domingo, fevereiro 11, 2007

APOCALIPSE NA ARENA

O início foi logo arrebatador, com a violenta descarga de “Mr. Self Destruct”, uma das canções mais emblemáticas de “The Downward Spiral”, para muitos a obra-prima dos Nine Inch Nails e um dos marcos do rock dos anos 90. A banda de Trent Reznor, que se estreou na noite de ontem em palcos portugueses, no Coliseu de Lisboa, era aguardada por uma multidão de fãs que esgotou o recinto no primeiro de três concertos agendados, a maioria privilegiando o preto como cor dominante da indumentária, condizente com o tom apocalíptico do espectáculo.

A explosão de energia cinética das canções do grupo não deixou indiferente a iluminação do palco, que ao fim da terceira, “Terrible Lie”, foi subitamente abaixo. Nada que tenha impedido Reznor de continuar, levando-o a afirmar que este nem seria o primeiro concerto caso não houvesse problemas técnicos e pedindo para que ligassem as luzes da sala, iluminando o público e deixando os músicos envoltos em névoa durante a visceral “March of the Pigs”.

No tema seguinte, “Something I Can Never Have”, já os problemas estavam resolvidos, que segundo o vocalista se deveram ao detector de fumo. Impondo uma serenidade quase sepulcral, em tudo contrastante com a abrasiva atmosfera presente até então, a canção do já longínquo “Pretty Hate Machine” (o influente álbum de estreia do projecto, de 1989) voltou a confirmar-se como uma das mais belas que os Nine Inch Nails já criaram. Foi também um exemplo da versatilidade de Reznor, que tanto convence num registo contido, entregue à placidez do piano, como nos mais frequentes e também magnéticos acessos de fúria descontrolada, com expoente máximo nos espinhosos “Burn” e “Wish”, dominados pela negra vibração das guitarras.

Ecléctico e bem estruturado, o alinhamento percorreu todos os discos da banda sem deixar espaço para qualquer hipótese de descanso ao longo de hora e meia. Os músicos foram imparáveis na sua entrega, e se apenas o mentor trocou algumas (poucas) palavras com a audiência, tal não parece ter impedido os espectadores de aderir à intensidade que emanava do palco, sendo recorrente a agitação na plateia através de muitos aplausos ou da resposta imediata ao irresistível apelo dançável de momentos como “Only” ou “The Hand That Feeds” (as canções de “With Teeth” que melhor resultaram ao vivo).

Com tantos episódios memoráveis, é no mínimo discutível eleger os mais marcantes, embora o dos candeeiros no sorumbático “Eraser”, o crescendo do subtil “La Mer” interligado com o hipnótico “Into the Void” - a par de “No, You Don’t”, as únicas incursões pelo díptico “The Fragile” - e, claro, o inevitável hino “Closer”, estejam entre os de referência obrigatória.
Obrigatória era também a interpretação de “Hurt”, a canção a que mesmo a maior parte dos detractores dos Nine Inch Nails reconhece qualidades, quanto mais não seja pela sentida versão de Johnny Cash. Incitando à presença de isqueiros, que contribuíram para a consolidação de uma aura quase solene, instalou um raro momento de intimismo já na recta final do concerto, que terminou da melhor forma com o clássico “Head Like a Hole”, mais um forte exemplo de comunhão entre banda e público.

Face a tão irrepreensível prova de vitalidade e carisma, lamenta-se apenas que não tenha havido o tão requisitado encore e a escolha da banda responsável pela primeira parte, os The Popo, competentes e esforçados mas pouco entusiasmantes (sobretudo quando havia a hipótese do seu lugar ser ocupado pelos bem mais recomendáveis Ladytron).
De qualquer forma, a espera valeu a pena, e mesmo actuando em Portugal com anos de atraso comprovou-se que os Nine Inch Nails ainda estão longe de ultrapassar o prazo de validade. Que venha então o novo álbum, “Year Zero”, previsto para Abril, e que não demorem tanto tempo a regressar a palcos nacionais.


E O VEREDICTO É:
4/5 - MUITO BOM

Nine Inch Nails - "La Mer/ The Great Below"

24 comentários:

João D. disse...

Estou ansioso. É JÁ AMANHÃ!!

(espero que metam por lá sobretudo coisas do pretty hate machine lol)

Tocaram a hurt e a everyday is exactly the same?

gonn1000 disse...

Espero que seja tão bom como este, acredito que sim.
Tocaram a "Hurt", o alinhamento foi este:

Mr. Self Destruct
Last
Terrible Lie
March of Pigs
Something I Can Never Have
The Line Begins To Blur
Closer
Burn
Wish
Help Me I Am In Hell
Eraser
La Mer/Into the Void
No, You Don't
Only
You Know What You Are?
Hurt
The Hand That Feeds
Head Like A Hole

Faltou a "Sin" :(

Anónimo disse...

Foi P E R F E I T O! :D
Adoreei mesmoo!

Senti muito a falta da 'Everyday is Exactly the Same' e da 'StarFukers, Inc.'. Mas o concerto foi perfeito, porra!

3 da setlist que não conhecia!


Climax do concerto, para mim:
"Only
You Know What You Are?
Hurt
The Hand That Feeds
Head Like A Hole"
E na clássica Closer! :D

Duvida estupida: O que é mesmo encore? Tocar mais uma?

gonn1000 disse...

Sim, o encore é a fase em que a banda/artista regressa ao palco após o concerto ter, aparentemente, terminado, e que normalmente ocorre após ovações do público pelo regresso. Ali houve pedidos, mas a banda não regressou.
Senti a falta de muitas canções, mas eles têm uma discografia já considerável e tendo isso em conta acho que o alinhamento foi equilibrado.

Anónimo disse...

Uma palavra: INVEJAAAAAAAA!

Achava que em Pt também chamava-se de "bis" o "encore"...

gonn1000 disse...

Eheh, mas olha que eles nunca tinham vindo cá.
Não, mas no fundo vai dar ao mesmo.

Anónimo disse...

thanks, pla explicação!

ahaha, espero bem que eles voltem com o YEAR ZERO! :D
Vou de ceerteza, fgo foi perfeito!

gonn1000 disse...

Se voltarem acho que também lá estou, por mim até voltava hoje à noite mas faz mal à carteira :(

serebelo disse...

Escrevendo depois do segundo concerto e reforçanco a qualidade do primeiro, o segundo foi para mim ainda melhor. O alinhamento passou mais pelo Spiral e pelo Fragile o que para mim foi fantástico. Muita pena tenho eu de não ver o terceiro, mas agora já estou pelos Açores...
Enfim, mas de qualquer modo posso sempre orgulhar-me de ter estado no meet&greet com a banda e ter cumprimentado o sr. Reznor! Desculpa, não resisti.
Abraço insular.

gonn1000 disse...

O segundo foi ainda melhor? Oh well, não se pode ir a tudo... Mas até prefiro o alinhamento do primeiro.
Quanto ao meet & greet, vou fingir que não li nada a respeito disso :P
Abraço continental

Anónimo disse...

Estive lá também no sábado, foi um óptimo concerto, embora tivesse sabido a pouco.
"Hurt" permanece a canção, pelo menos para mim. Que momento!

P.S. que não é para o gonn (lol) mas para o serebelo: tu eras o amigo da prima da leonor que tem a discografia de NIN em vinil? se sim é engraçado encontrar-te por aqui ;)

gonn1000 disse...

Sim, foi um pouco frustrante não ter havido encore ou que o concerto não se tenha prolongado por mais uns minutos, mas mesmo assim não saí desiludido.
Da "Hurt" gosto muito, mas não é das minhas preferidas dos NIN.

João D. disse...

Grande concerto hoje. Coliseu a meio gás(e ainda bem) o reznor andava meio louco- atirou a bela da pandeireta para o público, e o guitarrista acabou por partir o seu instrumento no fim do concerto. A hurt é obrigatória, é obrigatória mas não a tocaram hoje...mas tocaram a sin!:D

De resto, o alinhamento foi eclético, a conceptualidade do concerto em si estava bem esgalhada, e os gajos arrasaram sobretudo nas 4 primeiras músicas, e nas 4 últimas.

a "the fragile" foi um momento mágico. Pena não ter sido a hurt ou a something i can never have mas enfim.

Pelos vistos acabaram os 3 concertos com a head like a hole...e disseram que ah e tal tinham achado piada aqui ao nosso cantinho.

gonn1000 disse...

Não acho a "The Fragile" pior do que as outras duas, e a troca da "Hurt" pela "Sin" não me parece nada má ideia.
Parece que se portaram bem em todos os concertos, então, talvez assim não tenhamos que esperar mais quase duas décadas até que voltem cá.

Barão da Tróia II disse...

Porra não deu para ir, boa semana.

gonn1000 disse...

Talvez da próxima... Boa semana.

Anónimo disse...

Inveja, ai inveja inveja...:P

Pronto, parabéns pela HISTÓRIA que fizeste!!!

(inveja:))

gonn1000 disse...

Obrigado.
E não tenha inveja, tenho a certeza que eles actuarão na Madeira em breve ;P

Unknown disse...

Eu não achei nada de especial, mas acho que a culpa é mesmo das canções, a maior parte indistintas.
Sem dúvida um dos grupos mais sobrevalorizados de sempre.

gonn1000 disse...

Não acho que as canções sejam indistintas, em alguns casos as diferenças são mesmo abismais (compara-se um "La Mer" com um "Head Like a Hole", por exemplo), mas é compreensível que não agradem a todos. E se falarmos de bandas sobrevalorizadas, colocaria imensas à frente dos NIN, cujos discos são todos acima da média.

Anónimo disse...

bom, fui ao concerto de sabado e de segunda. foram notoriamente diferentes. se por um lado o de sabado teve mais docinhos para animar a minha alma. o alinhamento foi definitivamente mais ao meu gosto, que o de segunda. ao qual faltou o hurt, que para mim é indissociavel da carreira dos NIN, por varios motivos. esta digressao acaba por ser isso, certo? um olhar sobre o passado!
mas segunda surpreendeu pelas "novidades" no alinhamento, a versao de queen (ja tinham tocado o dead souls no domingo), Sin .. mas continuou a faltar canções brutais como starfuckers ou the perfect drug (ao que parece, nunca foi tocada ao vivo, pela grau de dificuldade, pelo menos ao nivel da bateria).
segunda, tb se notava um melhor entrosamento entre a banda. menos pregos, musicas a acabar "bem"...

isto soube-me a um aperitivo, quando cá voltarem a promover o novo album.
ah e Joao d. a pandeireta tb voou no sabado.
NIN foi mtooooooooo bom! nota:4/5

gonn1000 disse...

Só pude ir mesmo ao de sábado. Acho que a "The Perfect Drug" nunca tocaram mesmo, mas esperava que tocassem a "Starfuckers" num dos dias.
E que versão dos Queen é essa?

serebelo disse...

A versão dos Queen é o "Get Down, Make Love". Abraço insular.

gonn1000 disse...

Ah ok. Obrigado, abraço.