sábado, agosto 05, 2006

VIDAS PRIVADAS

Segundo filme da catalã Isabel Coixet estreado em salas nacionais (o primeiro foi “A Minha Vida Sem Mim”, em 2004), “A Vida Secreta das Palavras” (The Secret Life of Words) é um contido drama onde se entrecruzam os percursos de Hanna, uma jovem misteriosa que vai trabalhar para uma plataforma petrolífera como enfermeira durante as férias, e de Josef, o doente que está entregue aos seus cuidados, vitimado num incêndio nesse local.

A solidão e os fantasmas de acontecimentos passados surgem como elo unificador dos dois protagonistas, cuja relação começa por ser difícil devido à forma díspar como ambos agem: ela recolhida num silêncio irascível, ele apoiado em recorrentes comentários espirituosos ou mesmo jocosos.

Aos poucos, Coixet vai tecendo uma cumplicidade crescente entre estas duas figuras, entregues uma à outra no meio do vazio que as envolve. Revelando um apurado sentido de observação na forma como aborda as peculiaridades dos sentimentos e relações, a realizadora impõe ao filme um ritmo lento, mas apropriado aos contornos desta história, gerando uma aura intimista e envolvente.

Os cenários, quase sempre apenas os da plataforma petrolífera, reforçam a carga minimalista da película e o modo como a câmara os capta ajuda a consolidar uma atmosfera singular, um limbo espacial habitado por outcasts desintegrados.
Contudo, quando a acção deixa este espaço, “A Vida Secreta das Palavras” vai perdendo a subtileza e unicidade que mantinha até então, entrando em domínios mais convencionais pelo modo algo desapontante como desenvolve o relacionamento dos protagonistas e por um meritório, mas algo forçado, carácter panfletário de mensagem política/social.
Outro problema é a dispensável voz off, intrusiva e desnecessariamente explicativa, que interrompe fulcrais sequências marcadas pelo silêncio.

Estas fragilidades retiram à película alguma da sua força, mas não diluem a boa impressão que Coixet deixa nem as soberbas interpretações de Sarah Polley (uma das mais talentosas e subvalorizadas jovens actrizes de hoje, magnífica na meticulosa composição da lacónica Hanna) e Tim Robbins (carismático num papel difícil, ainda que perca o fôlego já no final), assim como não impedem que “A Vida Secreta das Palavras” seja ainda um filme adulto, belo e honesto, a merecer atenção e entrega.
E O VEREDICTO É: 3/5 - BOM

1 comentário:

gonn1000 disse...

H.: Sim, o filme pode ser desequilibrado, mas felizmente não é vazio.

Pedro Ferreira, Visconde de Cunhaú: Então? Olha que este até vale a pena ver no cinema :P