida por Rui Massena e do Rapper Atiba (que não sei quem é).
De Gabriel, O Pensador não gosto muito, por acaso.
Obrigado, ainda não sabia dessas novidades dos Da Weasel, parece que o álbum promete mesmo.
Havia esquecido, também conheço Da Weasel. Mas não gosto de hip-hop, apesar de achar as letras ótimas.
Engraçado, vocês ouvem o que os brasileiros não ouvem.
Otto aqui é extremamente mal cotado. Gabriel, o Pensador também não é muito amado. Letras boas com sonoridade ruim.
Seu Jorge é realmente muito bom. Martinho da Vila faz um pagode meio comercial demais, não faz meu tipo.
Ouçam: Los Hermanos, Titãs (quanto mais antigo o álbum deles, melhor), Os Mutantes, Cordel do Fogo Encantado, Moptop (Strokes brasileiro), Wonkavision (twee/powerpop) Vanessa da Mata, Marisa Monte, Maria Rita, Elis Regina, Tom Jobim, Cazuza, Adriana Calcanhoto, Adriana Partimpim (são a mesma pessoa, projetos diferentes), Cachorro Grande, Cássia Eller, Chico Buarque...
Já ouvi esses quase todos, tirando Cordel do Fogo Encantado, Moptop, Wonkavision, Cazuza e Cachorro Grande, mas nenhum me interessa especialmente, nao fazem o tipo de música que gosto de ouvir. Tks anyway ;)
Continuação...
Dead Fish (hardcore com letras excelentes), DJ Patife (drum'n bass), Gram, Funk Como Le Gusta (estilo Cool Hipnoise), Jorge Ben Jor, Seu Jorge, Forgotten Boys, Nação Zumbi, Paralamas do Sucesso (as mais antigas só), Bonde do Rolê, Tati Quebra-Barraco (funk carioca hahaha brincadeira ;D)... sinto que estou esquecendo de artistas essenciais, mas já forcei demais minha mente, não vou lembrar agora.
Todos esses estão na ativa atualmente, exceto alguns falecidos ;D Não deve ser tão difícil encontrá-los. Mas se tiverem problemas, me avisem que faço alguns uploads, ok? ;D
Na dúvida chutei para todos os lados. Não sei qual tipo de música que preferem ;D Sepultura, CSS e Tom Jobim dão uma margem muito ampla para chutes hahah ;D
Eheh claro... Sepultura dispenso, mas tudo o que for comparável a Tom Jobim e CSS merece investigação :)
Tenho aqui um álbum de Tom Jobim com Frank Sinatra epá muito bom. Obrigado pelas bandas. Pois a margem de manobra é muito grande mas é mesmo a música que eu ouço um pouco de tudo.
Já agora para os mais fãs de metal os portugueses Moonspell tem um último álbum muito bom.
Sobre hip-hop, para os que não conhecem arranjem a música "hand full of nothing" dos blasted mechanism com os dealema, uma música que mistura o som dos blasted (tenha lá o nome que tiver) com hip hop português é mesmo muito boa, se quiserem posso arranjar
Jobim com Sinatra? Desconhecia. A mistura dos Blasted com Dealema é capaz de resultar (e os Blasted bem precisam de renovar a sonoridade), os Moonspell é que acho que passo.
Resulta e muito bem, sobre a mudança do som dos blasted percebo, faz sentido que no último álbum as melhores músicas sejam precisamente as que contêm partecipações, uma com os dealema e mais duas com a Maria João.
Voltando ao Brasil, martinho da vila quis ouvir porque tinha uma música que misturava o seu estilo com fado e eu como adoro misturas quero logo ouvir.
Quanto a Gabriel o pensador, eu gosto muito, tenho ideia que ele é considerado comercial no Brasil. É verdade que algumas musicas em termos instrumentais poderiam ser melhores mas ele também tem amadurecido, ouçam a "lavagem cerebral" e depois a nova versão que ele fez da mesma música mas de nome "Racismo é Burrice", a mesma letra espetacular, mas instrumentalmente gosto muito mais desta nova versão.
Para quem viu Gabriel, a última vez que esteve cá, foi muito bom ele e os da weasel a cantarem fdp.
Com Martinho da Vila não me identifico minimamente, do Gabriel, o Pensador já gostei de algumas coisas há uns anos, mas lembro-me que da última vez que tentei ouvir um disco dele não me entusiasmei muito.
Martinho da vila têm de me dar tempo de ouvir o álbum antes de comentar, ele anda por aqui, mas ainda não tive disponibilidade.
Já o do Jobim com Sinatra só é pena ser durar pouco, muito aconselhado.
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