"Scoop", se por um lado partilha alguns elementos com o seu antecessor - o cenário da acção volta a ser Londres, Scarlett Johansson pica novamente o ponto no elenco, a história alicerça-se num assassino -, não conta com a sua dose de inspiração, ficando aquém da elegância formal e da crescente tensão que essa quase obra-prima apresentava.
Contudo, na sua despretensão e ligeireza, esta comédia consegue ainda cativar e divertir com inteligência, não percorrendo territórios muito imprevisíveis (pelo contrário, exibe constantemente sinais reconhecíveis de Woody Allen) mas resultando num objecto mais interessante do que alguns dos últimos trabalhos do realizador (casos dos desequilibrados "Hollywood Ending" ou "Melinda e Melinda").
Obra quase sempre mais simpática do que intrigante, centrada numa estudante de jornalismo norte-americana que desconfia que um jovem aristocrata é o mais recente serial killer londrino, "Scoop" compensa em eficácia o que lhe falta em criatividade, e se os resultados são algo irregulares é difícil não reconhecer que ainda há por aqui muitos diálogos de génio.
Não são todas as comédias que têm o privilégio de se sustentarem num humor simultaneamente inteligente e acessível, mas Allen volta a estabelecer esse estimável equilíbrio, oferecendo generosas doses de gags irresistíveis a um ritmo que, mesmo com altos e baixos, acerta mais do que falha.
Scarlett Johansson, a mais séria candidata a nova musa do realizador, partilha com ele o protagonismo do filme, e entre os dois estabelece-se uma interessante química. É curioso notar que, se em títulos anteriores Jason Biggs ou Will Ferrell, entre outros jovens actores, adoptaram os tiques de interpretação de Allen, desta vez esse papel cabe a Scarlett, que encarna uma personagem bem distinta da que compôs em "Match Point": onde Nola Rice era carnal, magnética e insinuante, Sondra Pransky é desajeitada, tagarela e neurótica q.b..
Nos secundários, Ian McShane merecia mais tempo de antena e Hugh Jackman não entusiasma numa interpretação algo insípida, a milhas do carisma que o ajudou a notabilizar-se através da saga X-Men.
Divertimento leve e sem grandes ambições, "Scoop" não entra para a lista de películas inesquecíveis do cineasta, mas após uma carreira tão longa e profícua não seria justo exigir-lhe isso a cada novo filme, sobretudo quando, mesmo em piloto automático, é capaz de proporcionar obras consistentes como esta. E se a próxima - que se tudo correr com a cadência habitual estreará em 2008 - mantiver pelo menos este nível qualitativo, já será mais um título a aguardar sem reservas.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
16 comentários:
Delicioso. Uma das melhores comédias de Allen (e à Allen) da última década.
Um abraço Gonçalo.
É uma comédia recomendável, sim, mesmo não sendo imprescindível. Cumprimentos.
As tramas sérias do Woody não me apetecem muito. São um tanto quanto soníferas, pelo menos as poucas que vi. Porém, me esbaldo nas comédias que ele faz!
Aguardo ansioso a estréia deste filme ;D
Então não percas esta, já que é das melhores que ele fez ultimamente.
Continuação de bons posts.
Novo blog sobre tudo e sobre nada (já dizia o poeta do mito):
http:homemmau.blogspot.com
Obrigado. É um post um bocado offtopic, mas pronto...
Um filminho que ao mesmo tempo pode ser interessante e ao mesmo tempo dispensável.
Sim, mas desde que não se peça mais do que uma boa comédia, este cumpre com alguma distinção.
Achei o filme horrível! E como é possivel filmar a Scarlet Johanson feia????
Horrível? Não é um grande filme, mas se é horrível nem sei como classificar muitos dos que andam por aí e que são bem piores.
E não acho que a Scarlett esteja feia; claro que está a milhas da sensualidade da personagem de "Match Point", por exemplo, mas isso é intencional e acho que foi uma boa opção.
Feia? Só porque não está com metade do corpo de fora dos paninhos... está feia?
Quanto ao filme, já sabes a minha opinião ;)
PS - gostaste do 'Letters'?
E mesmo assim ainda aparece em fato de banho, não percebo as queixas lol
Gostei, embora não tanto como esperava, mas como sabes que o vi (hum, foste às 15h30, não?)?
Fui :)
Eu gostei bastante. Para mim, muito melhor que o 'Flags'.
Achei ligeiramente melhor, mas excessivamente longo. Esperava mais, ainda assim é bom.
Leve e sem grandes ambições, sem dúvida. Gostei bastante do Scoop precisamente por causa dessa sua leveza, bom gosto e elegância. Não tenho nada contra o Borat e outras sátiras mais brejeiras, mas de vez em quando é bom ver uma comédia glamorosa como esta.
Sim, não é um regresso em grande como "Match Point" mas antes isto do que um "Borat".
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