quinta-feira, novembro 30, 2006
7 BLOGUES, 6 ESTREIAS, 5 ESTRELAS
ESTREIA DA SEMANA: "A RAINHA"
Outras estreias:
"Borat: Aprender Cultura da America Para Fazer Benefício Glorioso à Nação do Cazaquistão", de Larry Charles
"Por Água Abaixo", de David Bowers, Sam Fell
quarta-feira, novembro 29, 2006
CRUELDADE TOLERÁVEL
De tom ligeiro e espirituoso, a mais recente película de José Fonseca e Costa ("Kilas, o Mau da Fita", "A Balada da Praia dos Cães") lança um olhar que se pretende corrosivo sobre a aristocracia, a religião e os costumes de outros tempos - embora com algumas observações ainda válidas para os dias de hoje -, definindo um núcleo de personagens onde cedo se percebe que quase nenhuma é inocente, sobrando no final aquelas cuja argúcia e sentido de oportunidade lhes permite prosperar.
Fonseca e Costa acerta ainda na direcção de actores (Bianca Byington, Cucha Carvalheiro, José Raposo e Rogério Samora cumprem, Ricardo Pereira não destoa e apenas Diogo Dória falha no tom, adoptando uma postura demasiado teatral) e na reconstituição de época, mais modesta do que pomposa mas que serve sem reparos as necessidades da história, contudo não apresenta um equilíbrio tão coeso no argumento, que a partir de certo ponto se torna redundante e leva a um desfecho nada surpreendente.
Os diálogos, não sendo de desprezar, também não são tão irónicos nem mordazes como se esperaria, e as personagens nunca conseguem soltar-se de uma caracterização, no máximo, bidimensional.
Tendo em conta estes desequilíbrios, o filme dificilmente mantém o entusiasmo do espectador ao longo das suas mais de duas horas, uma duração claramente excessiva para um material tão limitado, ainda que curioso. Mesmo assim, é mais interessante do que "O Fascínio", a desapontante obra anterior de Fonseca e Costa, e num ano em que outros "autores" nacionais se mostraram pouco ou nada inspirados (como Fernando Lopes em "98 Octanas" ou Pedro Costa em "Juventude em Marcha"), "Viúva Rica Solteira Não Fica" consegue gerar, pelo menos, alguma simpatia e não desmerece um visionamento.
segunda-feira, novembro 27, 2006
CRIME SOB INVESTIGAÇÃO
A proposta, apresentar uma história com claras alusões ao film noir mas inesperadamente ambientada no universo estudantil de um liceu, é criativa e aliciante, e embora Johnson consiga desenvolvê-la com algum engenho a execução acaba por ficar aquém das potencialidades da premissa.
A envolvente realização de Johnson, por vezes próxima da de Chris Nolan, é eficaz na edificação de uma soturna atmosfera urbana, os diálogos são certeiros e temperados com doses suficientes de humor negro e o elenco, todo ele jovem, está à altura das necessidades do projecto, em particular o protagonista Joseph Gordon-Levitt, que não poderia estar mais longe do imberbe papel através do qual se celebrizou na série "Terceiro Calhau a Contar do Sol".
O que falha, então, neste ambicioso exercício de estilo? Sobretudo o argumento, que ao querer ser tão complexo e intrigante torna-se excessivamente clínico e cerebral, e se nunca deixa de ser curioso de seguir leva-se demasiado a sério e não é capaz de gerar a carga dramática que se esperaria. Com a eventual excepção da personagem de Gordon-Levitt, todas as outras ficam reféns de uma vertente meramente funcional, sendo pouco mais do que peças de um jogo inteligente q.b., mas distante do brilhantismo.
domingo, novembro 26, 2006
DOGGIE STYLE
sábado, novembro 25, 2006
CRIANÇAS INVISÍVEIS
"Uma Voz na Noite" (The Night Listener) é mais um desses exemplos, misto de drama e thriller psicológico onde um popular radialista inicia uma relação de cumplicidade por telefone com um dos seus ouvintes, um adolescente de saúde frágil, seropositivo e com uma infância atormentada por abusos sexuais.
No entanto, à medida que a amizade entre os dois se vai desenvolvendo, Noone começa a ter dúvidas acerca da identidade do seu interlocutor, o que o leva a tentar encontrá-lo, mas sem sucesso, devido à interferência da suposta tutora do jovem.
O realizador Patrick Stettner modela um filme seguro e promissor durante a primeira metade, desenvolvendo um sóbrio drama suportado por personagens com potencial e conseguindo gerar uma apropriada atmosfera intimista. O problema é que, à medida que o argumento vai intensificando a carga de mistério, aproximando-se do thriller, "Uma Voz na Noite" arrasta-se para domínios mais indistintos e minados por algumas doses de previsibilidade.
O filme não deixa de ser absorvente até ao final, mas a capacidade de surpreender é diminuta e o suspense, que se insinua a espaços, é desaproveitado por revelações que, a partir de certa altura, já são óbvias para um espectador minimamente atento.
Um falhanço interessante, portanto, que tem o mérito de, mesmo sendo desigual, nunca abusar de sequências de perseguições redundantes e sustos formatados que a segunda parte encorajava. E para além de Williams, inclui ainda uma irrepreensível galeria de actores secundários composta por Rory Culkin, Sandra Oh, Bobby Cannavale e Toni Collette, esta última no melhor desempenho do filme, entregue a uma personagem difícil que, se interpretada por uma actriz mediana, não sairia da caricatura. É também por isso uma pena que, no obrigatório balanço final, e pese embora alguma ocasional inspiração, "Uma Voz na Noite" não consiga ultrapassar a barreira de uma esforçada competência.
quinta-feira, novembro 23, 2006
ESTREIA DA SEMANA: "007 - CASINO ROYALE"
Outras estreias:
"667 - O Vizinho da Besta", de Eduardo Condorcet
"Filha da Guerra", de Jasmila Zbanic
"Infame", de Douglas McGrath
"Juventude em Marcha", de Pedro Costa
"Obrigado por Fumar", de Jason Reitman
"Step Up", de Anne Fletcher
quarta-feira, novembro 22, 2006
A WEEKEND IN THE CITY II: 18/11
A WEEKEND IN THE CITY I: 17/11
A banda portuguesa foi pretexto para ir conhecer O Meu Mercedes é Maior Que o Teu, e se a zona da ribeira estava estranhamente vazia para uma sexta-feira à noite o mesmo não se pode dizer do espaço que acolheu a actuação do grupo, que foi enchendo aos poucos. Justificou-se, já que o concerto, apesar dos atrasos, foi escorreito e mostrou um projecto com potencial, capaz de apresentar uma quantidade suficiente de boas canções, mesmo não atingindo o patamar das influências óbvias (Franz Ferdinand, Kaiser Chiefs, We Are Scientists). Não acrescentam muito às já demasiadas bandas herdeiras do pós-punk (algo já evidente no disco), mas o concentrado de energia e entusiasmo convence.
CIRCULAR, CIRCULAR...
segunda-feira, novembro 20, 2006
BLAME BLOGGER
Já consegui corrigir parte deste erro inesperado, mas por qualquer razão que me escapa não consigo alterar parte do template da página inicial do blog, e por isso os muitos links internos e externos, assim com as restantes personalizações que o mesmo continha, só estão disponíveis através dos arquivos mensais ali no lado esquerdo. Peço desculpa a quem passou por aqui entretanto e espero que estes problemas do Blogger sejam passageiros, porque se for para continuar assim ainda acabo mesmo por mudar de plataforma.
Obrigado à Sunday, à Lid e ao Kraak por me terem avisado ;)
quinta-feira, novembro 16, 2006
ESTREIA DA SEMANA: "A CIÊNCIA DOS SONHOS"
Gael García Bernal é o protagonista de mais um conto bizarro onde o real e o onírico voltam a misturar-se, característica que já vai sendo predominante nos trabalhos do realizador (incluindo os videoclips, onde ganhou parte da reputação).
Histórias de amor parisienses têm sido o mote para algumas estreias recentes, e a tendência repete-se aqui, mas espera-se que Gondry tenha conseguido dar a esta uma ressonância peculiar.
Para além deste, vale a pena não deixar passar pelo menos outro dos novos filmes em cartaz, "Brick", a primeira obra de Rian Johnson centrada num grupo de adolescentes, um curioso drama que incorpora referências do film noir.
"16 Blocks", de Richard Donner
"Brick", de Rian Johnson
"Corrigindo Beethoven", de Agnieszka Holland
"Estranhos", de Simon Brand
"Massacre no Texas - O Início", de Jonathan Liebesman
"O Lugar Ideal", de Danièle Thompson
"Um Ano Especial", de Ridley Scott
"Viúva Rica Solteira Não Fica", de José Fonseca e Costa
quarta-feira, novembro 15, 2006
PROGRAMAÇÃO SAUDÁVEL
terça-feira, novembro 14, 2006
GANGS DE BOSTON
"The Departed: Entre Inimigos" assinala o regresso aos ambientes urbanos e claustrofóbicos que definiram o percurso inicial do realizador, propondo um misto de thriller e drama ancorado em dois polícias, que têm em comum o facto de serem agentes infiltrados.
Um, Billy Costigan, está no início da carreira e o seu passado obscuro torna-o na escolha perfeita para se infiltrar num gang da máfia irlandesa de Boston. O outro, Colin Sullivan, distinguiu-se pelo seu percurso bem-sucedido na Unidade Especial de Investigação mas esconde um perigoso segredo dos seus colegas, uma vez que integrou a polícia para reportar ao líder do mesmo gang as principais estratégias desta.
Remake do primeiro capítulo de "Infiltrados" (Infernal Affairs), a trilogia policial criada pela dupla de Hong Kong Andrew Lau e Alan Mak, "The Departed: Entre Inimigos" recupera de facto alguns dos elementos essenciais da acção dessa película mas deixa bem visível a mudança de realizador.
Aproximando-se das atmosferas de outros títulos de Scorsese como "Tudo Bons Rapazes", o filme não deixa de efectuar, de forma mais ou menos directa, um olhar sobre a América, como já é habitual na filmografia do cineasta, em particular sobre a miscenização de culturas, aspecto determinante para a construção da personagem de Billy Costigan.
O realizador volta a apresentar aqui uma obra vincada pela elegância formal, com uma inatacável solidez na montagem, capaz de imprimir um ritmo que, ao contrário do dos dois filmes anteriores, nunca acusa as duas horas e meia de duração. A banda-sonora a cargo de Howard Shore, discreta e cativante, é apropriada aos ambientes do filme, modelados em parte pela fotografia de Michael Ballhaus, investindo essencialmente em tons castanhos-alaranjados, em tudo contrastantes com os azuis metálicos de "Infiltrados".
"The Departed: Entre Inimigos" conta com uma tensão bem gerida e, para além do realizador, há que reconhecer o mérito dos actores, quase todos nomes de peso, tanto os principais como os secundários.
Dos protagonistas, Matt Damon dá mais uma prova de talento numa interpretação segura, mas é Leonardo DiCaprio o que mais surpreende no desempenho de Billy Costigan, através do qual o actor oferece um sóbrio retrato da solidão e inadaptação, numa personagem em fuga e quase sem portos de abrigo, a mais interessante, comovente e complexa do filme. Jack Nicholson proporciona mais uma lição de interpretação (uma das melhores dos últimos tempos), conciliando um sentido de humor (negro) e um peculiar calculismo no papel do chefe do gang e a menos mediática Vera Farmiga confirma a boa impressão deixada em "Medo de Morte", no início deste ano.
Scorsese edifica aqui uma obra estimulante e acima da média mas que, infelizmente, não chega a atingir o estatuto de imprescindível devido às opções tomadas na construção da personagem de Matt Damon. Embora servido por um bom desempenho, Colin Sullivan não contém a ambiguidade nem a inquietação da sua personagem análoga de "Infiltrados", movendo-se sempre em nome de interesses pessoais e nunca questionando a sua conduta. As preocupações que advêm do seu cargo de "toupeira" giram somente em torno da sua sobrevivência e prosperidade, e teria sido mais interessante se a personagem colocasse a sua moral em causa, tornando a película menos maniqueísta e reforçando as semelhanças dos dois protagonistas.
Pior é o final que o filme lhe reserva em virtude dessa postura, mais convencional e menos desafiante do que o do filme de Andrew Lau e Alan Mak. É pena que um filme com um desenvolvimento tão inteligente e minuciosamente arquitectado termine de uma forma pouco corajosa, mas "The Departed: Entre Inimigos" sobrevive bem a esse desequilíbrio e funciona tanto como um entretenimento de topo como enquanto uma experiência cinematográfica de méritos inegáveis, ou não fosse o melhor Scorsese em muitos anos.
sábado, novembro 11, 2006
sexta-feira, novembro 10, 2006
SOMETIMES I THINK THAT I'M BIGGER THAN THE SOUND
quinta-feira, novembro 09, 2006
ESTREIA DA SEMANA: "THE DEPARTED - ENTRE INIMIGOS"
Outras estreias:
"Irresistível", de Ann Turner
"O Perfume - História de um Assassino", de Tom Tykwer
"Os Rebeldes da Bola", de Joachim Masannek
"Uma Voz na Noite", de Patrick Stettner
quarta-feira, novembro 08, 2006
TERAPIA DE GRUPO
Esta dramedy on the road segue a viagem de uma família (disfuncional, como não poderia deixar de ser) que se desloca numa velha carrinha até à Califórnia para que a filha mais nova, Olive, possa concorrer a um concurso de beleza para crianças. Entre a partida e a chegada, surgem uma série de peripécias através das quais os ténues elos de ligação serão reforçados, levando a que todos os elementos contribuam, voluntária ou acidentalmente, para que a família se torne mais coesa e unida.
Desde o pai, obcecado pelo sucesso e cujo livro sobre os novos passos para o atingir está prestes a ser editado; passando pelo filho adolescente, em voto de silêncio até conseguir entrar para a escola de aviação; pelo avô, viciado em heroína e de temperamento difícil; ou pelo tio homossexual e especialista em Proust, que tenta reorganizar a sua vida após uma tentativa de suicídio; não faltam aqui protagonistas dominados por alguma bizarria. As excepções acabam por ser as figuras femininas, tanto a mãe, que se esforça por fazer com que a família não desmorone, como a pequena filha, optimista e entregue ao sonho de ganhar o título de "Little Miss Sunshine".
Estas personagens geram uma dinâmica curiosa, mas individualmente é raro ultrapassarem a caricatura, sendo pouco mais do que variações de arquétipos do loser excêntrico em que o cinema independente norte-americano se tem alicerçado.
Felizmente, a direcção de actores joga a seu favor, já que Greg Kinnear, Toni Collette, Steve Carell, Abigail Breslin, Paul Dano e Alan Arkin apresentam interpretações sem falhas que conseguem compensar, pelo menos em parte, a bidimensionalidade a que o argumento de "Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos" sujeita os seus papéis, dotando o filme de um dos elencos mais invejáveis do ano. Carrell e Dano são particularmente bem-sucedidos, o primeiro nos antípodas da personagem que o ajudou a celebrizar-se em "Virgem aos Quarenta Anos" e o segundo a mostrar talento e versatilidade depois da boa impressão deixada por "L.I.E. - Sem Saída" e "A Balada de Jack e Rose".
O carisma do elenco é responsável por grande parte do apelo do filme, mas o argumento de Michael Arndt também tem tem mérito ao enveredar por territórios reconhecíveis sem se limitar a repisar lugares-comuns, conseguindo mesmo inverter as expectativas a espaços. Pontualmente escorrega no tom, como nas sequências do hospital e nas que estão dependentes desta (mais apropriadas a filmes como "Fim-de-Semana com o Morto"), contudo a combinação de comédia com drama é quase sempre feita com engenho, exigência e, mais importante, alma, oferecendo algumas cenas ora hilariantes (os gags da buzina são de antologia) ora desencantadas (como nas da revolta da personagem de Dano).
A crítica ao culto do sucesso em terras do tio Sam não é muito subtil nem sequer original (um concurso de beleza é um alvo demasiado fácil) e na segunda metade do filme o auge da união familiar mistura-se com a defesa de uma questionável irreverência desmedida, mas reconheça-se que, não obstante os seus defeitos e a opção pelo template indie, "Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos" irradia um encanto próprio e é um dos mais saborosos feelgood movies dos últimos tempos. Não revoluciona, mas é uma primeira obra muito promissora.
E O VEREDICTO É: 3,5/5 - BOM
terça-feira, novembro 07, 2006
A ALICE VOLTOU
CHUVA CHUVA CHUVINHA
domingo, novembro 05, 2006
HERÓIS DO MAR
Para complementar, esta história sobre dois nadadores-salvadores da Guarda-Costeira é antecipada por um trailer que sugere um blockbuster edificante e recheado de clichés, onde o patriotismo exacerbado ameaça ser um dos mais fortes.
Visto o filme, e talvez devido às baixas expectativas, a impressão que fica é a de que "O Guardião", mesmo previsível e formatado a espaços, apresenta uma assinalável solidez, situando-se uns degraus acima do dramalhão insuflado e postiço que constituiria um rumo mais fácil. Costner regista aqui uma das suas apostas mais felizes dos últimos tempos, Kutcher cumpre mas ainda não é desta que se torna num actor digno de relevo e Davis revela eficácia, e embora não seja mais do que um tarefeiro não se pode apontar-lhe falta de competência.
Ainda que "O Guardião" possa ser considerado um filme de acção, será redutor limitá-lo a esse rótulo, uma vez que evidencia uma consistência dramática considerável. Esta deve-se sobretudo à personagem de Costner, um nadador-salvador veterano obrigado a ocupar o cargo de instrutor após uma missão mal sucedida que conduziu à morte dos seus colegas. Na sua nova função, vai consolidando uma ligação forte mas tensa com o seu instruendo mais apto - e é aqui que entra Kutcher -, inicialmente vincada por episódios algo conturbados e aos poucos amenizada à medida que são decobertos pontos de contacto, em particular a solidão e os fantasmas do passado que se escondem por detrás da palpável obstinação.
Andrew Davis não oferece aqui uma obra que respire novidade, porém tem o mérito de dar a Costner uma personagem complexa e tridimensional, a que o actor responde com um desempenho à altura, conciliando maturidade e densidade e fazendo lamentar a sua participação em filmes menores. O desenvolvimento do argumento é mais convencional do que arriscado, mas pelo menos resiste à tentação de injectar cenas de acção forçadas e inconsequentes, e as poucas que surgem são justificáveis e filmadas com eficácia.
Há algumas sequências demasiado expositivas e fastidiosas - caso das que focam os treinos dos jovens recrutas -, o desenlace delicodoce não faz justiça à sobriedade presente até então e a personagem de Kutcher poderia ser mais desenvolvida, assim como as de Sela Ward e Melissa Sagemiller (ambas com interpretações sem reparos), e por isso "O Guardião" resulta numa película irregular. Contudo, tem a seu favor o facto de ser um filme modesto, o que se não o torna num dos candidatos a integrar a elite dos memoráveis também não o impede de conseguir proporcionar um envolvente estudo de personagem.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM
sexta-feira, novembro 03, 2006
5 BLOGUES, 5 ESTREIAS, 5 ESTRELAS
BLINKS & LINKS (58)
quinta-feira, novembro 02, 2006
ESTREIA DA SEMANA: "EM PARIS"
Estreia hoje o novo filme de Christophe Honoré, que no anterior "Minha Mãe" se candidatava a novo enfant terrible mas que apresenta neste "Em Paris" (Dans Paris) um olhar menos áspero e negro sobre as relações humanas, em especial as familiares. O filme segue um dia na vida de dois irmãos, o mais velho em depressão, o mais novo a tentar ajudá-lo enquanto reencontra a sua ex-namorada. Romain Duris e Louis Garrel protagonizam este drama com toques de comédia, uma das melhores obras da última edição da Festa do Cinema Francês.
"Manual de Amor", de Giovanni Veronesi
"O Ilusionista", de Neil Burger
"Paris, Je t' Aime", vários realizadores
O MEU IRMÃO, EU E O MEU IRMÃO
Se se tiver em conta que a realização está a cargo de Christophe Honoré, cuja película anterior, “Minha Mãe”, se aproximava perigosamente da pretensão e do choque gratuito, então poderá temer-se que em “Em Paris” o cineasta tenha alargado o espaço para a auto-indulgência mascarada de transgressão e ousadia.
No entanto, após os minutos iniciais, o filme vai colocando de parte esta carga mais ostensiva para se dedicar, e ainda bem, ao que acaba por ter de melhor: um conjunto de personagens bem trabalhadas, unidas pelos laços familiares e entretanto afastadas por muitos outros factores que parecem agora irrisórios quando um dos elementos da família atravessa um momento crítico.
O estado desolado do primeiro leva a que o segundo, assim como os pais, tentem encontrar uma solução para o afastar do abismo, mas o melhor em que Jonathan consegue pensar é num desafio ao irmão, que o obrigará a ir ter consigo para passearem juntos pelo Bon Marché de Paris, à semelhança do que ocorria quando eram crianças.
Contudo, e ao contrário do combinado, Jonathan acaba por demorar mais de uma manhã a chegar ao local marcado, e o filme segue os episódios decorridos ao longo desse dia que vão, aos poucos e de forma mais ou menos directa, mudando a atitude e a ligação dos dois protagonistas.
Inesperadamente afastado da aura fria e clínica de “Minha Mãe”, “Em Paris” partilha com este um olhar sobre as relações humanas, em especial as familiares, que desta vez é bem mais caloroso, a espaços mesmo percorrido por uma envolvente candura, ainda que não deixe de evidenciar as contrariedades das emoções ou as dificuldades de comunicação geradas entre os que estão unidos pelo sangue.
O retrato resulta num filme genuíno e comovente, que não obstante pontuais cenas dispensáveis (fica por esclarecer a função do narrador) impõe-se como um drama adulto marcado por pontuais escapes cómicos, onde é claro o amor de Honoré pelas suas personagens.
Peculiar é ainda a utilização da banda-sonora, cujo espectro vai dos Metric a Kim Wilde, incluindo a partitura instrumental de Alex Beaupain. Particularmente significativas são as cenas da conversa telefónica entre Guillaume e a sua ex-namorada, em que ambos cantam “Avan la Haine”, ou aquela, também protagonizada pela personagem de Duris, em que uma canção de Kim Wilde é ouvida no quarto e oferece um momento de arrepiante intimismo.
Intimismo é, aliás, um elemento que Honoré parece ter interesse em desenvolver, e se “Minha Mãe” já sugeria que o realizador era capaz de originar abordagens estimulantes, “Em Paris” confirma-o, estando uns furos acima do seu antecessor. Motivo mais do que suficiente, portanto, para colocar o cineasta entre os novos nomes do cinema francês a seguir com atenção e esta numa obra a não perder entre as estreias da recta final de 2006.